Usar a voz é uma escolha política - Amanda Gorman

Para quem acredita que a poesia é conservadora ou elitista, a ganhadora do Poeta Nacional Jovem - National Youth Poet - Amanda Gorman, tem um modo único de escolher palavras. Segundo Amanda, a poesia é para todos, porque no fundo ela é sobre conexão e colaboração. Nesta palestra arrasadora, Amanda explica por que a poesia é intrinsecamente política, ela presta homenagem aos seus nobres ancestrais, e enfatiza o valor da fala apesar dos seus medos. "A poesia nunca foi a linguagem das barreiras, ela sempre foi a linguagem das pontes."

TED-Ed, a iniciativa educacional TED, inspira futuros palestrantes TED e futuros líderes apoiando estudantes em descobrir, desenvolver e compartilhar suas grandes ideias no estilo TED de palestras curtas. Com o programa de palestras estudantis TED-Ed, os estudantes trabalham juntos para discutir e celebrar ideias criativas através do currículo flexível do TED-Ed. Veja mais em: https://bit.ly/2pHbsEp se você está interessado em participar.

Essa apresentação foi concluída pela participação do programa TED-Ed e produzido independentemente das conferências TED. Apenas participantes aprovados podem enviar palestras estudantis TED-Ed.

*Se você ver qualquer vídeo que deveria ser marcado como ofensivo, por favor, mande-nos um e-mail pelo endereço: [e-mail]

Tenho duas perguntas para você.

Primeira: em quem você se apoia
para ser alguém melhor?

Segunda: o que você defende?

Essas duas questões sempre abrem
minhas oficinas de poesia, pois, às vezes,

a poesia pode parecer uma
arte morta para velhacos brancos

que parecem já ter nascido velhos,
como um Benjamin Button ou algo do tipo.

Faço essas perguntas aos meus alunos
e depois compartilho como as respondo,

que é com essas três frases:

"Sou filha de escritores negros,
descendentes de defensores da liberdade,

que quebraram suas correntes
e mudaram o mundo.

Eles me chamam".

Essas palavras são um mantra que repito
antes de cada apresentação de poesia.

De fato, eu estava ali no canto
fazendo isso, com caretas.

Repito essas palavras
para colocar minha cabeça no lugar,

porque não sei se você sabe,
mas falar em público é aterrorizante.

Estou no palco de salto alto, toda
glamourosa, mas estou aterrorizada.

(Risos)

E o meu jeito de me fortalacer
é por meio desse mantra.

Grande parte da minha vida,
tive medo de falar em público,

pois eu tinha um distúrbio na fala,

que tornava difícil a pronúncia
de certas letras e sons,

e eu sentia que escrevia bem no papel,
mas assim que subia no palco,

eu achava que as palavras
podiam sair emaranhadas.

Que sentido tinha não murmurar
esses pensamentos na minha cabeça,

se tudo já tinha sido dito antes?

Mas enfim tive um momento
em que percebi algo e que me fez pensar:

"Se eu escolher não falar por medo,

então não há ninguém
que meu silêncio possa defender".

Percebi que não posso
ficar parada em silêncio.

Preciso encontrar a força
para me manifestar

e um jeito de fazer isso
é por meio do mantra,

no qual chamo os meus nobres ancestrais.

Essas pessoas podem não ser
parentes de sangue ou de nascimento,

mas merecem ter seus nomes reconhecidos,

pois suas conquistas
nos ajudam a ser alguém melhor.

E, partindo dessas conquistas,

podemos ver a poderosa força da poesia,

o poder da linguagem que se tornou
acessível e expressável.

A poesia é interessante porque nem todos
se tornarão um grande poeta,

mas todos podem ser um e gostar de poesia.

É essa abertura,

essa acessibilidade que a torna
a linguagem das pessoas.

A poesia nunca foi
a linguagem das barreiras,

e sim a linguagem das pontes.

É essa conexão que torna a poesia
poderosa, mas também política.

Uma coisa que me irrita
quando recebo uma ligação,

geralmente de um homem branco,
é quando ele fala:

"Senhorita Amanda, amamos a sua poesia,

gostaríamos que você escrevesse
um poema sobre isso,

mas sem transformá-lo
em uma questão política".

O que, para mim, soa
como se eu tivesse que desenhar

um quadrado sem que ele seja um retângulo,

ou construir um carro
sem que ele seja um veículo,

não faz sentido.

porque toda arte é política.

A decisão de criar, a escolha
artística de ter uma voz,

a escolha de ser ouvida
é o ato mais político de todos.

E por "político" quero dizer que a poesia
é política ao menos de três formas.

Uma: as histórias que contamos
quando as contamos,

como as contamos, se as contamos,

por que as contamos, nos dizem muito

sobre as crenças políticas que temos,
sobre quais tipos de histórias importam.

Segundo, quem tem suas histórias contadas,

quem tem a permissão de ler,
quem tem os recursos para escrever,

quem estamos lendo nas salas de aula,

diz muito sobre os sistemas
políticos e educacionais,

em que essas histórias
e seus contadores existem.

Por último, a poesia é política
porque ela se preocupa com as pessoas.

Se você olhar para a história, tiranos
sempre caçaram poetas e pessoas criativas.

Eles queimam livros e tentam se livrar
da poesia e da linguagem artística,

porque eles têm medo delas.

Os poetas têm um potencial fenomenal
para conectar as crenças de indivíduos

com a causa da mudança,
do público, da população,

do regime, do movimento político.

E quando você sair daqui, quero que tente
ouvir os meios pelos quais a poesia

está no centro de questões mais políticas
sobre o que significa ser uma democracia.

Talvez você esteja em um protesto,
e alguém terá um cartaz escrito:

"Eles nos enterraram, mas não sabiam
que éramos sementes".

Isso é poesia.

Você pode estar na sua aula de história
e seu professor pode passar o vídeo

de Martin Luther King Jr. dizendo:

"Seremos capazes de extrair dessa montanha
de desespero uma pedra de esperança".

Isso é poesia.

Ou talvez até aqui em Nova Iorque,
você vai visitar a Estátua da Liberdade,

onde há um soneto
que declara, como americanos:

"Deem-nos suas multidões exaustas
e pobres que anseiam pela liberdade".

Quando alguém me pede para escrever
um poema que não é político,

eles estão me pedindo para eu não fazer
perguntas desafiadoras e importantes

no meu trabalho poético,
e isso não funciona,

porque a poesia está sempre fazendo
as questões mais perigosas e ousadas

que uma nação ou um mundo enfrenta.

Qual a nossa posição como um povo,
e qual futuro escolhemos como um povo?

A poesia não tem as respostas certas,

ela faz as perguntas certas

sobre o que significa ser um escritor
que age certo pelas suas palavras e ações,

e minha reação é honrar as pessoas

que usaram suas canetas
para apinhar pedras

para que eu tenha uma montanha
de esperança onde possa subir,

para que eu entenda o poder de contar
histórias que importam custe o que custar.

Para que eu perceba que se eu escolher
não o medo, mas a coragem de falar,

então as minhas palavras
podem ser algo único.

De repente, o medo de pronunciar
minhas palavras com dificuldade foi embora

à medida que sou honrada pelos pensamentos
de milhares de histórias ao longo do tempo

que pulsam dentro de mim enquanto celebro

as pessoas que antes resistiram
para essa garotinha negra fazer rimas,

enquanto celebro e chamo seus nomes,

pessoas que parecem ter nascido
para serem corajosas:

Maya Angelou, Ntozake Shange,

Phillis Wheatley, Lucille Clifton,

Gwendolyn Brooks, Joan Wicks,

Audre Lorde, e muitos outros.

Pode parecer que a história
já foi contada antes,

mas ninguém contou a minha história
do jeito que eu contaria,

como a filha de escritores negros,
descendentes de defensores da liberdade

que quebraram suas correntes
e mudaram o mundo.

Eles me chamam.

Eu os chamo.

Um dia escreverei uma história

escrevendo-a no amanhã
desta terra que merece ser defendida.

Obrigada.

(Aplausos)