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Uma sensação dolorosa, uma emoção forte
-
podemos trazer alívio através da prática
-
e podemos ir longe, podemos transformar esse sofrimento
-
com a prática podemos também gerar, criar momentos felizes
-
a qualquer hora do dia
-
podemos aprender a criar alegria e felicidade
-
e podemos saborear pequenas felicidades do dia a dia
-
e isso é possível
-
há uma relação estreita entre sofrimento e felicidade
-
o sofrimento desempenha um certo papel na criação da felicidade
-
é algo importante,
-
como quando plantamos flores de lótus,
-
precisamos de lama
-
assim, a felicidade é um tipo de flor
-
como o lótus
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e a felicidade precisa de condições
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para estar presente, tal como esta flor
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esta flor é bonita
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representa a felicidade
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mas é feita de elementos não-flor, como a chuva
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a chuva não é uma flor, é um elemento não-flor
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que é indispensável para que a flor
-
se manifeste
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quando olhamos para a flor, vemos a terra
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a terra não é flor, é um elemento não-flor
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que é essencial para a manifestação da flor
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há muitos elementos não-flor dentro da flor e nós podemos
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reconhecer esses elementos não-flor dentro da flor.
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Se retirarmos todos os elementos não-flor da flor,
-
a flor já não existe.
-
Assim, aprendemos no budismo
-
“não podemos simplesmente ser, temos de inter-ser com tudo no mundo”
-
assim, a flor não pode existir por si só
-
ela tem de inter-ser com o sol
-
com a Terra, com a chuva, com tudo
-
assim, a felicidade é um tipo de flor,
-
é feita de elementos não-felicidade
-
incluindo o sofrimento.
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O sofrimento tem um papel importante na construção da felicidade
-
na criação da felicidade
-
por isso, na prática, aprendemos a usar o sofrimento para criar felicidade
-
falámos sobre a arte da felicidade
-
há uma arte em criar felicidade
-
mas não falámos sobre a arte de sofrer
-
aprender a sofrer é algo que precisa de ser aprendido
-
aprender a sofrer é algo que precisa de ser aprendido
-
porque o sofrimento faz parte da vida
-
mas se soubermos como sofrer,
-
sofremos muito menos, podemos aprender muito com o sofrimento
-
podemos usar o sofrimento
-
para criar felicidade
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por isso, durante este retiro vamos
-
considerar isso, praticar juntos
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para integrar esta capacidade de
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gerir o sofrimento e criar felicidade
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Normalmente, não gostamos de pensar em sofrimento
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não gostamos de estar em contacto com o sofrimento
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temos medo de entrar em contacto com o sofrimento
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não é agradável tocar no sofrimento
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por isso, tentamos sempre
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ignorar o sofrimento
-
fingimos que o sofrimento não está aqui
-
mas ele está aqui, em nós e no mundo
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e o Buda disse-nos que uma compreensão profunda
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do sofrimento vai ajudar-nos
-
a transformar o sofrimento
-
se temos medo de entrar em contacto com o sofrimento é porque
-
não sabemos como gerar a energia da atenção plena
-
com a meditação caminhando e a respiração consciente,
-
vamos conseguir gerar a energia da atenção plena,
-
e é exatamente com essa energia que podemos regressar a
-
nós mesmos e reconhecer o sofrimento e abraçá-lo
-
com ternura
-
fazendo isso,
-
não somos dominados pelo sofrimento
-
na psicologia moderna, falamos
-
sobre consciência e inconsciência
-
no budismo também.
-
A inconsciência é uma parte dessa consciência chamada
-
a “consciência armazenadora” (consciência profunda), no budismo falamos da consciência armazenadora
-
e da “mente”: consciência armazenadora em baixo e mente em cima
-
Na vida diária, a inconsciência produz muitos pensamentos e imagens
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Estamos sentados aqui, e a nossa inconsciência está a trabalhar
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A inconsciência está a produzir pensamentos, há uma espécie de rádio
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a funcionar dentro de nós.
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Em Plum Village chamamos-lhe
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“NPR”: Pensar Sem Parar
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saltamos de uma ideia para outra, e continua
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imagens, ideias, e
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não temos a possibilidade de parar para
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reconhecer a ideia, para ver se essa ideia é
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correta, é verdadeira
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e não sabemos porque é que essa ideia está aqui,
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não conseguimos ver as suas raízes em nós
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e o rádio continua,
-
a inconsciência traz-nos alimento
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e não é um alimento bom,
-
porque essas ideias contêm
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sofrimento, medo, ansiedade.
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As imagens também.
-
Então estamos aqui e continuamos a consumir a nossa consciência
-
essa parte da consciência.
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Quando pensas, quando inspiras,
-
e se trazes a tua atenção para a inspiração, então
-
reconheces que é uma inspiração que estás a fazer
-
e isso chama-se “respiração consciente”.
-
Reconhecemos que está a acontecer uma inspiração.
-
“Inspiro, sei que estou a inspirar”
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É a presença da mente (atenção plena)
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E quando caminhamos, podemos caminhar com atenção plena
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tomamos consciência de cada passo que damos.
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Quando comemos, podemos comer com atenção plena.
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Estamos conscientes de que estamos aqui com amigos,
-
que a comida está na mesa, e estamos a partilhar
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uma refeição com a Sangha
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e cada momento da refeição pode ser em atenção plena
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e isso é uma prática.
-
Quando bebemos chá,
-
podemos beber o chá com atenção plena.
-
Assim, a inconsciência traz-nos ideias, representações, imagens assim
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e a consciência pode fazer o esclarecimento (focar)
-
podemos parar para olhar, reconhecer os pensamentos, imagens,
-
oferecidos pela inconsciência.
-
Essas ideias, imagens podem ser exageradas, distorcidas.
-
As suas raízes podem ser perceções erradas.
-
E somos empurrados por essas ideias, imagens
-
e quando falamos, quando agimos,
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somos influenciados pelo que a inconsciência nos traz.
-
Assim, a atenção plena é uma energia que nos pode ajudar
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a reconhecer o que está a acontecer,
-
primeiro, no nosso corpo.
-
No nosso corpo pode haver tensão.
-
A tensão está sempre lá, mas não estamos conscientes de que está lá.
-
Então inspiro conscientemente e reconheço a presença do meu corpo.
-
E esta respiração consciente permite-me
-
reconhecer o facto de que tenho um corpo
-
e que há tensão no meu corpo.
-
Mas se há muita tensão no meu corpo, não há bem-estar
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Então esta atenção plena diz-me que há tensão no meu corpo
-
e isso leva-me a tomar uma decisão: vou praticar
-
para relaxar, para libertar essa tensão
-
E quando expiro,
-
deixo essa tensão sair.
-
Inspiro, sei que a tensão está aqui no meu corpo,
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Expiro, relaxo.
-
É o trabalho da consciência, o trabalho da atenção plena.
-
E se há uma sensação que surge no corpo,
-
ou na mente,
-
tornamo-nos conscientes dessa sensação.
-
Essa sensação pode ter as suas raízes no corpo ou nas perceções.
-
Portanto, quando estamos conscientes dessa sensação,
-
podemos ver se essa sensação veio do corpo ou das perceções.
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Por exemplo, a tensão no corpo gera uma sensação desagradável,
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e quando estamos em contacto com essa sensação desagradável através da atenção plena,
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sabemos bem que essa sensação vem do corpo e reconhecemos
-
essa sensação corporal.
-
E podemos fazer algo para cuidar dessa sensação
-
que não é agradável.
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Libertar a tensão corporal gera uma sensação mais agradável,
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uma sensação de bem-estar.
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E é algo que podemos fazer a cada momento da vida quotidiana.
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Se há uma sensação dolorosa que nasce
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de uma perceção, poderemos reconhecê-la,
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porque a perceção errada traz sempre sensações dolorosas,
-
como o medo, a raiva, etc.
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Assim, com a atenção plena podemos reconhecer a sensação,
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e se continuarmos, teremos concentração suficiente para conseguir
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olhar profundamente para a sensação a fim de
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reconhecer as suas raízes.
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Uma perceção errada pode dar origem a uma sensação dolorosa.
-
Podemos olhar bem para a perceção,
-
seremos capazes de corrigir essa perceção errada,
-
e assim transformar a sensação dolorosa.
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E tudo é feito com a energia da atenção plena.
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Como praticantes, devemos possuir esta capacidade de gerir um sofrimento.
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Devemos ser capazes de gerir uma sensação dolorosa, uma emoção forte.
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Com o quê?
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Com a energia da atenção plena.
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Portanto, na vida quotidiana,
-
praticamos para tornar esta energia de atenção plena presente,
-
durante todo o dia.
-
E com esta energia podemos reconhecer o que está a acontecer
-
no corpo, nas sensações e nas perceções.
-
Por isso, quando vens para Plum Village,
-
fazes como todos nós, a cada momento
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da vida quotidiana, praticamos viver em atenção plena.
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Quando bebes chá, é possível fazê-lo com atenção plena,
-
o que significa que paramos de pensar.
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Se o pensamento está presente, não estamos realmente com o chá.
-
Com a inspiração consciente, reconhecemos que estamos aqui,
-
no momento presente.
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Que temos uma chávena de chá na mão,
-
e que agora vamos beber o chá em paz, com alegria.
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E enquanto bebemos, não há mais pensamentos, há apenas
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sensações agradáveis.
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Estás ali, não tens nada para fazer, apenas beber o teu chá.
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E podemos beber o nosso chá com atenção plena, com concentração
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e com insight (olhar profundo).
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Podemos envolver 100% do nosso corpo ao beber o chá.
-
Podemos envolver 100% da nossa mente no ato de beber chá,
-
realmente concentrados no momento.
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Sabemos que estamos aqui, vivos.
-
Sabemos que há uma chávena de chá na mão, então podemos beber o chá assim,
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e é o modo do Buda beber chá.
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Podemos beber chá como um Buda, com atenção plena,
-
com Despertar.
-
E quando precisamos de nos deslocar, caminhamos com atenção plena,
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o que significa que não nos deixamos arrastar pelo pensamento,
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pela inconsciência.
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Trazemos a atenção para a respiração e para cada passo que damos.
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A atenção plena significa que estamos aqui, vivos.
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Que o Mundo está aqui com todas as suas maravilhas.
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Dar um passo, tocando este planeta maravilhoso, é uma alegria.
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Assim, podemos saborear cada passo em atenção plena.
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Cada passo é uma felicidade. E para podermos saborear cada passo,
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saborear a Felicidade, temos de ser livres.
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Liberdade é a base de toda a felicidade.
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Livres de quê?
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Livres do esquecimento, que é o contrário da atenção plena.
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Livres do passado, já não pensamos nele, já não somos prisioneiros dele.
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Já não pensamos no futuro, já não somos prisioneiros do futuro.
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Estamos verdadeiramente livres para habitar o momento presente.
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Por estarmos livres, podemos realmente saborear cada passo que damos,
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caminhar na Terra é um milagre.
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Assim, podemos criar bem um momento de felicidade a cada passo.
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E essa felicidade pode curar e nutrir-nos.
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Quando escovas os dentes, também o podes fazer com atenção plena,
-
e a Alegria também é algo possível enquanto escovas os dentes.
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Quando urinas, também podemos fazer isso com atenção plena, e pode ser um momento agradável.
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Quando defecas também. Quando lavas as mãos, a loiça,
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cada momento pode ser um momento de felicidade se a atenção plena estiver presente.
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Quando abres a torneira e a água começa a correr, se fores habitado pela atenção plena,
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verás que é um milagre, que a água veio até ti
-
das montanhas, do fundo da Terra, e podes desfrutar da água
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que passa pelos teus dedos.
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Assim, cada momento pode ser um momento de Felicidade.
-
É por isso que, na Aldeia Plum, dizemos sempre que
-
a Atenção Plena é uma fonte de alegria.
-
Uma fonte de felicidade.
-
É uma arte: ser feliz com a atenção plena.
-
Podemos transformar cada momento da nossa vida diária em momentos de alegria.
-
E isto é feito facilmente com o apoio da Sangha.
-
Porque os outros tentam fazer a mesma coisa.
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Tentam andar assim, respirar assim, cozinhar assim, lavar-se assim,
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cada momento pode ser um momento de felicidade.
-
Portanto, cada um de nós tem de aprender a criar momentos de Felicidade.
-
Algumas pequenas felicidades, e saborear essas pequenas felicidades a cada momento
-
para curar, para nos transformar, para nos nutrir.
-
E isto é feito através da gestão do sofrimento.
-
Se uma sensação dolorosa se manifesta, sabemos o que fazer para cuidar deste sofrimento.
-
Com a atenção plena, com o andar, podemos reconhecer esta sensação
-
e seremos capazes de olhar profundamente na natureza desta sensação,
-
para reconhecer as suas raízes.
-
Podemos, de facto, transformar. E sempre podemos trazer alívio a essa dor, a essa sensação.
-
Porque essa sensação é uma energia, e a atenção plena é outra.
-
A atenção plena gerada pela respiração, pela caminhada, pelo sorriso, é uma energia.
-
E é esta energia que reconhece a energia do sofrimento, e abraça essa energia do sofrimento,
-
como a mãe que toma o seu bebé nos seus dois braços.
-
Há um bebé a sofrer, há uma mãe com energia de amor.
-
E a energia de amor da mãe, a ternura começa a penetrar no corpo do bebé.
-
E faz bem, traz alívio imediatamente.
-
O mesmo é feito com esta prática de atenção plena:
-
quando sabemos reconhecer e abraçar a dor, obtemos alívio imediatamente.
-
Porque esta é a mãe, a ternura, o Buda, a Atenção Plena, a concentração.
-
E com isso podemos curar-nos, curar o nosso próprio sofrimento.
-
A energia da atenção plena será capaz de penetrar nesta zona de energia "de sofrimento" e trazer alívio.
-
Portanto, após um ou dois minutos de prática, seremos capazes de ter alívio imediatamente.
-
A mãe, depois de tomar o bebé nos seus braços, nota que o bebé já não chora.
-
Porque a energia de ternura, a energia de amor penetraram no bebé, e o bebé sofre menos.
-
E a mãe pode continuar.
-
Ela continua a olhar para ver a causa do sofrimento do bebé.
-
O bebé pode ter fome, talvez esteja muito quente, coisas assim...
-
E quando a mãe reconhece as causas do sofrimento, ela pode mudar a situação muito rapidamente.
-
O mesmo acontece com a nossa prática.
-
O primeiro passo é reconhecer o sofrimento tal como é.
-
Reconhecer. Simplesmente reconhecer.
-
A segunda coisa é abraçar. Uma energia abraçando outra, esta é a prática.
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Não há violência. Porque a dor é o teu bebé.
-
Não deves fazer violência ao teu bebé.
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Quando abraçamos o sofrimento, o alívio vem, e podemos seguir em frente.
-
Continuamos a abraçar o nosso sofrimento em concentração. Com esta atenção plena, com esta concentração,
-
seremos capazes de entender as raízes dessa dor, as raízes dessa sensação dolorosa.
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Quando reconhecemos as raízes dessa dor, já estamos no caminho da transformação e da cura.
-
Portanto, a atenção plena, a concentração e a visão sobre a dor serão capazes de transformar e curar.
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Quando praticamos com uma comunidade, é muito mais fácil. Porque todos estão a praticar, podemos gerar
-
uma energia coletiva, e essa energia coletiva nos apoia na nossa prática.
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Falámos esta manhã sobre esta dor no nosso coração.
-
Podemos muito bem deixar que a energia coletiva da Sangha reconheça e abrace a nossa dor, e obteremos alívio.
-
Estamos apoiados por outros praticantes à nossa volta.
-
Porque todos estão a fazer o mesmo: a tentar viver cada momento em atenção plena,
-
gerando energia de atenção plena, paz e compaixão.
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Quando uma pessoa pratica, ela pode gerar a energia de atenção plena para estar realmente aqui e agora.
-
E como pode reconhecer o sofrimento, pode gerar a energia de compreensão.
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Compreensão aqui é, antes de mais, compreensão do sofrimento.
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Compreender o sofrimento é algo fundamental. E quando compreendemos o sofrimento
-
a compaixão nasce.
-
E essa compaixão transformará a nós e ajudará a transformar a outra pessoa, o sofrimento da outra pessoa.
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Assim, na pessoa praticante, há uma energia positiva.
-
Há dentro dela a energia da atenção plena, que a ajuda a estar aqui e agora, no momento presente.
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Que traz a energia de compreensão e a energia de compaixão, e essa pessoa emite uma espécie de energia à sua volta.
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Podes sentir uma vibração, saudável, agradável.
-
É porque essa pessoa está habitada pela energia de atenção plena, pela energia de compreensão e pela energia de compaixão.
-
Se estás sentado perto de uma pessoa assim, sentes-te bem, melhor.
-
Há uma vibração saudável, e podes sentir essa vibração.
-
Se cem pessoas têm esta energia dentro delas, a energia coletiva será muito forte.
-
E podemos sempre tirar proveito dessa energia coletiva para a nossa própria transformação e cura.
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E podemos praticar juntos.
-
Hoje vou propor-vos algumas práticas que podem ajudar-nos a viver em atenção plena durante os dias de hoje e de amanhã.
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Quando me tornei monge noviço aos 16 anos, já me ensinaram a fazer assim.
-
Existem cerca de dez versos
-
que o noviço tem de aprender para praticar atenção plena.
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Cada vez que lavas as mãos, há um pequeno poema, uma gatha, um verso
-
para pronunciar, recitar com respiração atenta.
-
Cada noviço recebe um pequeno livro com cerca de cinquenta pequenos poemas assim para a prática de atenção plena no dia a dia.
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Pertence à cultura monástica, mas podemos partilhar com praticantes leigos.
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Quando acordas de manhã, há uma gatha para praticar.
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A primeira coisa é fazer uma inspiração, e recitar a primeira linha da gatha.
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Neste livro, "Canções do Coração", podes encontrar uma centena de gathas para a prática diária.
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"Ao acordar esta manhã, sorrio."
-
A primeira coisa que fazemos de manhã: sorrimos. Com uma inspiração, "Ao acordar esta manhã, sorrio".
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Sorrio para o Mundo, sorrio para mim mesmo.
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É uma forma bonita de começar o nosso dia.
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"Eu tenho 24 novas horas", para a expiração.
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E quando expiras, tens a visão correta de que tens diante de ti 24 horas novinhas em folha para viver.
-
É um presente, é um presente da Vida.
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24 horas novinhas para viver.
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E inicias novamente a inspiração, "Faço o voto de viver cada momento na sua plenitude."
-
Não vou desperdiçar a minha vida, o meu tempo, vou viver profundamente e com felicidade cada momento que me é dado para viver.
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É isso que recitas durante a inspiração, depois a quarta linha:
-
"e colocar no Mundo um olhar amoroso."
-
A minha prática é tentar olhar para as pessoas à minha volta com olhos de compaixão.
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Quando olhamos assim, já não sofremos mais.
-
Portanto, uma gatha como essa é muito importante.
-
Há centenas de gathas assim para praticar.
-
Quando eu era noviço, no Vietname, dormíamos com rede contra mosquitos, porque havia muitos mosquitos.
-
E para lembrar da gatha, colocava uma folha de outono sobre ela, e quando acordava, lembrava da prática:
-
Inspirava e recitava a primeira linha da gatha.
-
Naquela altura, as gathas não estavam em vietnamita moderno, estavam em chinês clássico
-
e quando me tornei professor jovem, traduzi tudo para vietnamita.
-
E depois para inglês e francês. Tens centenas de gathas assim para praticar.
-
Quando deitavas água para lavar as mãos, naquela altura não havia torneiras.
-
No meu templo não havia eletricidade, nem água corrente.
-
Tínhamos de ir buscar água ao poço, deitá-la na bacia para lavar as mãos
-
e havia outra gatha, um poema para praticar. Assim, ficávamos em atenção plena o dia todo.
-
Agora, gostaria de partilhar esta prática, proponho que cada pessoa escolha
-
4 ou 5 gathas para praticar, começamos apenas com 3, 4 ou 5.
-
Primeiro, vou ler algumas gathas para dar-vos uma ideia.
-
Há uma para usares quando abres a torneira: "a água desce da montanha alta,
-
a água sobe das profundezas da Terra,
-
a água flui miraculosamente até nós, minha gratidão por ela transborda."
-
Versão vietnamita
-
Há uma gatha que eu amava muito quando era noviço.
-
Depois de respirar com a primeira gatha, levanto-me,
-
e com os meus pés tento encontrar as minhas chinelas. E a gatha é assim:
-
"Do amanhecer ao anoitecer, cada ser vivo deve proteger-se; se por acaso pisarmos um de vós
-
– ou seja, corro o risco de esmagar um inseto, algo assim, sob as minhas chinelas –
-
não é porque tenha intenção de destruir-vos, matar-vos, e faço o voto de que possais renascer imediatamente
-
no reino do Buda Amitabha."
-
Esta gatha é para nutrir a compaixão. Quando vivemos, podemos destruir a vida dos outros
-
e, especialmente, as pequenas criaturas. Então, para nutrir a compaixão, recitamos a gatha, e tentamos ao máximo
-
não matar seres vivos, mesmo que sejam pequenos.
-
Portanto, se respeitarmos a vida, teremos compaixão pelas pequenas criaturas.
-
Assim, não teremos no coração a intenção de matar os humanos à nossa volta.
-
Então, é uma prática de compaixão.
-
Proponho-vos, hoje, quatro gathas.
-
A primeira é quando ligas a lâmpada.
-
Contato. Se quiseres acender a lâmpada tocando nela, para um pouco, e recita com a respiração:
-
uma inspiração para a primeira linha, uma expiração para a segunda.
-
Assim:
-
"O esquecimento, a dispersão são como a escuridão. A presença da mente, a atenção plena
-
são como a luz. Eu vou trazer de volta a atenção plena para fazer este mundo brilhar".
-
Versão vietnamita
-
E se concordares, podes fazer o voto de praticar esta gatha hoje. Cada vez que tocamos no botão,
-
paramos um pouco para respirar. "Que haja luz."
-
Existem escuridão que representam ignorância e dispersão.
-
Muitas vezes vivemos em dispersão, não estamos concentrados, não em atenção plena.
-
Então a escuridão que está lá representa ignorância, dispersão.
-
E a atenção plena representa a luz. Vou trazer de volta a atenção plena para o mundo começar a brilhar de beleza.
-
A primeira gatha é para acender a lâmpada. A segunda gatha, é para abrir a torneira, para ter água.
-
Como fazemos isso todos os dias, temos a oportunidade de praticar.
-
A terceira, pode ser para urinar. Tenta urinar de uma maneira que alegria e felicidade possam ser possíveis durante esse tempo.
-
Eu pratico isso sempre, todos os dias.
-
Enquanto escovo os dentes, urino, cada momento deve ser um momento de felicidade.
-
Um momento de relaxamento, e pode tornar-se um hábito, um bom hábito.
-
E começamos hoje.
-
Ouvimos o sino. Cada vez que ouvimos o sino tocar, paramos. Inspiramos, expiramos.
-
"Eu ouço, eu ouço, este som maravilhoso traz-me de volta à minha verdadeira casa."
-
Antes de fazer uma chamada telefónica, tocamos no nosso telemóvel e respiramos.
-
Há uma gatha para isso.
-
Inspiramos, expiramos, duas vezes para terminar a gatha.
-
E assim fazemos, somos mais compassivos, mais calmos.
-
E a qualidade da conversa será melhor.
-
Proponho-vos isso: neste livro, "Canções do Coração",
-
vais encontrar centenas de gathas assim,
-
mas se quiseres, podes escrever as tuas próprias gathas para a prática.
-
E se conseguires criar novas gathas, podes partilhá-las connosco. Vamos enriquecer o número de gathas aqui.
-
"Enquanto atendo o telefone (68), as palavras viajam milhares de quilómetros,
-
as palavras viajam milhares de quilómetros,
-
vou construir amor e confiança, que cada uma das minhas palavras seja uma joia,
-
que cada uma das minhas palavras seja uma flor."
-
Esta manhã, após o ensinamento, convido todos vocês
-
a juntarem-se a mim para uma meditação caminhando.
-
Vamos caminhar de tal maneira que cada passo possa trazer-nos paz, relaxamento e felicidade.
-
Seremos capazes de usar a energia coletiva para caminhar como devemos.
-
Tenho a certeza de que cura e transformação são possíveis durante este retiro.
-
Se praticarmos de uma forma correta, se seguirmos as instruções da prática,
-
se conseguirmos pôr em prática tudo o que aprendemos,
-
a transformação e a cura podem ocorrer mesmo durante este retiro.
-
E gostaria de vos dizer que cada inspiração, cada expiração pode ser
-
uma ajuda para a cura.
-
Não há um caminho para a cura, a cura é o próprio caminho.
-
Assim, quando damos um passo assim, em paz, em paragem,
-
em relaxamento, esse passo ajuda a curar.
-
Quando fazemos uma inspiração, podemos acalmar o nosso corpo e as nossas sensações, isso já é cura.
-
Cura a cada momento.
-
É algo possível.
-
Existe aqui uma energia coletiva que nos apoia.
-
Por isso, cada momento do dia pode ser um momento de cura e transformação.
-
Podemos beneficiar da Sangha, da energia coletiva.
-
Podemos beneficiar da oportunidade de nos curarmos juntos.
-
Quando falamos de felicidade, "pequenas felicidades"
-
que todos podem criar a cada momento.
-
Sabemos que os ingredientes, os componentes da felicidade já estão aqui.
-
Por exemplo:
-
A atenção plena.
-
Em chinês escreve-se assim: esta parte representa a mente,
-
esta parte representa o momento presente.
-
"Trazer a mente de volta ao momento presente", isso é atenção plena.
-
A atenção plena é uma fonte de alegria e felicidade.
-
Temos uma semente de alegria na profundeza da nossa consciência.
-
Temos uma semente de felicidade na profundeza da nossa consciência.
-
E precisamos regar as sementes da alegria e da felicidade.
-
Porque a alegria é possível, a felicidade é possível,
-
porque há sementes de alegria e felicidade em cada um de nós.
-
É a atenção plena que tocará as sementes de alegria e felicidade
-
para as ajudar a manifestarem-se ao nível consciente.
-
Há esta parte da consciência chamada as profundezas mais íntimas (consciência armazenadora)
-
lá em baixo.
-
E as sementes estão enterradas aqui. Boas sementes como alegria e felicidade, e sementes negativas como raiva e desespero.
-
Estão todas aqui.
-
A boa notícia é que há boas sementes, como as sementes de alegria e felicidade, que estão lá.
-
Temos de lhes dar uma oportunidade.
-
A semente da alegria precisa de ser regada.
-
Devemos usar a energia da atenção plena para reconhecer essas sementes e ajudá-las.
-
Cada momento da caminhada pode ser um momento de cura, e não devemos desperdiçar o tempo que temos aqui.
-
Quando inspirarem, podem dar dois ou três passos.
-
"Inspiro, inspiro, inspiro".
-
E quando expirarem, podem dar quatro ou cinco passos.
-
"Expiro, expiro".
-
Mais tarde, talvez sintam que três passos para a inspiração e cinco para a expiração são mais naturais.
-
Devemos saborear cada passo. Cada passo é uma felicidade.
-
E é possível curar.
-
Sessão de meditação caminhando em conjunto.
-
Quando ouvirem o sino, podem juntar-se a nós na torre do sino e começaremos a caminhada.