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Os benefícios económicos de uma ação climática

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    Whitney Pennington Rodgers:
    Marcelo Mena é um ambientalista
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    e um académico,
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    e antigo ministro
    do Meio Ambiente do Chile.
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    Bem-vindo, Marcelo.
  • 0:10 - 0:13
    Marcelo Mena: Como você está, Whitney?
    Obrigado pelo convite.
  • 0:13 - 0:14
    WPR: Perfeita. Ótima.
  • 0:14 - 0:17
    Claro, muito obrigada
    por estar aqui connosco hoje.
  • 0:17 - 0:20
    Sabe, antes de mergulharmos
    no futuro da ação climática
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    no Chile e não só,
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    eu acho que seria ótimo para nós
    falarmos sobre o presente
  • 0:25 - 0:30
    e porque é que o Chile representa
    um país em que vale a pena pensar
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    quando falamos do clima.
  • 0:32 - 0:36
    Recentemente, tem havido
    muitas ações louváveis
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    tomadas pelo seu país,
    quando pensamos no clima.
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    O Chile recentemente comprometeu-se
    a um total de zero emissões até 2050,
  • 0:45 - 0:47
    o primeiro nas Américas a fazer isso,
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    e isso é especialmente notável
    quando pensamos
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    até que ponto a economia do Chile
    depende da emissão de carbono:
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    a mineração e a agricultura
    e outros espaços do mesmo tipo.
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    Então, poderá começar
    por falar um pouco
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    sobre como será possível conseguir
    um total de zero emissões em 30 anos,
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    e o que isso irá significar para o Chile?
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    MM: Foi uma visão surrealista
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    quando vimos o ministro Schmidt,
    o Presidente da COP25,
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    e Patricia Espinosa, a líder da ONU
    em Alterações Climáticas,
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    com máscaras, a anunciar esse novo NDC.
  • 1:21 - 1:26
    O ponto importante aqui é que as coisas
    difíceis de construir requerem consenso,
  • 1:26 - 1:31
    portanto, para nos livrarmos
    daquele compromisso,
  • 1:31 - 1:32
    precisamos de ter outro consenso.
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    Mas isso não aconteceu.
  • 1:34 - 1:36
    Então a questão é esta:
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    o Chile tem uma visão ambiciosa
    para a mitigação
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    porque nós vemos que há
    um grande benefício económico.
  • 1:43 - 1:45
    Temos visto, temos testemunhado,
  • 1:45 - 1:48
    o que o setor de energia renovável
    tem feito pelo investimento,
  • 1:48 - 1:51
    para diminuir os custos com energia.
  • 1:51 - 1:53
    Portanto, para alcançar esse objetivo,
  • 1:53 - 1:56
    vamos inevitavelmente expandir
    para 100% renovável,
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    e também transformar as indústrias
    que usam combustíveis fósseis
  • 2:00 - 2:02
    para reduzirem as emissões,
  • 2:02 - 2:04
    com a entrada da economia de hidrogénio,
  • 2:04 - 2:06
    com uma comissão recém-lançada
    que eu formei,
  • 2:06 - 2:09
    e que o ministro Jobet,
    ministro da Energia, organizou.
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    E também a eficiência energética
    e muita captura de carbono.
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    Possuímos muito capital natural.
  • 2:17 - 2:20
    Tomar conta desse capital natural
    e expandir as plantações
  • 2:20 - 2:23
    permitir-nos-á atingir
    as zero emissões, até 2050.
  • 2:24 - 2:26
    WPR: Isso é ótimo.
  • 2:26 - 2:29
    E agora parece que o Chile
    tem um grande foco,
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    quando pensamos em energia renovável
    e pensamos no clima.
  • 2:32 - 2:34
    Mas esse nem sempre foi o caso.
  • 2:34 - 2:35
    Pode falar um pouco
  • 2:35 - 2:39
    da história de como o Chile
    chegou a este momento?
  • 2:40 - 2:43
    MM: Sim, em 2011, 2010,
  • 2:43 - 2:46
    tivemos uma discussão sobre energia
    com responsáveis
  • 2:46 - 2:49
    dizendo que a única forma
    de resolver os problemas energéticos,
  • 2:49 - 2:52
    seria através do carvão
    e das hidroelétricas na Patagónia.
  • 2:52 - 2:55
    Isso polarizou a discussão.
  • 2:55 - 2:57
    Nós unimo-nos como uma comunidade
  • 2:57 - 2:59
    depois de grandes
    manifestações de protesto
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    que deram origem
    a muitos movimentos sociais,
  • 3:01 - 3:02
    e começámos a analisar
  • 3:02 - 3:06
    como devíamos produzir
    a energia no futuro.
  • 3:06 - 3:09
    A agitação pública, da população,
    impediu a construção
  • 3:09 - 3:13
    de centrais de energia a carvão
    num total de quase 6000 megawatts.
  • 3:13 - 3:17
    E quando o governo de Michelle Bachelet
    tomou posse,
  • 3:17 - 3:19
    abandonámos o projeto HidroAysén,
  • 3:19 - 3:22
    que é um grande projeto hidráulico
    na Patagónia.
  • 3:22 - 3:26
    Essas duas condições criaram
    uma oportunidade
  • 3:26 - 3:28
    para a energia renovável se instalar.
  • 3:28 - 3:29
    Estipulámos taxas de carbono,
  • 3:29 - 3:32
    implementámos regulamentos ambientais,
  • 3:32 - 3:37
    e organizámos uma estratégia energética,
    decorrente de debates,
  • 3:37 - 3:38
    e tendo em conta os dados
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    segundo os quais pensámos
    que podíamos concordar
  • 3:41 - 3:45
    num objetivo de 70%
    de energia renovável até 2050.
  • 3:45 - 3:48
    Essa meta já foi ultrapassada
    há muito tempo.
  • 3:48 - 3:51
    Agora estamos a pensar em atingir
    esse mesmo objetivo até 2030.
  • 3:54 - 3:57
    WPR: Quanto àquilo que disse
    sobre as manifestações,
  • 3:57 - 4:01
    muita gente deve ter acompanhado
    as notícias sobre a situação no Chile,
  • 4:01 - 4:04
    conhece bem as recentes
    manifestações sociais.
  • 4:04 - 4:07
    Gostava de saber a sua opinião
    sobre como isso pode contribuir
  • 4:07 - 4:09
    para o futuro do problema climático.
  • 4:09 - 4:12
    De que forma essas manifestações
    desempenham um papel
  • 4:12 - 4:14
    nas ações climáticas tomadas?
  • 4:14 - 4:19
    E como será possível o Chile
    ser um líder na ação climática
  • 4:19 - 4:23
    enquanto também lida
    com esses problemas sociais?
  • 4:24 - 4:26
    MM: Os problemas sociais
  • 4:26 - 4:28
    são muito profundos
    e é importante resolvê-los.
  • 4:28 - 4:32
    Impediram, por exemplo,
    a realização da COP25 em Santiago
  • 4:32 - 4:34
    e a sua transferência para Madrid.
  • 4:34 - 4:37
    Também impediu toda uma série
    de debates e anúncios
  • 4:37 - 4:39
    que deviam ter sido feitos
  • 4:39 - 4:40
    e que esperávamos fazer
  • 4:40 - 4:42
    Mas, apesar disso tudo,
  • 4:42 - 4:45
    o facto de termos hoje esse
    comprometimento do governo
  • 4:45 - 4:48
    mostra que há uma determinação
    de seguir em frente.
  • 4:48 - 4:54
    Na verdade, o modelo económico
    do Chile foi questionado
  • 4:54 - 4:58
    porque as questões ambientais,
    por exemplo,
  • 4:58 - 4:59
    são bastante generalizadas
  • 4:59 - 5:03
    e, muitas vezes, temos
    grandes centrais a carvão
  • 5:03 - 5:06
    a funcionar em locais
    onde as pessoas vivem
  • 5:06 - 5:08
    e com altas taxas de mortalidade.
  • 5:08 - 5:11
    As pessoas que vivem
    perto de uma central de eletricidade
  • 5:11 - 5:14
    têm o dobro da taxa de mortalidade
  • 5:14 - 5:16
    em comparação com os restantes chilenos
  • 5:16 - 5:22
    Este modelo, de causar grande impacto
    em muita gente, em benefício de poucos
  • 5:22 - 5:25
    é uma das causas desta agitação social
  • 5:25 - 5:28
    Isso faz parte do próprio modelo económico
  • 5:28 - 5:31
    de extração, de poluição,
    de impacto nas comunidades
  • 5:31 - 5:35
    que não veem os benefícios
    dessas atividades económicas.
  • 5:35 - 5:38
    Mas, embora tenhamos feito muito,
    tem sido um longo caminho,
  • 5:38 - 5:41
    por exemplo, para a conquista
    de um acordo muito emblemático
  • 5:41 - 5:44
    para a desativação das centrais a carvão.
  • 5:44 - 5:47
    Mas muita gente sente que
    não foi suficientemente depressa
  • 5:47 - 5:50
    e quer que essas ações
    sejam mais rápidas.
  • 5:50 - 5:55
    WPR: Segundo parece,
    ter o povo como a voz e o motor
  • 5:55 - 5:56
    por detrás dessa mudança
  • 5:56 - 5:59
    fez parte desse momento histórico
  • 5:59 - 6:02
    na ação climática no Chile
  • 6:02 - 6:06
    e parece que vai manter
    as ações em marcha rumo ao futuro.
  • 6:07 - 6:10
    MM: Não, com certeza, e continuaremos.
  • 6:10 - 6:12
    Sim, continue. Desculpe.
  • 6:12 - 6:15
    WPR: Vá em frente. Por favor, continue.
    Estamos com um pouco de atraso.
  • 6:15 - 6:20
    MM: Adiante. Estamos a ter
    um bom começo
  • 6:20 - 6:23
    mas acho que precisamos
    de duplicar os nossos esforços
  • 6:23 - 6:25
    Embora tenhamos
    os ministérios envolvidos,
  • 6:25 - 6:27
    tenhamos a sociedade civil envolvida,
  • 6:27 - 6:30
    precisamos de envolver a grande indústria.
  • 6:30 - 6:34
    Por exemplo, o setor da mineração
    tem uma grande oportunidade
  • 6:34 - 6:36
    de ser a solução
    para os problemas ambientais
  • 6:36 - 6:40
    porque nós fornecemos
    o cobre, o cobalto, o lítio
  • 6:40 - 6:44
    que são necessários para painéis solares,
    para armazenar energia...
  • 6:44 - 6:46
    Mas precisamos de fazer isso
    de forma limpa.
  • 6:46 - 6:48
    Acredito que esse é o maior desafio
    que nós teremos
  • 6:48 - 6:50
    nos próximos 20 anos.
  • 6:51 - 6:54
    WPR: E mudando para a pandemia,
  • 6:54 - 6:56
    pensando no que está
    a acontecer neste momento,
  • 6:56 - 6:59
    o mundo inteiro está, obviamente,
    a ser arrasado por esta crise.
  • 6:59 - 7:04
    Quais têm sido os desafios específicos
    que o Chile tem enfrentado
  • 7:04 - 7:06
    durante esta pandemia?
  • 7:06 - 7:08
    MM: Claro, como toda a gente,
  • 7:08 - 7:12
    estamos sempre a lutar
    para tomar ações, hoje,
  • 7:12 - 7:15
    para evitar um impacto maior no futuro.
  • 7:15 - 7:18
    Nós tivemos um ótimo começo.
  • 7:18 - 7:20
    Fechámos as escolas.
  • 7:20 - 7:24
    Isolámos diferentes cidades
    e fizemos uma quarentena.
  • 7:24 - 7:28
    Mas demos sinais errados
    para a população
  • 7:28 - 7:30
    e não houve um esforço consistente,
  • 7:30 - 7:33
    e isso levou-nos a ter a maior
    taxa de infeção "per capita"
  • 7:33 - 7:35
    no mundo, atualmente.
  • 7:35 - 7:38
    O mesmo ocorre
    com as alterações climáticas.
  • 7:38 - 7:41
    Precisamos de agir agora
    para evitar maiores impactos futuros.
  • 7:41 - 7:44
    E acho que precisamos
    de tirar uma lição disso tudo
  • 7:44 - 7:47
    para continuar a fazer esse esforço,
  • 7:47 - 7:50
    porque uma coisa é anunciar
    uma NDC ambiciosa.
  • 7:50 - 7:54
    Outra coisa é investir e fazer
    as regulamentações necessárias
  • 7:54 - 7:55
    para tornar isso realidade.
  • 7:55 - 7:57
    Mas há coisas interessantes.
  • 7:57 - 7:59
    A poluição em Santiago,
  • 7:59 - 8:02
    que, historicamente, é uma das capitais
    mais poluídas da América Latina,
  • 8:02 - 8:04
    diminuiu substancialmente.
  • 8:04 - 8:06
    As emissões por automóveis
    diminuíram entre 80 e 90%,
  • 8:06 - 8:08
    o que é muito substancial.
  • 8:08 - 8:12
    E nós vemos o exemplo
    do que está a acontecer.
  • 8:12 - 8:14
    Um estudo da Universidade de Harvard
  • 8:14 - 8:17
    mostrou que as cidades mais poluídas
    têm maior taxa de mortalidade.
  • 8:17 - 8:19
    Isso também ocorre no Chile.
  • 8:19 - 8:22
    Por cada micrograma de poluição, M.P 2,5,
  • 8:22 - 8:25
    há um acréscimo de 9%
    na taxa de mortalidade.
  • 8:25 - 8:29
    Mas a questão que também podemos
    olhar para o que conquistámos até agora
  • 8:29 - 8:31
    Se não tivéssemos tomado
    medidas para limpar o ar
  • 8:31 - 8:34
    como temos feito no Chile
    nos últimos 20 anos,
  • 8:34 - 8:38
    teríamos agora cerca de cinco vezes
    mais mortes por COVID.
  • 8:38 - 8:42
    Temos cerca de 800 pessoas que morreram
    diretamente de COVID diretamente,
  • 8:42 - 8:46
    mas esse número seria bem maior
    se não tivéssemos agido.
  • 8:47 - 8:49
    De facto, devido à poluição mais baixa,
  • 8:49 - 8:53
    se estimarmos para o resto do ano,
  • 8:53 - 8:56
    teremos salvo, só por reduzir a poluição,
  • 8:56 - 8:58
    tantas pessoas quantas
    as que perdemos com a COVID,
  • 8:58 - 9:01
    mostrando que há outra pandemia
    que também precisamos combater,
  • 9:01 - 9:06
    que é a crise da poluição do ar
    que sufoca muitas cidades no mundo.
  • 9:07 - 9:10
    WPR: E parece que isso é algo
    que estamos a observar
  • 9:10 - 9:12
    noutras áreas pelo mundo.
  • 9:12 - 9:15
    Como já disse, a poluição do ar
    é um problema por toda a parte.
  • 9:16 - 9:18
    Também estou curiosa,
  • 9:18 - 9:22
    como esses desafios
    que referiu, e talvez outros,
  • 9:22 - 9:25
    podem ajudar ou atrapalhar
  • 9:25 - 9:27
    esse progresso que vocês almejam realizar
  • 9:27 - 9:29
    rumo à ação climática.
  • 9:29 - 9:32
    Pensa que isso pode influenciar
    algumas das decisões
  • 9:32 - 9:36
    que podem ser tomadas
    no Chile e noutros locais?
  • 9:36 - 9:38
    MM: Portanto, temos
    uma maior taxa de mortalidade
  • 9:38 - 9:40
    e cidades mais poluídas,
  • 9:40 - 9:42
    e temos a ação climática para implementar.
  • 9:42 - 9:44
    Esta vai ser uma década decisiva,
  • 9:44 - 9:46
    em que precisamos de criar as bases
  • 9:46 - 9:48
    para as estratégias
    de redução das emissões.
  • 9:48 - 9:50
    O que quer que façamos hoje
  • 9:50 - 9:53
    não nos deve prender
    a um futuro climático incompatível
  • 9:53 - 9:57
    Precisamos de construir os alicerces
    da transição para baixas emissões.
  • 9:57 - 10:00
    Dessa forma, os nossos esforços
    de recuperação têm de ser feitos
  • 10:00 - 10:03
    — como Kristalina Georgieva disse
    na semana passada —
  • 10:03 - 10:07
    em conjunto com uma recuperação verde
    que crie empregos de imediato,
  • 10:07 - 10:11
    que aborde as questões da pobreza
    que há em relação com a energia
  • 10:11 - 10:13
    hoje, no sul do Chile,
  • 10:13 - 10:16
    e precisamos de usar isso
    para expandir a energia renovável
  • 10:16 - 10:17
    e expandir os esforços bem sucedidos
  • 10:17 - 10:19
    que fizemos
    com os transportes elétricos.
  • 10:19 - 10:24
    Hoje, temos a maior frota
    de autocarros elétricos fora da China,
  • 10:24 - 10:27
    mas podemos aumentá-la ainda mais
  • 10:27 - 10:31
    porque a redução nos custos
    foi de quase 70%,
  • 10:31 - 10:34
    em comparação
    com os autocarros a gasóleo.
  • 10:34 - 10:36
    Devemos usar
    essa oportunidade para expandir.
  • 10:36 - 10:39
    Muitas partes interessadas
    estão a trabalhar.
  • 10:39 - 10:42
    Estamos a trabalhar juntos
    para apelar ao governo
  • 10:42 - 10:43
    que faça uma recuperação verde,
  • 10:43 - 10:46
    que use os títulos verdes
    que já foram emitidos
  • 10:46 - 10:50
    ao abrigo dos quais conseguimos
    taxas muito baixas de juros,
  • 10:50 - 10:54
    para financiar a limpeza do ar,
  • 10:54 - 10:56
    limpar o setor de transportes
  • 10:56 - 10:59
    e estabelecer as bases para
    um amanhã mais limpo na mineração,
  • 10:59 - 11:02
    que é o nosso maior desafio
    daqui para a frente.
  • 11:04 - 11:06
    WPR: Então, no que se refere
  • 11:06 - 11:09
    à forma como pensa
    e conceptualiza a ação climática,
  • 11:09 - 11:12
    teve, pessoalmente, alguma mudança
    na sua forma de pensar,
  • 11:12 - 11:16
    em resultado do que observou
    durante esta pandemia?
  • 11:17 - 11:20
    MM: Sim, acho que começamos
    a olhar à nossa volta,
  • 11:20 - 11:25
    todos tiveram de debater-se e descobrir
    que podemos fazer muito mais com menos,
  • 11:25 - 11:28
    e manter uma economia
  • 11:28 - 11:31
    que exige que você compre
    uma "T-shirt" de que não precisa,
  • 11:31 - 11:35
    o facto de estarmos a usar
    o triplo da roupa
  • 11:35 - 11:37
    do que usávamos há 20 anos
  • 11:37 - 11:40
    mostra que estamos
    a inflacionar uma economia
  • 11:40 - 11:43
    que, de certa forma, exige
    que destruamos o ambiente,
  • 11:43 - 11:46
    para podermos prosseguir.
  • 11:46 - 11:49
    O sistema alimentar será,
    provavelmente, o nosso maior desafio,
  • 11:49 - 11:51
    embora eu esteja a trabalhar
  • 11:51 - 11:53
    com autocarros elétricos
    e transportes elétricos.
  • 11:54 - 11:57
    e as formas mais convencionais
    de minimização.
  • 11:57 - 11:59
    Acho que o nosso maior desafio cultural
  • 11:59 - 12:04
    será analisar o impacto
    dos nossos hábitos alimentares
  • 12:04 - 12:08
    no futuro que teremos.
  • 12:08 - 12:11
    A Nature publicou um relatório
    há pouco tempo
  • 12:11 - 12:14
    que mostrava algo que discutimos
    quando estávamos no governo.
  • 12:14 - 12:17
    Quando o Chile era bom no futebol,
  • 12:17 - 12:22
    começámos a participar mais
    nos campeonatos de inverno,
  • 12:22 - 12:24
    e começámos a ganhar jogos.
  • 12:24 - 12:27
    Mas para ganhar esses jogos,
    começou a haver muitos churrascos.
  • 12:27 - 12:29
    O artigo que saiu mostrou uma coisa
  • 12:29 - 12:31
    que tínhamos explicado às pessoas:
  • 12:31 - 12:34
    que elas estavam a poluir o ar
    com esses churrascos.
  • 12:34 - 12:36
    Mas elas acharam que estávamos malucos.
  • 12:36 - 12:41
    O relatório da Nature agora demonstra
    que nós de facto conspurcámos o ar,
  • 12:41 - 12:43
    destruímos o ar, aniquilámos o ar,
  • 12:43 - 12:45
    porque queríamos festejar o futebol.
  • 12:45 - 12:49
    Nós avisámos as pessoas
    mas as pessoas chamaram-nos malucos.
  • 12:49 - 12:52
    Agora as pessoas reconhecem
    que as coisas mais básicas,
  • 12:52 - 12:54
    como a forma que escolhemos
    para cozinhar,
  • 12:55 - 12:57
    podem ter impacto no ar.
  • 12:57 - 13:01
    Acho que os problemas culturais
    que precisamos de enfrentar, no futuro,
  • 13:01 - 13:03
    terão de ser enfrentados de frente.
  • 13:03 - 13:04
    Precisamos de mostrar provas,
  • 13:04 - 13:07
    de contrário, só estaremos
    a ignorar os problemas
  • 13:07 - 13:10
    e a deixar que eles
    se perpetuem no futuro.
  • 13:11 - 13:14
    WPR: Quanto às nações que
    não têm dado prioridade ao clima
  • 13:14 - 13:17
    da mesma forma que o Chile tem feito,
  • 13:17 - 13:20
    acha que há lições
    que deviam ser aprendidas
  • 13:20 - 13:22
    com as escolhas que o Chile
    tem feito nos últimos anos
  • 13:22 - 13:24
    e que outras nações podem aplicar,
  • 13:24 - 13:28
    e como os povos de outros países
    podiam implementar essas estratégias
  • 13:28 - 13:31
    que foram implementadas no Chile?
  • 13:32 - 13:34
    MM: Muita gente nos EUA
    e no mundo inteiro
  • 13:34 - 13:36
    conhece o robalo chileno.
  • 13:36 - 13:40
    O robalo chileno foi pescado em excesso
    e quase desapareceu.
  • 13:40 - 13:43
    Uma das coisas que fizemos com
    a ajuda da National Geographic
  • 13:44 - 13:46
    e com a liderança do Presidente Bachelet
  • 13:46 - 13:48
    foi a expansão da proteção marinha,
  • 13:48 - 13:51
    de 4% dos nossos mares à 43%
    num só mandato,
  • 13:51 - 13:53
    o que é o maior salto.
  • 13:53 - 13:57
    Só é comparável aos EUA na era de Obama,
    em termos de proteção.
  • 13:57 - 14:01
    Isso porque queremos
    que essa população recupere.
  • 14:02 - 14:07
    Quando restringimos a pesca,
  • 14:08 - 14:12
    a biomassa chega a aumentar seis vezes
  • 14:12 - 14:15
    Penso que um dos esforços
    que precisamos de fazer,
  • 14:15 - 14:18
    quando discutirmos
    a convenção da biodiversidade,
  • 14:18 - 14:20
    que irá realizar-se no ano que vem,
  • 14:20 - 14:23
    é que precisamos de mudar
    a nossa relação com o ambiente.
  • 14:23 - 14:26
    Precisamos de proteger e conservar
    os nossos ecossistemas,
  • 14:26 - 14:29
    para emes poderem prestar
    os serviços que hoje prestam.
  • 14:29 - 14:33
    Hoje, 96% de todos
    os mamíferos terrestres
  • 14:33 - 14:35
    ou são humanos
    ou são alimento para os humanos.
  • 14:35 - 14:38
    Só 4% dos mamíferos terrestres
    vivem na Natureza.
  • 14:38 - 14:41
    Quando ouvi esses dados
    da National Geographic
  • 14:41 - 14:42
    pela primeira vez,
  • 14:42 - 14:43
    nem queria acreditar.
  • 14:43 - 14:46
    Nós mudámos a nossa relação
    com o planeta,
  • 14:46 - 14:49
    e estamos a sofrer
    por causa dessas decisões
  • 14:49 - 14:52
    porque temos zoonoses
    — não é só o coronavírus —
  • 14:52 - 14:54
    a alastrar repetidamente.
  • 14:56 - 15:00
    WPR: Temos aqui o Bruno — olá, Bruno —
    com uma pergunta da comunidade.
  • 15:00 - 15:02
    Bruno Giussani:
    Olá, Marcelo.
  • 15:02 - 15:05
    Esta pergunta é da Melissa Mahoney.
  • 15:05 - 15:09
    Ela pergunta se você pode elaborar
    sobre quais são os benefícios económicos
  • 15:09 - 15:12
    de reduzir a zero as emissões.
  • 15:12 - 15:16
    E, especialmente, se esses benefícios
    seriam os mesmos para o Chile
  • 15:16 - 15:18
    e para outros países?
  • 15:19 - 15:22
    MM: OK. Por exemplo,
    quando trabalhei no Banco Mundial,
  • 15:22 - 15:25
    nós incentivámos o Chile a investigar
    os impactos macroeconómicos
  • 15:25 - 15:27
    da meta de emissões zero.
  • 15:27 - 15:32
    Foi demonstrado que o Chile
    vai crescer mais 4,4%.
  • 15:32 - 15:35
    Então agarrámos no risco
    das alterações climáticas
  • 15:35 - 15:38
    e transformámo-lo numa oportunidade
    para expandir o crescimento.
  • 15:38 - 15:41
    Isso reflete-se na redução
    dos custos de transporte,
  • 15:41 - 15:43
    na redução dos custos de energia,
  • 15:43 - 15:45
    e torna a economia mais competitiva.
  • 15:46 - 15:49
    Os custos de alcançarmos
    a meta de emissões zero
  • 15:49 - 15:55
    são muito mais baixos
    do que os benefícios que colheremos.
  • 15:55 - 15:57
    Isto sem mencionar os benefícios
    do ar mais limpo,
  • 15:57 - 16:00
    estamos só a falar de benefícios
    económicos diretos,
  • 16:00 - 16:01
    do aumento de investimentos,
  • 16:01 - 16:04
    o que é algo de que todos os países
    vão precisar nestes anos
  • 16:05 - 16:06
    para recuperarem da crise da COVID,
  • 16:06 - 16:08
    e baixarem os custos da energia.
  • 16:08 - 16:09
    É assim que se manifesta,
  • 16:09 - 16:11
    e hoje há o consenso
  • 16:11 - 16:13
    que precisamos de mais energia renovável
  • 16:13 - 16:17
    pois essa é a forma com que obtemos
    ar limpo e um custo energético mais baixo.
  • 16:19 - 16:24
    BG: Há outra pergunta de alguém
    na audiência.
  • 16:24 - 16:25
    É assim:
  • 16:26 - 16:30
    "Os países na América Latina têm atitudes
    muito diferentes quanto ao clima.
  • 16:30 - 16:33
    "Pode comentar isso?"
  • 16:33 - 16:36
    MM: O Pew Research Center
    tem publicado relatórios
  • 16:36 - 16:40
    sobre quais as principais ameaças
    externas que nós temos.
  • 16:40 - 16:43
    Para a Europa e para os EUA,
  • 16:43 - 16:46
    a maior ameaça é a China ou o ISIS
  • 16:46 - 16:48
    ou alguma ameaça bélica externa.
  • 16:48 - 16:52
    Já na América Latina e em África,
    são as alterações climáticas.
  • 16:52 - 16:54
    O Chile é um dos mais preocupados.
  • 16:54 - 16:56
    uns 86% dos chilenos dizem
    que a alteração climática
  • 16:56 - 16:58
    é a maior ameaça externa.
  • 16:58 - 17:02
    Esta alta percentagem
    mantém-se por toda a região.
  • 17:03 - 17:07
    Podem aparecer governos populistas
    que alterem as prioridades,
  • 17:07 - 17:09
    mas as pessoas estão preocupadas,
  • 17:09 - 17:12
    porque elas veem a ameaça
    da alteração climática todos os dias.
  • 17:12 - 17:15
    Independente de o governo nacional
    acreditar ou não,
  • 17:15 - 17:16
    a alteração climática é real
  • 17:17 - 17:19
    e está a causar impacto,
    a causar pobreza na região.
  • 17:20 - 17:22
    BG: Obrigado, Marcelo.
    É a tua vez, Whitney.
  • 17:23 - 17:24
    WPR: Obrigada, Bruno.
  • 17:24 - 17:28
    E Marcelo, uma última pergunta
    antes de nos despedirmos.
  • 17:28 - 17:32
    Sabendo que esteve envolvido
    nas negociações
  • 17:32 - 17:33
    para o Acordo de Paris,
  • 17:33 - 17:36
    retirou alguma coisa dessa experiência
  • 17:36 - 17:38
    que possa aplicar neste momento
  • 17:38 - 17:41
    quando pensamos
    em como sair desta crise
  • 17:41 - 17:43
    e sair da pandemia de COVID-19?
  • 17:45 - 17:46
    MM: Sim.
  • 17:46 - 17:50
    Haverá sempre um populista
    que se oporá à ação climática,
  • 17:50 - 17:53
    e a forma de contornar isso
    é usar o argumento económico.
  • 17:53 - 17:55
    Independentemente do que ocorra,
  • 17:55 - 17:58
    haverá um argumento económico
    para investir em energia renovável.
  • 17:58 - 18:01
    Os EUA aumentaram
    os investimentos em energia renovável
  • 18:01 - 18:02
    em cerca de 40%, no ano passado.
  • 18:02 - 18:04
    No Brasil, cresceu quase 10%
  • 18:04 - 18:07
    Assim, se conseguirmos alinhar
    as metas económicas
  • 18:07 - 18:08
    com as metas climáticas,
  • 18:08 - 18:11
    conseguiremos avançar na questão.
  • 18:11 - 18:15
    Há a "Rede para tornar
    o sistema financeiro mais ecológico"
  • 18:15 - 18:17
    que reúne banqueiros centrais.
  • 18:17 - 18:20
    O Banco Mundial lançou uma coligação
    de ministros das finanças
  • 18:20 - 18:21
    para ação climática.
  • 18:21 - 18:23
    São excelentes iniciativas
  • 18:23 - 18:27
    que permitirão que o sistema financeiro
    apoie a causa climática
  • 18:27 - 18:30
    porque há um benefício económico,
  • 18:30 - 18:33
    porque é importante para nós,
    para nossas responsabilidades fiduciárias,
  • 18:33 - 18:35
    divulgar os riscos que temos,
  • 18:35 - 18:37
    transitórios e físicos.
  • 18:37 - 18:39
    Se conseguirmos fazer isso,
  • 18:39 - 18:41
    independentemente
    de possíveis negociações,
  • 18:41 - 18:46
    porque haverá sempre
    problemas com o consenso,
  • 18:46 - 18:49
    continuaremos a ter
    uma abordagem resiliente
  • 18:49 - 18:51
    porque a ação climática prosseguirá
  • 18:51 - 18:54
    porque podemos conseguir
    o apoio do sistema económico.
  • 18:55 - 18:56
    WPR: Isso é fantástico.
  • 18:56 - 18:59
    Muito obrigado, Marcelo,
    por conversar connosco
  • 18:59 - 19:01
    por partilhar a sua perspetiva,
    a sua visão.
  • 19:01 - 19:04
    Foi muito bom ter-nos dado
    essa visão dos acontecimentos no Chile
  • 19:04 - 19:06
    e como podem ser aplicados
    por esse mundo fora.
  • 19:06 - 19:08
    Obrigado por ter estado connosco.
  • 19:08 - 19:10
    MM: Obrigado.
Title:
Os benefícios económicos de uma ação climática
Speaker:
Marcelo Mena
Description:

Marcelo Mena, o antigo ministro do ambiente do Chile, está numa missão para criar uma economia de emissões zero no seu país até 2050. Numa conversa sobre ação climática, Marcelo explica como a pandemia de COVID-19 está a mudar o ambicioso plano do Chile para fazer frente às alterações climáticas. E explica como a recuperação verde precisa de ser movida tanto pelos líderes políticos como pelos cidadãos. (Esta conversa virtual, apresentada pela curadora de temas atuais da TED Whitney Pennington Rodgers e pelo curador global Bruno Giussani, foi gravada no dia 26 de maio de 2020.)

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:22

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