A felicidade é uma questão de escolha | Sandra Meunier | TEDxCannes

Esta palestra foi feita num evento local TEDx, produzido independentemente das Conferências TED.

Através de uma intervenção emocionante e inspiradora, Sanda Meunier, terapeuta de arte em cuidados paliativas, questiona-nos sobre a capacidade de nos concentrarmos no que é positivo e vivo, face à doença e ao fim de vida.
Sem negar o nosso sofrimento, as nossas experiências dolorosas podem igualmente inspirar-nos. Treinemos a alegria todos os dias antes que seja tarde demais!

Descobri algo incrível
há pouco tempo.

Um estudo muito sério demonstrou

que somos campeões do mundo.

Ouviram bem?

Somos campeões do mundo!

Bem, a França é campeã do mundo...

em pessimismo!

A França, que é certamente o país
com mais benefícios sociais,

tem, ao mesmo tempo,
as pessoas mais tristes.

É estranho, não acham?

É disso que hoje vos venho falar.

Fala-se muito
de desigualdades sociais,

e quero falar-vos
da desigualdade da alegria.

Sou terapeuta de arte,

e intervenho
nos serviços de cuidados paliativos

e de oncologia para adultos

há doze anos.

Acompanho as pessoas
gravemente doentes e em fim de vida,

e tento acalmá-las.

Dar-lhes alegria.

Quando lá vou, sou uma "doutora palhaço".

Quer dizer, uma personagem imaginária,

com formação para uma relação de ajuda.

Passo o desejo de vida,

e desperto a alegria.

Os pacientes têm recursos incríveis.

Ensinaram-me tudo.

Achamos que os acompanhamos

mas, na verdade,
são eles que fazem o trabalho todo.

Ensinaram-me tais coisas,

tais verdades,

que tenho vontade
de transmiti-las com alegria.

Não somos de todo iguais
nos nossos recursos de vida e alegria,

face à doença e à morte.

Haveria uma natureza de homem
com capacidade para a alegria,

e outro tipo de homem
que não teria essa capacidade.

Como aqueles
que veem o copo meio vazio

e os que veem o copo meio cheio.

Penso naquele homem

que sofre de um cancro no reto
em fase avançada.

Está deitado na sua cama de hospital,

e a parte incrível,

é que chora.

Chora não de tristeza
mas de alegria!

Não para de repetir:

"Como sou feliz!"

A felicidade é simples, é a alegria.

Com a família, sim,
damos todos as mãos,

e rodeamo-lo,

e ele não para de repetir:

"Como sou feliz!

"Mas estas são lágrimas de felicidade.

"Estou muito feliz,

"vocês estão todos à minha volta!"

Percebem?

De facto, em vez de se lamentar,

ele está contente.

Para intensificar
ainda mais a sua alegria,

pergunto-lhe quais são
as suas memórias mais belas.

E ele canta e ri.

Nada o para.

O seu corpo está deitado,

mas é todo o seu ser
que está levantado.

A sua esposa diz-me
um pouco mais tarde no corredor

como toda a vida viveu feliz.

"É um ser de felicidade.
Transforma sempre tudo em positivo."

Percebem?

Teve a alegria consigo até ao fim da vida.

Será que eu conseguirei fazer o mesmo

para o meu fim de vida?

Será que consigo?

E vocês?

Bem, é verdade que é um caso raro,
esse paciente alegre que ainda ri.

Não encontro muito isto.

Por outro lado, costumo acompanhar
quem tenha grandes alegrias

na travessia da sua doença
até ao fim da vida.

"Como?"
perguntarão vocês.

Concentrando-se em tudo
o que é essencial neles.

Numa alegria íntima,

intrínseca,

num estado de alma maior do que o corpo.

Se conseguimos fazer sentir
a uma pessoa que sofre

que é muito mais do que o seu corpo,

já a ajudámos a ser mais alegre.

Penso naquela pessoa
dobrada nela própria

que vou ver à oncologia
na sua cama de hospital.

Ele lamenta-se.

Diz-me: "Mas porquê eu?"

"Porque é que eu tenho cancro?

"Sempre fui gentil."

Proponho-lhe então uma frase recurso

para o ajudar a atravessar a sua doença.

Ele responde-me:

"Eu não mereço esta doença."

Convido-o então a lembrar-se
das melhores recordações da sua vida.

E ele conta-me. Fala-me da natureza.

Fala-me do mar, da montanha.

Fala-me da sua querida Croácia
e das suas gentes,

adora as pessoas.

Depois da evocação da alegria,

a sua frase transforma-se.

Diz: "Eu sou mais do que a doença."

No fim da minha visita, ele diz:

"É melhor ainda. O meu coração
é muito maior do que a doença."

Abre os braços para mim e abraçamo-nos.

Percebem?

O seu ponto de vista
sobre o que atravessa mudou

graças à evocação da felicidade.

Passou de vítima a criador.

Interessante, não acham?

Para tornar mais felizes
aqueles que sofrem,

aprendamos a acordar a nossa alegria

e transmitamo-la.

É o princípio de base.

Face à iminência da morte,

os pacientes ensinaram-me
a formidável capacidade dos humanos

de se concentrarem no que é positive,

em tudo o que vive.

E penso na pessoa que agora acompanho

que se chama Danielle, tem 41 anos.

Está nos cuidados paliativos,

já não pode andar,

ficou incontinente

e luta pela vida, custe o que custar.

Não para de me repetir:

"Mas quando o meu marido vem,
aproveito cada momento.

"A vida é preciosa.

"Não paro de dizer aos meus amigos:

" 'Desfrutem da vida
antes que seja tarde demais.'

"Porque é que não me ouvem?"

diz-me muitas vezes enquanto chora.

Porque as pessoas

não sabem a sorte que têm
por viverem com saúde.

Há poucas coisas graves na vida.

Mas vivam,
vivam antes que seja tarde.

Os pacientes também me ensinaram

que todas as experiências,
mesmo as dolorosas,

são uma fonte de abertura.

É muitas vezes a pergunta
que faço no serviço de oncologia:

"Então, para esta doença,

"qual é a nova oportunidade?"

"Nunca vi a vida desta maneira."

responde-me esse homem, vivaz.

Este homem
que já não tem cabelo nem energia,

que correu durante toda a vida.

Trinta minutos depois tem a resposta.

"Sim, a nova oportunidade,

"viver o presente."

E penso em todos os que me dizem:

aproveitar mais o essencial,
escolher os amigos,

dizer mais vezes às pessoas que as amamos.

Fazer mais coisas com sentido.

Dizer mais às pessoas que as amamos.

Achamos sempre que a felicidade
é aquilo que possuímos.

Assim que perdemos tudo,

percebemos que o essencial vive no coração

é lá que está a verdadeira riqueza.

Tornemos a vida mais leve.

Não neguemos o sofrimento,

mas mudemos de nível.

Isto lembra-me aquela senhora baixinha
que vi no serviço de oncologia.

Quando a vou ver,
ela está profundamente deprimida,

por não poder fazer mais nada.

E eu disse: "Mas o que é que
já não podes fazer?"

E ela diz-me: "Não posso mais
ir às compras.

"Não posso comer grandes refeições.

"Não posso fazer a limpeza da casa."

Embora na minha opinião,
isso não seja assim tão mau.

"Já não posso convidar amigos,
fazer grandes refeições."

Pego-lhe então na mão,

e digo-lhe: "E isto?",

e envio-lhe muito amor.

E ela devolve-mo.

Há um fluxo incrível entre nós.

E digo-lhe: "E isto?

"Ainda podes?"

Ela sorri: "Sim, posso."

E a sua filha, cúmplice, também sorri.

É aí que se põe a dizer
tudo o que gosta de fazer.

Ela gosta de ver pessoas bonitas.

As raparigas bonitas,
e os homens bonitos.

E digo-lhe: "E contemplar a beleza,

"podes fazer isso?"

Ela responde: "Sim, posso."

Eu volto-me para o grupo de pacientes

e digo-lhes:

"Alguém viu as flores crescerem
nestes dias?"

Baixam todos a cabeça e dizem que não.

E se nos dedicássemos a ver tudo
o que verdadeiramente nos toca.

Volto-me para a velha senhora
que ainda está deprimida,

e coloco a mão no seu coração.

"O que é verdade, é que ainda podes amar.

"Ainda podes fazer isso.

"E se o fizeres, vais encontrar a alegria."

Ela sorri: "Sim."

Então digo-lhe:

"E se a liberdade fosse isso?

"Amar.
Ver as flores crescerem.

"Dar tempo ao tempo.

"Amar.
Ver as flores crescerem.

"Dar tempo ao tempo."

Quando saí da sala de espera,

a senhora baixinha
tinha mudado completamente a energia.

Ela tinha o que era preciso,

mas será que o sabia?

E se pudéssemos mudar
o olhar sobre quem somos

e sobre o que atravessamos.

O que é certo,

é que todas estas histórias que vivi

convenceram-me completamente.

A felicidade é um trabalho
de todos os dias.

Sim.
De todos os dias!

Poderíamos então descobrir
mais verdades essenciais.

Seria uma espécie
de gramática da felicidade.

Em primeiro lugar, a conjugação:
o presente.

A felicidade está no presente.

Segundo.

Dar sentido à nossa vida.

Terceiro.

Ter um sonho e torná-lo
realidade enquanto é tempo.

Quatro.

Dar-nos conta de que o simples
facto de viver é por si só maravilhoso

e colocar alegria
em tudo o que fazemos.

Cinco.

Sorrir cada vez mais,
torna-se cada vez mais fácil.

Seis.

Estar contentes com o que temos
em vez de querermos sempre mais.

E, sobretudo, sete.

Amar,

e deixar amor em todas as nossas ações.

Pouco importa qual a nossa profissão.

Pouco importa.
Pouco importa a vida que temos,

o sucesso social ou não.

O mais importante,

é como conseguimos dar sentido à vida,

como amamos,

e como vivemos com mais alegria.

Sejamos criadores,

artistas da alegria.

Dizem-me muitas vezes
que faço um trabalho extraordinário.

Mas não faço. De todo.

No entanto, faço-o certamente
de maneira extraordinária.

Todos podemos fazer o nosso trabalho
de forma extraordinária.

Quer dizer, com mais alegria,

e com mais sentido.

Deixemos de ser os campeões
do mundo em infelicidade.

Não esperemos pelo dia de morrer

para nos darmos conta
de que a felicidade é o agora.

É a boa novidade do dia:

metamos as nossas roupas de alegria
e tornemos os outros mais felizes.

Se não podemos mudar a vida,

podemos mudar
a nossa perspetiva sobre ela.

Obrigada.

(Aplausos)