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The 40 Tenets of Plum Village with Brother Phap Luu | Class #4

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    Querida Thay, queridas irmãs,
    queridos irmãos,
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    bem-vindos à nossa quarta aula
    sobre os 40 princípios.
  • 0:08 - 0:11
    Hoje é 7 de abril
    do ano 2021,
  • 0:12 - 0:17
    e estamos na sala de meditação
    Still Water do Mosteiro Deer Park.
  • 0:18 - 0:21
    Desculpem,
  • 0:21 - 0:25
    A sala de meditação Still Water
    fica em Upper Hamlet.
  • 0:32 - 0:35
    Acontece que sofremos
  • 0:35 - 0:40
    por causa das nossas ideias sobre os nossos sentimentos
    e das nossas ideias sobre o nosso corpo.
  • 0:40 - 0:47
    Pensamos que, quando temos
    um sentimento doloroso, esse sentimento sou eu.
  • 0:48 - 0:54
    E quando estamos doentes e parece que
    não há paz alguma no nosso corpo,
  • 0:55 - 0:59
    identificamo-nos completamente
    com esses sentimentos dolorosos.
  • 0:59 - 1:02
    Dizemos: "Estes sentimentos sou eu."
  • 1:02 - 1:05
    E não encontramos uma saída
    para o sofrimento.
  • 1:05 - 1:08
    Tudo o que estamos a aprender aqui
  • 1:08 - 1:13
    é encontrar uma forma
    de nos libertarmos do nosso sofrimento.
  • 1:15 - 1:18
    A visão do Budismo é que
    a liberdade do sofrimento
  • 1:19 - 1:22
    vem da compreensão do sofrimento.
  • 1:23 - 1:27
    Quando estamos doentes
    e o nosso corpo está em dor,
  • 1:30 - 1:39
    podemos praticar para ver os nossos sentimentos
    como um fenómeno condicionado.
  • 1:43 - 1:48
    Devido a causas e condições,
    esses sentimentos dolorosos surgem,
  • 1:49 - 1:54
    e deixamos de estar presos
    ou apegados a esses sentimentos.
  • 1:54 - 1:57
    Eles manifestam-se
    tal como um arco-íris se manifesta
  • 1:58 - 2:02
    com as condições certas
    de vapor de água e sol,
  • 2:04 - 2:11
    tal como uma semente brota da terra
    quando chega a chuva na primavera.
  • 2:12 - 2:15
    Os nossos sentimentos também são dessa natureza.
  • 2:15 - 2:18
    Eles têm condições.
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    Quando nos identificamos com esses sentimentos
  • 2:24 - 2:29
    e dizemos que esses sentimentos sou eu,
    é aí que ficamos presos.
  • 2:30 - 2:33
    Na última aula,
    falámos sobre upādāna,
  • 2:33 - 2:39
    a aderência, a tendência
    de nos agarrarmos ao nosso corpo,
  • 2:40 - 2:46
    aos nossos sentimentos,
    às nossas ideias e noções.
  • 3:00 - 3:05
    [upādāna]
  • 3:09 - 3:11
    [upādi]
  • 3:11 - 3:14
    "Upadi" significa agarrar-se a algo.
  • 3:14 - 3:18
    É também uma palavra
    usada para descrever "combustível".
  • 3:20 - 3:23
    Se pensarmos num fogo
  • 3:32 - 3:34
    a arder...
  • 3:37 - 3:40
    Talvez eu possa usar um pouco de vermelho.
  • 3:46 - 3:52
    Quando olhamos para o combustível,
  • 3:53 - 3:57
    podemos ver que o fogo
    se agarra ao combustível.
  • 3:58 - 4:01
    Esse é o significado de upādāna.
  • 4:02 - 4:04
    A chama
  • 4:07 - 4:10
    depende do combustível.
  • 4:11 - 4:14
    Ela adere, parece que...
  • 4:17 - 4:23
    Com base nessa compreensão,
    só de olhar para o fogo,
  • 4:24 - 4:27
    temos essa perceção
    de upādāna como apego.
  • 4:27 - 4:31
    É como o fogo das nossas aflições
  • 4:32 - 4:35
    a agarrar-se ao nosso corpo, aos nossos sentimentos.
  • 4:36 - 4:41
    E podemos ver os skandhas
    como o combustível.
  • 4:42 - 4:48
    É por isso que upādāna
    também tem esse significado de combustível.
  • 4:49 - 4:53
    Nos textos antigos do Budismo,
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    quando o Buda falava sobre os cinco skandhas,
  • 4:56 - 4:58
    como aprendemos na última aula,
  • 4:58 - 5:02
    ele usava frequentemente a expressão
    "upādāna skandha".
  • 5:02 - 5:09
    Isso significa que não se trata apenas dos skandhas,
  • 5:10 - 5:15
    estes agregados de forma corporal,
    sentimentos, perceções,
  • 5:15 - 5:17
    formações mentais e consciência.
  • 5:18 - 5:22
    Mas sim da chama,
    da aderência das aflições
  • 5:23 - 5:29
    que surgem quando há apego,
  • 5:31 - 5:34
    apego ao nosso corpo,
    apego aos nossos sentimentos,
  • 5:34 - 5:39
    apego às nossas perceções,
    às nossas formações mentais, à nossa consciência.
  • 5:40 - 5:47
    O termo "nirvana" significa "extinção".
    Significa que o fogo se apaga,
  • 5:47 - 5:50
    que já não há combustível.
  • 5:51 - 5:54
    [nirvāṇa]
  • 5:55 - 5:58
    Nirvana é "extinção".
  • 5:58 - 6:01
    Podemos pensar nisso
    como a extinção do fogo.
  • 6:02 - 6:08
    Encontramos um caminho para isso
    removendo o combustível.
  • 6:11 - 6:13
    Removemos o combustível,
  • 6:15 - 6:20
    e então o fogo já não tem
    condições suficientes para se manifestar.
  • 6:23 - 6:25
    Já não tratamos o nosso corpo
  • 6:25 - 6:30
    como uma fonte de combustível para as nossas aflições,
  • 6:30 - 6:34
    mas sim removemos a aderência,
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    a energia de agarramento,
  • 6:41 - 6:44
    upādāna-skandha.
  • 6:45 - 6:48
    [skandhā]
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    A nossa prática é aprender a parar de nos agarrarmos
  • 7:02 - 7:05
    aos nossos pensamentos, às nossas perceções.
  • 7:05 - 7:09
    Agarramo-nos aos nossos sentimentos.
    Quando temos um sentimento agradável,
  • 7:10 - 7:12
    ele está associado a uma perceção.
  • 7:12 - 7:17
    E tentamos encontrar uma forma
  • 7:18 - 7:22
    de criar, de manifestar
    essa perceção novamente,
  • 7:22 - 7:25
    para que possamos sentir
    esse prazer outra vez.
  • 7:25 - 7:29
    Podemos ter uma lembrança muito agradável
  • 7:29 - 7:32
    de um tempo em que estávamos com a nossa família,
  • 7:32 - 7:35
    com a nossa mãe e o nosso pai,
    e tudo parecia maravilhoso.
  • 7:36 - 7:38
    No nosso coração, guardamos
    a memória desse momento.
  • 7:38 - 7:41
    Tudo parecia perfeito no mundo.
  • 7:41 - 7:45
    Mas depois, ainda assim, vem o sofrimento.
    É impermanente.
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    Os nossos pais podem envelhecer e morrer,
  • 7:51 - 7:54
    ou divorciar-se, e há amargura.
  • 7:55 - 8:00
    Se estávamos casados,
    se estávamos numa relação,
  • 8:00 - 8:05
    e esse casamento acaba,
    podemos sofrer por isso.
  • 8:06 - 8:09
    Quando o nosso filho ou a nossa filha cresce,
  • 8:09 - 8:12
    e vivem de uma forma
    que lhes traz muito sofrimento,
  • 8:12 - 8:15
    nós sofremos porque eles sofrem.
  • 8:15 - 8:20
    Mas agarramo-nos àquela memória
    de felicidade, quando tudo parecia perfeito,
  • 8:20 - 8:22
    e tentamos recriá-la.
  • 8:23 - 8:26
    Então tentamos reunir a família
    nos feriados,
  • 8:26 - 8:29
    mas quando se juntam, discutem
    e queixam-se.
  • 8:30 - 8:33
    Não é a memória maravilhosa
    que imaginámos.
  • 8:33 - 8:35
    Estamos presos à nossa perceção.
  • 8:36 - 8:40
    E pensamos: "Se eu recriar
    essas condições, serei feliz."
  • 8:43 - 8:47
    É por isso que Thay, o nosso professor,
    dizia muitas vezes
  • 8:47 - 8:52
    que o nosso maior obstáculo
    para a felicidade é a nossa ideia de felicidade.
  • 8:53 - 8:56
    Precisamos de ser capazes
    de largar a nossa ideia de felicidade
  • 8:57 - 9:00
    para podermos tocar a felicidade,
    tocar o nirvana.
  • 9:01 - 9:07
    Isso significa que a prática de largar
    é o caminho para nos libertarmos,
  • 9:08 - 9:10
    para nos desapegarmos.
  • 9:12 - 9:17
    Se olharmos para uma representação
    do corpo humano
  • 9:20 - 9:26
    com base no número de neurónios motores
    associados às partes do nosso corpo,
  • 9:28 - 9:31
    então pareceremos muito engraçados.
  • 9:31 - 9:34
    As nossas mãos parecem enormes,
  • 9:34 - 9:37
    porque o número de neurónios motores
    no nosso cérebro
  • 9:37 - 9:40
    associados ao movimento das nossas mãos
  • 9:40 - 9:45
    é muito maior do que aqueles associados,
    por exemplo, ao movimento do nosso cotovelo,
  • 9:46 - 9:48
    ou ao movimento da nossa...
  • 9:49 - 9:51
    não sei,
  • 9:52 - 9:56
    da nossa perna, ou talvez da nossa anca.
  • 9:56 - 9:59
    Porque temos mãos muito articuladas.
  • 9:59 - 10:01
    Estas mãos maravilhosas.
  • 10:02 - 10:04
    Aprendemos, desenvolvemos -
  • 10:05 - 10:08
    Muitas das nossas habilidades como seres humanos
  • 10:08 - 10:12
    vêm da nossa capacidade de manipular
    os nossos dedos e as nossas mãos.
  • 10:18 - 10:25
    Sabemos, pelo estudo da neurociência
    de pessoas que perderam um membro,
  • 10:25 - 10:34
    que muitas vezes sofrem imenso,
    não apenas porque perderam o membro,
  • 10:35 - 10:39
    mas porque o membro, na verdade,
    está fortemente cerrado.
  • 10:41 - 10:45
    Este é um fenómeno que acontece
    a muitas pessoas que perdem um membro.
  • 10:45 - 10:48
    Elas não conseguem libertá-lo.
  • 10:49 - 10:52
    Muitas delas não conseguem
    relaxar esse punho cerrado.
  • 10:52 - 10:55
    O membro já não está lá,
  • 10:55 - 10:58
    mas, na sua mente, os neurónios motores
    associados àquela mão
  • 10:58 - 11:00
    estão como que...
  • 11:01 - 11:04
    muito tensos, muito cerrados.
  • 11:04 - 11:07
    Durante muitos dias,
    e algumas delas durante anos,
  • 11:07 - 11:10
    não conseguem libertar-se
    e relaxar esse membro.
  • 11:12 - 11:17
    Então, um professor,
    não me lembro do nome agora.
  • 11:19 - 11:23
    Quase me lembro, mas provavelmente
    vou errar, por isso não vou dizer.
  • 11:23 - 11:25
    Ele está aqui, em San Diego.
  • 11:25 - 11:30
    Há uma técnica brilhante e simples
    que ele desenvolveu,
  • 11:30 - 11:37
    na qual coloca um espelho
    de forma
  • 11:38 - 11:46
    a que o outro membro intacto da pessoa
    pareça estar no lugar
  • 11:46 - 11:51
    onde o membro ausente deveria estar.
  • 11:52 - 11:57
    E ao olhar para o espelho
    e ver a imagem refletida do seu outro braço,
  • 11:58 - 12:03
    a pessoa finalmente consegue relaxar.
  • 12:03 - 12:08
    Isto chama-se síndrome do membro fantasma.
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    A pessoa consegue relaxar
    esse membro fantasma que já não existe.
  • 12:14 - 12:16
    Conto essa história apenas para ilustrar
  • 12:17 - 12:22
    que dentro de nós há um tipo de mão,
    e ela está sempre a agarrar-se.
  • 12:24 - 12:26
    Como aprendemos na semana passada,
  • 12:27 - 12:31
    os cinco skandhas
  • 12:31 - 12:35
    são como fatias de uma tangerina.
  • 12:36 - 12:42
    Temos a fatia do nosso corpo,
    a fatia dos nossos sentimentos,
  • 12:44 - 12:50
    a fatia das nossas perceções,
    das formações mentais e da consciência.
  • 12:51 - 13:02
    Portanto, corpo, sentimentos, perceções,
    formações mentais e consciência.
  • 13:07 - 13:15
    Estamos a exercitar essa mão interna
  • 13:16 - 13:19
    que se agarra ao nosso corpo,
    se agarra aos nossos sentimentos.
  • 13:20 - 13:23
    Temos um sentimento agradável,
    queremos mais dele.
  • 13:23 - 13:27
    E, como aprendemos,
    estes elementos alimentam-se uns aos outros.
  • 13:28 - 13:31
    Só pensar naquele momento
    de felicidade com a nossa família
  • 13:32 - 13:34
    traz-nos sentimentos agradáveis.
  • 13:36 - 13:37
    E então queremos
  • 13:37 - 13:41
    desenvolver a intenção mental
    de fazer isso acontecer,
  • 13:42 - 13:45
    de reunir a nossa família novamente,
  • 13:45 - 13:49
    de recriar as condições de felicidade
    que existiam no passado.
  • 13:51 - 13:55
    Mas, como muitas condições
    podem ter mudado,
  • 13:55 - 14:00
    acabamos por ter a perceção
    de que não somos apreciados, de que a nossa família
  • 14:00 - 14:03
    Esforçamo-nos tanto,
    trazemo-los juntos,
  • 14:03 - 14:06
    e ainda assim reclamam uns dos outros
  • 14:06 - 14:10
    e fazem piadas desagradáveis uns sobre os outros.
  • 14:10 - 14:12
    E sofremos imenso,
  • 14:12 - 14:15
    porque tudo o que queríamos
    era aquele sentimento de felicidade.
  • 14:15 - 14:17
    Estávamos a agarrar-nos a ele.
  • 14:17 - 14:20
    Então fazemos de tudo,
    nas nossas formações mentais,
  • 14:20 - 14:22
    para tentar criar
    as condições para a felicidade.
  • 14:22 - 14:26
    Mas se conseguirmos largar,
    esta é a visão do Buda,
  • 14:26 - 14:29
    praticamos o ato de libertação
  • 14:29 - 14:32
    dessa mão fantasma dentro de nós,
  • 14:32 - 14:39
    desse punho fantasma
    ou mão que se agarra ao nosso corpo,
  • 14:39 - 14:44
    aos nossos sentimentos, às nossas perceções,
    através do treino da nossa mente.
  • 14:44 - 14:48
    Inspirando, sei que estou a inspirar.
  • 14:50 - 14:54
    Deixo ir o futuro, o passado.
  • 14:55 - 14:59
    Expirando, sei que estou a expirar.
  • 15:03 - 15:07
    É apenas a atenção plena na respiração.
  • 15:12 - 15:13
    (Sino)
  • 15:17 - 15:23
    (Sino)
  • 15:41 - 15:45
    A respiração é
    um objeto maravilhoso de meditação,
  • 15:45 - 15:48
    porque, por mais que tentemos
    agarrar-nos a ela,
  • 15:48 - 15:52
    não a conseguimos reter.
  • 15:53 - 15:55
    É muito difícil prender a respiração.
  • 15:56 - 16:00
    Por isso, o Buda propôs
    a meditação na respiração
  • 16:01 - 16:05
    como uma forma de nos treinarmos
    na prática do desapego.
  • 16:06 - 16:11
    Muitos de nós, quando começamos
    a direcionar a nossa atenção para a respiração,
  • 16:12 - 16:17
    ficamos presos
    a tentar controlá-la.
  • 16:18 - 16:24
    E ficamos presos nos músculos à volta dos pulmões
    e do diafragma,
  • 16:24 - 16:29
    porque fomos tão condicionados
  • 16:33 - 16:38
    a tentar controlar
    tudo aquilo em que colocamos a nossa atenção.
  • 16:42 - 16:46
    Olhamos para o ecrã, temos o rato, certo?
    Controlamos o rato.
  • 16:46 - 16:49
    Vamos aqui, abrimos isto, abrimos aquilo, certo?
  • 16:50 - 16:54
    Esse é o tipo de condicionamento.
    Vemos algo, queremos mudar o que vemos.
  • 16:56 - 17:03
    O Budismo ensina-nos a observar
    o que está a acontecer dentro de nós e à nossa volta
  • 17:03 - 17:11
    através dos nossos olhos, ouvidos, nariz,
    língua, corpo, mente, e a largar.
  • 17:13 - 17:17
    Largar a necessidade de controlar,
    de manipular
  • 17:18 - 17:21
    através dos nossos seis sentidos
  • 17:21 - 17:25
    o nosso corpo, os nossos sentimentos,
    as nossas perceções, e assim por diante.
  • 17:25 - 17:28
    E então sentimos liberdade.
  • 17:28 - 17:33
    E temos muito menos medo, porque vemos que este corpo
    é apenas uma manifestação
  • 17:34 - 17:36
    e está sujeito à morte.
  • 17:36 - 17:42
    Está sujeito ao nascimento e à morte.
    É um fenómeno condicionado.
  • 17:43 - 17:48
    Um conjunto condicionado
    de milhões e milhões de fenómenos
  • 17:49 - 17:56
    que são as células do nosso corpo
    a metabolizar açúcares, a gerar energia,
  • 17:56 - 17:59
    a absorver o oxigénio da nossa respiração
  • 17:59 - 18:05
    e a usá-lo numa reação catalítica
    para produzir energia nas nossas células,
  • 18:06 - 18:10
    para que possamos mover os nossos músculos,
    digerir os alimentos que comemos,
  • 18:10 - 18:15
    continuar a respirar,
    alimentar o nosso cérebro,
  • 18:15 - 18:19
    todas essas conexões neurais
    que disparam
  • 18:19 - 18:24
    impulsos elétricos
    de baixa voltagem.
  • 18:24 - 18:28
    Tudo isso está a acontecer,
    esta é uma manifestação maravilhosa.
  • 18:30 - 18:36
    E a maravilha é que tudo isso acontece
    muito bem sem a nossa intervenção.
  • 18:36 - 18:40
    Sem um "eu" ou "mim"
    a fazer com que aconteça.
  • 18:41 - 18:44
    Se largarmos
    as nossas ideias sobre nós mesmos,
  • 18:45 - 18:48
    continuamos a respirar,
    continuamos a sorrir, continuamos -
  • 18:48 - 18:51
    E, geralmente, sentimo-nos muito mais felizes.
  • 18:56 - 18:59
    Lembro-me de um monge, Ajahn Sumedho.
  • 19:00 - 19:04
    Ele costumava dizer:
    "Quando penso em mim, sinto-me deprimido."
  • 19:06 - 19:11
    Ele não dizia isso no sentido de
    "Porque sou uma pessoa horrível",
  • 19:11 - 19:14
    mas no sentido literal de que,
    quando pensa num "eu",
  • 19:15 - 19:18
    quando tem uma ideia de "eu",
    fica preso.
  • 19:18 - 19:22
    Acho que sou assim,
    e não sou assado.
  • 19:22 - 19:26
    Ideias como "eu sou" e "eu não sou",
    enquanto estamos a aprender,
  • 19:27 - 19:29
    vão sempre levar ao sofrimento.
  • 19:30 - 19:32
    E são sempre ilusórias.
  • 19:34 - 19:40
    Deixar ir o nosso apego
    é sobre remover a ilusão.
  • 19:41 - 19:47
    Arrancar pela raiz a nossa tendência
    para fantasiar,
  • 19:47 - 19:51
    para especular sobre a realidade.
  • 19:59 - 20:04
    Na semana passada, aprendemos o terceiro princípio,
  • 20:04 - 20:09
    que é que o nirvana é a cessação
    da ilusão e das aflições.
  • 20:18 - 20:20
    [avidyā]
  • 20:20 - 20:22
    Em sânscrito, "avidya".
  • 20:22 - 20:27
    Não quero usar muitos termos em sânscrito,
    mas alguns são muito importantes.
  • 20:28 - 20:29
    Avidya.
  • 20:30 - 20:34
    "Vid" significa "conhecer as coisas como elas são",
  • 20:35 - 20:38
    saber ou experimentar;
    e "a" é uma negação.
  • 20:38 - 20:43
    Então, avidya é ignorância ou ilusão.
  • 20:44 - 20:47
    [ilusão]
  • 20:51 - 20:54
    Por causa desta aderência,
  • 20:54 - 20:58
    agarrando-se ao nosso corpo,
    agarrando-se aos nossos sentimentos,
  • 20:58 - 21:09
    agarrando-se às nossas emoções
    impermanentes e passageiras,
  • 21:11 - 21:16
    essa é a natureza da ilusão,
    que dá origem às aflições, kleśa.
  • 21:17 - 21:19
    [kleśa]
  • 21:19 - 21:22
    Que também aprendemos na semana passada.
  • 21:26 - 21:30
    [aflições]
  • 21:32 - 21:39
    No Budismo, não nos focamos tanto no pecado,
    falamos mais sobre aflições.
  • 21:41 - 21:50
    Falamos sobre emoções desagradáveis como
    a raiva, a irritação, o ciúme, o medo,
  • 21:51 - 21:57
    porque essas aflições tornam
    o nosso momento presente muito desagradável.
  • 22:00 - 22:04
    Alguém que está num momento de raiva
    está a sofrer muito.
  • 22:06 - 22:11
    Isso não significa que a raiva seja
    algo mau, ou que seja um pecado.
  • 22:11 - 22:14
    Mas é uma aflição,
    é algo que se sente desagradável.
  • 22:15 - 22:18
    Quando estamos zangados,
    queremos fazer tudo o que podemos
  • 22:18 - 22:21
    para provocar a cessação dessa raiva.
  • 22:22 - 22:26
    Por isso, precisamos de aprender
    e compreender a raiva.
  • 22:26 - 22:30
    É por isso que não a queremos tratar
    como algo mau.
  • 22:31 - 22:34
    No Budismo, a raiva não é maligna,
    é uma aflição.
  • 22:34 - 22:38
    Precisamos de aprender a compreendê-la,
    compreender as suas raízes.
  • 22:38 - 22:42
    Tal como removemos
    o combustível de um fogo,
  • 22:43 - 22:47
    aprendemos como remover as condições
    que alimentam as chamas da nossa raiva
  • 22:48 - 22:50
    para que ela se extinga.
  • 22:50 - 22:55
    Não a reprimimos, não tentamos
    abafar o fogo, isso não é nirvana.
  • 22:55 - 23:00
    Nirvana é encontrar uma maneira hábil
    de remover as condições,
  • 23:00 - 23:02
    de remover o combustível
  • 23:02 - 23:09
    para que as chamas já não consigam aderir
    ao combustível, nem continuar a queimá-lo.
  • 23:11 - 23:15
    Removemos o elemento upadana.
    Não removemos os skandhas.
  • 23:16 - 23:18
    Este é um grande equívoco
  • 23:19 - 23:23
    que Thay está a tentar ajudar-nos a corrigir.
  • 23:24 - 23:28
    Em algumas interpretações do Budismo,
    começou-se a dizer que
  • 23:30 - 23:34
    existia algo chamado
    "nirvana sem resíduo".
  • 23:36 - 23:41
    Significa que haveria um nirvana
    com a cessação dos skandhas,
  • 23:41 - 23:45
    a cessação do corpo, dos sentimentos
    e das perceções.
  • 23:45 - 23:53
    Depois da morte do Buda, disseram
    que ele entrou em nirvana sem resíduo.
  • 23:53 - 23:57
    Que já não existiam os cinco skandhas.
  • 23:58 - 24:02
    E assim, mais tarde, os estudiosos budistas
  • 24:02 - 24:06
    fizeram uma distinção entre
    nirvana com resíduo e nirvana sem resíduo.
  • 24:11 - 24:13
    Isto torna a nossa vida muito confusa
  • 24:15 - 24:18
    e traz todo o tipo de equívocos.
  • 24:29 - 24:32
    Hoje, o quarto princípio.
  • 24:42 - 24:47
    Ups! Perdi-me um pouco.
  • 25:06 - 25:07
    Ok.
  • 25:16 - 25:18
    Nirvana é nirvana.
  • 25:22 - 25:24
    É muito divertido.
  • 25:25 - 25:32
    [4 Nirvāṇa é nirvāṇa]
  • 25:37 - 25:42
    Não precisa de ser nirvana
    com resíduo ou sem resíduo.
  • 26:09 - 26:21
    [Não precisa de ser nirvana
    com resíduo ou sem resíduo.]
  • 26:50 - 26:55
    Esta perspetiva causou
    muitos equívocos.
  • 26:56 - 27:01
    Esta perspetiva do nirvana com resíduo
    e do nirvana sem resíduo.
  • 27:02 - 27:07
    Após a morte do Buda...
  • 27:09 - 27:13
    Sabemos que, no tempo do Buda,
    ele falou muitas vezes sobre o nirvana,
  • 27:13 - 27:17
    sobre a natureza do nirvana
    como o não condicionado, o não criado.
  • 27:17 - 27:21
    E isso não era algo
    que o Buda adquiriu,
  • 27:21 - 27:26
    mas algo que ele foi capaz de tocar
    ao libertar-se do apego ao seu corpo,
  • 27:26 - 27:30
    aos seus sentimentos, perceções,
    e assim por diante.
  • 27:30 - 27:34
    Ao não os ver como "eu", "meu" ou "meus".
  • 27:36 - 27:38
    Quando o Buda faleceu,
  • 27:43 - 27:48
    as pessoas começaram a dizer:
    "Agora o Buda está completamente nirvanizado."
  • 27:49 - 27:52
    Parinirvanizado.
  • 27:59 - 28:02
    E começaram a pensar
    que havia alguma diferença
  • 28:02 - 28:06
    entre o nirvana do Buda após a sua morte
  • 28:07 - 28:10
    e o nirvana que ele tocou
    enquanto estava vivo.
  • 28:10 - 28:14
    A principal diferença é que
    o nirvana que ele tocou enquanto estava vivo
  • 28:14 - 28:18
    era o nirvana com o resíduo
    dos cinco skandhas,
  • 28:18 - 28:23
    o corpo, os sentimentos, as perceções,
    e assim por diante, que continuaram a manifestar-se,
  • 28:23 - 28:26
    embora o Buda já não estivesse
    apegado ao seu corpo,
  • 28:26 - 28:28
    aos seus sentimentos, e assim por diante.
  • 28:29 - 28:34
    Portanto, não há upadana-skandha,
    mas apenas os skandhas,
  • 28:35 - 28:38
    assim como o olho, o ouvido, o nariz,
    a língua, o corpo e a mente,
  • 28:38 - 28:43
    que observam as formas,
  • 28:44 - 28:49
    os sons, os sabores, os cheiros,
    os toques
  • 28:50 - 28:52
    e os objetos da mente.
  • 28:52 - 28:56
    Mas tudo isso ocorre
    sem qualquer apego, sem qualquer aderência.
  • 28:58 - 29:04
    A compreensão que aprendemos
    no terceiro princípio, na semana passada,
  • 29:04 - 29:07
    foi que o nirvana é a extinção,
  • 29:07 - 29:11
    é a ausência de ilusão
    e das aflições.
  • 29:11 - 29:14
    Não é a ausência
    dos cinco skandhas,
  • 29:15 - 29:21
    nem dos sentidos, dos objetos dos sentidos,
    nem das consciências sensoriais,
  • 29:22 - 29:26
    dos 18 reinos, 18 dhatu.
  • 29:28 - 29:31
    Este princípio decorre desse.
  • 29:31 - 29:36
    Nirvana é nirvana. Não precisa de ser nirvana
    com resíduo ou sem resíduo.
  • 29:39 - 29:44
    Na época do Mestre Xuanzang...
  • 29:49 - 29:58
    O Mestre Xuanzang viveu no século VII
    e viajou da China.
  • 29:59 - 30:07
    Ele estava determinado
    a trazer de volta ensinamentos, sutras,
  • 30:08 - 30:12
    que percebia estarem em falta na China.
  • 30:13 - 30:21
    Assim, embarcou numa viagem muito aventureira.
    Mais de 10 anos, quase 20 anos.
  • 30:21 - 30:27
    Manteve notas muito detalhadas
    dos locais por onde passou.
  • 30:27 - 30:31
    Viajou pelo Norte do Tibete,
  • 30:36 - 30:39
    atravessou o deserto de Taklamakan,
    como é chamado hoje em dia,
  • 30:41 - 30:51
    e depois seguiu para sul, pelos Portões de Ferro,
    como creio que se chamam, até ao Hindu Kush,
  • 30:53 - 31:00
    descendo pelo vale do rio Indo
    e depois até ao Ganges.
  • 31:00 - 31:03
    Pelo caminho, observou muitos mosteiros
  • 31:03 - 31:05
    que floresciam naquela época.
  • 31:05 - 31:11
    Temos muitos registos detalhados
    sobre a Índia dessa altura
  • 31:11 - 31:13
    graças aos seus escritos.
  • 31:14 - 31:17
    Quando regressou à China...
  • 31:19 - 31:23
    Eventualmente, ele chegou a Nalanda,
    que fica perto de Rajagriha,
  • 31:24 - 31:27
    perto do Pico dos Abutres.
  • 31:28 - 31:32
    Lembrem-se de que estamos a estudar
    "Plum Village Olhando para o Pico dos Abutres".
  • 31:33 - 31:36
    Esse é o título deste livro de Thay.
  • 31:37 - 31:42
    O Mestre Xuanzang estudou
    com um grande mestre lá em Nalanda
  • 31:42 - 31:47
    e aprendeu sânscrito.
    Depois, conseguiu regressar à China.
  • 31:47 - 31:52
    Naquela altura, havia muito apoio
    para o Budismo na China,
  • 31:52 - 32:00
    por isso foi-lhe dada uma equipa inteira
    de jovens monges e outros estudiosos
  • 32:00 - 32:07
    para o ajudarem a traduzir textos do sânscrito
    e a resumir muitos textos.
  • 32:07 - 32:13
    Porque não havia muitas pessoas na China
    que soubessem ler sânscrito naquela época.
  • 32:13 - 32:20
    Passou grande parte do resto da sua vida
    a escrever ou a traduzir
  • 32:20 - 32:25
    muitos dos ensinamentos importantes
    da escola Somente Manifestação.
  • 32:26 - 32:28
    Na época de Xuanzang,
  • 32:28 - 32:31
    já se falava de quatro tipos de nirvana.
  • 32:37 - 32:45
    Um era o nirvana puro por natureza.
  • 32:49 - 32:57
    [1 nirvāṇa puro por natureza]
  • 33:00 - 33:04
    Havia o nirvana com resíduo.
  • 33:04 - 33:08
    [2 nirvāṇa com resíduo]
  • 33:11 - 33:15
    O nirvana sem resíduo.
  • 33:15 - 33:19
    [3 nirvāṇa sem resíduo]
  • 33:32 - 33:36
    E o nirvana sem morada.
  • 33:41 - 33:47
    [4 nirvāṇa sem morada]
  • 33:49 - 33:54
    Vemos o grande perigo
    quando começamos a especular sobre o nirvana.
  • 33:55 - 34:01
    Até a própria palavra nirvana
    é condicionada.
  • 34:01 - 34:04
    Por isso, temos de ter muito cuidado.
  • 34:04 - 34:09
    Com o tempo, começamos a tratar nirvana
    como um fenómeno condicionado.
  • 34:10 - 34:15
    Mas a própria natureza do nirvana
    é incondicionada.
  • 34:15 - 34:19
    Não há qualidade alguma
    que possa aderir ao nirvana.
  • 34:19 - 34:22
    Não podemos dizer que é azul ou laranja.
  • 34:22 - 34:26
    Nem sequer podemos dizer que tem algo a ver
  • 34:26 - 34:32
    com a palavra "nirvana"
    escrita no quadro ou que estou a dizer em voz alta.
  • 34:32 - 34:36
    Está realmente para além de qualquer forma.
  • 34:36 - 34:39
    "Nirvana" é apenas uma palavra,
    é apenas um sinal,
  • 34:39 - 34:44
    e não queremos confundi-lo
    com a verdadeira natureza do nirvana.
  • 34:46 - 34:50
    A visão de Plum Village
    é que não precisamos de nada disto.
  • 34:51 - 34:53
    Isto é apenas um desperdício
    da nossa energia mental,
  • 34:54 - 34:59
    a tentar falar sobre nirvana com resíduo,
    sem resíduo ou sem morada.
  • 34:59 - 35:01
    Nirvana é nirvana.
  • 35:01 - 35:04
    Já é puro.
  • 35:05 - 35:08
    Nem sequer podemos falar dele como "puro",
  • 35:09 - 35:15
    porque para algo ser puro,
    criamos o impuro, certo?
  • 35:16 - 35:21
    Esta é a visão de Plum Village.
    Nirvana é nirvana.
  • 35:21 - 35:25
    Não precisa de ser com ou sem resíduo.
  • 35:26 - 35:28
    Podemos simplesmente ouvir o sino.
  • 35:32 - 35:33
    (Sino)
  • 35:37 - 35:43
    (Sino)
  • 36:03 - 36:07
    Thay quer que aprendamos isto
    para que não fiquemos presos.
  • 36:08 - 36:12
    Porque na nossa prática
    podemos facilmente ficar presos.
  • 36:12 - 36:18
    Ele disse que há muitos ganchos
    nos ensinamentos
  • 36:19 - 36:23
    por causa dos nossos apegos
    e dos apegos dos nossos antepassados.
  • 36:24 - 36:30
    Às vezes, sentimo-nos felizes
    no nosso conhecimento das coisas
  • 36:30 - 36:34
    e não queremos ir
    para além do nosso mero conhecimento.
  • 36:34 - 36:38
    Na última vez, falei
    sobre dois tipos de obstáculos
  • 36:41 - 36:45
    que nos impedem de tocar o nirvana.
  • 36:46 - 36:51
    O obstáculo das nossas aflições, kleśa,
  • 36:53 - 36:59
    [kleśâvaraṇa]
  • 37:04 - 37:07
    e o obstáculo do nosso conhecimento.
  • 37:08 - 37:13
    [jñeyâvaraṇa]
  • 37:19 - 37:24
    Aprendemos que kleśa são as aflições,
    e jñeya é o conhecimento.
  • 37:28 - 37:32
    No nosso dia a dia no mosteiro,
  • 37:32 - 37:35
    praticamos a meditação a caminhar,
    a meditação ao comer,
  • 37:36 - 37:39
    voltando ao momento presente,
  • 37:39 - 37:43
    tomando consciência da nossa comida,
    de onde veio,
  • 37:44 - 37:47
    apreciando as maravilhas da vida
    que estão aqui e agora.
  • 37:48 - 37:52
    E isso serve para nos ajudar
    a reduzir as nossas aflições,
  • 37:52 - 37:55
    a ver que, neste momento presente,
  • 37:55 - 37:59
    já temos condições suficientes
    para sermos felizes.
  • 37:59 - 38:01
    Se conseguirmos olhar profundamente
  • 38:02 - 38:06
    e reconhecer todas as condições
    de felicidade que já estão presentes,
  • 38:06 - 38:10
    quando ficamos presos
    a um sentimento ou a uma perceção,
  • 38:10 - 38:13
    quando temos essa perceção, sentimo-nos felizes.
  • 38:13 - 38:17
    Quando não a temos, sentimos tristeza
    e, assim, sofremos.
  • 38:18 - 38:22
    Portanto, ao vivermos juntos, caminharmos juntos,
    praticarmos juntos,
  • 38:23 - 38:26
    e, especialmente, ao aprendermos
    a viver juntos em harmonia,
  • 38:26 - 38:31
    significa aprender a largar as nossas ideias
    numa reunião, numa discussão.
  • 38:33 - 38:37
    Eu quero fazer assim, tu queres fazer
    de outra maneira, e ninguém quer ceder.
  • 38:39 - 38:43
    Na verdade, nem mesmo essas perceções
    podemos segurar,
  • 38:43 - 38:47
    mas somos muito bons
    a fazer-nos zangar
  • 38:47 - 38:52
    e a lutar pela nossa posição,
    pela nossa ideia, pelo nosso ponto de vista.
  • 38:53 - 38:58
    Dessa forma, estas coisas estão ligadas.
  • 38:58 - 39:03
    O nosso conhecimento, a nossa ideia,
    também são um obstáculo.
  • 39:03 - 39:09
    E o que estamos a aprender nos 40 princípios
    é como remover esse obstáculo, principalmente.
  • 39:10 - 39:14
    Como compreender a raiz
    das nossas aflições no nosso apego
  • 39:15 - 39:22
    à forma como queremos que as coisas sejam
    ou não queremos que sejam.
  • 39:24 - 39:26
    Isto é muito interessante.
  • 39:27 - 39:32
    Olhamos para o mundo e começamos
    a estabelecer relações entre as coisas
  • 39:32 - 39:34
    desde que somos muito pequenos.
  • 39:36 - 39:38
    Piaget, quando estudava—
  • 39:40 - 39:44
    Ele foi um mestre da Psicologia Infantil.
  • 39:44 - 39:47
    Quando observava os seus filhos
    a crescer,
  • 39:47 - 39:49
    notou que, a uma certa idade,
  • 39:51 - 39:53
    por exemplo, se eu tiver esta caneta
  • 39:54 - 40:00
    e a mostrar a uma criança
    muito pequena, talvez de um ano,
  • 40:01 - 40:05
    e depois a esconder atrás das minhas costas,
    a criança olha com admiração.
  • 40:05 - 40:09
    Não faz ideia de onde a caneta foi parar.
  • 40:09 - 40:12
    Para ela, desapareceu,
    porque já não está no seu campo de visão.
  • 40:12 - 40:15
    Algo que estava na sua visão
    agora desapareceu.
  • 40:16 - 40:20
    Mas ainda não consegue estabelecer
    onde poderá ter ido.
  • 40:22 - 40:26
    Se não está à vista, já não existe.
  • 40:27 - 40:32
    É muito simples.
    Quando algo é visível, existe.
  • 40:32 - 40:35
    Quando já não é visível,
    deixa de existir.
  • 40:37 - 40:41
    Depois, a uma certa idade,
    ela começa a reconhecer:
  • 40:42 - 40:46
    Ah! A ausência da caneta significa—
  • 40:46 - 40:50
    Isto é o princípio da conservação da matéria, certo?
  • 40:50 - 40:56
    A matéria não passou do algo para o nada
    apenas porque deixou de ser visível,
  • 40:57 - 41:02
    mas tem de haver alguma forma
    de conservação da matéria.
  • 41:03 - 41:06
    E então começam a perguntar-se:
    'Onde foi a caneta?'
  • 41:06 - 41:12
    E prestam atenção: 'Ah! Vi que ele a pôs atrás das costas
    e agora já não está lá.'
  • 41:13 - 41:17
    Agora sabem que, se forem atrás,
    irão encontrá-la e dirão: 'Encontrei a caneta!'
  • 41:17 - 41:22
    Sabem que está lá porque sabem
    que as coisas não desaparecem sem razão.
  • 41:26 - 41:29
    Mas acontece que muitos de nós
    continuamos a ter
  • 41:30 - 41:33
    essa mesma compreensão conceptual
    de causa e efeito
  • 41:34 - 41:40
    e impomos ao mundo
    a nossa ideia de como as coisas deveriam ser.
  • 41:40 - 41:44
    Isto acontece, portanto, aquilo deve acontecer.
  • 41:45 - 41:49
    Estudei muito, então deveria ter uma boa nota.
  • 41:51 - 41:57
    Trabalhei muito nos exames do secundário,
    fiz muitas disciplinas opcionais,
  • 41:57 - 42:00
    portanto, deveria entrar
    numa boa universidade.
  • 42:01 - 42:05
    Paguei muito dinheiro, tirei o meu curso,
    então deveria arranjar um bom emprego.
  • 42:06 - 42:10
    Estes são apenas alguns exemplos,
  • 42:10 - 42:12
    mas há muitos mais
  • 42:13 - 42:18
    relacionados com a cor da pele,
    com a forma como as pessoas falam,
  • 42:18 - 42:21
    com a maneira como comemos, com tudo.
  • 42:22 - 42:25
    Temos todo o tipo de ideias
    sobre como as coisas devem ser
  • 42:25 - 42:30
    para produzir um bom efeito,
    um efeito feliz, que desejamos.
  • 42:30 - 42:38
    E sobre as coisas que devem ser evitadas,
    as coisas que não devem ser feitas assim.
  • 42:39 - 42:42
    Esse pensamento de certo e errado
  • 42:44 - 42:46
    é, na verdade, como um véu
  • 42:47 - 42:50
    que obscurece a nossa visão
    de como as coisas realmente são.
  • 42:51 - 42:55
    Vivemos num mundo ilusório
    de como as coisas deveriam ser,
  • 42:56 - 43:00
    e perdemos a oportunidade
    de ver as coisas como realmente são.
  • 43:00 - 43:04
    Quando nos deparamos
    com essa dissonância cognitiva
  • 43:05 - 43:08
    entre o nosso sistema de crenças,
  • 43:08 - 43:14
    como as coisas deveriam ser, e a forma como as coisas realmente são,
    sofremos imensamente.
  • 43:14 - 43:18
    Portanto, o Budismo consiste em largar as nossas ideias
    sobre como as coisas deveriam ser,
  • 43:19 - 43:23
    e, em vez disso, olhar para o mundo
    tal como ele é, em cada momento.
  • 43:24 - 43:32
    Essa é a prática de tocar a talidade,
    da concentração na talidade.
  • 43:34 - 43:37
    A tathata, a talidade.
  • 43:40 - 43:43
    [talidade]
  • 43:45 - 43:49
    [tathātā]
  • 43:51 - 43:56
    Tatha significa "assim", "tal".
  • 43:56 - 44:01
    Não significa nada além de "é assim".
  • 44:02 - 44:06
    E ta, no final, transforma a palavra num substantivo.
  • 44:07 - 44:11
    Assim, tathata significa
    "a isenção das coisas",
  • 44:12 - 44:16
    o assim-mesmo, a talidade das coisas, tathata.
  • 44:19 - 44:25
    Esta aula é divertida,
    porque podemos usar estes termos.
  • 44:26 - 44:28
    É muito útil, acho eu.
  • 44:28 - 44:31
    Não há assim tantos termos
    que precisemos de aprender,
  • 44:31 - 44:33
    mas aprender alguns deles
    ajuda bastante.
  • 44:33 - 44:36
    É uma tradição de 2600 anos,
  • 44:36 - 44:39
    e ainda estão a estudar
  • 44:39 - 44:46
    os mesmos ensinamentos habilidosos do Buda.
  • 44:47 - 44:51
    É muito bonito voltar à linguagem antiga,
  • 44:51 - 44:55
    porque é muito simples, na verdade,
    não é muito complicada.
  • 44:56 - 44:59
    Claro que, ao longo dos anos,
    as coisas tornam-se muito complicadas.
  • 44:59 - 45:02
    Então, Thay tenta ajudar-nos
    a limpar todas essas complicações
  • 45:02 - 45:04
    para que possamos ver claramente
  • 45:05 - 45:07
    e focarmo-nos mais na nossa prática
  • 45:07 - 45:11
    em vez de apenas nos perdermos
  • 45:11 - 45:15
    numa montanha de papéis e estudos académicos,
    tentando apenas encontrar a essência.
  • 45:16 - 45:19
    Os 40 princípios estão lá
    para nos ajudar a fazer isso,
  • 45:19 - 45:24
    para que não fiquemos presos
    nos ganchos que existem, nos mal-entendidos.
  • 45:24 - 45:28
    Tathata é sempre voltar
    às coisas como elas são,
  • 45:28 - 45:31
    à talidade das coisas.
  • 45:41 - 45:46
    Não ficar preso a ideias rígidas
    ou dogmáticas sobre como o mundo é.
  • 45:47 - 45:52
    Falamos sobre a impermanência,
    falamos dela em termos de uma concentração,
  • 45:52 - 45:55
    não em termos de estabelecer uma verdade absoluta:
  • 45:55 - 45:57
    "é assim que as coisas são".
  • 45:57 - 46:00
    A impermanência é uma prática.
  • 46:00 - 46:06
    Significa que, com plena consciência,
    nos tornamos conscientes do objeto da nossa atenção
  • 46:07 - 46:10
    e vemos que ele tem uma natureza de mudança.
  • 46:11 - 46:14
    Está constantemente a nascer
    e constantemente a morrer.
  • 46:14 - 46:19
    Quando vemos isso, percebemos que
    essa é a natureza das coisas condicionadas.
  • 46:19 - 46:22
    Mas a afirmação de que
    "todas as coisas condicionadas são impermanentes"
  • 46:23 - 46:26
    pode ser uma armadilha
    se nos apegarmos a ela como um dogma.
  • 46:26 - 46:29
    Alguém pode chegar até nós e dizer:
    "Não, existe uma alma permanente.
  • 46:31 - 46:33
    Vamos viver para sempre, eternamente."
  • 46:33 - 46:34
    E nós respondemos:
    "Não, não é assim,
  • 46:35 - 46:37
    porque o Buda disse que
    todas as coisas são impermanentes!"
  • 46:37 - 46:43
    E ficamos muito zangados,
    e falhamos completamente, perdemos a nossa prática.
  • 46:43 - 46:46
    Porque não é
    para declarar uma verdade absoluta
  • 46:46 - 46:49
    que dizemos que o Buda afirmou
    que todas as coisas condicionadas são impermanentes,
  • 46:49 - 46:54
    mas sim para nos libertarmos do nosso sofrimento.
  • 46:54 - 46:56
    Porque nos apegamos às coisas,
  • 46:56 - 46:59
    pensamos nelas como permanentes, e sofremos.
  • 46:59 - 47:04
    Até mesmo o Dharma,
    precisamos de ser capazes de o largar,
  • 47:05 - 47:10
    quanto mais o que não é Dharma.
    Essa é a lição da jangada.
  • 47:14 - 47:16
    O Buda,
  • 47:21 - 47:23
    no sutra
  • 47:30 - 47:33
    sobre A Melhor Maneira de Agarrar uma Serpente,
  • 47:33 - 47:37
    ou, por vezes, chamado
    Sutra do Treinador de Abutres,
  • 47:37 - 47:40
    porque é o ensinamento que o Buda deu a um monge
  • 47:40 - 47:47
    preso na sua ideia sobre os prazeres sensoriais.
  • 47:48 - 47:53
    Ele estava dogmaticamente preso,
    tinha uma visão errada,
  • 47:53 - 47:57
    acreditava que o Buda ensinou
    que os prazeres sensoriais
  • 47:57 - 48:00
    não são um obstáculo à prática, à liberdade.
  • 48:00 - 48:07
    E antes de se tornar monge,
    ele treinava abutres para caçar.
  • 48:12 - 48:16
    Então o Buda ofereceu o ensinamento:
    "As minhas palavras são como uma jangada."
  • 48:19 - 48:26
    [As minhas palavras são como uma jangada]
  • 48:34 - 48:40
    O significado disto é que
    um homem chega a um rio
  • 48:41 - 48:46
    e percebe que não pode atravessá-lo.
  • 48:47 - 48:53
    Então junta algumas canas e ervas,
  • 48:53 - 48:58
    e começa a tecer uma jangada
    com essas ervas e canas.
  • 48:59 - 49:02
    Depois, usa essa jangada para atravessar o rio.
  • 49:03 - 49:07
    E, depois de ter feito todo aquele esforço
    para construir a jangada,
  • 49:07 - 49:11
    quando chega à outra margem do rio, ele pensa:
  • 49:11 - 49:15
    "Uau! Há muitos outros rios
    que talvez precise de atravessar."
  • 49:15 - 49:18
    E se eu pegasse nesta jangada
    e a carregasse comigo,
  • 49:18 - 49:22
    para que, da próxima vez que encontrasse um rio,
    já tivesse a minha jangada
  • 49:22 - 49:24
    e pudesse atravessar?'
  • 49:25 - 49:28
    Então, talvez o homem tente pegar na jangada.
  • 49:28 - 49:33
    Ela é muito pesada, ele começa a suar,
    e não consegue ir muito longe carregando-a.
  • 49:34 - 49:37
    Então, o Buda perguntou:
    'Esse homem é muito inteligente?'
  • 49:38 - 49:41
    E os monges responderam:
    'Não, ele não é muito inteligente.'
  • 49:42 - 49:45
    Então o Buda disse:
    Outro homem chega e faz o mesmo,
  • 49:45 - 49:48
    mas, ao atravessar para a outra margem,
    ele deixa a jangada ali.
  • 49:49 - 49:53
    Talvez outra pessoa possa usá-la
    para voltar para a outra margem.
  • 49:53 - 49:56
    Mas ele não faz isso apenas
    porque é generoso,
  • 49:56 - 49:59
    mas também porque é inteligente
  • 50:02 - 50:05
    e sabe que, quando chegar ao próximo rio,
  • 50:05 - 50:09
    usando as habilidades que aprendeu ao construir a jangada,
  • 50:09 - 50:12
    será capaz de fazer outra jangada.
  • 50:12 - 50:15
    E seria muito preocupante,
    muito cansativo para ele
  • 50:15 - 50:17
    carregar aquela jangada até ao próximo rio.
  • 50:19 - 50:23
    Essa metáfora, essa história,
    foi usada pelo Buda
  • 50:23 - 50:28
    para ilustrar como devemos tratar o Dharma.
  • 50:29 - 50:31
    O Dharma é como uma jangada.
  • 50:31 - 50:34
    Precisamos ser capazes,
    quando chegamos à outra margem,
  • 50:34 - 50:37
    de largar a jangada, deixá-la para trás.
  • 50:40 - 50:44
    Mesmo o Dharma,
    quando somos capazes de tocar o nirvana,
  • 50:44 - 50:48
    não devemos nos apegar a ele,
  • 50:48 - 50:51
    nem às palavras, nem às formulações,
  • 50:51 - 50:54
    de maneira dogmática,
    como se fosse uma crença fixa.
  • 50:54 - 50:57
    Porque todos os ensinamentos
    são apenas expedientes,
  • 50:57 - 51:00
    estão apenas lá para nos ajudar
    a chegar à outra margem,
  • 51:00 - 51:03
    mas não para nos agarrarmos a eles
  • 51:03 - 51:07
    como se fossem dogmas ou crenças inquestionáveis.
  • 51:07 - 51:10
    As minhas palavras são como uma jangada.
  • 51:16 - 51:19
    É preciso largá-las.
  • 51:25 - 51:31
    [É preciso largá-las.]
  • 51:39 - 51:45
    É preciso largá-las,
    quanto mais então os ensinamentos errados.
  • 51:51 - 51:56
    [Quanto mais então os ensinamentos errados.]
  • 51:56 - 52:02
    Literalmente, ele disse:
    'Deixai ir o Dharma, quanto mais então não-Dharma.'
  • 52:02 - 52:05
    Significa o não-Dharma.
  • 52:16 - 52:18
    O que é o Dharma errado?
  • 52:18 - 52:23
    É acreditar que este corpo é permanente,
    que durará para sempre.
  • 52:25 - 52:31
    É a crença de que temos sentimentos
    que durarão eternamente.
  • 52:37 - 52:40
    Que, se nos entregarmos
  • 52:41 - 52:46
    e nos inundarmos de prazeres sensoriais,
  • 52:47 - 52:50
    isso nos levará à felicidade duradoura.
  • 52:50 - 52:54
    Esse é um tipo de entendimento errado.
    Não é sustentado pela experiência.
  • 52:55 - 52:59
    Mas podemos contar isso a nós mesmos.
  • 52:59 - 53:02
    Precisamos observar a maneira como a publicidade,
  • 53:02 - 53:05
    os sites que visitamos,
  • 53:06 - 53:10
    estão constantemente a reforçar
    esse tipo de crença,
  • 53:11 - 53:16
    que podemos dizer que é um ensinamento errado.
  • 53:16 - 53:22
    Temos que largar o Dharma,
    ainda mais o não-Dharma.
  • 53:23 - 53:28
    Talvez ao olhares para o teu feed no Twitter,
    ou até mesmo para um jornal,
  • 53:29 - 53:33
    isso esteja a regar as sementes do prazer sensorial,
  • 53:33 - 53:37
    a reforçar a ideia de que
    a felicidade está noutro lugar.
  • 53:37 - 53:41
    Que, se fores alguém importante,
    alguém na capa de uma revista,
  • 53:41 - 53:45
    alguém na capa do jornal,
  • 53:45 - 53:52
    então terás uma felicidade infinita.
  • 53:53 - 53:58
    Tudo será perfeito,
    porque serás uma estrela, certo?
  • 53:59 - 54:05
    Acho que a maioria de nós
    imediatamente considera essa ideia absurda,
  • 54:05 - 54:09
    mas, de alguma forma, mesmo achando a ideia absurda,
    ainda nos comportamos como se acreditássemos nela.
  • 54:10 - 54:12
    Queremos saber
    o que essas pessoas estão a fazer,
  • 54:12 - 54:14
    essas pessoas importantes nos jornais,
  • 54:14 - 54:17
    essas pessoas importantes
    nas capas das revistas.
  • 54:18 - 54:20
    E dizemos: "Bem, só queremos saber
  • 54:20 - 54:23
    porque estamos a investigar
    a natureza do sofrimento humano."
  • 54:25 - 54:28
    Mas podes fazer isso, basta encontrares-te a ti mesmo.
  • 54:28 - 54:32
    Claro que podemos sempre aprender
    com as experiências de outras pessoas,
  • 54:32 - 54:39
    mas cuidado, porque uma forma errada
    de compreender este ensinamento
  • 54:39 - 54:43
    é que as pessoas deixam de estudar o Dharma.
  • 54:43 - 54:45
    Dizem: "Não preciso do Dharma,
  • 54:46 - 54:49
    o Buda disse que o Dharma
    é como uma jangada. Deixo-a para trás."
  • 54:49 - 54:51
    Mas passam o resto do tempo
  • 54:51 - 54:54
    apegados ao feed do Twitter,
  • 54:55 - 54:57
    ou a ler jornais ou seja o que for,
  • 54:58 - 55:04
    e a regar as sementes da raiva,
    do desejo, do ciúme e assim por diante.
  • 55:05 - 55:08
    Precisamos de largar ambos.
    Não apenas o Dharma.
  • 55:10 - 55:14
    Esse é o ensinamento
    sobre o Dharma como uma jangada.
  • 55:15 - 55:18
    E ao fazê-lo, treinamo-nos a nós mesmos.
  • 55:18 - 55:22
    Percebemos quando estamos presos numa ideia
  • 55:22 - 55:25
    e conseguimos acalmar-nos
    e voltar à realidade,
  • 55:26 - 55:30
    à observação direta das coisas
    sem a aderência,
  • 55:31 - 55:35
    sem ficarmos presos à nossa perceção,
    presos às nossas formações mentais
  • 55:35 - 55:38
    com as quais queremos impor
    a nossa ideia ao mundo.
  • 55:40 - 55:42
    E então tens, tu és -
  • 55:43 - 55:45
    Isso é a prática do Budismo Engajado.
  • 55:46 - 55:50
    Então és capaz de ajudar.
  • 55:52 - 55:55
    Alguém que vive numa ideia ilusória,
  • 55:55 - 55:59
    preso aos seus julgamentos,
    às suas preocupações, aos seus medos,
  • 55:59 - 56:04
    não consegue fazer muito
    para ajudar os outros a sofrer menos.
  • 56:05 - 56:08
    É como cegos a guiar cegos.
  • 56:09 - 56:11
    Claro que existem
    situações de injustiça
  • 56:11 - 56:13
    e há sofrimento real no mundo,
  • 56:14 - 56:17
    mas precisamos de ser capazes
    de ver as coisas como são
  • 56:21 - 56:26
    para podermos ajudar,
    para tocarmos a verdadeira compaixão
  • 56:26 - 56:31
    e conseguirmos aliviar o sofrimento
    em nós e nos outros.
  • 56:31 - 56:38
    Essa é a prática profunda de um bodhisattva,
    a prática do despertar.
  • 56:43 - 56:47
    Essa história de nirvana
    com resíduo ou sem resíduo
  • 56:48 - 56:52
    é um produto de pensar demais sobre o nirvana,
  • 56:53 - 56:58
    tentando adicionar
    diferentes qualidades ao nirvana.
  • 56:59 - 57:04
    É muito mais simples do que isso.
    O nirvana é nirvana. Só isso.
  • 57:05 - 57:13
    O objetivo é tocar o nirvana, certo?
    Não falar sobre nirvana.
  • 57:15 - 57:19
    Está ali como
    um dedo a apontar para a lua.
  • 57:20 - 57:24
    Não nos devemos prender ao dedo.
    O dedo é a palavra nirvana.
  • 57:24 - 57:28
    Queremos olhar diretamente
    para a beleza da lua.
  • 57:28 - 57:35
    Essa é a natureza não condicionada,
    não o sinal que a indica.
  • 57:35 - 57:37
    Então, quer usemos o termo Deus,
  • 57:37 - 57:42
    quer usemos o termo
    nirvana, Alá, Javé,
  • 57:43 - 57:46
    tudo isso são apenas sinais
  • 57:47 - 57:51
    que nos ajudam a tocar
    o que não pode ser expresso,
  • 57:51 - 57:54
    o que não pode ser qualificado,
    o que não pode ser -
  • 57:54 - 57:57
    O que é incondicionado e incriado.
  • 58:04 - 58:10
    Temos de ter cuidado com o caminho
    que nos treina a ficarmos presos às nossas ideias.
  • 58:11 - 58:18
    O Buda, o Budismo, são ideias, palavras,
    que nos ajudam a libertar-nos
  • 58:19 - 58:22
    do nosso apego às palavras e conceitos,
  • 58:23 - 58:27
    do apego aos nossos cinco skandhas.
  • 58:29 - 58:32
    Talvez possamos ouvir o som do sino.
  • 58:42 - 58:43
    (Sino)
  • 58:47 - 58:53
    (Sino)
  • 59:22 - 59:27
    Como podemos descrever o nirvana? O Buda -
  • 59:40 - 59:42
    Temos ditos passados
  • 59:42 - 59:48
    do Buda a tentar descrever nirvana
  • 59:50 - 59:53
    para o propósito do despertar.
  • 59:54 - 59:58
    Ele está a ajudar os seus discípulos a despertarem.
  • 60:30 - 60:37
    No Udana, que são as exortações
    ou expressões sinceras do Buda,
  • 60:38 - 60:41
    há uma secção sobre nirvana.
  • 60:43 - 60:46
    Este é o Udana 8.3.
  • 60:48 - 60:55
    O Buda está em Shravasti, no Bosque de Jeta,
    no mosteiro de Anathapindika,
  • 60:56 - 61:04
    ensinando os bhikshus, os monges, e diz:
    "Existe, ó monges,"
  • 61:07 - 61:11
    [Existe, ó monges,]
  • 61:33 - 61:38
    No vocativo apenas escrevemos "ó".
  • 61:39 - 61:43
    "Existe, ó monges,
    o não-nascido,
  • 61:54 - 61:56
    o não-produzido -
  • 61:57 - 62:01
    [o não-nascido, o não-produzido]
  • 62:02 - 62:05
    Ou podemos dizer, não-surgido.
  • 62:18 - 62:20
    O não-feito,
  • 62:22 - 62:25
    [o não-feito,]
  • 62:32 - 62:34
    e o não-condicionado."
  • 62:34 - 62:39
    Podemos também dizer o não-nascido,
    o não-produzido, o não-feito.
  • 62:42 - 62:46
    [o não-condicionado.]
  • 62:55 - 62:58
    "Se não existisse o não-nascido -
  • 63:01 - 63:06
    Talvez devêssemos dizer
    se não existisse o não-nascido,
  • 63:09 - 63:13
    [Se não existisse o não-nascido,]
  • 63:18 - 63:21
    o não-feito,
  • 63:23 - 63:25
    [o não-feito,]
  • 63:29 - 63:30
    o não-produzido,
  • 63:40 - 63:45
    o não-produzido, o não-feito, o não-condicionado.
  • 63:47 - 63:55
    [o não-produzido, o não-feito, o não-condicionado]
  • 64:03 - 64:08
    então não haveria escapatória,
  • 64:09 - 64:16
    [então não haveria escapatória aqui]
  • 64:27 - 64:29
    nenhuma escapatória aqui
  • 64:32 - 64:34
    do nascido,
  • 64:36 - 64:39
    [do nascido,]
  • 64:43 - 64:46
    do produzido, do feito,
  • 64:50 - 64:56
    [do produzido, do feito,]
  • 65:01 - 65:03
    do condicionado."
  • 65:05 - 65:08
    [do condicionado.]
  • 65:20 - 65:26
    Udana 8.3.
  • 65:27 - 65:29
    [Udāna 8.3.]
  • 65:29 - 65:33
    "'Tatiya Nibbāna Paṭisaṁyutta Sutta'."
  • 65:34 - 65:38
    "'Tatiya' é terceiro. O terceiro nirvana -
  • 65:39 - 65:45
    A terceira secção, o terceiro texto, sutra,
  • 65:51 - 65:53
    na secção sobre o nirvana.
  • 65:54 - 65:59
    "Mas, como existe o não-nascido,
    o não-produzido, o não-feito, o não-condicionado,
  • 65:59 - 66:05
    há uma escapatória do nascido,
    do produzido, do feito e do condicionado."
  • 66:06 - 66:10
    Não escrevo isso aqui,
    mas podes adicionar:
  • 66:11 - 66:18
    "Existe, ó monges, o não-nascido, o não-
    produzido e não-feito, o não-condicionado.
  • 66:18 - 66:20
    Se não existisse -
  • 66:21 - 66:24
    Desculpa, 'Se não existisse
  • 66:25 - 66:29
    o não-nascido, o não-produzido,
    o não-feito, o não-condicionado...'
  • 66:29 - 66:34
    Faltam algumas palavras aqui,
    "Não haveria
  • 66:35 - 66:39
    escapatória
    do nascido, do produzido,
  • 66:39 - 66:41
    do feito, do condicionado.
  • 66:41 - 66:45
    Mas como existe o não-nascido,
    o não-produzido, o não-feito,
  • 66:45 - 66:48
    o não-condicionado,
    é por isso que se pode encontrar uma escapatória
  • 66:49 - 66:52
    do nascido, do produzido,
    do feito, do condicionado."
  • 66:54 - 66:56
    Este é o Buda a fazer o seu melhor,
  • 66:57 - 67:00
    usando palavras para descrever nirvana.
  • 67:02 - 67:06
    Em outros momentos, ele apenas disse,
    "Como se pode descrever nirvana?"
  • 67:07 - 67:09
    Posso quase imaginar o Buda,
  • 67:09 - 67:12
    embora não ache que o Buda
    teria simplesmente levantado as mãos.
  • 67:14 - 67:19
    Sentes que a certa altura
    só há silêncio,
  • 67:20 - 67:23
    e a própria presença do Buda.
  • 67:27 - 67:30
    Isso é tudo o que podemos usar para atestar
  • 67:30 - 67:34
    a nossa confiança
    no despertar do mestre.
  • 67:37 - 67:42
    Num outro sutra, que não vou escrever agora,
    o Buda diz:
  • 67:43 - 67:47
    "Existe, ó bhikshus, aquela dimensão
    onde não há terra,
  • 67:47 - 67:54
    nem água, nem fogo, nem vento,
    nem dimensão do espaço infinito,
  • 67:54 - 67:59
    nem dimensão da consciência infinita,
    nem dimensão do nada,
  • 68:00 - 68:04
    nem dimensão de nem percepção
    nem não-percepção,
  • 68:04 - 68:08
    nem este mundo, nem outro mundo,
    nem lua nem sol.
  • 68:09 - 68:14
    Ali, mendicantes, ali, ó bhikshus,
    digo que não há vinda nem ida,
  • 68:15 - 68:20
    nem permanência, nem desaparecimento,
    nem reaparecimento.
  • 68:21 - 68:26
    Não está estabelecido,
    não procede e não tem suporte.
  • 68:27 - 68:32
    É incondicionado.
    Simplesmente, é o fim do sofrimento."
  • 68:36 - 68:41
    Portanto, notamos que há muita negação aqui.
  • 68:42 - 68:45
    Para descrever o incondicionado,
  • 68:45 - 68:49
    temos de remover tudo o que é condicionado.
  • 68:50 - 68:54
    Então, nem isto, nem aquilo, nem aquilo, nem aquilo.
  • 68:55 - 69:00
    E, no entanto, existe ainda a armadilha
    de compreender o nirvana
  • 69:00 - 69:08
    como sendo idêntico ao niilismo, à aniquilação.
  • 69:08 - 69:11
    Isso é um entendimento errado,
    como já aprendemos.
  • 69:12 - 69:17
    O nirvana é a ausência de ilusão
    e das aflições.
  • 69:18 - 69:25
    Pode ser testemunhado por meio
    dos skandhas, por meio do condicionado.
  • 69:25 - 69:29
    Na dimensão histórica, tocamos o absoluto.
  • 69:29 - 69:32
    Ele está bem no coração do histórico.
  • 69:32 - 69:35
    Não tentamos livrar-nos
    da dimensão histórica,
  • 69:35 - 69:40
    do mundo dos fenómenos,
    do nascimento e da morte,
  • 69:40 - 69:44
    da vinda e da ida,
    do ser e do não-ser, do mesmo e do diferente.
  • 69:44 - 69:46
    Não tentamos livrar-nos disso,
  • 69:47 - 69:50
    como se estivéssemos enojados
    com a dimensão histórica,
  • 69:50 - 69:54
    como se quiséssemos viver apenas
    na dimensão última em cada momento da vida diária
  • 69:54 - 69:57
    e, por isso, tentássemos afastar
    a dimensão histórica.
  • 69:57 - 70:01
    Esse é um entendimento errado,
    um entendimento niilista.
  • 70:02 - 70:08
    É como se, ao cortar a vida,
    tocássemos o nirvana.
  • 70:08 - 70:11
    Essa é uma forma muito errada de compreender.
  • 70:11 - 70:15
    No Sutra sobre a Melhor Maneira
    de Agarrar uma Cobra,
  • 70:15 - 70:19
    o Buda falou sobre o perigo
    destas visões erradas.
  • 70:20 - 70:23
    Mesmo quando estamos a negar,
  • 70:23 - 70:27
    quando descrevemos o nirvana
    por meio da negação,
  • 70:27 - 70:33
    isso não significa
    que estamos a rejeitar a vida. Na verdade, significa o oposto.
  • 70:34 - 70:37
    Significa libertar a vida.
  • 70:37 - 70:40
    É quando somos capazes, como seres humanos,
  • 70:40 - 70:45
    de ir além dos nossos ciúmes,
    da nossa raiva, da nossa preocupação, dos nossos medos,
  • 70:45 - 70:50
    de todas essas coisas
    que nos prendem ao nosso corpo,
  • 70:50 - 70:56
    e sermos realmente livres.
    E isso é algo que podemos tocar no momento presente.
  • 70:58 - 71:02
    Acho que esse será o próximo princípio.
  • 71:08 - 71:13
    O quinto princípio. É possível tocar o nirvana
    no momento presente.
  • 71:14 - 71:18
    Significa que, na dimensão histórica,
    podemos tocar a dimensão última.
  • 71:19 - 71:22
    E isso será na próxima aula.
  • 71:23 - 71:30
    Portanto, obrigado, queridos amigos,
    queridos irmãos e irmãs, por acompanharem.
  • 71:30 - 71:34
    Encorajo aqueles que estão a assistir online
    pela primeira vez
  • 71:34 - 71:41
    a voltarem atrás
    e começarem pela primeira aula.
  • 71:41 - 71:43
    Esta é a quarta aula.
  • 71:44 - 71:51
    E também a seguirem os links no vídeo
    para os 40 princípios, para poderem acompanhar melhor.
  • 71:51 - 71:57
    Tento escrever grande no quadro,
    mas talvez seja difícil seguir a minha escrita.
  • 71:57 - 72:00
    Por isso, é melhor terem o texto convosco.
  • 72:01 - 72:06
    Se tivermos mais tempo, talvez possamos
    disponibilizar mais materiais,
  • 72:06 - 72:11
    como alguns dos sutras que são citados, e assim por diante.
  • 72:12 - 72:15
    Mas terei de ver se temos
    capacidade para isso.
  • 72:17 - 72:20
    Vamos terminar com três sons do sino,
  • 72:21 - 72:23
    voltar à nossa respiração,
  • 72:25 - 72:28
    e desfrutar de estar presente com o nosso corpo
  • 72:28 - 72:32
    sem apego, sem agarrar-se a nada.
  • 72:41 - 72:42
    (Sino)
  • 72:46 - 72:52
    (Sino)
  • 73:08 - 73:14
    (Sino)
  • 73:29 - 73:36
    (Sino)
Title:
The 40 Tenets of Plum Village with Brother Phap Luu | Class #4
Description:

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Video Language:
English
Duration:
01:14:28

Portuguese subtitles

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