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Na quinta-feira, levantámos a questão:
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"Se não conseguimos dizer
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"o que nos faz felizes neste momento,
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"como podemos dizer o que nos fará felizes
no futuro?"
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Essa questão é muito importante.
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Essa questão está relacionada
com outra questão, que é...
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"É possível ter felicidade
no momento presente?"
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Temos condições suficientes
para sermos felizes no momento presente?
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Primeiro, tentemos definir o que é a felicidade.
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A felicidade, antes de mais, é um sentimento
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— um sentimento a que chamamos "um sentimento agradável".
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No entanto, um sentimento agradável
não é necessariamente felicidade.
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Quando vemos os mais pequenos a brincar e a divertir-se
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de forma muito inocente,
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sem lamentar o passado
nem se preocupar com o futuro,
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vemos que é como se estivessem no paraíso.
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Certamente, isso é felicidade. No entanto,
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pergunto-me se essas crianças sabem
que estão felizes.
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Por isso, passar um bom bocado
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a brincar e a divertir-se,
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sem se preocupar com nada,
não é necessariamente felicidade.
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Então, se não sabemos
que estamos felizes,
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isso ainda não é felicidade.
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Muitas pessoas vivem
em condições muito favoráveis,
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sem problemas, sem preocupações,
sem tristezas ou sofrimentos.
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Supostamente, deveriam ser aquelas
que têm felicidade.
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Mas, como não têm consciência
de que estão felizes,
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isso ainda não pode ser considerado felicidade.
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Por isso, não podemos definir a felicidade
como um simples sentimento de conforto
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ou um sentimento agradável.
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Podemos definir a felicidade como...
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estar plenamente consciente de que estamos a ter
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um sentimento agradável.
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Um sentimento agradável, por si só,
ainda não é felicidade.
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Apenas quando temos plena consciência de que estamos
a ter um sentimento agradável, é que isso pode realmente ser felicidade.
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Aquelas crianças a brincar no paraíso
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não sabem que estão a ter felicidade.
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Só quando já cresceram
e perderam esse paraíso
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é que percebem que um dia tiveram felicidade.
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Assim,
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estar conscientemente atento
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é um fator fundamental.
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Se estamos felizes mas não sabemos
que estamos felizes, isso ainda não é felicidade.
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Então, podemos, por agora,
dar-lhe uma definição
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— apenas por agora:
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"Felicidade significa estar plenamente consciente,
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"estar atentamente consciente,
de que estamos a ter um sentimento agradável."
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Mas essa definição não é fixa nem absoluta.
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É porque, provavelmente, podemos não estar
a ter um sentimento agradável
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e, mesmo assim, ter tanta felicidade quanto antes.
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Digamos que estamos a carregar
algo pesado sobre os ombros.
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Mas se soubermos que carregar
essa carga pesada pode trazer felicidade à comunidade,
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aos nossos entes queridos,
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enquanto carregamos esse peso,
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ainda podemos ter felicidade.
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Nesse momento, o sentimento
não é necessariamente um sentimento agradável.
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Mas com a atenção plena,
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a consciência de que estamos a fazer algo significativo
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movidos pelo amor e pela compaixão,
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nesse momento, embora haja algo
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como um sentimento desagradável
— há dificuldades
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e falta de descanso,
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mas porque nos lembramos de que
isto cria felicidade para os nossos entes queridos,
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e de que estamos a fazer algo significativo,
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no nosso coração e na nossa mente, nesse momento,
há um...
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um sentimento agradável.
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Esse sentimento agradável pode coexistir com...
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o sentimento desagradável
que estamos a suportar no nosso corpo.
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Isso também é felicidade.
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Muitos bodisatvas estão...
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a lançar-se...
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em... em...
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situações de sofrimento
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para ajudar e apoiar as pessoas,
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para as retirar do fogo.
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Embora estejam a ser...
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sobrecarregados pelo calor
das guerras, da opressão e da pobreza,
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porque têm a vontade e a aspiração
de uma grande compaixão e de um grande amor,
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não sofrem,
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são verdadeiramente felizes.
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Por essa razão, a felicidade não pode ser definida
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apenas como sentimentos agradáveis.
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No coração e na mente desses bodisatvas,
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há paz e estabilidade,
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há amor e compaixão.
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Uma vez que há tal paz, estabilidade,
amor e compaixão,
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embora existam sentimentos desagradáveis,
estes bodisatvas conseguem suportá-los com relativa facilidade
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e continuam a ter felicidade
mesmo enquanto
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realizam tarefas árduas
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em situações tão difíceis.
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Porque a consciência plena
de que se está a fazer algo que vale a pena,
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de que se está a fazer algo virtuoso,
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significativo e benéfico para o mundo,
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essa consciência plena
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traz felicidade.
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Assim, definir a felicidade
como um mero sentimento agradável
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é uma definição...
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bastante limitada e simplificada.
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Sabes, o nosso coração e a nossa mente
desempenham um papel muito importante.
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O nosso coração e a nossa mente não são apenas
sentimentos agradáveis — não são apenas sentimentos.
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Na literatura budista,
a palavra "lạc" (felicidade)...
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costuma andar de mãos dadas com "an" (paz),
formando o termo "an lạc" (paz e felicidade).
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"An" significa "paz."
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"Lạc" significa "felicidade."
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A felicidade costuma estar associada à paz.
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Por isso, quando não há paz,
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não há necessariamente felicidade.
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Embora estejamos a beber vinho,
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embora estejamos a comer alimentos
muito agradáveis ao paladar,
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embora tenhamos acabado de ganhar a lotaria,
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se não houver paz no nosso coração e na nossa mente,
isso não é necessariamente...
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felicidade.
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Alguns vencedores da lotaria,
ao saberem que ganharam,
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simplesmente...
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desmaiaram.
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Porque não conseguiram lidar
com uma notícia tão boa.
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Nos seus corações e mentes, não havia paz.
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Então, se não há paz
no coração e na mente, é apenas...
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bem...
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um catalisador, uma excitação.
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Um estímulo.
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E, se é uma excitação ou um estímulo,
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não há paz nisso.
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Quando não há paz,
isso não é realmente felicidade.
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Enquanto procuramos e nos entregamos
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a prazeres sensuais
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— digamos, quando estamos a comer algo,
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a beber algo,
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ou a ter...
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relações carnais com alguém,
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é muito provável que,
enquanto comemos, bebemos
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ou temos essas relações carnais, existam...
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sentimentos que consideramos agradáveis.
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Quando bebemos álcool, fumamos cigarros,
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consumimos drogas,
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ou temos relações sexuais,
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há sentimentos agradáveis. No entanto, nesses sentimentos agradáveis,
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tente-se perguntar a nós mesmos
se há paz ou não.
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Se não houver paz,
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isso não é necessariamente felicidade
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— estamos a ser consumidos por um fogo.
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Esse fogo é o fogo dos desejos.
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Comer compulsivamente ou ser guloso,
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isto é, afundar-se e afogar-se
no vasto oceano dos sabores,
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é uma forma de desejo.
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Ouvir músicas compulsivamente,
como rock, heavy metal,
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ou canções de amor melancólicas,
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é afundar-se e afogar-se
no vasto oceano dos sons.
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Isso também é uma forma de desejo.
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Enquanto nos entregamos a essas imagens,
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fragrâncias, sabores e sons,
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estamos a ser consumidos e queimados por dentro.
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Queimados pelo fogo dos desejos.
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Se há um fogo de paixão,
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se há fogos de desejos a arder dentro de nós,
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embora possamos descrever tais sensações
como sentimentos agradáveis,
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esses sentimentos agradáveis não são felicidade.
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Porque não há um elemento de paz neles.
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Se não há paz, não há felicidade.
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Por isso, no vocabulário budista (vietnamita),
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a paz está sempre ligada à felicidade.
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Paz-felicidade (an lạc).
Tranquilidade-alegria (yên vui).
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Se não há tranquilidade,
não há alegria.
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Temos também paz-alegria (an vui).
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Assim, podemos reconhecer o que é
a verdadeira felicidade
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e o que não é verdadeira felicidade.
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Bem, as pessoas do mundo apenas...
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querem ter...
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sentimentos agradáveis.
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As pessoas do mundo raramente prestam atenção
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para distinguir se esses sentimentos agradáveis
são felicidade verdadeira ou não.
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Porque nesses sentimentos agradáveis,
há elementos de inquietação
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e de queima interior.
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Isso não é verdadeira felicidade.
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Porque esse momento de prazer sensorial,
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esse momento de sentimentos agradáveis,
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pode trazer consigo muitos momentos
de dor e sofrimento mais tarde.
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Digamos que, por uma grande tristeza,
nos voltamos para o álcool.
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Enquanto bebemos, o sentimento de tristeza diminui.
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Quando a tristeza diminui,
pensamos que há felicidade em beber.
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Mas a verdade é que, após beber em excesso,
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teremos sentimentos dolorosos.
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O mesmo acontece com o consumo de drogas
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ou a busca desenfreada de prazeres sexuais.
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É uma forma de esquecer, em parte,
a própria dor e sofrimento,
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e os sentimentos de solidão.
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Mas depois de nos entregarmos
a esses prazeres sensoriais,
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a dor e o sofrimento aparecem
ainda mais fortemente do que antes.
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Por isso, esses momentos não podem
ser definidos como momentos
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de verdadeira felicidade.
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Porque criam um contexto
e são a causa de...
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todos os momentos de sofrimento posteriores,
e de todos os sentimentos dolorosos que virão.