Por que comemos como comemos? | Rodrigo Meneses | TEDxPorto

De que forma a História tem influência na nossa alimentação e o que a pornografia tem a ver com o que vemos no nosso prato todo dia? Comer é um ato de prazer ou de sobrevivência? E será que somos o que comemos? Rodrigo Meneses explica por que ele é um "foodie" e por que todos nós podemos e deveríamos ser um, também.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Olá a todos.

Estou aqui para falar da paixão
que tenho pela comida

e quero transmitir essa paixão pra vocês

e explicar por que é a maneira
mais fácil de sermos felizes.

Eu me autodenomino como um "foodie",

porque andei procurando
palavras em português

para ver se encontrava algo
que explicasse esta paixão

e a única que encontrei foi "comilão",

(Risos)

mas não é bem isso.

Um "foodie" é alguém
que tem uma imensa paixão

por tudo que tem a ver
com o mundo da gastronomia.

A gastronomia é a cultura dos povos,

é aquilo que nos mostra a alma.

Quando viajamos, provamos um prato

e vemos o que as pessoas comem.

É o que nos diferencia uns dos outros.

São esses ingredientes que, para nós,

adoramos alguns que comemos por aqui,

mas quando ouvimos dizer
que alguém come grilos,

dizemos: "Ai, meu Deus!
Não vou comer uma coisa dessa".

Não faz sentido.

É a história do povo.

A comida e a História
estão completamente ligadas.

Nós tivemos os árabes
em Portugal por 500 anos,

eles deixaram uma marca gigante,

menos em Trás-os-Montes,
de onde eu venho,

pois estiveram lá por 30 anos.

Mas deixaram os coentros

e incríveis métodos de confeção.

E isso é emoção.

A comida é uma das coisas
que, pra mim pelo menos,

mais me emociona.

Dá pra ver, né? Eu sei.

(Risos)

E muitas vezes me pergunto:

"Por que comemos como comemos?"

A comida é funcional.

Ou começou por ser funcional.

Nós comemos para nos alimentarmos,

assim como respiramos, como bebemos,

assim como dormimos.

O Homo sapiens tem cerca de 200 mil anos.

E a História toda pode ser contada
através da comida, o que é engraçado.

Não vou dar uma aula
de História da comida,

mas para verem coisas
que são interessantes.

A caça e a coleta de alimentos
foi a nossa primeira atividade.

Dependíamos do que apanhávamos pra comer,

portanto, tínhamos que caçar
alguns animais,

éramos nômades, andávamos
de um lado para o outro,

estávamos num lugar,
comíamos tudo o que havia,

tínhamos que ir para outro canto.

Digamos que não era uma vida
muito divertida.

Até que alguém jogou
algumas sementes pelo chão e disse:

"Uau! Se eu fizer isto aqui
vai crescer alimentos".

Inventaram a agricultura, há 10 mil anos.

Foi o começo de uma nova era,

pois, com a agricultura,
nos tornamos sedentários,

ficamos num lugar, começamos,
pela primeira vez,

a produzir mais do que aquilo
que necessitávamos para comer.

Começamos a desenvolver métodos
de conservação dos alimentos,

e essas coisas todas.

A agricultura foi o início
desta nova era na alimentação.

Damos um salto para 500 anos atrás,
para as navegações

quando todo o mercado girava
em torno da troca de especiarias;

nós íamos buscar o açúcar e trazíamos
e descobrimos coisas maravilhosas.

Levamos o pão de ló para o Japão,

a tempura, que agora
todos nós curtimos o "sushi",

é completamente japonesa,

e importamos coisas incríveis.

Damos aí um salto até os séculos 19 e 20,

quando começamos a fazer
as maiores asneiras na face da Terra

em relação à comida.

A Revolução Industrial mudou
um bocadinho o paradigma da alimentação:

começamos a ficar com aquela coisa de
querer máquinas e produção, os enlatados.

Chegamos aos anos 1980,
ao McDonald's, que legal.

Nos anos 1990, houve uma paranoia
intensiva de criar animais.

Dávamos vacas mortas para vacas comerem,

e tivemos a doença da vaca louca.

E pensávamos: "Que paranoia é esta?"

Por que a nossa comida
estava sendo industrializada

de uma forma tão agressiva
que estava nos distanciando dela?

E foram esses problemas todos,
os nitrofuranos dos frangos,

e essa paranoia toda que se criou
em relação à comida

que nos nossos tempos...

Atualmente, temos a ideia da volta
a uma alimentação mais saudável,

a uma comida que nos traga mais prazer.

E acho que, acima de tudo,
é o que procuramos agora.

Eu sou completamente assim.

Gosto do prazer de comer à mesa.

Por isso digo que a comida e o sexo
são as duas atividades mais básicas

para a propagação da espécie.

Se não comermos e não fornicarmos...

já era!

(Risos)

Nós e todos os animais.

Basicamente, precisamos comer e depois...

E o que descobri

é que ambas envolvem pornografia.

E eu gosto, mas por quê?

Vamos fazer aqui um pequeno teste.

(Risos)

É sério.

(Risos)

Vou pedir que fechem os olhos.

É sério, abram a boca e fechem os olhos.

Eu não trouxe nada para comerem,
mas sigam este raciocínio.

Estão vendo o pãozinho quando sai quente?

(Risos)

Agora estão passando manteiga no pão.

Levam o pão à boca
e dão aquela primeira mordida.

E começam a mastigar.

E em meio a esta emoção toda,

não veem que aquilo
é farinha, água e fermento...

e sal.

Ou seja, são ingredientes.

O que transforma aquilo em algo especial

são as nossas emoções ligadas à comida.

Quando olhamos para a comida,

a propósito, este é um prato
que gosto de fazer em casa,

não vou dar receitas,

mas é um tomate com azeite
e orégano que vai ao forno,

e fica maravilhoso.

Quando vemos fotos de comida,

criamos relações emocionais com ela,

que nos trazem lembranças.

Vocês, com toda a certeza,
quando veem esta fotografia

conseguem identificar
na sua mente o sabor do tomate,

esse sabor maravilhoso
do tomate assim assado,

não sei se eu... pronto...

(Risos)

Certo, estou falando sozinho, né?

Tudo bem!

Coisas engraçadas:
nós comemos umas tais emoções,

nos lembramos sempre
dos jantares que fazemos em casa,

a comida da mãe,
os jantares na casa dos avós,

os jantares com os amigos...

passamos a nossa vida à mesa.

Por isso a comida é tão importante
para nos fazer felizes.

Acredito que, quanto mais
e melhor comermos,

mais felizes devemos ser.

E funciona também ao contrário,
quando estamos deprimidos.

Há um estudo muito engraçado

que diz que, e isto é um cliché,

quando as mulheres estão
deprimidas, atacam os doces.

Os homens não: atacam
os salgados e a cervejinha.

E funciona.

(Risos)

É verdade, é verdade.

(Aplausos)

E funciona de um modo diferente também.

Os homens veem os salgados e a cerveja
como uma espécie de recompensa,

e as mulheres, comem um pote de sorvete
e se sentem ainda mais infelizes.

(Risos)

Isso para vocês entenderem
que a nossa relação emocional

e a felicidade dependem muito
da forma como nós comemos.

E isso é bom,

e é isso que quero transmitir,

que voltemos a nos aproximar
do ato de comer com alta dignidade

e percebamos o que estamos fazendo.

Porque a comida...

e estes mexilhões são fantásticos,

posso dizer como é que se faz
para ser mais rápido:

basta cortar uma cebola, tomate
e colocar numa panela,

juntar os mexilhões e está pronto.

Depois, coloque uma fatia
de pão e está tudo lindo.

É destas ligações emocionais
que queria falar com vocês,

pois somos aquilo que comemos.

Olham para mim e não tenho
vergonha nenhuma de dizer;

sei que meus colegas hoje
falaram: "Ah, os nutrientes..."

Não comemos nutrientes.

Nós comemos comida, caramba!

(Risos)

(Aplausos)

Nós comemos porque nos faz bem!

Quando vamos a um bom restaurante,
estamos lá pensando nos nutrientes?

(Risos)

Nós queremos é comer.

A verdade é que fiz umas contas

e temos uma expectativa de vida
de cerca de 78 anos,

o que dá cerca de 30 mil dias.

Ou seja, temos 30 mil oportunidades
para fazer uma refeição

que valha a pena dizermos no dia seguinte:
"Nossa, ontem comi que foi uma maravilha!"

(Risos)

Eu sei que um sorvete é uma coisa
que todos nós gostamos de tomar.

O que quero dizer a todos
é que saiam da despensa,

deixem lá o "fast food",

retomem agora esta boa moda
da comida regional,

apoiem os produtores locais,
vão aos mercados,

comprem produtos, cozinhem.

Sejam felizes.

Porque as pessoas que gostam de comer
são sempre as melhores pessoas.

(Aplausos)

E eu tenho a ambição de ser
a melhor pessoa do mundo.

(Risos)

Obrigado, pessoal.

(Aplausos)