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Inverno de 2013-2014 – O CAMINHO TRILHADO DA CONSCIÊNCIA
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Templo Dharma Cloud (Chùa Pháp Vân),
Upper Hamlet – 5 de janeiro de 2014
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Então,
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antes de nos sentarmos para a meditação, temos um cântico.
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O Cântico da Tarde diz:
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"Com a postura ereta e sólida,
estamos sentados aos pés da Árvore Bodhi.
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Corpo, fala e mente são um em quietude;
Já não há pensamento de certo ou errado."
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"Com a postura direita e sólida, estamos
sentados aos pés da Árvore Bodhi" significa,
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Estou sentado aqui como o Buda Shakyamuni
sentado aos pés da Árvore Bodhi.
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Esta é uma oportunidade.
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Senta-te de forma estável e sólida.
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E
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a primeira coisa que devo fazer
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é acalmar as três ações
do meu corpo, fala e mente.
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"Corpo" significa este corpo físico
que temos,
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Eu acalmo-o, eu tranquilizo-o.
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"Fala,"
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Eu fico em silêncio, paro de falar.
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"Mente,"
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Eu paro de pensar,
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Deixo a mente acalmar
e o pensamento ir diminuindo.
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"Com a postura ereta e sólida,
estamos sentados aos pés da Árvore Bodhi.
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Corpo, fala e mente são um em quietude;"
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Significa que, enquanto respiramos,
certifiquemo-nos de que realmente conseguimos
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atingir o que é dito nestes dois versos.
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O nosso corpo deve ser sólido,
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e as três ações devem quietar-se.
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"Corpo, fala e mente são um em quietude;
Já não há pensamento de certo ou errado."
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Significa que já não há mais pensamento como:
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"Tu estás certo, eu estou errado,"
ou "Tu estás errado, eu estou certo."
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"Já não há pensamento de certo ou errado."
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"Já não há mais pensamento
de certo e errado."
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Porque na nossa vida diária, estamos atados
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por este tipo de grilhão.
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"Tu estás errado, eu estou certo!"
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"Tu causaste-me
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incontáveis dores e sofrimentos.
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E tens de ser responsabilizado
por tudo isso.
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Eu? Eu sou apenas uma vítima."
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E ficamos presos
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à ideia de
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"Eu estou certo, tu estás errado."
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Mas, no momento em que nos sentamos para meditar, temos de deixar tudo isso para trás.
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Já não há pensamentos de certo e errado.
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Já não há pensamentos
de quem está certo e quem está errado.
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Já não há pensamentos
de quem é bom e quem é mau.
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Então, uma vez que entramos no salão de meditação
e nos sentamos nas nossas almofadas,
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nas primeiras respirações,
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certifiquemo-nos de que conseguimos fazer isto.
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Senta-te de forma estável e sólida.
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Começa
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a permitir que o corpo, fala e mente
estejam tranquilos e relaxados,
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e a terminar deliberadamente todos os pensamentos
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de quem está certo e quem está errado.
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"Corpo, fala e mente são um em quietude;
Já não há pensamento de certo ou errado.
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A nossa mente e corpo habitam
em perfeita atenção plena.
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Redescobrimos a nossa natureza original,
deixando para trás a margem da ilusão."
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O nosso corpo e mente estão
bem estabelecidos na atenção plena
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e temos uma luz que pode brilhar
no coração das coisas.
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Agora estamos conscientes de onde viemos,
para onde estamos a caminho e quem realmente somos.
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E por essa razão, podemos deixar para trás
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esta margem
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– a margem da raiva e do ressentimento,
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da autopiedade,
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das preocupações, tristezas e sofrimentos,
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para ir para a outra margem
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– a margem da paz e da tranquilidade,
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do despertar e da iluminação.
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Este Cântico da tarde
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cantado antes da meditação sentada da tarde,
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e
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o Cântico da Manhã, que diz,
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"O corpo do Dharma brilha intensamente
ao amanhecer,"
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são lembretes para nós mesmos.
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Eles estão a lembrar-nos.
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Mas se ouvirmos estes cânticos sem olhar profundamente, nunca vai funcionar.
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Temos de deixar que estes cânticos
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penetrem
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e praticá-los imediatamente com o nosso corpo.
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Permitir que estes cânticos penetrem
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no nosso corpo,
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e no nosso
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sistema nervoso.
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Eles têm de viajar através da sinapse
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e passar de um neurónio para o outro.
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Não podemos simplesmente sentar-nos ali e pensar,
"Aquele irmão está a cantar o cântico
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e nós estamos simplesmente aqui a ouvi-lo cantar, sem fazer nada da nossa parte."
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Temos de permitir que estes insights, estes desejos, estas práticas
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penetrem em todo o nosso ser.
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Assim, na tradição de Plum Village, temos práticas como esta.
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Antes de caminharmos na meditação,
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muitas vezes
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ficamos em círculos e cantamos algumas canções.
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Mas as canções de atenção plena estão, na verdade, a guiar-nos na nossa caminhada meditativa.
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Não para o nosso puro prazer.
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Por exemplo, se cantarmos,
"A felicidade está aqui e agora,"
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cantar isso não é para o nosso puro entretenimento.
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Cantamos isso para nos lembrar
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de que a nossa felicidade e sofrimento
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dependem da forma como damos cada passo.
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Damos cada respiração e cada passo de tal forma
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que cada passo
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se torna lendário,
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que cada respiração se torna um milagre a ressoar através das gerações.
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Nós conseguimos – não é impossível.
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Uma vez que nos habituamos a esta prática, ela vai passar pelos nossos neurónios,
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criando...
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criando novos caminhos neurais
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que nos conduzem diretamente à felicidade.
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Em vez de seguir pelos caminhos já trilhados — vamos dizer, sempre que ruminamos,
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esses caminhos sempre nos levam à raiva, ressentimento, tristeza ou sofrimentos,
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agora decidimos abrir novos caminhos
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e andar nesses novos caminhos repetidamente para criar caminhos de felicidade.
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Sempre que andamos nesses novos caminhos, chegamos sempre à felicidade, sem falhar.
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Vai tornar-se um novo hábito.
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Um hábito muito bom.
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O mesmo com ouvir o sino.
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Se nos habituarmos a ouvir o sino, ninguém tem de nos lembrar.
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Como uma segunda natureza, ao primeiro som abafado do sino,
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sem esforço,
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podemos naturalmente parar de pensar e falar,
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e começar a prestar atenção à respiração.
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Em Plum Village, toda a gente pratica assim.
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Sem esforço.
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Tornou-se um caminho bem trilhado.
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O caminho bem trilhado da atenção plena.
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Ao som do sino,
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muito naturalmente,
todos param de pensar e falar,
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e começam a trazer uma atenção pacífica para a respiração.
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"Respirando, acalmo todo o meu corpo."
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Isso é aprender.
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O aprendizado da consciência de fundo.
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Quando praticamos a atenção plena,
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nutrimos-nos.
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Aprendemos maneiras de nos nutrir.
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Nutrimo-nos com um sentido de paz e tranquilidade.
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Nutrimo-nos com fraternidade.
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Nutrimo-nos com a felicidade
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gerada enquanto caminhamos, enquanto estamos em pé, enquanto estamos deitados, enquanto sentados,
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enquanto lavamos a loiça, e enquanto comemos.
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E uma vez que podemos nos nutrir,
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podemos nutrir os outros.
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Podemos nutrir os nossos irmãos e irmãs do Dharma.
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Podemos nutrir os nossos filhos, as nossas esposas, os nossos maridos.
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Podemos nutrir
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os nossos amigos e companheiros praticantes,
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bem como as nossas irmãs e irmãos.