Um outro mundo em outras palavras | Noémie de Lattre | TEDxUniGeneva
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0:15 - 0:16Boa noite.
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0:17 - 0:20Eu me chamo Noémie de Lattre.
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0:20 - 0:21Eu sou francesa.
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0:21 - 0:25Digo isso pois vou falar muito
sobre meu idioma hoje à noite. -
0:25 - 0:27E eu sou atriz.
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0:28 - 0:29Pois é.
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0:29 - 0:32Na prática, também sou
autora e diretora de palco, -
0:32 - 0:34mas não pude escrever isso.
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0:34 - 0:37O corretor ortográfico se recusa.
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0:37 - 0:39Ele sublinha de vermelho.
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0:40 - 0:41Sim, sim.
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0:43 - 0:44Aí está.
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0:44 - 0:46Enfim, não.
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0:46 - 0:49Para ser sincera, ele começou
oferecendo uma alteração: -
0:49 - 0:51avestruz e mentirosa no palco.
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0:51 - 0:53(Risos)
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0:53 - 0:54Juro que é verdade.
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0:54 - 0:57Sério. Noémie de Lattre,
avestruz e mentirosa no palco. -
0:57 - 0:59Adoro minha vida. (Risos)
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1:00 - 1:01É loucura mesmo.
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1:01 - 1:04Como tive a audácia de insistir -
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1:04 - 1:07não, desculpe, não sou
nem avestruz nem mentirosa - -
1:07 - 1:10ele sublinhou de vermelho com desprezo,
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1:10 - 1:13como se me dissesse
que nunca seria legítima -
1:13 - 1:15nessas belas profissões de homens.
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1:15 - 1:20Não é coerente ser algo
que não se pode nomear. -
1:20 - 1:21Isso não ajuda (Risos).
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1:22 - 1:24Vocês me dirão: não importa,
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1:24 - 1:27eu ainda consegui escrever
minha profissão, isso é o principal. -
1:27 - 1:29Eu consegui vencer a máquina.
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1:29 - 1:31Eu sou uma...
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1:32 - 1:34vitoriosa?
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1:35 - 1:36Ganhadora?
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1:36 - 1:38Vencedora?
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1:38 - 1:41Ah! Olha, que engraçado.
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1:41 - 1:45Nenhuma dessas palavras
é aceita pelo meu corretor. -
1:45 - 1:49Beleza, então em francês,
"vencedor" inexiste no feminino. -
1:50 - 1:55Merda, isso leva um pouco à derrota, não?
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1:55 - 1:56Não sei.
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1:56 - 1:59É como "o masculino
predomina sobre o feminino". -
1:59 - 2:01Essa regra gramatical
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2:01 - 2:04que se repete por décadas
a todas as crianças da França. -
2:04 - 2:07O masculino predomina sobre o feminino.
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2:07 - 2:08Isso não é nada.
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2:08 - 2:11Digo, quando prestamos atenção
a essa expressão... -
2:11 - 2:14Eu, quando era garotinha e me diziam isso,
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2:14 - 2:19o que entendia era: "Querida,
o masculino é mais forte que você". -
2:19 - 2:21Ele tem poder sobre você,
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2:21 - 2:23ele tem o direito de predominar,
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2:23 - 2:25e você perdeu antecipadamente.
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2:26 - 2:29Essas não são condições ideais
para se desenvolver. -
2:29 - 2:32E isso é válido em todas as línguas.
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2:32 - 2:35Porém o mais crucial não é isso.
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2:35 - 2:37É que a maior parte de nós pensa:
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2:37 - 2:40"É assim. O que você quer?
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2:40 - 2:42A língua foi construída assim.
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2:42 - 2:45Dizemos um banco e uma cadeira,
ponto final. Quer o quê?" -
2:45 - 2:47Ponto final nada.
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2:47 - 2:50As características gramaticais
que eu citei para vocês -
2:50 - 2:52não são por acaso.
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2:52 - 2:54Elas vêm todas do sexismo.
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2:54 - 2:57Se o masculino predomina
sobre o feminino em francês, -
2:57 - 2:59não é à toa, não,
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2:59 - 3:01é porque grandes varões machistas
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3:01 - 3:05tomaram essa decisão no século 17
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3:05 - 3:09com o pretexto de que o gênero masculino
é considerado mais nobre que o feminino -
3:09 - 3:13porque o macho é superior à fêmea.
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3:14 - 3:16Com certeza! (Risos)
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3:16 - 3:22Então aqui, a língua reflete
o sexismo da época e o enraíza. -
3:22 - 3:26O que ainda nos dá o direito
de fazer frases do tipo: -
3:26 - 3:27"Cem mulheres são belas",
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3:27 - 3:31mas "cem mulheres e um poodle são belos".
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3:31 - 3:33(Risos)
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3:33 - 3:34É isso aí.
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3:34 - 3:37O que pessoalmente me dá uma dor no peito.
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3:37 - 3:39(Risos)
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3:39 - 3:42E se não posso nomear
minha profissão hoje, -
3:42 - 3:45não é porque a palavra não existe
e nos recusamos a inventá-la. -
3:45 - 3:46Não.
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3:46 - 3:50É porque foi propositalmente
excluída dos dicionários -
3:50 - 3:52no século 18,
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3:52 - 3:55assim como escritora e autora, aliás,
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3:55 - 4:00com a desculpa de serem femininos
que arranham muito os ouvidos. -
4:00 - 4:03Brrrrr.
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4:03 - 4:07Obviamente não, a verdade
nada tem a ver com o som das palavras. -
4:07 - 4:11Todos saberiam se os idiomas
fossem feitos para serem bonitos. -
4:11 - 4:15Não, obviamente, a verdadeira razão
para a exclusão dos femininos -
4:15 - 4:19das profissões de arte,
pensamento, poder ou política -
4:19 - 4:23é que a possibilidade
de emancipação das mulheres -
4:23 - 4:26deixava os caras tão pirados
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4:26 - 4:29que, quando as francesas começaram
a pedir o direito ao voto na revolução, -
4:29 - 4:31eles falaram: "Temos que reagir.
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4:31 - 4:34Era só o que faltava, depois de perder
um olho nas barricadas, -
4:34 - 4:36elas conquistarem o direito ao voto.
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4:36 - 4:38Seria um pouco fácil demais".
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4:38 - 4:42O sexismo cria a língua para enraizar-se.
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4:42 - 4:45E a prova de que isso não é por acaso,
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4:45 - 4:48mas sim pela vontade
de inibir as mulheres, -
4:48 - 4:51é que os femininos
como padeira ou costureira, -
4:51 - 4:54que não representam ameaça iminente
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4:54 - 4:56para a ordem instituída e o patriarcado,
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4:56 - 4:58foram aceitos sem problemas.
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4:58 - 5:00Leiteiros, leiteiras;
açougueiros, açougueiras. -
5:00 - 5:02Divirtam-se meninas, sem problema.
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5:02 - 5:03(Risos) Tranquilas.
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5:03 - 5:08No entanto, temos erradicado
meticulosamente de todos os dicionários -
5:08 - 5:12o feminino de profissões e funções
que podem ser objetos de emancipação. -
5:12 - 5:17Assim, poetisa e filósofa,
por exemplo, foram deixadas para trás. -
5:17 - 5:20Por isso cuidado,
ninguém me fale de sonoridade -
5:20 - 5:24porque duquesa e condessa,
donas de vestidos pagos por seus maridos, -
5:24 - 5:25não incomodam ninguém.
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5:26 - 5:28E o mais fantástico
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5:28 - 5:32é que diretor de escola
gerou diretora de escola, -
5:32 - 5:34educador escolar gerou educadora escolar:
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5:34 - 5:36ninguém reclamou.
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5:36 - 5:39No entanto, ainda hoje na França,
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5:39 - 5:43não temos o direito de dizer,
não é aceito pela Academia Francesa, -
5:43 - 5:45catedrática,
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5:45 - 5:48diretora de pesquisa ou diretora de tese.
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5:49 - 5:50O que é muito engraçado.
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5:50 - 5:54E não falo de ofícios
como médico, advogado ou professor -
5:54 - 5:56que não existem no feminino.
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5:56 - 6:00Em suma, se você falar com crianças
por um mísero salário, -
6:00 - 6:01não tem problema,
-
6:01 - 6:03mas se quiser se dirigir
aos adultos, peritos, -
6:03 - 6:07por um valor um pouco mais polpudo,
está fora de questão. -
6:07 - 6:08Então, o que eu quero dizer é que,
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6:08 - 6:11não sei se vocês assistiram
a essa notícia na França, -
6:11 - 6:14mas recentemente agradecemos
à Academia Francesa -
6:14 - 6:19por não se opor à feminização
de títulos e profissões (Risos), -
6:19 - 6:22como se isso fosse transformar o idioma
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6:22 - 6:26por causa de algumas águias histéricas
sob um efeito de moda. -
6:26 - 6:28Eu ri um pouquinho.
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6:28 - 6:32Visto que claramente isso não é,
de jeito nenhum, feminizar a língua, -
6:32 - 6:35mas sim, deixá-la menos masculina.
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6:35 - 6:38A língua francesa, como muitas outras,
-
6:38 - 6:39não é sexista por acaso,
-
6:39 - 6:42ela é sexista por escolha.
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6:42 - 6:45Sexismo que vivemos ainda hoje.
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6:45 - 6:48Porque é óbvio que existe um elo
entre o fato de não encontrarmos -
6:48 - 6:51a palavra cirurgiã
no dicionário da Academia -
6:51 - 6:56e o fato de que todos e todas, assim
simplesmente, por padrão, sem refletir, -
6:56 - 7:00pensam que é natural dizer:
um cirurgião, uma enfermeira. -
7:01 - 7:03(Risos)
-
7:03 - 7:05Um presidente, uma secretária.
-
7:05 - 7:08Um diretor, uma assistente.
-
7:08 - 7:10Um sedutor, uma vadia.
-
7:10 - 7:11(Risos)
-
7:11 - 7:16E sim! Ainda existem perspectivas
um pouquinho mais brilhantes que outras. -
7:16 - 7:18Tanto que acabamos admitindo
-
7:18 - 7:22que tudo o que era do campo
masculino era positivo, -
7:22 - 7:25e tudo o que era do campo
feminino era negativo. -
7:25 - 7:28Masculino / feminino,
está bom / uma droga, -
7:28 - 7:30grande / pequeno, forte / fraco,
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7:30 - 7:33jogar como um homem,
jogar como uma mulher etc... -
7:33 - 7:36E o mais maravilhoso é que,
se uma mulher joga bem, -
7:36 - 7:40ela é chamada de maria-macho,
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7:40 - 7:44e se um homem joga mal,
ele é uma mulherzinha, -
7:44 - 7:46ou um maricas, é claro.
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7:47 - 7:50E para começar, isso é comum
nos quatro cantos do globo. -
7:50 - 7:53Tenho um pequeno exemplo
muito engraçado em alemão. -
7:53 - 7:55Existem dois adjetivos opostos,
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7:55 - 7:58de um lado "dämlich",
que vem de "senhora", -
7:58 - 8:00e que significa besta, idiota, imbecil.
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8:00 - 8:03Bom, já agradeço, isso é hilário.
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8:03 - 8:06E, de outro, temos "herrlich",
que vem de "herr", senhor, -
8:06 - 8:09e significa magnífico, brilhante, genial.
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8:09 - 8:10(Risos)
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8:10 - 8:13Não é formidável?
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8:13 - 8:15E então chegamos diretamente no milagre,
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8:16 - 8:19o caso em que podemos usar
tanto o feminino como o masculino, -
8:20 - 8:24e a coisa muda de sentido
dependendo do gênero. -
8:24 - 8:25Eu amo, são meus preferidos.
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8:25 - 8:29Exemplo: um treinador, uma treinadora.
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8:29 - 8:33O primeiro é um treinador esportivo
e a segunda uma puta. -
8:33 - 8:34(Risos)
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8:34 - 8:36Pois é. Cortesão, cortesã.
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8:36 - 8:41O primeiro é um próximo do rei
e a segunda uma puta. -
8:41 - 8:42(Risos)
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8:42 - 8:45Peripatético, peripatética.
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8:45 - 8:48O primeiro é um filósofo
discípulo de Aristóteles -
8:48 - 8:49e a segunda?
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8:49 - 8:51Público: Uma puta!
Noémie de Lattre: Obrigada. -
8:52 - 8:55Além disso, "puta", pequeno parêntese,
é um nome maravilhoso -
8:55 - 8:57porque é uma palavra mágica.
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8:57 - 8:59Não sei se vocês perceberam,
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8:59 - 9:03mas quando queremos insultar
uma mulher gravemente, -
9:03 - 9:04nós a chamamos de "puta".
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9:04 - 9:08E quando queremos insultar
um homem gravemente, -
9:08 - 9:11chamamos de "filho da puta".
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9:11 - 9:12(Risos)
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9:13 - 9:16Isso não seria uma dupla penalidade?
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9:18 - 9:21Ou seja, sempre são as mulheres que levam.
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9:22 - 9:26Dito isso, é normal, já que as mulheres
valem menos que os homens. -
9:26 - 9:29E não sou eu que digo, é a minha língua.
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9:29 - 9:32E o poder de uma língua é ilimitado.
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9:32 - 9:34Não sei se vocês sabem, mas na França,
-
9:34 - 9:36nos venderam por décadas
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9:36 - 9:41um sufrágio universal em que as mulheres
não tinham direito ao voto. -
9:42 - 9:44E isso não incomodou ninguém.
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9:44 - 9:46"Sim! O sufrágio é universal!
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9:46 - 9:47Ah não, mas você não,
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9:47 - 9:51nem você, nem você, nem você,
nem metade do país, aliás." -
9:51 - 9:53Não, isso é mesmo loucura!
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9:53 - 9:56E ao mesmo tempo, não, não é loucura,
é normal, pois fala-se: direitos do Homem. -
9:56 - 9:59Por um instante é preciso ser coerente.
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10:00 - 10:05Então, para todas que me dizem:
"Ah, escuta, Noémie, é penoso! -
10:05 - 10:08Falamos Direitos do Homem
e não Direitos Humanos -
10:08 - 10:10porque homem, com H maiúsculo,
significa humano. -
10:10 - 10:13E você sabe que brrr ... "
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10:13 - 10:16Eu respondo: "Muito bem, mas então,
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10:16 - 10:18agora que existem
os direitos das mulheres, -
10:18 - 10:20o que isso significa?
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10:20 - 10:23Que as mulheres não são seres humanos?"
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10:23 - 10:27E não, não é engraçado, é chato.
Existe uma pequena lacuna. -
10:28 - 10:30Sobretudo porque a palavra "homem"
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10:30 - 10:34na Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão, -
10:34 - 10:35não se deve ao acaso,
-
10:35 - 10:40mas a um desejo de negar legalmente
às mulheres o direito de votar. -
10:40 - 10:45Para exemplificar, os editores
da Declaração das Nações Unidas de 1949 -
10:45 - 10:47queriam colocar "Direitos do Homem"
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10:47 - 10:50e foi a única mulher presente,
Eleanor Roosevelt, -
10:50 - 10:53quem lutou para que adotassem
"Direitos Humanos" -
10:53 - 10:56a fim de cobrir igualmente
os direitos das mulheres. -
10:56 - 11:01Expressão que a França traduz mal
para "Direitos do Homem". -
11:01 - 11:07Oferecendo generosamente, um dia por ano,
em 8 de março, os direitos das mulheres. -
11:07 - 11:09Obrigada, França.
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11:09 - 11:13Não se façam de espertos
porque isso é válido em todas as línguas. -
11:13 - 11:15Quase em todas as línguas,
as palavras "homem" e "humano" -
11:15 - 11:18são sinônimas ou equivalentes.
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11:18 - 11:22Deixando à palavra "mulher"
e às pessoas que ela designa, -
11:22 - 11:25surpresa, o lugar do outro.
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11:25 - 11:29Do subalterno, do não-humano. É isso aí.
-
11:29 - 11:33E para lhes provar a qual ponto
nós pensamos em sexismo -
11:33 - 11:35sem nem perceber,
-
11:35 - 11:38sugiro a vocês um joguinho
muito engraçado. -
11:38 - 11:41É só substituir a palavra "mulher"
pela palavra "negro" -
11:41 - 11:43nas expressões cotidianas.
-
11:43 - 11:46Vou dar um pequeno exemplo,
vejam como é superengraçado. -
11:46 - 11:50As mulheres não sabem dirigir.
Quem já não disse isso? -
11:51 - 11:53Os negros não sabem dirigir.
-
11:54 - 11:57Ah, isso fere, não dá na mesma.
-
11:57 - 11:59Um segundo exemplo apenas por diversão.
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12:01 - 12:05Em matemática, as mulheres
são mais fracas que os homens. -
12:05 - 12:06Todo mundo sabe disso.
-
12:07 - 12:10Em matemática, os negros
são mais fracos que os brancos. -
12:10 - 12:13Nossa, isso dói! Hã?
-
12:14 - 12:16Então, agora é com vocês.
-
12:17 - 12:23As mulheres estão naturalmente mais
confortáveis com o trabalho doméstico. -
12:23 - 12:26(Risos)
-
12:26 - 12:28Não temos vontade de dizer, não é?
-
12:28 - 12:32Não, não diga isso, é horrível,
mas isso prova que há um probleminha -
12:32 - 12:35porque com "mulher"
isso não incomoda ninguém. -
12:35 - 12:38Imagino que muitos e muitas aqui
-
12:38 - 12:41já usaram a expressão: "dia da mulher".
-
12:41 - 12:42Eu já usei.
-
12:42 - 12:45Imaginem se disséssemos "o dia do preto"?
-
12:46 - 12:49O dia do preto é um presente, é para mim.
-
12:49 - 12:50(Risos)
-
12:50 - 12:52E o que é ainda mais formidável
-
12:52 - 12:55é que funciona com todas
as generalidades, mesmo positivas. -
12:55 - 12:59Ou seja, se é racista falar:
"Os negros têm senso de ritmo". -
12:59 - 13:01Então, é sexista dizer:
-
13:01 - 13:03"As mulheres têm senso de organização".
-
13:03 - 13:05Pois é. É sexista e cafona!
-
13:06 - 13:11Nosso mundo continuará injusto
enquanto nossas palavras o forem. -
13:11 - 13:12Porque pensamos com as palavras.
-
13:12 - 13:15Uma língua sexista,
que maltrata as mulheres, -
13:15 - 13:17criará um mundo sexista,
que maltrata as mulheres. -
13:17 - 13:21Um mundo machista e cruel
onde as mulheres são ignoradas, indignas, -
13:21 - 13:25mal pagas, maltratadas, violentadas,
sem esperança de igualdade. -
13:25 - 13:28Hoje, não temos as ferramentas
para mudar o mundo. -
13:29 - 13:32Porque não temos as palavras
para pensar de outra forma: -
13:32 - 13:34igualitária e justa.
-
13:34 - 13:38A luta pela igualdade deve
começar pela língua. -
13:40 - 13:43E como dizia... quem mesmo?
-
13:43 - 13:45Simone de Beauvoir.
-
13:45 - 13:47Como Simone de Beauvoir dizia em 1978
-
13:47 - 13:50sobre a entrada da palavra
"sexismo" no dicionário, -
13:51 - 13:54podemos talvez pensar
que é uma conquista pequena, -
13:54 - 13:55e estaremos errados.
-
13:55 - 14:00Porque nomear é revelar,
e revelar já é agir. -
14:00 - 14:02Então, o que eu sugiro para vocês
-
14:02 - 14:05é que, de agora em diante,
comecemos a mudar o mundo -
14:05 - 14:07mudando as palavras.
-
14:07 - 14:09E há muitas coisas supersimples de fazer.
-
14:09 - 14:12Pelo menos por meus compatriotas.
E, tenho certeza, em outros idiomas. -
14:12 - 14:16Podemos começar usando
palavras epicenas e frases inclusivas, -
14:16 - 14:18ou seja, evitar, por exemplo:
-
14:18 - 14:21"Olá, rapaziada!" ou "Olá a todos"
no início do email, -
14:21 - 14:24quando existem dois caras
para 32 destinatárias, por exemplo. -
14:25 - 14:30Também podemos pleitear para trocar
"o masculino predomina" -
14:30 - 14:33pelas regras dos acordos que foram
usados durante séculos na França, -
14:33 - 14:35antes de a Academia se envolver,
-
14:35 - 14:37como a regra da maioria:
-
14:37 - 14:40vocês, mil mulheres e um homem são belas.
-
14:41 - 14:44Ou então, vocês, mil homens
e uma mulher são belos. -
14:44 - 14:48Seria mais simples, a maioria,
o maior número predomina. -
14:48 - 14:50Ou então a regra de proximidade:
-
14:50 - 14:54um homem e uma mulher são belas,
uma mulher e um homem são belos. -
14:55 - 14:58Vejam, o nome mais próximo
do adjetivo predomina. -
14:58 - 14:59Simples, básico.
-
15:00 - 15:03Poderíamos defender também
o emprego da expressão -
15:03 - 15:05"Direitos da pessoa humana"
ou "Direitos Humanos", -
15:05 - 15:08como em Quebec,
em vez de "Direitos do Homem". -
15:08 - 15:11Por favor, pareço um homem?
-
15:11 - 15:15Vocês poderiam ter rido mais alto,
francamente, não tenho cara de homem! -
15:15 - 15:17Estou brincando. Mas é verdade.
-
15:17 - 15:21Também poderíamos, na França,
eu gostaria que lutássemos -
15:21 - 15:24por uma reforma do lema
republicano francês: -
15:24 - 15:27"Liberdade, Igualdade, Fraternidade",
-
15:27 - 15:29o que exclui, portanto, metade do país.
-
15:29 - 15:32Sim, "fraternidade" vem de "irmão",
-
15:32 - 15:33"sororidade" vem de "irmã".
-
15:33 - 15:37E a palavra que fala de irmãos
e irmãs é "solidariedade". -
15:37 - 15:39Então, eu faço campanha por um lema
-
15:39 - 15:42cuja terceira palavra
não contradiga a segunda, -
15:42 - 15:46um lema inclusivo, um lema justo e humano:
-
15:46 - 15:49"Liberdade, Igualdade, Solidariedade".
-
15:49 - 15:52E tenho certeza que seria um ótimo
ponto de partida para sensibilizar -
15:52 - 15:56os jovens e as crianças
para questões de igualdade. -
15:57 - 15:59Um outro mundo em outras palavras.
-
15:59 - 16:01Tenho certeza que chegaremos lá.
-
16:01 - 16:02Obrigada.
-
16:02 - 16:05(Aplausos)
- Title:
- Um outro mundo em outras palavras | Noémie de Lattre | TEDxUniGeneva
- Description:
-
Comediante, autora, diretora de palco, ensaísta francesa, sua ascensão midiática foi confirmada nas redes sociais após a transmissão de um vídeo sobre feminismo e sexismo. Numa época em que a luta pela igualdade de gênero é primordial, Noémie de Lattre nos explicará a importância da língua na luta contra o sexismo.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- French
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 16:13