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Como piratear as nossas células para lutar contra o cancro — Greg Foot

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    Ok, vocês são um robô de carne
    com 4000 milhões de anos.
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    Sim, ouviram bem.
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    Visto que vocês são feitos
    de 30 biliões de células
  • 0:16 - 0:19
    e cada uma delas tem a sua função própria,
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    vocês são um robô feito
    de biliões de mini robôs,
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    vocês são um mega robô de carne!
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    A vossa missão, desde há
    uns quatro mil milhões de anos
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    — e enquanto andarem a jogar
    este jogo da vida —
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    é salvaguardar o código.
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    Duplicá-lo. Transmiti-lo.
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    O problema é que vocês são uma nódoa
    a copiar o vosso código.
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    Sempre que ele é copiado,
    amontoam-se os erros.
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    Nada bom, quando um erro
    prejudica a sobrevivência de um robô
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    mas, por vezes, um erro
    ajuda-os a sobreviver
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    e eles transmitem esse defeito no código.
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    É a evolução em poucas palavras, não é?
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    Ou seja, vocês não são o resultado
    de um plano perfeito, segundo creio.
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    Vocês são o resultado de milhares
    de milhões de anos de cópias malfeitas.
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    Adiante.
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    Outra razão por que não são
    totalmente espetaculares
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    é porque esse vosso mega robô
    se avaria com frequência.
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    Felizmente, os cardiologistas,
    os imunologistas, os microbiólogos
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    — todos eles —
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    têm passado séculos a estudar
    os nossos sensores e cablagem
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    por isso, se alguma coisa corre mal,
    normalmente conseguem consertá-la.
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    Mas onde têm dificuldade é quando
    o maquinismo se vira contra si mesmo,
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    quando um erro de cópia
    faz com que uma célula
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    comece a dividir-se
    descontroladamente,
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    a crescer e a multiplicar-se,
    formando um tumor.
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    É um cancro.
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    Infelizmente, mesmo com a melhor
    da nossa medicina moderna,
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    alguns cancros iludem o tratamento.
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    Mas é aqui que entra na história
    um novo grupo de biólogos:
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    Os "Biólogos Sintéticos".
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    Estes "hackers" biológicos combinam
    a ciência, a medicina e a engenharia
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    para reescrever o código
    e reparar o irreparável.
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    Os "hackers" biológicos entram
    no código genético de um doente
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    e reprogramam o seu sistema imunitário
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    para reconhecerem
    as células cancerosas e destruí-las.
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    Chama-se terapia CAR de células T
    e é fenomenal.
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    Vejam, estamos constantemente
    a ser atacados por agentes patogénicos
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    — bactérias unicelulares, vírus e fungos.
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    Apesar de decidirem, no passado,
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    manterem-se isolados e não se armarem
    em heróis, como nós fizemos,
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    esses agentes patogénicos veem-nos,
    na nossa glória de mega robôs de carne,
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    como uma fortaleza pronta para a pilhagem.
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    Felizmente, temos uma equipa de segurança
    preparada para combater estes invasores
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    — o nosso sistema imunitário —
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    e alguns dos guardas principais
    são os glóbulos brancos.
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    Pesquisam a escuridão
    no nosso espaço interior,
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    verificando os BI das células
    por onde passam...
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    embora esses BI não sejam
    cartões com nomes
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    mas fragmentos de proteínas
    na superfície das células,
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    chamados antigenes.
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    Há dois tipos desses guardas
    — células T e células B.
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    As células T verificam os BI dos antigenes
    usando garras especiais,
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    recetores que combinam
    com um determinado antigene.
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    Se encontram um par, fixam-se
    e libertam químicos tóxicos
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    que rebentam a membrana
    da célula invasora.
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    As células B, suas colegas,
    criam anticorpos
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    — montes de pequenas proteínas —
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    pequenas garras que se fixam
    perfeitamente num determinado antigene,
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    marcando-os para destruição.
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    Estas duas companheiras
    dão-nos cobertura
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    e o nosso sistema imunitário é excecional
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    em detetar e combater
    os agentes patogénicos
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    que nos invadem do exterior.
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    Contudo, não são tão bons em detetar
    as nossas células que se avariaram.
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    Os antigenes nas células cancerosas
    não têm aspeto estranho,
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    são muito parecidos
    com as nossas células
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    e as células T e B não estão
    programadas para os atacarem.
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    A forma habitual de lidar com o cancro
    é tentar extrair o tumor
  • 3:38 - 3:41
    ou recorrer à radioterapia
    e, depois, à quimioterapia,
  • 3:41 - 3:44
    para destruir ou bloquear
    o crescimento das células cancerosas.
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    Mas, se for um cancro do sangue,
    se ele está a circular por todo o corpo,
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    não é possível fazer isso.
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    Se o cancro do sangue começa
    nos glóbulos brancos
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    — esses guardas fundamentais
    do nosso sistema imunitário —
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    é extremamente difícil detetá-lo.
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    É o que acontece com a leucemia
    linfoblástica aguda
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    e é aqui que a terapia CAR
    de células T entra em ação.
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    Os "hackers" biológicos reprogramam
    o sistema imunitário do doente
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    para reconhecer determinados antigenes
    — aqueles fragmentos de proteínas —
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    nas células cancerosas.
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    Para isso, primeiro precisamos
    de milhões de células T de um doente.
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    Depois, para levar as células T
    a fazer uma coisa diferente,
  • 4:24 - 4:28
    precisamos de substituir
    o seu código normal por uma coisa nova,
  • 4:28 - 4:29
    uma coisa que concebemos.
  • 4:29 - 4:34
    O que os biólogos sintéticos podem fazer
    com o ADN é super interessante.
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    Usam um computador para montar
    as sequências de bases
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    — as letras químicas
    que especificam o ADN —
  • 4:40 - 4:44
    e modelam no computador
    o que esse novo código genético vai fazer.
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    Depois, fazem essas sequências
    numa impressora de ADN
  • 4:47 - 4:48
    — sim, isso existe! —
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    que imprime, não com tinta
    ou com polímero plástico
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    numa impressora 3D,
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    mas com os fundamentais
    blocos constituintes da vida,
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    com esses A e C e T e G.
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    O novo código que eles concebem
    para uma célula T tem três instruções:
  • 5:03 - 5:06
    1. Diz-lhe como reconhecer
    e matar uma célula cancerosa.
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    Mais especificamente,
    como modificar um anticorpo
  • 5:10 - 5:13
    — aquilo que as células B fazem
    para realçar um antigene alvo.
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    O anticorpo é modificado
    para fazer um novo recetor
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    que pode detetar os antigenes particulares
    no cancro específico.
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    2. Diz-lhe para fazer cópias de si mesma
    quando encontrar a célula cancerosa.
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    3. Diz-lhe para sobreviver
    no corpo do doente.
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    Para introduzir este novo código
    nas células T do doente, usa-se um vetor
  • 5:34 - 5:36
    — é uma coisa que infetará
    facilmente a célula T
  • 5:36 - 5:39
    e introduzirá nela o ADN personalizado.
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    E pronto. Uma célula T CART.
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    Este nome provém de um monstro
    que cospe fogo, da antiga Grécia,
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    que tinha cabeça de leão,
    corpo de cabra e cauda de serpente.
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    Chamava-se "Chimera", um nome
    que hoje é usado para uma coisa
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    que contém dois ou mais tipos
    diferentes de tecidos ou células.
  • 5:56 - 5:59
    Como este código genético
    de células recém-modificadas
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    é, em parte, uma célula T
    e, em parte, um anticorpo,
  • 6:01 - 6:05
    é um C'himera e vai à procura
    do A'ntigene do cancro,
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    usando o seu novo R'ecetor.
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    Antes de introduzirmos as células T
    multiplicadas no doente,
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    damos-lhe uma pequena dose
    de quimioterapia
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    para eliminar
    as células T existentes.
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    Depois, reinserimos as novas
    células T modificadas,
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    as células T CAR.
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    Estas seguem a programação
    normal do ADN para pesquisarem.
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    Contudo, graças ao seu novo código,
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    o que procuram foi alterado:
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    agora a sua missão é encontrar
    as células cancerosas e destruí-las.
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    Ao contrário das drogas convencionais
    com base nos químicos
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    que se esgotam ou são eliminadas
    do corpo muito rapidamente,
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    as células T CART são drogas vivas
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    que se mantêm na corrente sanguínea
    do doente durante anos.
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    É uma enorme melhoria.
  • 6:51 - 6:53
    O lado adverso é que são muito caras.
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    Cada tratamento com células T CAR
    é personalizado conforme o doente
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    e é mais difícil que funcionem
    com cancros mais comuns,
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    como o da mama ou do pulmão,
  • 7:01 - 7:04
    porque é preciso um antigene específico
    nas células cancerosas
  • 7:04 - 7:06
    como alvo para as células T CAR
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    o que é muito mais fácil de encontrar
    nos cancros do sangue.
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    Mas ainda vamos no princípio,
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    e há um futuro animador
    para a terapia com células T CAR.
  • 7:14 - 7:16
    Investigadores, como o Dr. Martin Pule,
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    e a sua equipa
    no University College London,
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    estão a trabalhar para melhorar
    os tratamentos da leucemia e do linfoma
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    e tem havido recentemente
    trabalho promissor em cancros sólidos.
  • 7:25 - 7:27
    Graças à terapia das células T CAR,
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    a taxa de sobrevivência da leucemia
    linfoblástica aguda B tem melhorado muito
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    — quase todos os doentes
    entram em remissão,
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    o que significa que a leucemia
    deixa de ser detetada
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    e a maioria dos doentes
    mantêm-se em remissão.
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    A pirataria biológica está aqui
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    e pode reprogramar o vosso código genético
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    para possibilitar
    que vosso mega robô de carne
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    faça coisas que não conseguia fazer antes!
Title:
Como piratear as nossas células para lutar contra o cancro — Greg Foot
Speaker:
Greg Foot
Description:

Vejam a lição completa: https://www.youtube.com/watch?v=Mt5C5fhuU_0

O corpo humano é formado por cerca de 30 biliões de células que contêm um código que se tem duplicado vezes sem conta ao longo de milhares de milhões de anos — com diversos graus de rigor. O que acontece quando o sistema se avaria e o maquinismo se volta contra si mesmo, levando ao cancro? Greg Foot mergulha na ciência, contando como biólogos estão a "piratear" o corpo humano para tentar reparar o que aparentemente é irreparável.

Lição de Greg Foot, realização de Pierangelo Pirak.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TED-Ed
Duration:
08:01
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for CAR-T cell therapy- Greg Foot
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for CAR-T cell therapy- Greg Foot
Mafalda Ferreira accepted Portuguese subtitles for CAR-T cell therapy- Greg Foot
Mafalda Ferreira edited Portuguese subtitles for CAR-T cell therapy- Greg Foot
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for CAR-T cell therapy- Greg Foot
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for CAR-T cell therapy- Greg Foot
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for CAR-T cell therapy- Greg Foot

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