Simbiose biônica | Nigel Ackland | TEDxAcademy

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local.

Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Nigel trabalhava como fundidor de metais preciosos, até que um acidente envolvendo um misturador industrial causou um severo esmagamento do seu antebraço direito. Depois de seis meses de operações e infecções, ele optou por fazer uma amputação transradial. Sua jornada de saída da depressão pela perda do braço e de seu propósito na vida, para se conectar com o mundo através de um braço biônico experimental, é uma história inspiradora e que merece ser divulgada.

Para alguém como eu, estar falando aqui
é realmente uma honra e um privilégio.

Niki, Katerina, obrigado.
E obrigado ao TEDxAcademy. Obrigado!

(Aplausos)

Os próximos minutos podem ser
um pouco diferentes do que vocês esperam.

Eu não tenho uma apresentação,

e eu não sou um especialista
em evolução ou tecnologia.

Eu sou o Nigel, um homem comum
com um braço extraordinário.

Minha história começa em setembro de 2006.

Eu estou no trabalho, limpando
um cilindro de um misturador industrial.

O cilindro começa a girar,

eu sou arrastado para dentro

e um dos meus braços fica preso.

O cilindro para por alguns segundos,
e, como um pêndulo, muda de direção.

Eu sinto meu braço ser espremido,
e então esmagado.

Eu escuto os ossos estalarem
antes que o cilindro pare.

Daí eu espero por ajuda.

Trinta minutos depois, ainda estou preso
e estou ficando desesperado.

Os grupos de resgate não conseguem
chegar a mim com segurança.

Alguém joga pra mim uma chave de fenda.

Eu peguei a chave de fenda
e cavei para me soltar.

Quando escalei pra fora do cilindro,
os paramédicos assumiram.

Uma semana depois, as enfermeiras
estão tirando meus curativos,

os médicos vêm e dão uma olhada.

Minha perna esquerda foi cortada
desde o quadril até meu joelho

e um pedaço grande
da minha perna foi cortado

e embrulhado em volta do meu braço.

Minha mão está um caos:
tem cicatrizes, pontos pra todo lado,

com um pedaço da minha perna
amarrado em volta do meu antebraço.

Os médicos explicam que juntar
as minhas partes de novo

não vai ser rápido ou fácil.

Eu me defronto
com até dez anos de tratamento

e não há garantias de sucesso.

Eu recorro à internet, procurando
respostas, fazendo anotações,

tentando descobrir
o que, exatamente, eu enfrento,

como isso pode me afetar,
e quais são as minhas opções.

Seis meses mais tarde,
meu braço ainda não está sarando.

Levo minhas anotações para o cirurgião.

Peço que ele leia como se estivesse
lendo sobre ele mesmo,

e me explique os benefícios
de conservar meu braço.

Quatro dias depois,
eu me tornei um amputado.

Durante uma amputação planejada,

o cirurgião deixa o paciente
com o cotoco o mais longo possível.

Aparentemente, isso torna a prótese
mais confortável de se usar.

É um procedimento padrão.

Então, seguindo o padrão, me deixaram
com o cotoco o mais longo possível.

Para isso, cortaram pela parte
mais grossa do meu enxerto.

Então, ao invés do meu braço afinar,
ele fica mais largo.

Naquele tempo eu não sabia,

mas o formato do meu cotoco
me causaria muitos problemas.

Tudo o que eu queria
era voltar à minha vida normal.

Minha empresa disse que eu teria
o melhor tratamento possível.

Eles tinham um seguro bom.

Um braço biônico? Sem problemas.
De volta ao trabalho, simples.

Não.

Algumas letras miúdas
na apólice de seguros

diziam que em vez
do tratamento que eu esperava,

eu seria mandado
para o Serviço Nacional de Saúde.

"Procedimento padrão"
é um plano de três fases,

e eles não fazem mãos biônicas.

Na fase um, chamam a mão
de membro passivo.

Se parece com uma mão;
não tem nenhuma função.

A minha não me servia muito bem.

Era cinco centímetros mais longa
que minha mão esquerda.

Seis meses mais tarde,
eu passei para a fase dois.

Na fase dois, implementam
um sistema alimentado pelo corpo.

(Suspiros)

De novo, a minha prótese
não me servia muito bem.

Era desconfortável e dolorosa de usar.

Era um gancho,

desenvolvido há mais de 100 anos,

e alimentado por um fio
e uma tira de borracha.

No fim de 2008, estou de volta
ao hospital, de novo.

Tentar empurrar meu cotoco alargado
num soquete afunilado, continuamente,

causou feridas pela pressão,
infecção e muita dor.

Eles amputam de novo.

O ano de 2009, bem, começa tranquilo.

Finalmente estou sem infecções
e é hora de começar de novo.

Fisicamente, a vida é um desafio.

Eu era o provedor da minha família.

Mas o Nigel forte, em forma, ativo,
que antes eu via no espelho, desapareceu.

Meu braço esquerdo agora está lesionado;

meu peso, por volta dos 120 quilos.

Eu preciso de ajuda até pra me vestir.

Psicologicamente, estou no fundo do poço.

Eu me mudei para um quarto vago.

Noites, elas são para os pesadelos.

Eu acordo ensopado de suor ou gritando.

Dias são para as mudanças de humor:
altos massivos, baixos avassaladores,

medos, inseguranças,

frustração e fúria.

Fúria violenta e repentina,

que despejei injustamente, na minha esposa
e no meu filho várias vezes.

Eu me perdi.

(Aplausos)

Um segundo...

(Aplausos)

Me desculpem.

Falar sobre a minha esposa
sempre me deixa sem palavras.

(Risos)

Sobre a... desculpem-me.

Aqui vamos nós.

(Aplausos)

Vamos tentar improvisar.

Nessa época eu também percebi uma mudança

nas atitudes de outras pessoas
em relação a mim.

Estranhos geralmente me evitam.

As pessoas quase nunca me olham
nos olhos ou começam uma conversa.

Param e ficam olhando,

às vezes com pena, medo, aversão.

Alguns apontam e dão risada.

Alguns gritam insultos.

Eu paro de sair de casa.

Eu me isolo.

Eu começo a me fechar para todos,

às vezes durante dias.

Eu me sento lá fora, na minha garagem,

só eu e meus demônios.

O ano de 2009, começou tranquilo,
mas terminou com uma pancada.

Bang! Ataque do coração.
Morto. Fim de jogo.

Foi isso que eu achei.

Puseram seis "stents" no meu coração
e me mandaram para reabilitação.

Dois anos mais tarde,

estou usando uma prótese
mioelétrica Greifer.

Estou usando há algum tempo,
me acostumei com ela,

e finalmente posso pagar
por este soquete feito sob medida.

Um dia, eu recebo
um telefonema do protesista.

Ele diz que uma empresa,
chamada RSL Steeper,

tem uma mão protética nova,
e querem alguém para testá-la.

Ele citou meu nome, e, logo depois,
me tornei a primeira pessoa no mundo

a testar o "bebionic v3"
por um longo período.

Então aqui está meu braço,
e, resumindo, o que ele faz:

eu tenho três peças básicas,

tenho meu soquete,

que é a peça mais importante.

Se não é confortável,

se você não consegue
usá-la o dia todo sem dor,

não interessa o quão boa a peça é,

ela vai ficar no armário, sem uso.

Depois, eu tenho
a peça mais útil: meu pulso.

Ele me permite não ter que usar
a mão esquerda pra mudar de posição.

É útil.

E então, temos a parte mais legal.

Meu soquete, como disse,
é feito sob medida.

Eu tenho dois eletrodos.

Um encostado na minha pele aqui,
e outro encostado aqui.

Tudo o que preciso fazer
é contrair o músculo.

Se eu me imagino abrindo
uma garrafa de cerveja,

ela abre.

Se eu me imagino apertando uma bola,

ela fecha.

Se tem algum cara por aí que não consegue
abrir uma cerveja ou apertar suas bolas...

(Risos)

(Aplausos)

Talvez essa não seja pra você.

Eu tenho oito padrões
de preensão nessa aqui.

Essa é a preensão mais básica.
Eu posso mudar de preensão.

Chamam essa de aperto poderoso;
eu a chamo de aperto de mão.

Eu posso mexer o dedão.
Tem duas posições e é manual.

É manual e reduz o preço
em mais ou menos 10 mil libras.

É isso.

Agora eu posso ler meus livros.

Se quero fazer algo no teclado,
posso mudar a preensão.

Se está no lugar errado,
o pulso útil entra na jogada,

e agora eu posso digitar.

Se estou usando o mouse,

aperto o botão mágico de trás.

Um clique, dois cliques.

O software mais recente tem
o arrastar e soltar,

que é bem legal.

(Risos)

Se eu quiser assustar crianças...

(Risos)

eu meio que faço isso.

(Risos)

Se não der certo, eu continuo.

(Risos)

(Aplausos)

Geralmente isso chama a atenção delas,
mas eu falo para elas que está tudo bem.

A reação que recebo das pessoas, nas ruas,

à qualquer prótese que estou usando,

sempre tem um efeito muito direto e forte

na maneira como me sinto como ser humano.

Desde que eu tenho isso, o efeito
na minha vida tem sido extraordinário.

Pessoas ainda param e ficam olhando,
mas não com pena ou medo.

Pessoas tendem a rir comigo,
em vez de rir de mim.

Conversamos e eu me exibo.

A melhor coisa, eu chamo
de "efeito bebionic",

é quando apertamos as mãos.

As pessoas sorriem.
É um sorriso genuíno.

Eu vejo o aperto de mão e aquele
sorriso como um sinal de aceitação

por quem eu sou.

Logo antes de ganhar isso,
eu estava falando com um psiquiatra.

Ele me disse: "Onde você se vê
dentro de um ano?"

Eu pensei nisso.

"Eu vou estar no campo", eu falei,

"sentado no meu carro,

com a mangueirinha
anexada ao escapamento".

Eu não estava tentando ser dramático.

Eu simplesmente não conseguia
ver um futuro para mim.

Eu estava errado.

Em torno de um ano depois,

eu subi em um palco pela primeira vez
na vida e compartilhei a minha história.

Isso não curou minhas dores fantasmas,

não acabou com meus pesadelos
ou com os flashbacks.

Mas me convenceu que mudança de vida

não tem que ser o final da vida.

Que a ajuda certa,
o cuidado certo, a prótese certa,

nos dão a chance
de uma vida nova e diferente.

Uma chance de nos levantarmos
nos nossos próprios pés.

Como eu disse, um ano atrás
contei minha história pela primeira vez.

Parecia que a minha vida nova
e diferente tinha começado ali.

E, quer vocês saibam ou não,

cada um de vocês é parte
da minha vida nova e diferente.

Eu os agradeço por isso.

(Aplausos)

E antes que eu me vá,
eu incentivo vocês, por favor,

vão e sejam parte da vida
nova e diferente de alguém.

Obrigado.

(Aplausos)

Obrigado.

(Aplausos)

Obrigado.

(Aplausos)

Muito obrigado.

(Aplausos)