Os benefícios económicos de uma ação climática
-
0:00 - 0:03Whitney Pennington Rodgers:
Marcelo Mena é um ambientalista -
0:03 - 0:05e um académico,
-
0:05 - 0:07e antigo ministro
do Meio Ambiente do Chile. -
0:08 - 0:09Bem-vindo, Marcelo.
-
0:10 - 0:13Marcelo Mena: Como você está, Whitney?
Obrigado pelo convite. -
0:13 - 0:14WPR: Perfeita. Ótima.
-
0:14 - 0:17Claro, muito obrigada
por estar aqui connosco hoje. -
0:17 - 0:20Sabe, antes de mergulharmos
no futuro da ação climática -
0:20 - 0:22no Chile e não só,
-
0:22 - 0:25eu acho que seria ótimo para nós
falarmos sobre o presente -
0:25 - 0:30e porque é que o Chile representa
um país em que vale a pena pensar -
0:30 - 0:32quando falamos do clima.
-
0:32 - 0:36Recentemente, tem havido
muitas ações louváveis -
0:36 - 0:40tomadas pelo seu país,
quando pensamos no clima. -
0:40 - 0:45O Chile recentemente comprometeu-se
a um total de zero emissões até 2050, -
0:45 - 0:47o primeiro nas Américas a fazer isso,
-
0:47 - 0:50e isso é especialmente notável
quando pensamos -
0:50 - 0:54até que ponto a economia do Chile
depende da emissão de carbono: -
0:54 - 0:57a mineração e a agricultura
e outros espaços do mesmo tipo. -
0:57 - 0:59Então, poderá começar
por falar um pouco -
0:59 - 1:03sobre como será possível conseguir
um total de zero emissões em 30 anos, -
1:03 - 1:06e o que isso irá significar para o Chile?
-
1:07 - 1:10MM: Foi uma visão surrealista
-
1:10 - 1:14quando vimos o ministro Schmidt,
o Presidente da COP25, -
1:14 - 1:18e Patricia Espinosa, a líder da ONU
em Alterações Climáticas, -
1:18 - 1:21com máscaras, a anunciar esse novo NDC.
-
1:21 - 1:26O ponto importante aqui é que as coisas
difíceis de construir requerem consenso, -
1:26 - 1:31portanto, para nos livrarmos
daquele compromisso, -
1:31 - 1:32precisamos de ter outro consenso.
-
1:32 - 1:34Mas isso não aconteceu.
-
1:34 - 1:36Então a questão é esta:
-
1:36 - 1:41o Chile tem uma visão ambiciosa
para a mitigação -
1:40 - 1:43porque nós vemos que há
um grande benefício económico. -
1:43 - 1:45Temos visto, temos testemunhado,
-
1:45 - 1:48o que o setor de energia renovável
tem feito pelo investimento, -
1:48 - 1:51para diminuir os custos com energia.
-
1:51 - 1:53Portanto, para alcançar esse objetivo,
-
1:53 - 1:56vamos inevitavelmente expandir
para 100% renovável, -
1:56 - 2:00e também transformar as indústrias
que usam combustíveis fósseis -
2:00 - 2:02para reduzirem as emissões,
-
2:02 - 2:04com a entrada da economia de hidrogénio,
-
2:04 - 2:06com uma comissão recém-lançada
que eu formei, -
2:06 - 2:09e que o ministro Jobet,
ministro da Energia, organizou. -
2:10 - 2:14E também a eficiência energética
e muita captura de carbono. -
2:14 - 2:17Possuímos muito capital natural.
-
2:17 - 2:20Tomar conta desse capital natural
e expandir as plantações -
2:20 - 2:23permitir-nos-á atingir
as zero emissões, até 2050. -
2:24 - 2:26WPR: Isso é ótimo.
-
2:26 - 2:29E agora parece que o Chile
tem um grande foco, -
2:29 - 2:32quando pensamos em energia renovável
e pensamos no clima. -
2:32 - 2:34Mas esse nem sempre foi o caso.
-
2:34 - 2:35Pode falar um pouco
-
2:35 - 2:39da história de como o Chile
chegou a este momento? -
2:40 - 2:43MM: Sim, em 2011, 2010,
-
2:43 - 2:46tivemos uma discussão sobre energia
com responsáveis -
2:46 - 2:49dizendo que a única forma
de resolver os problemas energéticos, -
2:49 - 2:52seria através do carvão
e das hidroelétricas na Patagónia. -
2:52 - 2:55Isso polarizou a discussão.
-
2:55 - 2:57Nós unimo-nos como uma comunidade
-
2:57 - 2:59depois de grandes
manifestações de protesto -
2:59 - 3:01que deram origem
a muitos movimentos sociais, -
3:01 - 3:02e começámos a analisar
-
3:02 - 3:06como devíamos produzir
a energia no futuro. -
3:06 - 3:09A agitação pública, da população,
impediu a construção -
3:09 - 3:13de centrais de energia a carvão
num total de quase 6000 megawatts. -
3:13 - 3:17E quando o governo de Michelle Bachelet
tomou posse, -
3:17 - 3:19abandonámos o projeto HidroAysén,
-
3:19 - 3:22que é um grande projeto hidráulico
na Patagónia. -
3:22 - 3:26Essas duas condições criaram
uma oportunidade -
3:26 - 3:28para a energia renovável se instalar.
-
3:28 - 3:29Estipulámos taxas de carbono,
-
3:29 - 3:32implementámos regulamentos ambientais,
-
3:32 - 3:37e organizámos uma estratégia energética,
decorrente de debates, -
3:37 - 3:38e tendo em conta os dados
-
3:38 - 3:41segundo os quais pensámos
que podíamos concordar -
3:41 - 3:45num objetivo de 70%
de energia renovável até 2050. -
3:45 - 3:48Essa meta já foi ultrapassada
há muito tempo. -
3:48 - 3:51Agora estamos a pensar em atingir
esse mesmo objetivo até 2030. -
3:54 - 3:57WPR: Quanto àquilo que disse
sobre as manifestações, -
3:57 - 4:01muita gente deve ter acompanhado
as notícias sobre a situação no Chile, -
4:01 - 4:04conhece bem as recentes
manifestações sociais. -
4:04 - 4:07Gostava de saber a sua opinião
sobre como isso pode contribuir -
4:07 - 4:09para o futuro do problema climático.
-
4:09 - 4:12De que forma essas manifestações
desempenham um papel -
4:12 - 4:14nas ações climáticas tomadas?
-
4:14 - 4:19E como será possível o Chile
ser um líder na ação climática -
4:19 - 4:23enquanto também lida
com esses problemas sociais? -
4:24 - 4:26MM: Os problemas sociais
-
4:26 - 4:28são muito profundos
e é importante resolvê-los. -
4:28 - 4:32Impediram, por exemplo,
a realização da COP25 em Santiago -
4:32 - 4:34e a sua transferência para Madrid.
-
4:34 - 4:37Também impediu toda uma série
de debates e anúncios -
4:37 - 4:39que deviam ter sido feitos
-
4:39 - 4:40e que esperávamos fazer
-
4:40 - 4:42Mas, apesar disso tudo,
-
4:42 - 4:45o facto de termos hoje esse
comprometimento do governo -
4:45 - 4:48mostra que há uma determinação
de seguir em frente. -
4:48 - 4:54Na verdade, o modelo económico
do Chile foi questionado -
4:54 - 4:58porque as questões ambientais,
por exemplo, -
4:58 - 4:59são bastante generalizadas
-
4:59 - 5:03e, muitas vezes, temos
grandes centrais a carvão -
5:03 - 5:06a funcionar em locais
onde as pessoas vivem -
5:06 - 5:08e com altas taxas de mortalidade.
-
5:08 - 5:11As pessoas que vivem
perto de uma central de eletricidade -
5:11 - 5:14têm o dobro da taxa de mortalidade
-
5:14 - 5:16em comparação com os restantes chilenos
-
5:16 - 5:22Este modelo, de causar grande impacto
em muita gente, em benefício de poucos -
5:22 - 5:25é uma das causas desta agitação social
-
5:25 - 5:28Isso faz parte do próprio modelo económico
-
5:28 - 5:31de extração, de poluição,
de impacto nas comunidades -
5:31 - 5:35que não veem os benefícios
dessas atividades económicas. -
5:35 - 5:38Mas, embora tenhamos feito muito,
tem sido um longo caminho, -
5:38 - 5:41por exemplo, para a conquista
de um acordo muito emblemático -
5:41 - 5:44para a desativação das centrais a carvão.
-
5:44 - 5:47Mas muita gente sente que
não foi suficientemente depressa -
5:47 - 5:50e quer que essas ações
sejam mais rápidas. -
5:50 - 5:55WPR: Segundo parece,
ter o povo como a voz e o motor -
5:55 - 5:56por detrás dessa mudança
-
5:56 - 5:59fez parte desse momento histórico
-
5:59 - 6:02na ação climática no Chile
-
6:02 - 6:06e parece que vai manter
as ações em marcha rumo ao futuro. -
6:07 - 6:10MM: Não, com certeza, e continuaremos.
-
6:10 - 6:12Sim, continue. Desculpe.
-
6:12 - 6:15WPR: Vá em frente. Por favor, continue.
Estamos com um pouco de atraso. -
6:15 - 6:20MM: Adiante. Estamos a ter
um bom começo -
6:20 - 6:23mas acho que precisamos
de duplicar os nossos esforços -
6:23 - 6:25Embora tenhamos
os ministérios envolvidos, -
6:25 - 6:27tenhamos a sociedade civil envolvida,
-
6:27 - 6:30precisamos de envolver a grande indústria.
-
6:30 - 6:34Por exemplo, o setor da mineração
tem uma grande oportunidade -
6:34 - 6:36de ser a solução
para os problemas ambientais -
6:36 - 6:40porque nós fornecemos
o cobre, o cobalto, o lítio -
6:40 - 6:44que são necessários para painéis solares,
para armazenar energia... -
6:44 - 6:46Mas precisamos de fazer isso
de forma limpa. -
6:46 - 6:48Acredito que esse é o maior desafio
que nós teremos -
6:48 - 6:50nos próximos 20 anos.
-
6:51 - 6:54WPR: E mudando para a pandemia,
-
6:54 - 6:56pensando no que está
a acontecer neste momento, -
6:56 - 6:59o mundo inteiro está, obviamente,
a ser arrasado por esta crise. -
6:59 - 7:04Quais têm sido os desafios específicos
que o Chile tem enfrentado -
7:04 - 7:06durante esta pandemia?
-
7:06 - 7:08MM: Claro, como toda a gente,
-
7:08 - 7:12estamos sempre a lutar
para tomar ações, hoje, -
7:12 - 7:15para evitar um impacto maior no futuro.
-
7:15 - 7:18Nós tivemos um ótimo começo.
-
7:18 - 7:20Fechámos as escolas.
-
7:20 - 7:24Isolámos diferentes cidades
e fizemos uma quarentena. -
7:24 - 7:28Mas demos sinais errados
para a população -
7:28 - 7:30e não houve um esforço consistente,
-
7:30 - 7:33e isso levou-nos a ter a maior
taxa de infeção "per capita" -
7:33 - 7:35no mundo, atualmente.
-
7:35 - 7:38O mesmo ocorre
com as alterações climáticas. -
7:38 - 7:41Precisamos de agir agora
para evitar maiores impactos futuros. -
7:41 - 7:44E acho que precisamos
de tirar uma lição disso tudo -
7:44 - 7:47para continuar a fazer esse esforço,
-
7:47 - 7:50porque uma coisa é anunciar
uma NDC ambiciosa. -
7:50 - 7:54Outra coisa é investir e fazer
as regulamentações necessárias -
7:54 - 7:55para tornar isso realidade.
-
7:55 - 7:57Mas há coisas interessantes.
-
7:57 - 7:59A poluição em Santiago,
-
7:59 - 8:02que, historicamente, é uma das capitais
mais poluídas da América Latina, -
8:02 - 8:04diminuiu substancialmente.
-
8:04 - 8:06As emissões por automóveis
diminuíram entre 80 e 90%, -
8:06 - 8:08o que é muito substancial.
-
8:08 - 8:12E nós vemos o exemplo
do que está a acontecer. -
8:12 - 8:14Um estudo da Universidade de Harvard
-
8:14 - 8:17mostrou que as cidades mais poluídas
têm maior taxa de mortalidade. -
8:17 - 8:19Isso também ocorre no Chile.
-
8:19 - 8:22Por cada micrograma de poluição, M.P 2,5,
-
8:22 - 8:25há um acréscimo de 9%
na taxa de mortalidade. -
8:25 - 8:29Mas a questão que também podemos
olhar para o que conquistámos até agora -
8:29 - 8:31Se não tivéssemos tomado
medidas para limpar o ar -
8:31 - 8:34como temos feito no Chile
nos últimos 20 anos, -
8:34 - 8:38teríamos agora cerca de cinco vezes
mais mortes por COVID. -
8:38 - 8:42Temos cerca de 800 pessoas que morreram
diretamente de COVID diretamente, -
8:42 - 8:46mas esse número seria bem maior
se não tivéssemos agido. -
8:47 - 8:49De facto, devido à poluição mais baixa,
-
8:49 - 8:53se estimarmos para o resto do ano,
-
8:53 - 8:56teremos salvo, só por reduzir a poluição,
-
8:56 - 8:58tantas pessoas quantas
as que perdemos com a COVID, -
8:58 - 9:01mostrando que há outra pandemia
que também precisamos combater, -
9:01 - 9:06que é a crise da poluição do ar
que sufoca muitas cidades no mundo. -
9:07 - 9:10WPR: E parece que isso é algo
que estamos a observar -
9:10 - 9:12noutras áreas pelo mundo.
-
9:12 - 9:15Como já disse, a poluição do ar
é um problema por toda a parte. -
9:16 - 9:18Também estou curiosa,
-
9:18 - 9:22como esses desafios
que referiu, e talvez outros, -
9:22 - 9:25podem ajudar ou atrapalhar
-
9:25 - 9:27esse progresso que vocês almejam realizar
-
9:27 - 9:29rumo à ação climática.
-
9:29 - 9:32Pensa que isso pode influenciar
algumas das decisões -
9:32 - 9:36que podem ser tomadas
no Chile e noutros locais? -
9:36 - 9:38MM: Portanto, temos
uma maior taxa de mortalidade -
9:38 - 9:40e cidades mais poluídas,
-
9:40 - 9:42e temos a ação climática para implementar.
-
9:42 - 9:44Esta vai ser uma década decisiva,
-
9:44 - 9:46em que precisamos de criar as bases
-
9:46 - 9:48para as estratégias
de redução das emissões. -
9:48 - 9:50O que quer que façamos hoje
-
9:50 - 9:53não nos deve prender
a um futuro climático incompatível -
9:53 - 9:57Precisamos de construir os alicerces
da transição para baixas emissões. -
9:57 - 10:00Dessa forma, os nossos esforços
de recuperação têm de ser feitos -
10:00 - 10:03— como Kristalina Georgieva disse
na semana passada — -
10:03 - 10:07em conjunto com uma recuperação verde
que crie empregos de imediato, -
10:07 - 10:11que aborde as questões da pobreza
que há em relação com a energia -
10:11 - 10:13hoje, no sul do Chile,
-
10:13 - 10:16e precisamos de usar isso
para expandir a energia renovável -
10:16 - 10:17e expandir os esforços bem sucedidos
-
10:17 - 10:19que fizemos
com os transportes elétricos. -
10:19 - 10:24Hoje, temos a maior frota
de autocarros elétricos fora da China, -
10:24 - 10:27mas podemos aumentá-la ainda mais
-
10:27 - 10:31porque a redução nos custos
foi de quase 70%, -
10:31 - 10:34em comparação
com os autocarros a gasóleo. -
10:34 - 10:36Devemos usar
essa oportunidade para expandir. -
10:36 - 10:39Muitas partes interessadas
estão a trabalhar. -
10:39 - 10:42Estamos a trabalhar juntos
para apelar ao governo -
10:42 - 10:43que faça uma recuperação verde,
-
10:43 - 10:46que use os títulos verdes
que já foram emitidos -
10:46 - 10:50ao abrigo dos quais conseguimos
taxas muito baixas de juros, -
10:50 - 10:54para financiar a limpeza do ar,
-
10:54 - 10:56limpar o setor de transportes
-
10:56 - 10:59e estabelecer as bases para
um amanhã mais limpo na mineração, -
10:59 - 11:02que é o nosso maior desafio
daqui para a frente. -
11:04 - 11:06WPR: Então, no que se refere
-
11:06 - 11:09à forma como pensa
e conceptualiza a ação climática, -
11:09 - 11:12teve, pessoalmente, alguma mudança
na sua forma de pensar, -
11:12 - 11:16em resultado do que observou
durante esta pandemia? -
11:17 - 11:20MM: Sim, acho que começamos
a olhar à nossa volta, -
11:20 - 11:25todos tiveram de debater-se e descobrir
que podemos fazer muito mais com menos, -
11:25 - 11:28e manter uma economia
-
11:28 - 11:31que exige que você compre
uma "T-shirt" de que não precisa, -
11:31 - 11:35o facto de estarmos a usar
o triplo da roupa -
11:35 - 11:37do que usávamos há 20 anos
-
11:37 - 11:40mostra que estamos
a inflacionar uma economia -
11:40 - 11:43que, de certa forma, exige
que destruamos o ambiente, -
11:43 - 11:46para podermos prosseguir.
-
11:46 - 11:49O sistema alimentar será,
provavelmente, o nosso maior desafio, -
11:49 - 11:51embora eu esteja a trabalhar
-
11:51 - 11:53com autocarros elétricos
e transportes elétricos. -
11:54 - 11:57e as formas mais convencionais
de minimização. -
11:57 - 11:59Acho que o nosso maior desafio cultural
-
11:59 - 12:04será analisar o impacto
dos nossos hábitos alimentares -
12:04 - 12:08no futuro que teremos.
-
12:08 - 12:11A Nature publicou um relatório
há pouco tempo -
12:11 - 12:14que mostrava algo que discutimos
quando estávamos no governo. -
12:14 - 12:17Quando o Chile era bom no futebol,
-
12:17 - 12:22começámos a participar mais
nos campeonatos de inverno, -
12:22 - 12:24e começámos a ganhar jogos.
-
12:24 - 12:27Mas para ganhar esses jogos,
começou a haver muitos churrascos. -
12:27 - 12:29O artigo que saiu mostrou uma coisa
-
12:29 - 12:31que tínhamos explicado às pessoas:
-
12:31 - 12:34que elas estavam a poluir o ar
com esses churrascos. -
12:34 - 12:36Mas elas acharam que estávamos malucos.
-
12:36 - 12:41O relatório da Nature agora demonstra
que nós de facto conspurcámos o ar, -
12:41 - 12:43destruímos o ar, aniquilámos o ar,
-
12:43 - 12:45porque queríamos festejar o futebol.
-
12:45 - 12:49Nós avisámos as pessoas
mas as pessoas chamaram-nos malucos. -
12:49 - 12:52Agora as pessoas reconhecem
que as coisas mais básicas, -
12:52 - 12:54como a forma que escolhemos
para cozinhar, -
12:55 - 12:57podem ter impacto no ar.
-
12:57 - 13:01Acho que os problemas culturais
que precisamos de enfrentar, no futuro, -
13:01 - 13:03terão de ser enfrentados de frente.
-
13:03 - 13:04Precisamos de mostrar provas,
-
13:04 - 13:07de contrário, só estaremos
a ignorar os problemas -
13:07 - 13:10e a deixar que eles
se perpetuem no futuro. -
13:11 - 13:14WPR: Quanto às nações que
não têm dado prioridade ao clima -
13:14 - 13:17da mesma forma que o Chile tem feito,
-
13:17 - 13:20acha que há lições
que deviam ser aprendidas -
13:20 - 13:22com as escolhas que o Chile
tem feito nos últimos anos -
13:22 - 13:24e que outras nações podem aplicar,
-
13:24 - 13:28e como os povos de outros países
podiam implementar essas estratégias -
13:28 - 13:31que foram implementadas no Chile?
-
13:32 - 13:34MM: Muita gente nos EUA
e no mundo inteiro -
13:34 - 13:36conhece o robalo chileno.
-
13:36 - 13:40O robalo chileno foi pescado em excesso
e quase desapareceu. -
13:40 - 13:43Uma das coisas que fizemos com
a ajuda da National Geographic -
13:44 - 13:46e com a liderança do Presidente Bachelet
-
13:46 - 13:48foi a expansão da proteção marinha,
-
13:48 - 13:51de 4% dos nossos mares à 43%
num só mandato, -
13:51 - 13:53o que é o maior salto.
-
13:53 - 13:57Só é comparável aos EUA na era de Obama,
em termos de proteção. -
13:57 - 14:01Isso porque queremos
que essa população recupere. -
14:02 - 14:07Quando restringimos a pesca,
-
14:08 - 14:12a biomassa chega a aumentar seis vezes
-
14:12 - 14:15Penso que um dos esforços
que precisamos de fazer, -
14:15 - 14:18quando discutirmos
a convenção da biodiversidade, -
14:18 - 14:20que irá realizar-se no ano que vem,
-
14:20 - 14:23é que precisamos de mudar
a nossa relação com o ambiente. -
14:23 - 14:26Precisamos de proteger e conservar
os nossos ecossistemas, -
14:26 - 14:29para emes poderem prestar
os serviços que hoje prestam. -
14:29 - 14:33Hoje, 96% de todos
os mamíferos terrestres -
14:33 - 14:35ou são humanos
ou são alimento para os humanos. -
14:35 - 14:38Só 4% dos mamíferos terrestres
vivem na Natureza. -
14:38 - 14:41Quando ouvi esses dados
da National Geographic -
14:41 - 14:42pela primeira vez,
-
14:42 - 14:43nem queria acreditar.
-
14:43 - 14:46Nós mudámos a nossa relação
com o planeta, -
14:46 - 14:49e estamos a sofrer
por causa dessas decisões -
14:49 - 14:52porque temos zoonoses
— não é só o coronavírus — -
14:52 - 14:54a alastrar repetidamente.
-
14:56 - 15:00WPR: Temos aqui o Bruno — olá, Bruno —
com uma pergunta da comunidade. -
15:00 - 15:02Bruno Giussani:
Olá, Marcelo. -
15:02 - 15:05Esta pergunta é da Melissa Mahoney.
-
15:05 - 15:09Ela pergunta se você pode elaborar
sobre quais são os benefícios económicos -
15:09 - 15:12de reduzir a zero as emissões.
-
15:12 - 15:16E, especialmente, se esses benefícios
seriam os mesmos para o Chile -
15:16 - 15:18e para outros países?
-
15:19 - 15:22MM: OK. Por exemplo,
quando trabalhei no Banco Mundial, -
15:22 - 15:25nós incentivámos o Chile a investigar
os impactos macroeconómicos -
15:25 - 15:27da meta de emissões zero.
-
15:27 - 15:32Foi demonstrado que o Chile
vai crescer mais 4,4%. -
15:32 - 15:35Então agarrámos no risco
das alterações climáticas -
15:35 - 15:38e transformámo-lo numa oportunidade
para expandir o crescimento. -
15:38 - 15:41Isso reflete-se na redução
dos custos de transporte, -
15:41 - 15:43na redução dos custos de energia,
-
15:43 - 15:45e torna a economia mais competitiva.
-
15:46 - 15:49Os custos de alcançarmos
a meta de emissões zero -
15:49 - 15:55são muito mais baixos
do que os benefícios que colheremos. -
15:55 - 15:57Isto sem mencionar os benefícios
do ar mais limpo, -
15:57 - 16:00estamos só a falar de benefícios
económicos diretos, -
16:00 - 16:01do aumento de investimentos,
-
16:01 - 16:04o que é algo de que todos os países
vão precisar nestes anos -
16:05 - 16:06para recuperarem da crise da COVID,
-
16:06 - 16:08e baixarem os custos da energia.
-
16:08 - 16:09É assim que se manifesta,
-
16:09 - 16:11e hoje há o consenso
-
16:11 - 16:13que precisamos de mais energia renovável
-
16:13 - 16:17pois essa é a forma com que obtemos
ar limpo e um custo energético mais baixo. -
16:19 - 16:24BG: Há outra pergunta de alguém
na audiência. -
16:24 - 16:25É assim:
-
16:26 - 16:30"Os países na América Latina têm atitudes
muito diferentes quanto ao clima. -
16:30 - 16:33"Pode comentar isso?"
-
16:33 - 16:36MM: O Pew Research Center
tem publicado relatórios -
16:36 - 16:40sobre quais as principais ameaças
externas que nós temos. -
16:40 - 16:43Para a Europa e para os EUA,
-
16:43 - 16:46a maior ameaça é a China ou o ISIS
-
16:46 - 16:48ou alguma ameaça bélica externa.
-
16:48 - 16:52Já na América Latina e em África,
são as alterações climáticas. -
16:52 - 16:54O Chile é um dos mais preocupados.
-
16:54 - 16:56uns 86% dos chilenos dizem
que a alteração climática -
16:56 - 16:58é a maior ameaça externa.
-
16:58 - 17:02Esta alta percentagem
mantém-se por toda a região. -
17:03 - 17:07Podem aparecer governos populistas
que alterem as prioridades, -
17:07 - 17:09mas as pessoas estão preocupadas,
-
17:09 - 17:12porque elas veem a ameaça
da alteração climática todos os dias. -
17:12 - 17:15Independente de o governo nacional
acreditar ou não, -
17:15 - 17:16a alteração climática é real
-
17:17 - 17:19e está a causar impacto,
a causar pobreza na região. -
17:20 - 17:22BG: Obrigado, Marcelo.
É a tua vez, Whitney. -
17:23 - 17:24WPR: Obrigada, Bruno.
-
17:24 - 17:28E Marcelo, uma última pergunta
antes de nos despedirmos. -
17:28 - 17:32Sabendo que esteve envolvido
nas negociações -
17:32 - 17:33para o Acordo de Paris,
-
17:33 - 17:36retirou alguma coisa dessa experiência
-
17:36 - 17:38que possa aplicar neste momento
-
17:38 - 17:41quando pensamos
em como sair desta crise -
17:41 - 17:43e sair da pandemia de COVID-19?
-
17:45 - 17:46MM: Sim.
-
17:46 - 17:50Haverá sempre um populista
que se oporá à ação climática, -
17:50 - 17:53e a forma de contornar isso
é usar o argumento económico. -
17:53 - 17:55Independentemente do que ocorra,
-
17:55 - 17:58haverá um argumento económico
para investir em energia renovável. -
17:58 - 18:01Os EUA aumentaram
os investimentos em energia renovável -
18:01 - 18:02em cerca de 40%, no ano passado.
-
18:02 - 18:04No Brasil, cresceu quase 10%
-
18:04 - 18:07Assim, se conseguirmos alinhar
as metas económicas -
18:07 - 18:08com as metas climáticas,
-
18:08 - 18:11conseguiremos avançar na questão.
-
18:11 - 18:15Há a "Rede para tornar
o sistema financeiro mais ecológico" -
18:15 - 18:17que reúne banqueiros centrais.
-
18:17 - 18:20O Banco Mundial lançou uma coligação
de ministros das finanças -
18:20 - 18:21para ação climática.
-
18:21 - 18:23São excelentes iniciativas
-
18:23 - 18:27que permitirão que o sistema financeiro
apoie a causa climática -
18:27 - 18:30porque há um benefício económico,
-
18:30 - 18:33porque é importante para nós,
para nossas responsabilidades fiduciárias, -
18:33 - 18:35divulgar os riscos que temos,
-
18:35 - 18:37transitórios e físicos.
-
18:37 - 18:39Se conseguirmos fazer isso,
-
18:39 - 18:41independentemente
de possíveis negociações, -
18:41 - 18:46porque haverá sempre
problemas com o consenso, -
18:46 - 18:49continuaremos a ter
uma abordagem resiliente -
18:49 - 18:51porque a ação climática prosseguirá
-
18:51 - 18:54porque podemos conseguir
o apoio do sistema económico. -
18:55 - 18:56WPR: Isso é fantástico.
-
18:56 - 18:59Muito obrigado, Marcelo,
por conversar connosco -
18:59 - 19:01por partilhar a sua perspetiva,
a sua visão. -
19:01 - 19:04Foi muito bom ter-nos dado
essa visão dos acontecimentos no Chile -
19:04 - 19:06e como podem ser aplicados
por esse mundo fora. -
19:06 - 19:08Obrigado por ter estado connosco.
-
19:08 - 19:10MM: Obrigado.
- Title:
- Os benefícios económicos de uma ação climática
- Speaker:
- Marcelo Mena
- Description:
-
more » « less
Marcelo Mena, o antigo ministro do ambiente do Chile, está numa missão para criar uma economia de emissões zero no seu país até 2050. Numa conversa sobre ação climática, Marcelo explica como a pandemia de COVID-19 está a mudar o ambicioso plano do Chile para fazer frente às alterações climáticas. E explica como a recuperação verde precisa de ser movida tanto pelos líderes políticos como pelos cidadãos. (Esta conversa virtual, apresentada pela curadora de temas atuais da TED Whitney Pennington Rodgers e pelo curador global Bruno Giussani, foi gravada no dia 26 de maio de 2020.)
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 19:22
|
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for The economic benefits of climate action | |
|
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The economic benefits of climate action | |
|
Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for The economic benefits of climate action | |
|
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The economic benefits of climate action | |
|
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The economic benefits of climate action | |
|
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The economic benefits of climate action | |
| Vinicius Azevedo edited Portuguese subtitles for The economic benefits of climate action | ||
| Karoline Suelly edited Portuguese subtitles for The economic benefits of climate action |
