Usar a nossa voz é uma opção política — Amanda Gorman
-
0:08 - 0:10Tenho duas perguntas para vocês.
-
0:11 - 0:14Uma: em que ombros
estão empoleirados? -
0:14 - 0:18E duas: o que é que vocês defendem?
-
0:18 - 0:21São duas perguntas
com que eu sempre começo -
0:21 - 0:23as "workshops" de poesia
com os estudantes -
0:23 - 0:26porque, por vezes, a poesia
pode parecer uma forma de arte morta -
0:26 - 0:30para homens brancos velhos
que parecem ter nascido para serem velhos, -
0:31 - 0:33como Benjamin Button
ou coisa parecida. -
0:33 - 0:36E faço estas duas perguntas
aos meus alunos -
0:37 - 0:39e depois digo como lhes respondo,
-
0:39 - 0:41com estas três frases:
-
0:41 - 0:43eu sou filha de escritores negros,
-
0:43 - 0:45descendentes
dos lutadores pela liberdade -
0:45 - 0:48que quebraram as suas cadeias
e mudaram o mundo. -
0:48 - 0:49Eles chamam-me.
-
0:50 - 0:52Estas são as palavras
que repito, como uma mantra, -
0:52 - 0:55antes de cada atuação de poesia.
-
0:55 - 0:58Estava a fazê-lo ali ao canto,
estava a fazer caretas. -
0:59 - 1:02Repito-as para mim mesma,
como uma forma de me concentrar, -
1:02 - 1:06porque não sei se sabem,
mas falar em público é assustador. -
1:07 - 1:11Eu sei que estou no palco,
de saltos altos, toda elegante, -
1:11 - 1:12mas estou aterrorizada.
-
1:12 - 1:13(Risos)
-
1:14 - 1:17E a forma de conseguir arranjar coragem
-
1:17 - 1:19é ter esta mantra.
-
1:19 - 1:23Durante quase toda a minha vida
senti-me aterrada de falar em público, -
1:23 - 1:25porque tinha um problema de fala
-
1:25 - 1:28que me dificultava pronunciar certos sons.
-
1:28 - 1:31Eu achava fácil escrever as palavras,
-
1:31 - 1:32mas, quando subia ao palco,
-
1:32 - 1:35tinha medo de que as palavras
se baralhassem. -
1:35 - 1:38De que valia tentar não murmurar
esses pensamentos na minha cabeça -
1:38 - 1:40se já tudo tinha sido dito antes?
-
1:41 - 1:45Por fim, tive um momento
de descoberta, em que pensei -
1:45 - 1:48que, se eu optasse
por não falar, com medo, -
1:48 - 1:51então não haveria ninguém
que o meu silêncio defendesse. -
1:51 - 1:55Portanto, acabei por perceber
que não posso manter-me de lado, -
1:55 - 1:57manter-me silenciosa.
-
1:57 - 1:59Tinha de arranjar forças
para falar em público. -
1:59 - 2:02Uma das formas que arranjei
foi esta mantra em que recordo -
2:02 - 2:04aquilo a que chamo os meus
antepassados honorários. -
2:04 - 2:07São pessoas que podem
não ser nossos parentes -
2:07 - 2:08de sangue ou de nascimento
-
2:08 - 2:11mas que merecem
que digamos os seus nomes, -
2:11 - 2:13porque nos empoleiramos nos ombros deles.
-
2:13 - 2:16E é só do alto desses ombros
-
2:16 - 2:19que temos possibilidade
de ver o grande poder da poesia, -
2:19 - 2:24o poder da linguagem
tornada acessível, com expressão. -
2:24 - 2:26A poesia é interessante
-
2:26 - 2:29porque nem toda a gente
vai ser um grande poeta, -
2:29 - 2:33mas todos podem sê-lo,
todos podem apreciar a poesia. -
2:33 - 2:36É esta abertura, esta possibilidade
de acesso à poesia -
2:36 - 2:38que a torna a linguagem do povo.
-
2:38 - 2:42A poesia nunca foi
a linguagem de barreiras, -
2:42 - 2:45foi sempre a linguagem de pontes.
-
2:45 - 2:47E é esta criação de ligações
-
2:47 - 2:51que torna a poesia poderosa,
mas também a torna política. -
2:51 - 2:54Uma das coisas que me irrita ao máximo
-
2:54 - 2:57é quando recebo uma chamada,
normalmente de um homem branco, -
2:57 - 3:00que me diz: "Amanda,
adoramos a tua poesia. -
3:00 - 3:02"Queríamos que escrevesses
um poema sobre este tema, -
3:02 - 3:05"mas não o tornes político",
-
3:05 - 3:07O que, para mim, me soa
-
3:07 - 3:10a que tenho de desenhar um quadrado
mas não posso fazer um retângulo, -
3:11 - 3:13ou construir um carro
que não seja um veículo. -
3:13 - 3:15Não faz muito sentido,
-
3:15 - 3:18porque toda a arte é política.
-
3:18 - 3:22A decisão de criar,
a opção artística de ter uma voz, -
3:22 - 3:26a escolha de ser ouvida
é o ato mais político de todos. -
3:26 - 3:28E por "político" quero dizer
que a poesia é política, -
3:28 - 3:30pelo menos, de três formas.
-
3:31 - 3:34Uma: que histórias contamos,
quando é que as contamos, -
3:34 - 3:37como as contamos,
se as contarmos, -
3:37 - 3:39porque é que as contamos.
-
3:39 - 3:41Tudo isso diz muito
sobre as crenças políticas que temos, -
3:41 - 3:44sobre que tipo de histórias
são importantes. -
3:44 - 3:46Segundo, quem consegue
contar essas histórias. -
3:46 - 3:49Falo de quem está autorizado,
legalmente, a ler, -
3:49 - 3:52de quem tem os recursos
para poder escrever, -
3:52 - 3:54de quem nós lemos na sala de aulas.
-
3:54 - 3:57Tudo isso diz muito sobre os sistemas
políticos e educativos -
3:57 - 4:00em que existem essas histórias
e quem as conta. -
4:00 - 4:05Por fim, a poesia é política
porque se preocupa com as pessoas. -
4:05 - 4:07Se olharem para a História,
-
4:07 - 4:10verão que os tiranos perseguem
primeiro os poetas e os criadores, -
4:10 - 4:14queimam livros, tentam livrar-se
da poesia e das artes da linguagem, -
4:14 - 4:17porque se sentem aterrorizados com isso.
-
4:17 - 4:20Os poetas têm o potencial
espantoso de interligar -
4:20 - 4:25as crenças do indivíduo privado
com a causa da mudança do público, -
4:25 - 4:30da população, da entidade política,
do movimento político. -
4:30 - 4:33Quando se forem embora daqui,
gostava que tentassem ouvir -
4:33 - 4:36as formas como a poesia
está no centro -
4:36 - 4:38da maior parte das questões políticas
-
4:38 - 4:40sobre o que significa ser uma democracia.
-
4:40 - 4:42Talvez depois possam ir
a uma manifestação -
4:42 - 4:44e alguém tenha um cartaz que diga:
-
4:44 - 4:47"Enterraram-nos, mas não sabiam
que éramos sementes". -
4:47 - 4:48Isso é poesia.
-
4:48 - 4:51Podem estar numa aula de História dos EUA,
-
4:51 - 4:54o professor pode passar um vídeo
de Martin Luther King Jr. a dizer: -
4:54 - 4:57"Vocês conseguirão esculpir
desta montanha de desespero -
4:57 - 4:58"uma pedra de esperança".
-
4:59 - 5:00Isso é poesia.
-
5:00 - 5:02Ou talvez mesmo aqui
na cidade de Nova Iorque, -
5:02 - 5:04vocês vão visitar a Estátua da Liberdade
-
5:04 - 5:07onde há um soneto
que declara, enquanto americanos: -
5:07 - 5:09"Dá-nos os teus fatigados,
os teus pobres, -
5:09 - 5:12"as tuas massas amontoadas,
ansiosas de serem livres". -
5:12 - 5:15Como veem, quando alguém
me pede para escrever um poema -
5:15 - 5:17que não seja político,
-
5:17 - 5:20o que me está a pedir
é que eu não faça -
5:20 - 5:23perguntas carregadas e provocadoras
na minha obra poética, -
5:23 - 5:26e isso não funciona,
porque a poesia está sempre -
5:26 - 5:29no pulsar das perguntas
mais perigosas e mais ousadas -
5:29 - 5:33que uma nação ou o mundo pode enfrentar.
-
5:33 - 5:36Que caminho trilhamos
enquanto povo -
5:36 - 5:39e que futuro, enquanto povo,
defendemos? -
5:40 - 5:41O que acontece com a poesia
-
5:41 - 5:44é que não se trata de ter
as respostas certas, -
5:44 - 5:47trata-se de fazer as perguntas certas
-
5:47 - 5:49do que significa ser um escritor
-
5:49 - 5:52que faz o que está certo
através das palavras e das ações. -
5:52 - 5:56A minha reação é honrar
os ombros dessas pessoas -
5:56 - 5:59que usaram a caneta
para empurrar os pedregulhos -
5:59 - 6:02para eu poder ter uma montanha
de esperança onde me empoleirar, -
6:02 - 6:04para eu poder compreender
o poder de contar histórias -
6:04 - 6:06que são importantes,
aconteça o que acontecer. -
6:07 - 6:10Para eu poder perceber que,
se escolher não ter medo, -
6:10 - 6:12mas ter coragem para falar,
-
6:12 - 6:16então há uma coisa única
em que as minhas palavras se podem tornar. -
6:16 - 6:18De repente, aquele medo
de que as minhas palavras -
6:18 - 6:20se pudessem baralhar e tropeçar
-
6:20 - 6:22desaparece, quando eu
penso, humildemente, -
6:22 - 6:24nos milhares de histórias muito antigas
-
6:24 - 6:27que eu sei que ressoam em mim
-
6:27 - 6:29quando eu festejo essas pessoas
que se levantaram -
6:29 - 6:31para esta rapariguinha negra poder rimar
-
6:31 - 6:35quando festejo e chamo
pelos seus nomes essas pessoas -
6:35 - 6:38que parece que nasceram
para serem ousadas: -
6:38 - 6:40Maya Angelou,
Ntozake Shange, -
6:40 - 6:42Phillis Wheatley,
Lucille Clifton, -
6:42 - 6:44Gwendolyn Brooks,
Joan Wicks, -
6:44 - 6:47Audre Lorde, e tantos outros.
-
6:47 - 6:50Pode parecer que cada história
já foi contada -
6:50 - 6:53mas a verdade é que nunca
ninguém contou a minha história -
6:54 - 6:55da forma como eu a posso contar,
-
6:55 - 6:59enquanto filha de escritores negros
que descendem de lutadores pela liberdade, -
6:59 - 7:02que quebraram as suas cadeias
e mudaram o mundo. -
7:02 - 7:03Eles chamam-me.
-
7:03 - 7:04Eu chamo-os.
-
7:05 - 7:07Um dia, eu vou escrever a história certa
-
7:07 - 7:10escrevendo-a num amanhã
desta terra -
7:10 - 7:13que vale a pena ser defendida.
-
7:15 - 7:16Obrigada.
-
7:16 - 7:19(Aplausos)
- Title:
- Usar a nossa voz é uma opção política — Amanda Gorman
- Description:
-
Para quem acredita que a poesia é abafada ou elitista, Amanda Gorman tem palavras caracteristicamente bem escolhidas. Segundo Amanda, a poesia é para toda a gente, porque no seu âmago trata-se de interligação e colaboração. Nesta palestra poderosa, Amanda explica porque é que a poesia é intrinsecamente política (no melhor sentido da palavra). Presta homenagem aos seus antepassados honorários e sublinha o valor de falar em público apesar do nosso receio. "A poesia nunca foi a linguagem de barreiras, foi sempre a linguagem de pontes".
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TED-Ed
- Duration:
- 07:20
![]() |
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for Using your voice is a political choice - Amanda Gorman | |
![]() |
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Using your voice is a political choice - Amanda Gorman | |
![]() |
Mafalda Ferreira accepted Portuguese subtitles for Using your voice is a political choice - Amanda Gorman | |
![]() |
Mafalda Ferreira edited Portuguese subtitles for Using your voice is a political choice - Amanda Gorman | |
![]() |
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Using your voice is a political choice - Amanda Gorman | |
![]() |
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Using your voice is a political choice - Amanda Gorman | |
![]() |
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Using your voice is a political choice - Amanda Gorman |