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Um outro mundo em outras palavras | Noémie de Lattre | TEDxUniGeneva

  • 0:15 - 0:16
    Boa noite.
  • 0:17 - 0:20
    Eu me chamo Noémie de Lattre.
  • 0:20 - 0:21
    Eu sou francesa.
  • 0:21 - 0:25
    Digo isso pois vou falar muito
    sobre meu idioma hoje à noite.
  • 0:25 - 0:27
    E eu sou atriz.
  • 0:28 - 0:29
    Pois é.
  • 0:29 - 0:32
    Na prática, também sou
    autora e diretora de palco,
  • 0:32 - 0:34
    mas não pude escrever isso.
  • 0:34 - 0:37
    O corretor ortográfico se recusa.
  • 0:37 - 0:39
    Ele sublinha de vermelho.
  • 0:40 - 0:41
    Sim, sim.
  • 0:43 - 0:44
    Aí está.
  • 0:44 - 0:46
    Enfim, não.
  • 0:46 - 0:49
    Para ser sincera, ele começou
    oferecendo uma alteração:
  • 0:49 - 0:51
    avestruz e mentirosa no palco.
  • 0:51 - 0:53
    (Risos)
  • 0:53 - 0:54
    Juro que é verdade.
  • 0:54 - 0:57
    Sério. Noémie de Lattre,
    avestruz e mentirosa no palco.
  • 0:57 - 0:59
    Adoro minha vida. (Risos)
  • 1:00 - 1:01
    É loucura mesmo.
  • 1:01 - 1:04
    Como tive a audácia de insistir -
  • 1:04 - 1:07
    não, desculpe, não sou
    nem avestruz nem mentirosa -
  • 1:07 - 1:10
    ele sublinhou de vermelho com desprezo,
  • 1:10 - 1:13
    como se me dissesse
    que nunca seria legítima
  • 1:13 - 1:15
    nessas belas profissões de homens.
  • 1:15 - 1:20
    Não é coerente ser algo
    que não se pode nomear.
  • 1:20 - 1:21
    Isso não ajuda (Risos).
  • 1:22 - 1:24
    Vocês me dirão: não importa,
  • 1:24 - 1:27
    eu ainda consegui escrever
    minha profissão, isso é o principal.
  • 1:27 - 1:29
    Eu consegui vencer a máquina.
  • 1:29 - 1:31
    Eu sou uma...
  • 1:32 - 1:34
    vitoriosa?
  • 1:35 - 1:36
    Ganhadora?
  • 1:36 - 1:38
    Vencedora?
  • 1:38 - 1:41
    Ah! Olha, que engraçado.
  • 1:41 - 1:45
    Nenhuma dessas palavras
    é aceita pelo meu corretor.
  • 1:45 - 1:49
    Beleza, então em francês,
    "vencedor" inexiste no feminino.
  • 1:50 - 1:55
    Merda, isso leva um pouco à derrota, não?
  • 1:55 - 1:56
    Não sei.
  • 1:56 - 1:59
    É como "o masculino
    predomina sobre o feminino".
  • 1:59 - 2:01
    Essa regra gramatical
  • 2:01 - 2:04
    que se repete por décadas
    a todas as crianças da França.
  • 2:04 - 2:07
    O masculino predomina sobre o feminino.
  • 2:07 - 2:08
    Isso não é nada.
  • 2:08 - 2:11
    Digo, quando prestamos atenção
    a essa expressão...
  • 2:11 - 2:14
    Eu, quando era garotinha e me diziam isso,
  • 2:14 - 2:19
    o que entendia era: "Querida,
    o masculino é mais forte que você".
  • 2:19 - 2:21
    Ele tem poder sobre você,
  • 2:21 - 2:23
    ele tem o direito de predominar,
  • 2:23 - 2:25
    e você perdeu antecipadamente.
  • 2:26 - 2:29
    Essas não são condições ideais
    para se desenvolver.
  • 2:29 - 2:32
    E isso é válido em todas as línguas.
  • 2:32 - 2:35
    Porém o mais crucial não é isso.
  • 2:35 - 2:37
    É que a maior parte de nós pensa:
  • 2:37 - 2:40
    "É assim. O que você quer?
  • 2:40 - 2:42
    A língua foi construída assim.
  • 2:42 - 2:45
    Dizemos um banco e uma cadeira,
    ponto final. Quer o quê?"
  • 2:45 - 2:47
    Ponto final nada.
  • 2:47 - 2:50
    As características gramaticais
    que eu citei para vocês
  • 2:50 - 2:52
    não são por acaso.
  • 2:52 - 2:54
    Elas vêm todas do sexismo.
  • 2:54 - 2:57
    Se o masculino predomina
    sobre o feminino em francês,
  • 2:57 - 2:59
    não é à toa, não,
  • 2:59 - 3:01
    é porque grandes varões machistas
  • 3:01 - 3:05
    tomaram essa decisão no século 17
  • 3:05 - 3:09
    com o pretexto de que o gênero masculino
    é considerado mais nobre que o feminino
  • 3:09 - 3:13
    porque o macho é superior à fêmea.
  • 3:14 - 3:16
    Com certeza! (Risos)
  • 3:16 - 3:22
    Então aqui, a língua reflete
    o sexismo da época e o enraíza.
  • 3:22 - 3:26
    O que ainda nos dá o direito
    de fazer frases do tipo:
  • 3:26 - 3:27
    "Cem mulheres são belas",
  • 3:27 - 3:31
    mas "cem mulheres e um poodle são belos".
  • 3:31 - 3:33
    (Risos)
  • 3:33 - 3:34
    É isso aí.
  • 3:34 - 3:37
    O que pessoalmente me dá uma dor no peito.
  • 3:37 - 3:39
    (Risos)
  • 3:39 - 3:42
    E se não posso nomear
    minha profissão hoje,
  • 3:42 - 3:45
    não é porque a palavra não existe
    e nos recusamos a inventá-la.
  • 3:45 - 3:46
    Não.
  • 3:46 - 3:50
    É porque foi propositalmente
    excluída dos dicionários
  • 3:50 - 3:52
    no século 18,
  • 3:52 - 3:55
    assim como escritora e autora, aliás,
  • 3:55 - 4:00
    com a desculpa de serem femininos
    que arranham muito os ouvidos.
  • 4:00 - 4:03
    Brrrrr.
  • 4:03 - 4:07
    Obviamente não, a verdade
    nada tem a ver com o som das palavras.
  • 4:07 - 4:11
    Todos saberiam se os idiomas
    fossem feitos para serem bonitos.
  • 4:11 - 4:15
    Não, obviamente, a verdadeira razão
    para a exclusão dos femininos
  • 4:15 - 4:19
    das profissões de arte,
    pensamento, poder ou política
  • 4:19 - 4:23
    é que a possibilidade
    de emancipação das mulheres
  • 4:23 - 4:26
    deixava os caras tão pirados
  • 4:26 - 4:29
    que, quando as francesas começaram
    a pedir o direito ao voto na revolução,
  • 4:29 - 4:31
    eles falaram: "Temos que reagir.
  • 4:31 - 4:34
    Era só o que faltava, depois de perder
    um olho nas barricadas,
  • 4:34 - 4:36
    elas conquistarem o direito ao voto.
  • 4:36 - 4:38
    Seria um pouco fácil demais".
  • 4:38 - 4:42
    O sexismo cria a língua para enraizar-se.
  • 4:42 - 4:45
    E a prova de que isso não é por acaso,
  • 4:45 - 4:48
    mas sim pela vontade
    de inibir as mulheres,
  • 4:48 - 4:51
    é que os femininos
    como padeira ou costureira,
  • 4:51 - 4:54
    que não representam ameaça iminente
  • 4:54 - 4:56
    para a ordem instituída e o patriarcado,
  • 4:56 - 4:58
    foram aceitos sem problemas.
  • 4:58 - 5:00
    Leiteiros, leiteiras;
    açougueiros, açougueiras.
  • 5:00 - 5:02
    Divirtam-se meninas, sem problema.
  • 5:02 - 5:03
    (Risos) Tranquilas.
  • 5:03 - 5:08
    No entanto, temos erradicado
    meticulosamente de todos os dicionários
  • 5:08 - 5:12
    o feminino de profissões e funções
    que podem ser objetos de emancipação.
  • 5:12 - 5:17
    Assim, poetisa e filósofa,
    por exemplo, foram deixadas para trás.
  • 5:17 - 5:20
    Por isso cuidado,
    ninguém me fale de sonoridade
  • 5:20 - 5:24
    porque duquesa e condessa,
    donas de vestidos pagos por seus maridos,
  • 5:24 - 5:25
    não incomodam ninguém.
  • 5:26 - 5:28
    E o mais fantástico
  • 5:28 - 5:32
    é que diretor de escola
    gerou diretora de escola,
  • 5:32 - 5:34
    educador escolar gerou educadora escolar:
  • 5:34 - 5:36
    ninguém reclamou.
  • 5:36 - 5:39
    No entanto, ainda hoje na França,
  • 5:39 - 5:43
    não temos o direito de dizer,
    não é aceito pela Academia Francesa,
  • 5:43 - 5:45
    catedrática,
  • 5:45 - 5:48
    diretora de pesquisa ou diretora de tese.
  • 5:49 - 5:50
    O que é muito engraçado.
  • 5:50 - 5:54
    E não falo de ofícios
    como médico, advogado ou professor
  • 5:54 - 5:56
    que não existem no feminino.
  • 5:56 - 6:00
    Em suma, se você falar com crianças
    por um mísero salário,
  • 6:00 - 6:01
    não tem problema,
  • 6:01 - 6:03
    mas se quiser se dirigir
    aos adultos, peritos,
  • 6:03 - 6:07
    por um valor um pouco mais polpudo,
    está fora de questão.
  • 6:07 - 6:08
    Então, o que eu quero dizer é que,
  • 6:08 - 6:11
    não sei se vocês assistiram
    a essa notícia na França,
  • 6:11 - 6:14
    mas recentemente agradecemos
    à Academia Francesa
  • 6:14 - 6:19
    por não se opor à feminização
    de títulos e profissões (Risos),
  • 6:19 - 6:22
    como se isso fosse transformar o idioma
  • 6:22 - 6:26
    por causa de algumas águias histéricas
    sob um efeito de moda.
  • 6:26 - 6:28
    Eu ri um pouquinho.
  • 6:28 - 6:32
    Visto que claramente isso não é,
    de jeito nenhum, feminizar a língua,
  • 6:32 - 6:35
    mas sim, deixá-la menos masculina.
  • 6:35 - 6:38
    A língua francesa, como muitas outras,
  • 6:38 - 6:39
    não é sexista por acaso,
  • 6:39 - 6:42
    ela é sexista por escolha.
  • 6:42 - 6:45
    Sexismo que vivemos ainda hoje.
  • 6:45 - 6:48
    Porque é óbvio que existe um elo
    entre o fato de não encontrarmos
  • 6:48 - 6:51
    a palavra cirurgiã
    no dicionário da Academia
  • 6:51 - 6:56
    e o fato de que todos e todas, assim
    simplesmente, por padrão, sem refletir,
  • 6:56 - 7:00
    pensam que é natural dizer:
    um cirurgião, uma enfermeira.
  • 7:01 - 7:03
    (Risos)
  • 7:03 - 7:05
    Um presidente, uma secretária.
  • 7:05 - 7:08
    Um diretor, uma assistente.
  • 7:08 - 7:10
    Um sedutor, uma vadia.
  • 7:10 - 7:11
    (Risos)
  • 7:11 - 7:16
    E sim! Ainda existem perspectivas
    um pouquinho mais brilhantes que outras.
  • 7:16 - 7:18
    Tanto que acabamos admitindo
  • 7:18 - 7:22
    que tudo o que era do campo
    masculino era positivo,
  • 7:22 - 7:25
    e tudo o que era do campo
    feminino era negativo.
  • 7:25 - 7:28
    Masculino / feminino,
    está bom / uma droga,
  • 7:28 - 7:30
    grande / pequeno, forte / fraco,
  • 7:30 - 7:33
    jogar como um homem,
    jogar como uma mulher etc...
  • 7:33 - 7:36
    E o mais maravilhoso é que,
    se uma mulher joga bem,
  • 7:36 - 7:40
    ela é chamada de maria-macho,
  • 7:40 - 7:44
    e se um homem joga mal,
    ele é uma mulherzinha,
  • 7:44 - 7:46
    ou um maricas, é claro.
  • 7:47 - 7:50
    E para começar, isso é comum
    nos quatro cantos do globo.
  • 7:50 - 7:53
    Tenho um pequeno exemplo
    muito engraçado em alemão.
  • 7:53 - 7:55
    Existem dois adjetivos opostos,
  • 7:55 - 7:58
    de um lado "dämlich",
    que vem de "senhora",
  • 7:58 - 8:00
    e que significa besta, idiota, imbecil.
  • 8:00 - 8:03
    Bom, já agradeço, isso é hilário.
  • 8:03 - 8:06
    E, de outro, temos "herrlich",
    que vem de "herr", senhor,
  • 8:06 - 8:09
    e significa magnífico, brilhante, genial.
  • 8:09 - 8:10
    (Risos)
  • 8:10 - 8:13
    Não é formidável?
  • 8:13 - 8:15
    E então chegamos diretamente no milagre,
  • 8:16 - 8:19
    o caso em que podemos usar
    tanto o feminino como o masculino,
  • 8:20 - 8:24
    e a coisa muda de sentido
    dependendo do gênero.
  • 8:24 - 8:25
    Eu amo, são meus preferidos.
  • 8:25 - 8:29
    Exemplo: um treinador, uma treinadora.
  • 8:29 - 8:33
    O primeiro é um treinador esportivo
    e a segunda uma puta.
  • 8:33 - 8:34
    (Risos)
  • 8:34 - 8:36
    Pois é. Cortesão, cortesã.
  • 8:36 - 8:41
    O primeiro é um próximo do rei
    e a segunda uma puta.
  • 8:41 - 8:42
    (Risos)
  • 8:42 - 8:45
    Peripatético, peripatética.
  • 8:45 - 8:48
    O primeiro é um filósofo
    discípulo de Aristóteles
  • 8:48 - 8:49
    e a segunda?
  • 8:49 - 8:51
    Público: Uma puta!
    Noémie de Lattre: Obrigada.
  • 8:52 - 8:55
    Além disso, "puta", pequeno parêntese,
    é um nome maravilhoso
  • 8:55 - 8:57
    porque é uma palavra mágica.
  • 8:57 - 8:59
    Não sei se vocês perceberam,
  • 8:59 - 9:03
    mas quando queremos insultar
    uma mulher gravemente,
  • 9:03 - 9:04
    nós a chamamos de "puta".
  • 9:04 - 9:08
    E quando queremos insultar
    um homem gravemente,
  • 9:08 - 9:11
    chamamos de "filho da puta".
  • 9:11 - 9:12
    (Risos)
  • 9:13 - 9:16
    Isso não seria uma dupla penalidade?
  • 9:18 - 9:21
    Ou seja, sempre são as mulheres que levam.
  • 9:22 - 9:26
    Dito isso, é normal, já que as mulheres
    valem menos que os homens.
  • 9:26 - 9:29
    E não sou eu que digo, é a minha língua.
  • 9:29 - 9:32
    E o poder de uma língua é ilimitado.
  • 9:32 - 9:34
    Não sei se vocês sabem, mas na França,
  • 9:34 - 9:36
    nos venderam por décadas
  • 9:36 - 9:41
    um sufrágio universal em que as mulheres
    não tinham direito ao voto.
  • 9:42 - 9:44
    E isso não incomodou ninguém.
  • 9:44 - 9:46
    "Sim! O sufrágio é universal!
  • 9:46 - 9:47
    Ah não, mas você não,
  • 9:47 - 9:51
    nem você, nem você, nem você,
    nem metade do país, aliás."
  • 9:51 - 9:53
    Não, isso é mesmo loucura!
  • 9:53 - 9:56
    E ao mesmo tempo, não, não é loucura,
    é normal, pois fala-se: direitos do Homem.
  • 9:56 - 9:59
    Por um instante é preciso ser coerente.
  • 10:00 - 10:05
    Então, para todas que me dizem:
    "Ah, escuta, Noémie, é penoso!
  • 10:05 - 10:08
    Falamos Direitos do Homem
    e não Direitos Humanos
  • 10:08 - 10:10
    porque homem, com H maiúsculo,
    significa humano.
  • 10:10 - 10:13
    E você sabe que brrr ... "
  • 10:13 - 10:16
    Eu respondo: "Muito bem, mas então,
  • 10:16 - 10:18
    agora que existem
    os direitos das mulheres,
  • 10:18 - 10:20
    o que isso significa?
  • 10:20 - 10:23
    Que as mulheres não são seres humanos?"
  • 10:23 - 10:27
    E não, não é engraçado, é chato.
    Existe uma pequena lacuna.
  • 10:28 - 10:30
    Sobretudo porque a palavra "homem"
  • 10:30 - 10:34
    na Declaração dos Direitos
    do Homem e do Cidadão,
  • 10:34 - 10:35
    não se deve ao acaso,
  • 10:35 - 10:40
    mas a um desejo de negar legalmente
    às mulheres o direito de votar.
  • 10:40 - 10:45
    Para exemplificar, os editores
    da Declaração das Nações Unidas de 1949
  • 10:45 - 10:47
    queriam colocar "Direitos do Homem"
  • 10:47 - 10:50
    e foi a única mulher presente,
    Eleanor Roosevelt,
  • 10:50 - 10:53
    quem lutou para que adotassem
    "Direitos Humanos"
  • 10:53 - 10:56
    a fim de cobrir igualmente
    os direitos das mulheres.
  • 10:56 - 11:01
    Expressão que a França traduz mal
    para "Direitos do Homem".
  • 11:01 - 11:07
    Oferecendo generosamente, um dia por ano,
    em 8 de março, os direitos das mulheres.
  • 11:07 - 11:09
    Obrigada, França.
  • 11:09 - 11:13
    Não se façam de espertos
    porque isso é válido em todas as línguas.
  • 11:13 - 11:15
    Quase em todas as línguas,
    as palavras "homem" e "humano"
  • 11:15 - 11:18
    são sinônimas ou equivalentes.
  • 11:18 - 11:22
    Deixando à palavra "mulher"
    e às pessoas que ela designa,
  • 11:22 - 11:25
    surpresa, o lugar do outro.
  • 11:25 - 11:29
    Do subalterno, do não-humano. É isso aí.
  • 11:29 - 11:33
    E para lhes provar a qual ponto
    nós pensamos em sexismo
  • 11:33 - 11:35
    sem nem perceber,
  • 11:35 - 11:38
    sugiro a vocês um joguinho
    muito engraçado.
  • 11:38 - 11:41
    É só substituir a palavra "mulher"
    pela palavra "negro"
  • 11:41 - 11:43
    nas expressões cotidianas.
  • 11:43 - 11:46
    Vou dar um pequeno exemplo,
    vejam como é superengraçado.
  • 11:46 - 11:50
    As mulheres não sabem dirigir.
    Quem já não disse isso?
  • 11:51 - 11:53
    Os negros não sabem dirigir.
  • 11:54 - 11:57
    Ah, isso fere, não dá na mesma.
  • 11:57 - 11:59
    Um segundo exemplo apenas por diversão.
  • 12:01 - 12:05
    Em matemática, as mulheres
    são mais fracas que os homens.
  • 12:05 - 12:06
    Todo mundo sabe disso.
  • 12:07 - 12:10
    Em matemática, os negros
    são mais fracos que os brancos.
  • 12:10 - 12:13
    Nossa, isso dói! Hã?
  • 12:14 - 12:16
    Então, agora é com vocês.
  • 12:17 - 12:23
    As mulheres estão naturalmente mais
    confortáveis com o trabalho doméstico.
  • 12:23 - 12:26
    (Risos)
  • 12:26 - 12:28
    Não temos vontade de dizer, não é?
  • 12:28 - 12:32
    Não, não diga isso, é horrível,
    mas isso prova que há um probleminha
  • 12:32 - 12:35
    porque com "mulher"
    isso não incomoda ninguém.
  • 12:35 - 12:38
    Imagino que muitos e muitas aqui
  • 12:38 - 12:41
    já usaram a expressão: "dia da mulher".
  • 12:41 - 12:42
    Eu já usei.
  • 12:42 - 12:45
    Imaginem se disséssemos "o dia do preto"?
  • 12:46 - 12:49
    O dia do preto é um presente, é para mim.
  • 12:49 - 12:50
    (Risos)
  • 12:50 - 12:52
    E o que é ainda mais formidável
  • 12:52 - 12:55
    é que funciona com todas
    as generalidades, mesmo positivas.
  • 12:55 - 12:59
    Ou seja, se é racista falar:
    "Os negros têm senso de ritmo".
  • 12:59 - 13:01
    Então, é sexista dizer:
  • 13:01 - 13:03
    "As mulheres têm senso de organização".
  • 13:03 - 13:05
    Pois é. É sexista e cafona!
  • 13:06 - 13:11
    Nosso mundo continuará injusto
    enquanto nossas palavras o forem.
  • 13:11 - 13:12
    Porque pensamos com as palavras.
  • 13:12 - 13:15
    Uma língua sexista,
    que maltrata as mulheres,
  • 13:15 - 13:17
    criará um mundo sexista,
    que maltrata as mulheres.
  • 13:17 - 13:21
    Um mundo machista e cruel
    onde as mulheres são ignoradas, indignas,
  • 13:21 - 13:25
    mal pagas, maltratadas, violentadas,
    sem esperança de igualdade.
  • 13:25 - 13:28
    Hoje, não temos as ferramentas
    para mudar o mundo.
  • 13:29 - 13:32
    Porque não temos as palavras
    para pensar de outra forma:
  • 13:32 - 13:34
    igualitária e justa.
  • 13:34 - 13:38
    A luta pela igualdade deve
    começar pela língua.
  • 13:40 - 13:43
    E como dizia... quem mesmo?
  • 13:43 - 13:45
    Simone de Beauvoir.
  • 13:45 - 13:47
    Como Simone de Beauvoir dizia em 1978
  • 13:47 - 13:50
    sobre a entrada da palavra
    "sexismo" no dicionário,
  • 13:51 - 13:54
    podemos talvez pensar
    que é uma conquista pequena,
  • 13:54 - 13:55
    e estaremos errados.
  • 13:55 - 14:00
    Porque nomear é revelar,
    e revelar já é agir.
  • 14:00 - 14:02
    Então, o que eu sugiro para vocês
  • 14:02 - 14:05
    é que, de agora em diante,
    comecemos a mudar o mundo
  • 14:05 - 14:07
    mudando as palavras.
  • 14:07 - 14:09
    E há muitas coisas supersimples de fazer.
  • 14:09 - 14:12
    Pelo menos por meus compatriotas.
    E, tenho certeza, em outros idiomas.
  • 14:12 - 14:16
    Podemos começar usando
    palavras epicenas e frases inclusivas,
  • 14:16 - 14:18
    ou seja, evitar, por exemplo:
  • 14:18 - 14:21
    "Olá, rapaziada!" ou "Olá a todos"
    no início do email,
  • 14:21 - 14:24
    quando existem dois caras
    para 32 destinatárias, por exemplo.
  • 14:25 - 14:30
    Também podemos pleitear para trocar
    "o masculino predomina"
  • 14:30 - 14:33
    pelas regras dos acordos que foram
    usados durante séculos na França,
  • 14:33 - 14:35
    antes de a Academia se envolver,
  • 14:35 - 14:37
    como a regra da maioria:
  • 14:37 - 14:40
    vocês, mil mulheres e um homem são belas.
  • 14:41 - 14:44
    Ou então, vocês, mil homens
    e uma mulher são belos.
  • 14:44 - 14:48
    Seria mais simples, a maioria,
    o maior número predomina.
  • 14:48 - 14:50
    Ou então a regra de proximidade:
  • 14:50 - 14:54
    um homem e uma mulher são belas,
    uma mulher e um homem são belos.
  • 14:55 - 14:58
    Vejam, o nome mais próximo
    do adjetivo predomina.
  • 14:58 - 14:59
    Simples, básico.
  • 15:00 - 15:03
    Poderíamos defender também
    o emprego da expressão
  • 15:03 - 15:05
    "Direitos da pessoa humana"
    ou "Direitos Humanos",
  • 15:05 - 15:08
    como em Quebec,
    em vez de "Direitos do Homem".
  • 15:08 - 15:11
    Por favor, pareço um homem?
  • 15:11 - 15:15
    Vocês poderiam ter rido mais alto,
    francamente, não tenho cara de homem!
  • 15:15 - 15:17
    Estou brincando. Mas é verdade.
  • 15:17 - 15:21
    Também poderíamos, na França,
    eu gostaria que lutássemos
  • 15:21 - 15:24
    por uma reforma do lema
    republicano francês:
  • 15:24 - 15:27
    "Liberdade, Igualdade, Fraternidade",
  • 15:27 - 15:29
    o que exclui, portanto, metade do país.
  • 15:29 - 15:32
    Sim, "fraternidade" vem de "irmão",
  • 15:32 - 15:33
    "sororidade" vem de "irmã".
  • 15:33 - 15:37
    E a palavra que fala de irmãos
    e irmãs é "solidariedade".
  • 15:37 - 15:39
    Então, eu faço campanha por um lema
  • 15:39 - 15:42
    cuja terceira palavra
    não contradiga a segunda,
  • 15:42 - 15:46
    um lema inclusivo, um lema justo e humano:
  • 15:46 - 15:49
    "Liberdade, Igualdade, Solidariedade".
  • 15:49 - 15:52
    E tenho certeza que seria um ótimo
    ponto de partida para sensibilizar
  • 15:52 - 15:56
    os jovens e as crianças
    para questões de igualdade.
  • 15:57 - 15:59
    Um outro mundo em outras palavras.
  • 15:59 - 16:01
    Tenho certeza que chegaremos lá.
  • 16:01 - 16:02
    Obrigada.
  • 16:02 - 16:05
    (Aplausos)
Title:
Um outro mundo em outras palavras | Noémie de Lattre | TEDxUniGeneva
Description:

Comediante, autora, diretora de palco, ensaísta francesa, sua ascensão midiática foi confirmada nas redes sociais após a transmissão de um vídeo sobre feminismo e sexismo. Numa época em que a luta pela igualdade de gênero é primordial, Noémie de Lattre nos explicará a importância da língua na luta contra o sexismo.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
French
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
16:13

Portuguese, Brazilian subtitles

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