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O grande artista do futuro não será humano | Leonel Moura | TEDxAveiro

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    Olá, boa tarde.
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    Eu sou artista, não sou nada mais...
  • 0:33 - 0:37
    Nos últimos anos tenho-me interessado
    muito por ciência.
  • 0:37 - 0:39
    Sempre me interessei muito por ciência,
    desde jovem.
  • 0:39 - 0:43
    Mas, nos últimos anos, muito mais seriamente.
  • 0:43 - 0:47
    A maioria dos meus amigos atuais
    são cientistas, não são artistas.
  • 0:47 - 0:50
    Acho as conversas deles muito mais
    excitantes e produtivas,
  • 0:50 - 0:53
    mas bom, é uma opção.
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    Não tenho nada contra os artistas,
    obviamente, sou eu próprio um artista.
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    Mas eu acho que aquilo que define um artista
    no século XXI, e após todo o século XX,
  • 1:07 - 1:11
    é exatamente o tema desta conferência,
    que é: ultrapassar limites.
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    A arte do século XX, sobretudo,
    tornou-se numa atividade
  • 1:19 - 1:23
    que visa ultrapassar os limites da própria arte.
  • 1:23 - 1:27
    Se nós repararmos, ao longo do século XX,
    cada artista vinha com uma proposta
  • 1:27 - 1:31
    de fazer uma coisa que ainda ninguém
    tinha feito: usar um novo material,
  • 1:31 - 1:37
    usar uma nova perspetiva,
    fazer as coisas mais incríveis, incluindo,
  • 1:37 - 1:40
    logo, no início do século,
    quando o Marcel Duchamp
  • 1:40 - 1:43
    pega num urinol e lhe chama uma fonte,
  • 1:43 - 1:47
    portanto, sendo uma escultura, isso foi aceite
    – na altura não foi, mas depois foi –
  • 1:47 - 1:49
    e está agora no MoMA, não é, no museu,
    está consagrado,
  • 1:49 - 1:52
    é uma obra-prima do século XX, é um urinol...
  • 1:52 - 1:55
    (Risos)
  • 1:55 - 1:58
    ...e, portanto, quando isso aconteceu,
    tudo é possível.
  • 1:58 - 2:04
    E eu, como artista, pensei, com essa ideia
    de ultrapassar os limites:
  • 2:04 - 2:06
    "O que é que eu posso fazer?
  • 2:06 - 2:10
    "O quê, vou pintar um quadro muito grande,
    vou pintar um quadro, sei lá...
  • 2:10 - 2:13
    "...com quadrados e triângulos, coisa que
    ainda eventualmente ninguém fez,
  • 2:13 - 2:17
    "ou vou fazer uma escultura não sei quê,
    toda esquisita, ou vou não sei quê..."
  • 2:17 - 2:21
    e estava a pensar: "O que é que eu vou fazer?..."
  • 2:22 - 2:25
    ...nessa perspetiva de ultrapassar limites.
  • 2:26 - 2:30
    E, então, pensei: "E se eu não fizer nada?
  • 2:30 - 2:33
    E se eu, em vez de ser eu a fazer qualquer coisa,
  • 2:33 - 2:38
    "eu for capaz de arranjar uma máquina
    que faça as coisas,
  • 2:38 - 2:41
    mas que não faça as minhas coisas,
  • 2:41 - 2:44
    "porque isso, há muitas máquinas
    que fazem o que nós queremos.
  • 2:44 - 2:49
    "Não, não, uma máquina que fosse capaz
    de fazer a sua própria coisa.
  • 2:49 - 2:54
    "A sua própria arte."
    Esta é forte mas, era...
  • 2:54 - 2:57
    É essa a minha intenção
    desde o início deste projeto,
  • 2:57 - 3:00
    quando eu comecei, há mais de uma década,
  • 3:00 - 3:05
    a fazer máquinas criativas e robôs criativos.
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    Se calhar, percebem isto melhor,
  • 3:07 - 3:13
    mostrando alguns exemplos
    desta breve história, digamos.
  • 3:13 - 3:17
    O primeiro robô que eu fiz, não era,
    sequer, um verdadeiro robô,
  • 3:17 - 3:21
    pelo menos, não era autónomo.
  • 3:21 - 3:24
    Era uma espécie de
    uma máquina de "cav-cam",
  • 3:24 - 3:28
    muito simples, que funcionava
    como um braço robótico.
  • 3:28 - 3:31
    Portanto, no fundo, tinha aqui...
    pus-lhe um pincel,
  • 3:31 - 3:36
    mas o centro deste robô, digamos, criativo,
  • 3:36 - 3:41
    era o computador, onde estava a correr
    um algoritmo de tipo novo, na altura,
  • 3:41 - 3:47
    porque isto foi feito no início deste século,
    e ainda era muito novo,
  • 3:47 - 3:50
    um tipo de algoritmo que se chamava
    de "vida artificial".
  • 3:50 - 3:52
    Já não era "inteligência artificial".
  • 3:52 - 3:55
    Era uma outra coisa parecida
    com inteligência
  • 3:55 - 3:59
    ou derivada da inteligência artificial, mas
    que nós chamamos de "vida artificial".
  • 3:59 - 4:07
    E porquê? Porque simula comportamentos
    biológicos, no caso, de formigas.
  • 4:09 - 4:13
    E, portanto, aquele computador,
    estava, ele, ali,
  • 4:12 - 4:15
    aquele programa, digamos, aquele algoritmo,
  • 4:15 - 4:18
    estava a gerar uma pintura e
    estava a dar a ordem ao braço,
  • 4:18 - 4:22
    para fazer, simplesmente,
    portanto, essa pintura.
  • 4:22 - 4:25
    Isto pode parecer uma coisa super rudimentar,
  • 4:25 - 4:29
    qualquer criança faz estes rabiscos.
    Não têm interesse nenhum.
  • 4:29 - 4:31
    Mas a verdade é que, até àquela altura,
  • 4:31 - 4:34
    nunca ninguém tinha feito isto.
  • 4:34 - 4:39
    E isso chamou, não a atenção dos artistas,
    que a maioria, mesmo dos meus amigos,
  • 4:39 - 4:45
    não acharam piada nenhuma a isto,
    mas os cientistas acharam muita piada.
  • 4:45 - 4:51
    De tal maneira que este mesmo desenho
    apareceu na capa duma revista do MIT,
  • 4:51 - 4:57
    dedicada exatamente à vida artificial
    e é uma revista importantíssima,
  • 4:57 - 5:00
    porque é, nesta área,
    a mais importante que existe.
  • 5:00 - 5:09
    Mas, depois desta experiência,
    eu queria sair do computador.
  • 5:09 - 5:13
    E, então, criei uma série de robôzinhos,
    tipo formigas,
  • 5:13 - 5:18
    que, em conjunto, iam criando
    linhas e manchas de cor,
  • 5:18 - 5:22
    através, no fundo,
    da interação com a própria cor.
  • 5:22 - 5:25
    Portanto, eles iam construindo...
    uma pintura.
  • 5:25 - 5:30
    Veja-se como aquele se excita quando
    chega ao pé da tinta... (Risos)
  • 5:30 - 5:31
    ...fica ali, todo... nervoso.
    (Risos)
  • 5:31 - 5:34
    De resto, andam assim... pronto.
  • 5:34 - 5:37
    Depois desta experiência com os robôs,
  • 5:37 - 5:41
    tive um convite do Museu de História Natural
    de Nova Iorque,
  • 5:41 - 5:44
    a ver se eu era capaz de fazer um robô
    para estar no museu a fazer desenhos.
  • 5:44 - 5:49
    Está lá, é este robô. Isto, aliás,
    é uma exposição feita no próprio museu.
  • 5:49 - 5:52
    E este robô, que se chama RAP...
  • 5:52 - 5:55
    Mas o RAP não tem a ver
    com a música, tem a ver com
  • 5:55 - 5:58
    "Robotic Action Painter", portanto, aqui
    uma pequena referência ao Pollock.
  • 5:58 - 6:03
    Este robô faz tudo: ele faz o desenho,
    faz a composição,
  • 6:03 - 6:07
    depois decide quando para,
  • 6:07 - 6:12
    e vai ao canto e assina com o nome dele,
    porque ele é narcísico,
  • 6:12 - 6:15
    como todos os artistas, é normal.
    (Risos)
  • 6:15 - 6:23
    Este robô é muito, já muito sofisticado,
    muito criativo e, digamos,
  • 6:23 - 6:26
    como a maioria dos artistas, tem um estilo.
  • 6:26 - 6:30
    Só que, de vez em quando, faz coisas
    absolutamente surpreendentes.
  • 6:30 - 6:33
    E o Museu de Nova Iorque, com quem
    tenho um acordo
  • 6:33 - 6:35
    e eles mandam-me os desenhos do robô,
  • 6:35 - 6:38
    de vez em quando, mandam-mos
    e chegam-me uns desenhos.
  • 6:38 - 6:42
    E, de vez em quando,
    por exemplo, este desenho,
  • 6:41 - 6:44
    para vocês que não conhecem
    o estilo do RAP,
  • 6:44 - 6:46
    este desenho é fabuloso
    porque é um desenho
  • 6:46 - 6:49
    em que ele criou um estilo novo de pintura,
  • 6:49 - 6:51
    porque, para já, parou ali,
    fez uns borrões de tinta,
  • 6:51 - 6:53
    coisa que não estava prevista,
    e depois fez uns riscos assim,
  • 6:53 - 6:56
    que não estavam também previstos.
  • 6:56 - 6:59
    O tipo de pintura que ele faz é
    deste género, o normal.
  • 6:59 - 7:01
    Mas ele, de vez em quando,
    dá-se para criatividades
  • 7:01 - 7:02
    e põe-se a fazer coisas estranhas.
  • 7:02 - 7:04
    (Risos)
  • 7:04 - 7:08
    Este tipo de pintura, de qualquer maneira,
    demonstra que o processo
  • 7:08 - 7:10
    – é um processo emergente –
  • 7:10 - 7:15
    que o processo... ele vai tentar construir
    uma forma abstrata,
  • 7:15 - 7:18
    mas, quer dizer, há aqui uma vontade
    de composição,
  • 7:18 - 7:21
    visto que depois aqui deixou isto
    praticamente em branco,
  • 7:21 - 7:23
    com um bocado com fundo, aleatório.
  • 7:23 - 7:28
    Depois deste RAP, eu fiz um outro robô,
    que aliás, está agora aqui em Aveiro,
  • 7:28 - 7:32
    e está aqui, neste edifício.
    E agora, quando for o café,
  • 7:32 - 7:35
    ele vai fazer ali uma pequena "performance".
  • 7:35 - 7:40
    Este robô também é muito interessante
    porque, quando eu, por causa do problema
  • 7:40 - 7:44
    da assinatura, encontrei umas rodas fabulosas,
  • 7:44 - 7:48
    que são umas rodas que andam
    para todos os lados,
  • 7:48 - 7:51
    e isso permite ao robô escrever.
    E, ao permitir ao robô escrever,
  • 7:51 - 7:56
    eu criei este robô-poeta, e é mesmo poeta,
    porque já publicou um livro de poesia...
  • 7:56 - 7:58
    (Risos)
  • 7:58 - 8:02
    ...com os poemas dele,
    que foi publicado em Coimbra.
  • 8:02 - 8:05
    E até tem um prefácio da
    Cristina Robalo Cordeiro,
  • 8:05 - 8:10
    que é uma especialista em poesia, que fez
    um prefácio sobre os poemas do ISU.
  • 8:10 - 8:14
    E é um prefácio até muito curioso,
  • 8:14 - 8:17
    porque ela não se interessou
    se era um robô ou [se] era um humano.
  • 8:17 - 8:19
    Olhou só para os poemas.
  • 8:19 - 8:22
    Portanto, é curioso
    a interpretação dela dos poemas.
  • 8:22 - 8:25
    Os poemas são do tipo surrealista, quer dizer...
  • 8:25 - 8:26
    (Risos) ...ele pega...
  • 8:26 - 8:31
    ...ele pega num conjunto de palavras e
    junta-as, e o poema está feito.
  • 8:31 - 8:32
    (Risos)
  • 8:32 - 8:34
    Há vários poemas, portanto, ele não está...
  • 8:34 - 8:37
    como é óbvio, o robô não percebe nada,
    nem de poesia,
  • 8:37 - 8:39
    nem de palavras, nem de nada.
    Mas, de vez em quando, tem piada,
  • 8:39 - 8:41
    saem poemas com uma certa piada.
  • 8:41 - 8:49
    É, para além disso, um robô muito versátil,
    também faz figurativo, figuras,
  • 8:49 - 8:52
    embora aqui, por exemplo,
    viu-se aflito...
  • 8:52 - 8:53
    (Risos)
  • 8:53 - 8:55
    ...mas até é do que toda a gente gosta mais,
  • 8:55 - 8:59
    que é o mais criativo, digamos, mas aqui,
    eu dou-lhe um modelo.
  • 8:59 - 9:06
    Dei-lhe uma imagem, uma fotografia de uma
    pessoa e ele tentou reproduzir, à maneira dele.
  • 9:08 - 9:13
    E, de vez em quando, este robô, também,
    tal como o outro, surpreende.
  • 9:13 - 9:19
    Porque estes robôs, mais sofisticados,
    decidem parar quando querem,
  • 9:19 - 9:22
    não está pré-programado,
    ou seja, não diz:
  • 9:22 - 9:24
    "Fazes aqui o desenho e,
    ao fim de meia-hora, paras."
  • 9:24 - 9:27
    Não, é de uma maneira inteligente
  • 9:27 - 9:29
    e tem a ver com o que ele está a ver.
  • 9:29 - 9:31
    E, portanto, ele pode fazer
    meia-dúzia de rabiscos,
  • 9:31 - 9:34
    como é aqui o caso, e depois,
    foi logo assinar.
  • 9:34 - 9:36
    Mas esqueceu-se de levantar a caneta
  • 9:36 - 9:39
    e fez aqui este risco e ficou
    uma coisa fabulosa,
  • 9:39 - 9:43
    porque é um desenho que qualquer pessoa
    olha e acha engraçado, de facto.
  • 9:43 - 9:48
    Parece que ele ligou a assinatura com
    aquela flor ou árvore ou o que se quiser.
  • 9:50 - 9:56
    Eu chamo a este tipo de arte,
    chamo-lhe "criatividade artificial",
  • 9:56 - 10:01
    na linha da inteligência artificial,
    eu chamo-lhe criatividade artificial.
  • 10:01 - 10:04
    Ou seja, uma criatividade feita por máquinas.
  • 10:05 - 10:11
    E, demonstro, para além da prática,
    dos próprios robôs,
  • 10:11 - 10:16
    demonstro, através de duas ideias,
    e a primeira é a seguinte:
  • 10:16 - 10:19
    Vocês devem-se lembrar,
    a maioria de vocês viu
  • 10:19 - 10:22
    o "Blade Runner", que é um filme fabuloso,
  • 10:22 - 10:27
    e há um momento no filme, em que
    o Harrison Ford faz um teste à Rachel,
  • 10:27 - 10:30
    para saber se ela é humana ou [se] é um robô.
  • 10:30 - 10:34
    Esse teste, que no filme
    tem um nome muito esquisito,
  • 10:34 - 10:37
    na verdade, é o chamado "teste de Turing".
  • 10:37 - 10:42
    O Alan Turing é um dos cientistas
    mais fascinantes do século XX,
  • 10:42 - 10:47
    que, aliás, deu um contributo importantíssimo
    para o desfecho da II Guerra Mundial,
  • 10:47 - 10:51
    e que é um cientista que, no fundo,
  • 10:51 - 10:54
    está na origem dos nossos
    computadores modernos
  • 10:54 - 10:57
    e, também, da inteligência artificial.
    E, então, este teste é muito simples.
  • 10:57 - 11:02
    O teste de Turing baseia-se
    numa coisa muito simples,
  • 11:01 - 11:04
    que eu posso resumir da seguinte maneira:
  • 11:04 - 11:06
    se – portanto, porque isto é
    um conjunto de perguntas
  • 11:06 - 11:09
    que ele vai fazendo à Rachel e, no fim,
  • 11:09 - 11:11
    em função das respostas que ela vai dando,
  • 11:11 - 11:14
    ele chega à conclusão
    se ela é robô ou se é humana.
  • 11:14 - 11:17
    Portanto, o teste baseia-se no seguinte:
  • 11:17 - 11:20
    se uma máquina fizer uma coisa que,
    se fosse uma pessoa a fazer,
  • 11:20 - 11:25
    nós diziamos: "essa pessoa é inteligente",
    então, a máquina é inteligente.
  • 11:26 - 11:30
    E eu extrapolei isso para a criatividade.
    Então, porque não dizer:
  • 11:30 - 11:34
    se uma máquina fizer uma coisa que,
    se fosse uma pessoa a fazer,
  • 11:34 - 11:38
    nós diziamos: "Isto é criativo",
    então, a máquina é criativa.
  • 11:38 - 11:41
    E, já agora, porque eu sou artista,
  • 11:41 - 11:44
    se uma máquina fizer uma coisa que,
    se for uma pessoa a fazer,
  • 11:44 - 11:49
    nós dizemos: "Isto é arte",
    então aquela máquina é um artista.
  • 11:49 - 11:53
    E, de facto, os meus robôs
    são mesmo artistas,
  • 11:53 - 11:57
    porque quando exponho
    as obras de arte dos robôs, sem os robôs,
  • 11:57 - 12:02
    e as pessoas não sabem se fui eu que fiz
    ou se foi uma máquina ou não sei quê,
  • 12:02 - 12:10
    reconhecem, quase sempre, uma qualidade
    artística neste tipo de produção pictórica,
  • 12:10 - 12:13
    nomeadamente, a maioria deles são pintores.
  • 12:13 - 12:17
    E as pessoas reconhecem aqui alguma...
    alguma qualidade.
  • 12:17 - 12:19
    Eu vou mostrar aqui um vídeo,
  • 12:19 - 12:22
    para se perceber uma coisa que muita gente,
    depois, me diz logo...
  • 12:22 - 12:25
    – que as pessoas têm dificuldade em
    aceitar estas ideias, claro, e é normal –
  • 12:25 - 12:28
    "Ah, isso é tudo aleatório."
    Não é.
  • 12:28 - 12:32
    Portanto, os robôs, começam,
    de facto, num início aleatório,
  • 12:32 - 12:37
    mas a partir de uma determinada altura,
    começam a criar padrões.
  • 12:37 - 12:39
    E aqui neste, mais acelerado,
    vê-se perfeitamente
  • 12:39 - 12:42
    como os robôs tendem a ir
    muito mais para aquele canto
  • 12:42 - 12:44
    do que para o resto da pintura.
  • 12:44 - 12:48
    E estes até eram os robôs mais primitivos,
  • 12:48 - 12:51
    os de agora ainda são mais sofisticados, digamos,
  • 12:51 - 12:57
    a concentração da forma que eles
    estão a fazer ainda é maior.
  • 13:00 - 13:05
    Bom, mas há um outro aspeto que eu
    também gostava de focar,
  • 13:05 - 13:09
    que não tem só a ver com o Turing
  • 13:09 - 13:16
    e com a ideia de que se um robô faz
    o que um ser humano faz, então é criativo.
  • 13:16 - 13:24
    Eu tenho um entendimento de criatividade
    um pouco distinto do que é normal.
  • 13:24 - 13:27
    Porque eu não considero que a criatividade
    seja exclusivo do humano.
  • 13:27 - 13:30
    Eu acho que a criatividade está em todo o lado,
  • 13:30 - 13:36
    é uma característica, digamos, da Natureza,
    é uma característica do Universo.
  • 13:36 - 13:40
    Nós vivemos num Universo criativo.
  • 13:40 - 13:44
    E, portanto, no caso da vida, isso é evidente,
  • 13:44 - 13:48
    porque, como já sabemos hoje,
    isto tudo começou com umas moléculas
  • 13:48 - 13:52
    e depois, começaram-se a juntar,
    não sei quê, e agora temos milhões e milhões
  • 13:52 - 13:57
    de formas distintas, desde os muito
    pequeninos, estes são os transparentes,
  • 13:57 - 14:02
    vivem no fundo do mar, que é uma coisa
    fabulosa, até, evidentemente, aos grandes
  • 14:02 - 14:04
    e [a] nós próprios, os seres humanos.
  • 14:04 - 14:08
    Portanto, há aqui, uma criatividade,
    uma imensa criatividade
  • 14:08 - 14:12
    que se vai fazendo através de
    um conjunto de mecanismos,
  • 14:12 - 14:16
    que hoje já são muitos conhecidos,
    bastante conhecidos,
  • 14:16 - 14:20
    e, portanto, que vai gerando
    todas estas surpreendentes formas.
  • 14:20 - 14:23
    Mas não é só na vida.
  • 14:23 - 14:27
    Inclusive, por exemplo, simples
    grãos de areia, que não têm inteligência,
  • 14:27 - 14:32
    não têm nada, são simples grãos de areia,
    com o efeito do vento,
  • 14:32 - 14:35
    vão-se interagindo uns com os outros
    e criam um padrão.
  • 14:35 - 14:39
    Está aqui um padrão. Este padrão é
    altamente criativo, é fabuloso.
  • 14:39 - 14:42
    E, portanto, há aqui também
  • 14:42 - 14:46
    um mecanismo qualquer de criatividade
    que, aliás, hoje, é conhecido.
  • 14:46 - 14:50
    Ou então, claro, falar das galáxias,
    com espirais,
  • 14:50 - 14:55
    com outras formas fabulosas, nós percebemos
    que a criatividade está em todo o lado.
  • 14:55 - 14:59
    E, portanto, nesse aspeto, se eu conseguir
  • 14:59 - 15:04
    introduzir numa máquina alguns destes
    mecanismos da criatividade,
  • 15:04 - 15:08
    então essa máquina também
    consegue ser criativa.
  • 15:08 - 15:12
    Mas queria ir mais longe um pouco.
    Portanto, esta parte está explicada,
  • 15:12 - 15:15
    e acho que o meu ponto de vista
    está demonstrado.
  • 15:15 - 15:18
    Queria ir mais longe.
  • 15:19 - 15:25
    Quando eu disse no início que queria
    ultrapassar um limite, e esse limite era:
  • 15:25 - 15:29
    "porque é que eu não fazia nada e
    punha uma máquina a fazer,"
  • 15:29 - 15:34
    estou a pôr aqui em causa talvez
    o maior limite que existe na nossa cultura,
  • 15:34 - 15:39
    na cultura humana, que é o próprio humano.
  • 15:41 - 15:45
    E, portanto, nós consideramo-nos
    um pouco exclusivos.
  • 15:46 - 15:49
    Eu não penso assim.
  • 15:49 - 15:56
    E, hoje, nós estamos
    a assistir à emergência das máquinas,
  • 15:56 - 15:59
    eu não fiz as contas,
    mas imagino que já existam
  • 15:59 - 16:02
    mais máquinas no planeta
    do que seres humanos.
  • 16:02 - 16:05
    Claro que a maioria das máquinas
    são estúpidas,
  • 16:05 - 16:08
    mas já começam a aparecer
    máquinas inteligentes.
  • 16:08 - 16:12
    E uma delas, muito simples, que quase
    todos nós temos é o computador.
  • 16:12 - 16:16
    Ao contrário do que muitas pessoas consideram,
  • 16:16 - 16:20
    o computador não é um eletrodoméstico.
  • 16:20 - 16:25
    O computador não é igual a
    uma máquina de fazer café.
  • 16:25 - 16:28
    O computador é uma máquina inteligente.
  • 16:28 - 16:30
    É uma máquina que faz coisas por si própria,
  • 16:30 - 16:34
    que inventa coisas,
    que nos ajuda a imaginar coisas,
  • 16:34 - 16:37
    que nos dá a ver coisas que nós
    não conseguiríamos ver
  • 16:37 - 16:39
    se não fosse o computador.
  • 16:39 - 16:43
    E, portanto, esta máquina
    é uma máquina excecional,
  • 16:43 - 16:46
    não é uma máquina comum.
  • 16:47 - 16:51
    E vai evoluir, porque como tudo, tudo evolui.
  • 16:52 - 16:54
    E as máquinas também vão evoluir.
  • 16:54 - 16:57
    E os meus robôs,
    que fazem agora umas pinturas,
  • 16:57 - 17:01
    coitados, são uma espécie de insetos,
    vão evoluir.
  • 17:01 - 17:05
    E, portanto, eu não sei se as máquinas
    vão evoluir num sentido,
  • 17:05 - 17:10
    por exemplo, assim mais humanóide que,
    pronto, para os filmes fica giro,
  • 17:10 - 17:14
    e também se está a fazer muito
    no Japão e na Coreia e tal,
  • 17:14 - 17:16
    os humanóides – eu, pessoalmente,
  • 17:16 - 17:19
    acho que os robôs vão evoluir
    para terem cara de robô
  • 17:19 - 17:22
    e não cara de humano, mas tudo bem,
    sim, senhor,
  • 17:22 - 17:27
    acho que é um esforço interessante.
  • 17:26 - 17:30
    Agora, eles vão evoluir também
    nas suas capacidades,
  • 17:30 - 17:33
    não vão ser só inteligentes,
    não vão ser só criativos,
  • 17:33 - 17:36
    vão ter consciência – não tenham dúvida disso –
  • 17:36 - 17:39
    e vão fazer uma outra coisa, que essa
    então é que é mesmo a libertação
  • 17:39 - 17:45
    dos robôs, vão-se conseguir reproduzir
    e evoluir por si próprios.
  • 17:45 - 17:53
    Ora, isto, tudo isto significa que estamos,
    finalmente, a ultrapassar o humano.
  • 17:53 - 17:57
    Ainda há bocado se falou aqui,
    numa conferência TED, sobre o Universo
  • 17:57 - 18:00
    e porque é que os extraterrestres não aparecem.
  • 18:00 - 18:04
    E nós não temos esse problema,
    porque nós estamos a fazê-los.
  • 18:04 - 18:06
    Nós estamos a criar os extraterrestres.
  • 18:06 - 18:10
    Nós estamos a criar um ser superior no planeta,
  • 18:10 - 18:15
    superior a nós, mais inteligente, mais capaz.
  • 18:15 - 18:20
    E digamos que... era bom que o Homem
    perdesse esta ideia
  • 18:20 - 18:23
    de que ele é o centro de tudo,
  • 18:23 - 18:28
    porque isso [o] leva a fazer as maiores
    barbaridades, como vocês sabem,
  • 18:28 - 18:31
    porque [se] acha no direito de chacinar
    tudo à sua volta.
  • 18:31 - 18:33
    Eu encontrei esta imagem na Internet,
  • 18:33 - 18:36
    que acho excelente para acabar
    a minha conferência,
  • 18:36 - 18:39
    que são uns robôs na lua,
    ou num planeta qualquer,
  • 18:39 - 18:42
    e achei muita piada, porque há um
    que está ali a fazer um desenho.
  • 18:42 - 18:44
    Porque eu estou mesmo convencido
  • 18:44 - 18:46
    que o grande artista do futuro não será humano.
  • 18:46 - 18:47
    Obrigado.
  • 18:47 - 18:57
    (Aplausos)
Title:
O grande artista do futuro não será humano | Leonel Moura | TEDxAveiro
Description:

Leonel Moura falou no TEDxAveiro dos seus robôs artistas, capazes de criarem as suas próprias obras de arte com o mínimo de intervenção humana. Venham conhecer o RAP, que faz desenhos todos os dias dentro de uma vitrine sem qualquer controlo externo, e o ISU, que escreve e faz pinturas com letras e palavras e até já publicou um livro de poemas. Segundo o Leonel, os seus robôs fazem arte usando mecanismos criativos, o que ultrapassa limites como a criatividade ser uma capacidade exclusiva do ser humano. O artista do futuro não será humano.

Esta palestra foi dada num evento local TEDx, produzido independentemente das Conferências TED.

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Video Language:
Portuguese
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
19:08

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