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Agora passamos para a próxima passagem.
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"Além disso, o praticante medita sobre o seu próprio corpo, desde a sola dos pés para cima
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"e depois do cabelo no topo da cabeça para baixo,
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"um corpo contido dentro da pele e cheio de todas as impurezas que pertencem ao corpo:
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"Aqui está o cabelo da cabeça, os pelos do corpo, as unhas, os dentes,
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a pele, a carne, os tendões, os ossos, a medula óssea, os rins, o coração,
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o fígado, o diafragma, o baço, os pulmões, os intestinos,
as entranhas, os excrementos, a bile, o catarro, o pus,
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sangue, o suor, a gordura, as lágrimas, a gordura da pele,
a saliva, o muco, o líquido sinovial, a urina.’"
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Esta é a quarta parte, chamada...
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bem...
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Chamamos esta quarta parte de "partes do corpo."
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Em Plum Village, geralmente praticamos esta passagem do sutra
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quando estamos...
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deitados, quando fazemos um relaxamento profundo ou total.
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Quando fazemos um relaxamento total,
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praticamos seguindo a nossa respiração,
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prestando atenção a diferentes partes do corpo
e reconhecendo-as uma por uma.
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Do cabelo no topo da cabeça
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até as unhas dos pés.
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Temos de ir do topo da cabeça para baixo.
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Seja qual for a parte do corpo em que nos concentramos,
trazemos a nossa atenção para ela e a reconhecemos.
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O sutra lista claramente mais de 30 partes do corpo.
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E o Buda ajudou-nos a compreender isto com um exemplo.
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Ele diz que há um...
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há
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um agricultor. Ele sobe...
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a um sótão e desce um saco
contendo uma variedade de grãos.
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E ele abre esse saco de grãos
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e deixa que todos os grãos
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se espalhem
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pelo chão.
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Porque tem uma boa visão, consegue distinguir: "Estes são feijões-mungo,
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estes são feijões-lima,
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estes são grãos de arroz integral,
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este é arroz vermelho,
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estas são sementes de sésamo,
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este é arroz branco, etc."
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Então, quando nos deitamos ou sentamos em relaxamento total,
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o nosso corpo torna-se um saco de grãos.
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Com plena consciência sabemos que:
"Aqui está o cabelo da cabeça,
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aqui estão as pestanas, aqui estão as orelhas,
aqui estão os olhos, aqui está o nariz,
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aqui estão os excrementos, aqui está a urina,
aqui estão os pulmões, aqui está o coração, aqui está o fígado."
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E usamos a nossa consciência,
usamos a nossa atenção plena,
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para reconhecer as diferentes partes do corpo,
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os diferentes elementos do corpo.
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Aproximamo-nos gradualmente e familiarizamo-nos
com essas diferentes partes do corpo, abraçando-as com a nossa consciência.
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Porque, na nossa vida diária,
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temos sido completos estranhos ao nosso corpo.
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Precisamos de voltar a familiarizar-nos com o corpo,
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abraçá-lo com uma consciência amorosa, aceitá-lo como ele é
e tornar-nos um com o nosso corpo.
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Esta é uma prática muito importante para fazer as pazes.
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Vamos ler essa passagem:
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"Bhikkhus, imaginem um saco contendo uma variedade de grãos
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— como arroz castanho,
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arroz vermelho,
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grãos de arroz integral,
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feijões-mungo,
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feijões-lima,
-
sementes de sésamo,
-
arroz branco —
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que pode ser aberto em ambas as extremidades.
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Quando alguém com boa visão abre o saco,
consegue ver os diferentes tipos de grãos nele
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contidos.
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'Isto é arroz castanho, arroz vermelho,
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estes são grãos de arroz integral,
estes são feijões-mungo,
-
estes são feijões-lima,
-
estas são sementes de sésamo,
-
este é arroz branco.’
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Da mesma forma, ao observar atentamente
o seu corpo inteiro com plena consciência,
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o praticante revê tudo, desde a sola dos pés até o cabelo no topo da cabeça,
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e do cabelo no topo da cabeça até a sola dos pés,
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um corpo envolto por uma camada de pele
e cheio de...
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todas as impurezas que pertencem ao corpo:
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'Aqui está o cabelo da cabeça,
os pelos do corpo,
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as unhas, os dentes, a pele, a carne, os tendões,
os ossos, a medula óssea,
-
os rins, o coração, o fígado, o diafragma, o baço,
-
os pulmões, os intestinos, as entranhas,
os excrementos, a bile, o catarro,
-
o pus, o sangue, o suor, a gordura,
as lágrimas, a gordura da pele, a saliva,
-
o muco, o líquido sinovial, a urina.’"
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Há algo que precisamos de reconhecer,
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que é...
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as palavras "cheio de todas as impurezas."
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Nesta passagem,
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a frase "cheio de todas as impurezas"
é repetida duas vezes.
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E acredito que essas palavras
foram acrescentadas posteriormente ao sutra.
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Às vezes, estudamos o Budismo
da mesma forma que estudamos matemática.
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Já sabemos que as quatro áreas da atenção plena
são o corpo,
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as sensações,
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a mente,
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e os dharmas — ou os objetos da mente.
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Quando Thay ainda era um noviço — um monge em formação,
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ele foi ensinado sobre o Discurso das Quatro Estabelecimentos
da Atenção Plena de uma forma muito simples.
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E as pessoas enxertaram os ensinamentos da impermanência,
da ausência de um eu separado e das impurezas
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no Discurso dos Quatro Estabelecimentos da Atenção Plena.
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Devemos notar que os Quatro Estabelecimentos
da Atenção Plena são uma prática muito especial.
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Os Quatro Estabelecimentos da Atenção Plena significam
usar a consciência e a observação atenta
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para simplesmente reconhecer...
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simplesmente reconhecer o que está presente no momento.
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Atenção plena significa a capacidade de simplesmente reconhecer
o que está presente no momento.
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No início, apenas reconhecemos, sem julgamentos.
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A partir desse simples reconhecimento,
chegamos a uma compreensão mais profunda de certas coisas.
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Naquela época, na escola, aprendíamos que:
"O corpo...
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é impuro.
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As sensações são sofrimento.
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"A mente é impermanente.
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E os objetos da mente não possuem
uma identidade separada."
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E todo noviço e toda monja
tinha que decorar isso.
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Em sino-vietnamita, dizia-se:
"Thân bất tịnh. Thọ thị khổ. Tâm vô thường. Pháp vô ngã."
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Tínhamos que aprender isso de cor
e recitar como papagaios.
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"O corpo é impuro. As sensações são sofrimento.
A mente é impermanente.
-
Os objetos da mente não possuem
uma identidade separada."
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Com isso, atribuíam ao corpo...
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uma característica,
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isto é, "o corpo é impuro."
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Atribuíam às sensações
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uma característica chamada "sofrimento."
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Atribuíam à mente
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uma característica chamada "impermanência."
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E atribuíam...
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aos objetos da mente uma característica,
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ou seja, "não possuir uma identidade separada."
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Claro, esses quatro ensinamentos
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são ensinamentos do Buda, sem erro.
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Mas enxertar esses quatro ensinamentos
nesses quatro objetos da atenção plena parece forçado.
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Vejamos as sensações.
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As sensações não são apenas sofrimento.
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Temos três tipos de sensações, não temos?
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Temos sensações dolorosas ou desagradáveis.
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Também existem sensações felizes ou agradáveis, não é?
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Além dessas duas, também temos sensações neutras.
São os três tipos de sensações.
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Então, por que disseram apenas
"As sensações são sofrimento"?
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Isso é...
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uma atitude dogmática,
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forçando uma coisa sobre outra?
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Se o corpo é impuro,
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os dharmas também são impuros?
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Se os dharmas não possuem uma identidade separada,
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o corpo, as sensações e a mente
também não possuem uma identidade separada?
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Na verdade, ao falar sobre ser impuro, sofrimento,
impermanente e sem uma identidade separada,
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o corpo é impuro, sofrimento, impermanente
e sem uma identidade separada ao mesmo tempo.
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O mesmo acontece com as sensações.
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Por isso, pegar dois conjuntos —
este é um conjunto, e este é outro conjunto —
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e juntá-los dessa forma
não é apropriado.
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Mas todos os noviços e monjas recitavam como papagaios:
"O corpo é impuro. As sensações são sofrimento.
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"A mente é impermanente. Os objetos da mente
não possuem uma identidade separada."
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Isso se torna uma fórmula.
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Enquanto isso, a atenção plena...
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significa apenas reconhecer algo sem julgamentos.
Não se diz que é isso ou aquilo.
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Primeiro, reconhecemos as coisas como elas são.
Então,...
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após reconhecê-las sem julgamentos,
olhamos profundamente para elas
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e percebemos que são isso ou aquilo.
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Não precisamos nos doutrinar desde o início
com a ideia de que o corpo tem que ser impuro,
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as sensações têm que ser sofrimento,
a mente tem que ser impermanente,
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e os objetos da mente
não podem ter uma identidade separada.
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Isso é uma forma de doutrinação.
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Mas essa forma de doutrinação,
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com o tempo,
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foi parar diretamente nos ensinamentos do Buda,
nos sutras.
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O corpo pode ser impuro.
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Mas a atenção plena do corpo, antes de tudo,
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é simplesmente reconhecer o corpo,
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e simplesmente reconhecer...
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as diferentes partes e elementos do corpo.
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Primeiro, apenas reconhecemos sem julgamentos.
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Depois, ao reconhecê-lo e olhar profundamente para ele,
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pode-nos ocorrer a percepção de que há impurezas nele.
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Mas não devemos começar dizendo que o corpo é impuro.
Isso é doutrinação.
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Isso é dogma rígido.
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Então, acrescentaram as palavras
"cheio de todas as impurezas"
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com a boa intenção
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de lembrar as pessoas
do ensinamento do Buda sobre impurezas.
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Mas fazer isso desta forma não é apropriado.
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Isso não significa que estamos ensinando
que "o corpo não é impuro."
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Mas a descoberta de que o corpo é impuro
deveria surgir como resultado do próprio trabalho de observação profunda.
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Não deveria ser um resultado do dogmatismo ou...
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da doutrinação.
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Aqui, não falamos de impermanência,
não-eu, impurezas e sofrimento.
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Aqui, falamos apenas de estar plenamente consciente
e simplesmente reconhecer os diferentes elementos do corpo.
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O cabelo da cabeça é apenas cabelo da cabeça.
Os pulmões são apenas pulmões.
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O sangue é apenas sangue.
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O catarro é apenas catarro. É só isso.
Por que precisaríamos trazer a palavra "impuro" aqui?
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As pessoas estudaram os sutras de uma maneira tão dogmática,
com um espírito tão dogmático,
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que falaram demais sobre "sofrimento",
"não-eu", "impermanência" e "impurezas",
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a ponto de que, mais tarde, algumas pessoas retrucaram:
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"Nem puro, nem impuro."
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Isso está no Sutra do Coração
(A Visão Que Nos Leva à Outra Margem).
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Em sino-vietnamita, "Bất cấu. Bất tịnh."
De fato, a realidade transcende...
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pureza e impureza.
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Ela transcende permanência e impermanência.
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Estar preso à pureza é um tipo de apego.
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E estar preso à impureza
também é outro tipo de apego.
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Por isso, o Sutra do Coração afirma
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que a natureza do vazio de todos os fenômenos,
de todos os dharmas, é "nem impuro nem puro",
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"nem nascimento nem morte", "nem ser nem não-ser",
"nem aumento nem diminuição."
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Assim, esta passagem
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serve
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para nos ajudar
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a praticar o simples reconhecimento
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dos diferentes elementos do corpo.
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Uma ou duas vezes ao dia,
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podemos nos sentar ou deitar,
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seguir nossa respiração,
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e então voltar ao corpo
para simplesmente reconhecer
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as diferentes partes do nosso corpo.
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São mais de 30 no total.
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[Sino]
-
[Sino]
-
Nos hospitais, há uma máquina chamada scanner.
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E colocam um paciente no scanner
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para ver claramente o que há no corpo dele.
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Eles usam um feixe de luz...
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um feixe de luz
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para ajudar as pessoas a enxergarem claramente
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o que não pode ser visto com a luz normal
e com os olhos normais.
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O feixe de laser.
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A prática oferecida pelo Buda aqui
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aplica...
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um feixe chamado feixe da atenção plena.
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Quando nos deitamos ou nos sentamos,
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usamos esse feixe da atenção plena
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para varrer do topo da cabeça
até a sola dos pés.
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Onde quer que o feixe da atenção plena passe,
podemos sempre reconhecer
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a parte ou o elemento do corpo
que ele atravessa.
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Por isso, podemos chamar esse método, essa prática,
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de "escaneamento corporal"
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no Budismo.
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Em vez de usarmos o feixe de laser,
usamos o feixe da atenção plena.
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Permitimos que o feixe da atenção plena
varra nosso corpo bem devagar.
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Por onde ele passa, conseguimos reconhecer
a parte do corpo que está sendo iluminada.
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Inspirando,
-
estou plenamente consciente dos meus dois olhos.
-
Expirando, sorrio para os meus dois olhos.
-
Inspirando, estou plenamente consciente do meu coração.
-
Expirando, sorrio para o meu coração.
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É assim que normalmente praticamos.
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Podemos praticar sentados
ou deitados.
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Quando chega a hora de dormir, se já estamos deitados, mas ainda não dormimos,
em vez de ficarmos a ruminar...
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sobre isso ou aquilo, praticamos o relaxamento,
com os braços ao lado do corpo, e voltamos para abraçar
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os diferentes elementos do nosso corpo.
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Sorrimos para eles.
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Dessa forma, todo o nosso corpo
se torna calmo e tranquilo.
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Abraçamos todo o nosso corpo
com plena consciência.
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Essa é uma prática maravilhosa
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porque...
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graças a ela, conseguimos
voltar ao nosso corpo, fazer amizade com ele,
-
e dar-lhe nosso verdadeiro cuidado e amor.
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Porque provavelmente temos tratado
nosso corpo de forma muito descuidada.
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Nos preocupamos apenas em construir fama
e acumular riquezas, entre outras coisas.
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Ficamos completamente alheios ao nosso corpo.
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Não demonstramos amor por ele.
-
Nos distanciamos do nosso corpo.
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Por isso, voltamos a ele,
o abraçamos,
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e mostramos nosso verdadeiro amor e cuidado afetuoso,
dizendo "Eu sou meu corpo."
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"Eu sou meu corpo" pode ser visto como "visão de identidade"
("thân kiến" em vietnamita, ou sakkayādiṭṭhi),
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uma visão errada.
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No entanto, o corpo faz parte do que significa ser humano.
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Uma parte muito importante, aliás.
Por isso, voltar...
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para ver que o corpo é um amigo íntimo,
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fazer as pazes com ele,
-
e cuidar dele
é uma prática essencial.
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Ainda mais quando, no nosso corpo, há...
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partes e elementos sofrendo dores e aflições.
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Voltamos a essas partes,
as abraçamos com plena consciência.
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Sorrimos para elas.
Damos a elas nosso verdadeiro cuidado, amor e compaixão.
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Com isso, podemos ajudar essa parte
do corpo a se curar mais rápido.
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Como temos tratado nosso fígado?
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Como temos tratado nossa vesícula biliar?
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Como temos tratado nossos pulmões?
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Na verdade, tratamos essas partes
do corpo de maneira bastante negligente.
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Da maneira temos nos alimentado,
da maneira temos bebido,
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da maneira temos, repetidamente,
feito nosso fígado, nossos pulmões ou nosso coração sofrerem tanto?
-
Agora é o momento de voltar,
-
fazer as pazes,
-
e nos reconciliarmos com essas partes do corpo.
-
Inspirando, estou plenamente consciente do meu coração.
-
Expirando, sorrio para o meu coração.
-
Isso está dentro do espírito
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desta passagem do sutra.
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Em Plum Village, não praticamos individualmente.
-
Quando praticamos relaxamento total,
-
ou relaxamento profundo,
todos nos deitamos e uma pessoa nos guia.
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Inspirando,
-
sei que estou inspirando.
-
Expirando, sei que estou expirando.
-
Inspirando, estou plenamente consciente do meu coração.
Expirando, sorrio para o meu coração.
-
Praticamos isso como uma comunidade, como uma sangha.
-
Voltamos ao nosso corpo e
às diferentes partes do corpo,
-
abraçando-as, e demonstrando
nosso verdadeiro cuidado e amor.
-
Dessa forma, podemos...
-
ajudar a curar ou apoiar a cura das dores,
aflições e doenças que ocorrem no corpo.
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Há muito mais nesta passagem do sutra
que podemos aplicar em nossa vida diária.