Piero della Francesca,Retratos do Duque e da Duquesa de Urbino, 1467-72

Piero della Francesca, Retratos do Duque e da Duquesa de Urbino, Federico da Montefeltro e Battista Sforza, 1467-72, têmpera em painel, 47 x 33 cm (Galeira degli Uffizi, Florença)

Estamos na Galeira degli Uffizi
olhando para dois retratos

que antes eram parte de um díptico.

Ou seja, estariam ligados

por uma dobradiça.

Estes são o Duque e a Duquesa de Urbino -

Federico da Montefeltro e Battista Sforza.

Ela tinha morrido a pouco tempo
e este foi um retrato comemorativo,

uma maneira dele se lembrar
de sua esposa.

Acreditamos que foi mesmo pintado

por Piero della Francesca,
talvez com base numa máscara mortuária

que haviam feito da duquesa.

Vejam como ela está bem arrumada.

Ambos estão bem formais.

Me faz pensar no fato

de que nos acostumamos
com pessoas tirando nossa foto

desde pequenos.

É verdade, isto era um privilégio.

Só os extremamente ricos
podiam ter uma imagem

que sobreviveria ao tempo.

Também me lembrou que as mulheres
costumavam depilar a testa.

Era considerado bonito

ter uma testa bem alta.

Isso é comum
em pinturas do norte.

Vale a pena lembrar
que Federico da Montefeltro

trouxe pintores do norte,
ou seja pintores flamengos

para a sua corte.

Na verdade Pierro, que é italiano,
se apropriou

deste interesse nórdico

talvez não só na testa alta

mas também na grande complexidade
e especificidade da paisagem.

Temos esta maravilhosa
perspectiva atmosférica.

Uma outra característica

que também acho bem interessante

é o perfil austero com que ambos
foram retratados.

A formalidade que você mencionou

aparece por causa do perfil.

Que foi baseado na cunhagem

da Roma Antiga.

Por falar nisso, os humanistas da corte
de Montefeltro e de outras cortes

colecionavam moedas na época.

Quando pensamos numa representação

de César ou até mesmo
na cunhagem moderna

geralmente temos
um perfil perfeito,

e é o que vemos aqui.

Um detalhe interessante é

que quase sempre os retratos
estão virados pra direita

e aqui o duque está olhando
para sua esposa, virado pra esquerda.

Sabemos que ele tinha ferimentos
no lado direito do rosto,

ele perdeu um olho.

Isso, e parte do nariz também.

Pode ser por isso que só vemos

o lado esquerdo.

Mas há uma formalidade e poder

que emana da pose de perfil

e também da vista aérea da paisagem,

o que sobrepõe as pessoas
em relação à paisagem

Então há mesmo simbolismo na pintura.

E também há simbolismo
fora da pintura também.

Você mencionou
que era um díptico.

Quando a pintura estava fechada,
só víamos a parte externa.

Que também foi pintada.

Vamos dar uma olhada.

Há muito simbolismo
no lado de fora da pintura.

Na sua capa, por assim dizer.

Temos dois carros de guerra triunfais,

que é uma imagem
que também veio da Roma Antiga.

Em ambos, podemos ver as pessoas

que são retratadas
no interior da pintura.

Exato. Na parte de trás
do retrato de Battista Sforza

ela é carregada
por um carro de guerra triunfal

e está rodeada por pessoas
que representam suas virtudes.

O mesmo acontece com o duque.

E embaixo disso, há inscrições em latim.

A inscrição clássica
se refere especificamente

às virtudes que são representadas
nos carros de guerra.

Um exemplo disso pode ser visto
no carro de guerra do duque

que mostra uma pessoa sentada de frente,
olhando para nós,

que é a personificação da Justiça.

Note que ela segura a balança
da justiça em suas mãos,

e uma espada também.

No retrato feminino,
o carro está sendo puxado

não por cavalos
mas unicórnios.

E eles estão numa paisagem bem fantasiosa

parece algo da imaginação,

há uma tentativa de criar
uma espécie de iconografia,

que enobrece as pessoas representadas.

E temos um aspecto típico
de Piero della Francesca,

uma percepção de geometria
e formalidade

que complementa os retratos.

[Legendado por Sophia Bento]
[Revisado por Pedro Mota Byrro]