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Firelei Báez: An Open Horizon (or) the Stillness of a Wound | Art21 "New York Close Up"

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    Firelei Báez: Na maioria
    das relações de poder,
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    a vítima tenta resolver a situação.
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    Não quero criar narrativas de vitimização.
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    Quero dar-lhes a volta.
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    A liberdade que ofereço em cada pintura
    está nos corpos que mudam.
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    Quando temos corpos
    em permanente transição,
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    damos espaço para o espetador
    mudar as ideias do poder.
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    Nesse processo, mudamos
    o mundo à nossa volta.
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    É aqui que a beleza pode ser subversiva.
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    ["Firelei Báez: Um Horizonte Aberto
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    [(ou) a Quietude de uma Ferida"]
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    [Firelei Báez Nomeada
    Artista dos EUA de 2009]
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    Se eu pudesse,
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    seria uma eremita
    numa montanha à beira-mar
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    e teria um espaço gigantesco
    com as janelas abertas
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    e ficava lixada se começasse a chover.
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    É este o sonho.
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    [Canto de coro]
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    [Estúdio de Firelei, The Bronx]
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    Mas recordo que estava
    sempre a fazer isto.
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    Um dia, tinha talvez seis anos,
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    umas crianças pediram-me para desenhar
    umas bonequinhas bonitas.
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    Eu criava aqueles elaborados
    vestidos de baile.
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    Elas tinham sempre penteados
    muito complicados.
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    Eu tratava sempre de corpos.
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    A minha primeira infância
    passou-se em Loma de Cabrera,
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    que fica mesmo na fronteira
    da República Dominicana e o Haiti.
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    Narrador: Se seguirem sempre em frente
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    a partir da ponta sudeste de Cuba —
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    chegam perto da segunda maior ilha
    do romântico arquipélago.
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    FB: Fazíamos todos as suposições
    do que é ser das Caraíbas
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    e, quando saímos de lá, de poder
    arranjar qualquer coisa melhor.
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    Uma das principais razões
    por que eu quis trabalhar nestas pinturas
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    foi ver algumas das primeiras
    ilustrações científicas
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    da flora e da fauna do NovoMundo.
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    Olhando para Carlos Lineu,
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    cá está esse tipo que foi o fundador
    dos modernos métodos científicos
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    de observação e de categorização.
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    Mas grande parte do trabalho dele
    foi um absurdo total.
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    Comparou o Negro do Novo Mundo
    e o corpo moreno
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    à bestialidade.
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    Quando nos fala do que eram
    os povos do Novo Mundo
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    quase fala de canibais e de vampiros.
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    Por isso, observo
    a sua visão já falível
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    e faço qualquer coisa de novo.
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    Ao observar as minhas pinturas
    de "ciguapas",
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    peço ao espetador que ajuste contas
    com os seus sentimentos
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    em relação ao corpo de uma mulher.
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    [Ciguapa: uma criatura mitológica
    do folclore dominicano]
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    A ciguapa é uma figura intrigante.
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    É uma sedutora,
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    Quem for seduzido por ela
    ficará perdido
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    e nunca mais será visto.
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    A descrição dela é muito ambígua.
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    Pode ser tudo, de um mangusto
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    à mulher mais maravilhosa,
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    ou à mulher mais horrorosa.
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    A única coisa que é certa
    é que tem as pernas ao contrário
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    — se seguirem as passadas dela
    estão a ir na direção contrária.
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    Ela também tem uma juba
    de cabelo lustroso.
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    Foi feita para ser uma coisa
    que nos metesse tanto medo
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    que ficávamos quietas o tempo suficiente
    para voltarmos à civilidade.
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    O tom normativo da história
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    é que são criaturas femininas lascivas.
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    São hipersexuais e difamam a cultura.
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    A história subjacente é que são
    profundamente independentes,
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    são autocontroladas
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    e têm sentimentos fortes.
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    Então, quem queria ser isso?
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    O que foi excitante em usar essa imagem
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    foi poder incorporar todas as coisas
    que têm o rótulo de abjetas
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    — que são consideradas indesejáveis —
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    e reenquadrá-las como uma coisa bonita
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    e com um aspeto de desejo.
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    ["Ciguapa Antellana", 2018, Harlem"]
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    Há pouco tempo, fui visitar a minha tia
    e ela disse:
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    "Sabes, nunca pensei
    que tu viesses a ser artista."
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    Foi ela que nos criou
    quando eu tinha uns sete anos.
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    Ela achava que eu era
    um bocado preocupante.
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    porque eu tentei coser folhas de papel
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    e fiquei com o dedo preso na agulha.
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    Como se estivesse a coser
    através do meu dedo.
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    Mas eu disse:
    "Quero encadernar o meu livro."
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    "Vai ficar perfeito."
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    Chamavam-me... já não sei
    se era "A Demolidora" ou "A Satânica".
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    Sempre que imagino um pintor,
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    é alguém muito composto
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    — tipo uma "senhora pintora".
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    Mas eu sinto-me como a mecânica dum carro.
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    A minha mãe é uma costureira de eleição.
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    Faz coisas extremamente belas.
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    Mas estava tão presa
    na sua semana de 100 horas de trabalho
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    que faz sempre coisas para ???
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    Faz coisas que duram pouco.
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    Por isso, nada do que fazemos
    tem tendência a durar.
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    Eu tento quebrar esse ciclo
    e ensinar os meus sobrinhos e sobrinhas
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    a pensar em si mesmos como parte
    de ciclos mais longos atrás deles
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    e ciclos longos à frente deles
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    — que cada escolha que fazemos se baseia
    nas pessoas que esperamos amar no futuro
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    e as pessoas que amámos no passado.
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    Está sempre ao nosso alcance
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    fazer qualquer coisa nova.
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    É extenuante
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    mas ilimitado.
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    Tradução de Margarida Ferreira
Title:
Firelei Báez: An Open Horizon (or) the Stillness of a Wound | Art21 "New York Close Up"
Description:

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Video Language:
English
Team:
Art21
Project:
"New York Close Up" series
Duration:
08:05

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