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Cirurgia robótica: uma cirurgia mais humana? | Benjamin SARFATI | TEDxAnnecy

  • 0:13 - 0:18
    Hoje em dia, percebo, após ter
    me tornado adulto e ter tido filhos,
  • 0:18 - 0:21
    que tive uma infância muito feliz.
  • 0:21 - 0:26
    E devo isso a duas pessoas:
    meu pai e minha mãe.
  • 0:26 - 0:29
    Gostaria de aproveitar esse palco
    para fazer algo que nunca fiz
  • 0:29 - 0:32
    e dizer o que nunca
    lhes disse pessoalmente.
  • 0:32 - 0:36
    Gostaria de agradecer a educação e a vida
    que me deram quando eu era mais jovem.
  • 0:36 - 0:39
    É certamente graças a eles
    que me tornei o homem que sou hoje,
  • 0:39 - 0:45
    e também talvez sejam responsáveis,
    de modo indireto e eventual,
  • 0:45 - 0:48
    pela aventura que vou contar a vocês hoje.
  • 0:48 - 0:52
    Quando vocês os veem assim,
    bebendo, bem descontraídos
  • 0:52 - 0:53
    e simpáticos...
  • 0:53 - 0:55
    Não se enganem!
  • 0:55 - 0:56
    (Risos)
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    Muitas pessoas já se enganaram antes.
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    Tive uma educação extremamente rígida,
    meus pais não me deixavam ver televisão,
  • 1:03 - 1:06
    mas adorava videogame quando era criança.
  • 1:06 - 1:11
    E meus pais sempre tinham o péssimo hábito
    de esconder as manetes do meu videogame
  • 1:11 - 1:13
    em algum lugar do apartamento.
  • 1:13 - 1:17
    E como qualquer garoto faria,
    eu passava horas e horas
  • 1:17 - 1:20
    revirando todo o apartamento
    parar encontrar as manetes.
  • 1:20 - 1:22
    Eu era muito bom naquilo.
  • 1:22 - 1:25
    Até que meus pais ficaram
    melhores do que eu:
  • 1:25 - 1:28
    eles as esconderam tão bem
    que nunca as encontraram.
  • 1:28 - 1:29
    (Risos)
  • 1:30 - 1:33
    Passamos semanas procurando,
  • 1:33 - 1:36
    nos mudamos três vezes,
    mas foi impossível encontrá-las.
  • 1:36 - 1:40
    Isso fez com que eu mergulhasse
    em uma depressão profunda.
  • 1:41 - 1:43
    Tentei afogar minhas mágoas nos estudos.
  • 1:43 - 1:46
    Eu tinha que encontrar
    um curso bem extenso e difícil.
  • 1:46 - 1:48
    Então, escolhi a medicina.
  • 1:48 - 1:50
    Tornei-me cirurgião plástico.
  • 1:50 - 1:53
    Sou um tanto peculiar,
    pois passo a metade do meu tempo
  • 1:53 - 1:57
    ajudando meus pacientes a superarem
    seus complexos, com a cirurgia estética.
  • 1:57 - 2:01
    Na outra metade, trabalho no Instituto
    Gustave Roussy, não sei se o conhecem.
  • 2:01 - 2:07
    É um instituto de luta contra o câncer,
    um dos maiores hospitais da Europa,
  • 2:07 - 2:10
    dedicado exclusivamente ao tratamento
    de pacientes com câncer.
  • 2:10 - 2:12
    Como sou cirurgião plástico,
  • 2:12 - 2:17
    meu trabalho é fazer a reconstrução
    dos seios após o câncer de mama.
  • 2:17 - 2:20
    É algo que gosto muito de fazer,
    pois permite que pacientes
  • 2:20 - 2:23
    que tiveram o corpo lesionado,
    às vezes mutilado pela doença,
  • 2:23 - 2:29
    readquiram a confiança, a feminilidade
    e a expectativa de qualidade de vida.
  • 2:29 - 2:32
    Portanto, meu trabalho
    era bem tradicional.
  • 2:32 - 2:37
    Até que, em novembro de 2014,
    um banco suíço teve uma ideia genial,
  • 2:37 - 2:40
    que mudaria completamente o que eu fazia.
  • 2:40 - 2:44
    O banco ofereceu ao Instituto
    Gustave Roussy o robô "Da Vinci".
  • 2:44 - 2:49
    É o robô cirúrgico
    mais avançado da atualidade.
  • 2:49 - 2:53
    Imaginem um monstro tecnológico:
    são quatro braços articulados,
  • 2:53 - 2:56
    manipulados por um cirurgião
    a partir de um console.
  • 2:56 - 2:58
    Vocês entendem o que quero dizer?
  • 2:58 - 3:00
    Duas manetes!
  • 3:00 - 3:01
    (Risos)
  • 3:01 - 3:05
    É um console de alta-definição,
    em três dimensões.
  • 3:05 - 3:09
    O robô reproduz exatamente
    os movimentos do cirurgião
  • 3:09 - 3:13
    e permite que sejam feitas intervenções
    que até então eram impossíveis às mãos.
  • 3:13 - 3:15
    Com uma precisão incrível,
  • 3:15 - 3:18
    ele também permite eliminar
    os tremores do cirurgião.
  • 3:18 - 3:20
    Coisas realmente inacreditáveis
    são feitas hoje com o robô.
  • 3:20 - 3:26
    É muito usado em urologia, na cirurgia
    de próstata, e na de abdômen.
  • 3:26 - 3:29
    E, como o diretor do hospital
    adora os cirurgiões plásticos,
  • 3:29 - 3:33
    ele nos disse: "Vocês estão autorizados
    a utilizar o robô uma vez por semana".
  • 3:33 - 3:35
    Ficamos muito contentes e empolgados.
  • 3:35 - 3:37
    "Muito obrigado, patrão!"
  • 3:37 - 3:39
    Mas o que faríamos com o robô?
  • 3:39 - 3:44
    Naquele época, ninguém no mundo tinha tido
    a ideia de utilizá-lo em cirurgia de mama.
  • 3:44 - 3:47
    Estava fora de questão
    desprezar aquela preciosidade.
  • 3:47 - 3:51
    Então, pensamos na mastectomia.
  • 3:51 - 3:54
    Quando se retira a mama,
    independentemente da técnica usada,
  • 3:54 - 3:57
    fica uma cicatriz permanente
    que mede de 10 a 20 centímetros,
  • 3:57 - 3:59
    no meio ou abaixo do peito.
  • 3:59 - 4:02
    E essa cicatriz, mesmo depois da melhor
    reconstrução de mama do mundo,
  • 4:02 - 4:04
    quando a paciente se olhar no espelho,
  • 4:04 - 4:07
    fará com que ela se lembre
    que teve um câncer.
  • 4:07 - 4:12
    E pensamos que, talvez com esse robô,
    pudéssemos diminuir o tamanho da cicatriz,
  • 4:12 - 4:14
    para três a quatro centímetros,
  • 4:14 - 4:18
    e não fazê-la no seio,
    mas ao redor dele, sob o braço.
  • 4:18 - 4:21
    Assim, quando a paciente se olhar
    no espelho, com o braço abaixado,
  • 4:21 - 4:23
    não verá a cicatriz da cirurgia.
  • 4:23 - 4:28
    Pensávamos que a reconstrução
    pudesse ser feita imediatamente,
  • 4:28 - 4:34
    ou seja, durante a cirurgia
    de retirada da mama.
  • 4:35 - 4:39
    Quando há uma novidade em cirurgia,
    antes de testá-la na primeira paciente,
  • 4:39 - 4:42
    é de bom tom ir
    ao laboratório de anatomia.
  • 4:42 - 4:44
    É melhor seguir esse conselho.
  • 4:44 - 4:45
    (Risos)
  • 4:45 - 4:48
    Então, começamos a analisar
    como realizaríamos essa cirurgia.
  • 4:48 - 4:53
    Sou a pessoa que vocês veem
    ao alto, à esquerda do console,
  • 4:53 - 4:56
    mas não podem ver
    que estava sorrindo de orelha a orelha.
  • 4:56 - 5:01
    Por quê? Porque rapidamente
    essa técnica se tornou possível, viável.
  • 5:02 - 5:03
    No laboratório de anatomia,
  • 5:03 - 5:06
    um procedimento cirúrgico
    que jamais tinha sido realizado,
  • 5:06 - 5:09
    é um trabalho em equipe,
    nunca estamos sozinhos.
  • 5:09 - 5:11
    Trabalhamos com o anestesista
    e com os enfermeiros,
  • 5:11 - 5:14
    nos certificamos da posição
    do robô e da paciente.
  • 5:14 - 5:17
    Até sacrificamos um de nossos estagiários
    na experiência e agradecemos a ele.
  • 5:17 - 5:19
    (Risos)
  • 5:19 - 5:21
    Tivemos que repetir
    esse procedimento outras vezes
  • 5:21 - 5:23
    para o dia que entraríamos em ação.
  • 5:23 - 5:28
    Por fim, estávamos prontos,
    fui ver o diretor e disse a ele:
  • 5:28 - 5:32
    "Encontramos um modo de utilizar o robô,
    estamos prontos para a primeira paciente".
  • 5:32 - 5:36
    Então, ele me disse que tinha esquecido
    de nos contar um pequeno detalhe.
  • 5:36 - 5:39
    Muito bem, o que poderia ser?
  • 5:39 - 5:42
    "Não temos autorização para usar
    o robô em cirurgia de mama.
  • 5:42 - 5:45
    É proibido usá-lo nesse tipo de cirurgia."
  • 5:46 - 5:49
    Foi a segunda vez na minha vida
    que me tiraram as manetes.
  • 5:49 - 5:51
    (Risos)
  • 5:52 - 5:54
    Mas, dessa vez, não deixaria
    que isso acontecesse.
  • 5:54 - 5:58
    Primeiro, porque tinha muito menos
    medo do diretor do que dos meus pais.
  • 5:59 - 6:01
    Segundo, porque estava
    convencido da importância
  • 6:01 - 6:03
    dessa tecnologia para as minhas pacientes.
  • 6:03 - 6:07
    Portanto, hoje, na França, quando
    se quer utilizar uma nova tecnologia
  • 6:07 - 6:10
    que não foi autorizada
    para um procedimento,
  • 6:10 - 6:12
    deve-se criar um estudo
    de pesquisa clínica,
  • 6:12 - 6:16
    indispensável para proporcionar
    toda a segurança aos pacientes.
  • 6:16 - 6:18
    Tivemos que preencher
    centenas de documentos,
  • 6:18 - 6:23
    vocês conhecem o governo francês,
    e levou meses para termos uma resposta.
  • 6:23 - 6:28
    Em novembro de 2015, obtivemos
    a autorização para operar 80 pacientes.
  • 6:28 - 6:30
    Faltava apenas um pequeno detalhe:
  • 6:31 - 6:35
    encontrar a primeira paciente
    que aceitasse se submeter à cirurgia.
  • 6:35 - 6:37
    Vou lhes contar sobre a consulta,
  • 6:37 - 6:41
    que acho que ficará gravada
    para sempre em minha memória,
  • 6:41 - 6:43
    com a paciente que entrou
    em meu consultório
  • 6:44 - 6:45
    e se sentou em frente a mim.
  • 6:45 - 6:49
    Ela tinha uma mutação genética
    de predisposição ao câncer de mama
  • 6:49 - 6:54
    e faria uma mastectomia preventiva
    para limitar o risco da doença.
  • 6:54 - 6:58
    É o mesmo tipo de cirurgia muito divulgada
    pela qual Angelina Jolie passou.
  • 6:58 - 7:02
    Expliquei a ela sobre o procedimento,
    sobre a cicatriz no meio ou sob o seio,
  • 7:02 - 7:04
    e, no final da consulta, eu lhe disse
  • 7:04 - 7:07
    que pensava em realizar a cirurgia
    com a utilização de um robô,
  • 7:07 - 7:11
    o que poderia ser benéfico para ela.
  • 7:11 - 7:15
    Ela me disse: "Muito bem, doutor,
    acho que já realizou essa cirurgia, não?"
  • 7:15 - 7:16
    (Risos)
  • 7:16 - 7:17
    "Bem, ainda não.
  • 7:17 - 7:19
    Se você concordar,
    será minha primeira paciente."
  • 7:20 - 7:24
    "Muito bem, você se especializou
    com outros cirurgiões experientes?"
  • 7:24 - 7:25
    "Bem, o problema é que até agora
  • 7:25 - 7:28
    ninguém ainda utilizou o robô
    na cirurgia de mama."
  • 7:29 - 7:34
    O fato de não deixar cicatriz
    sobre o peito a fez pensar bastante.
  • 7:34 - 7:37
    Sentimos que era algo
    realmente importante para ela.
  • 7:37 - 7:40
    Ela me deu uma resposta muito simples.
  • 7:40 - 7:43
    Ela me olhou nos olhos
    e simplesmente me disse:
  • 7:43 - 7:45
    "Doutor, confio totalmente em você.
  • 7:46 - 7:48
    Então, tudo bem. Vamos em frente!"
  • 7:49 - 7:53
    Ela se levantou, deixou meu consultório,
  • 7:53 - 7:56
    e é possível imaginar
    o que se passou na minha cabeça.
  • 7:56 - 7:59
    Tinha acabado de atender uma paciente
    que passaria por uma cirurgia
  • 7:59 - 8:03
    que eu nunca tinha realizado,
    da qual não estava totalmente seguro,
  • 8:03 - 8:08
    mas minha equipe tinha trabalhado
    durante semanas para realizá-la.
  • 8:09 - 8:13
    Foi quando o fracasso
    se tornou inconcebível.
  • 8:13 - 8:16
    A primeira cirurgia durou
    mais de sete horas.
  • 8:17 - 8:21
    Até hoje, realizei essa cirurgia
    mais de 140 vezes.
  • 8:21 - 8:23
    Ela dura menos de 90 minutos.
  • 8:24 - 8:27
    As pacientes vêm do mundo inteiro
    para se submeterem a essa técnica.
  • 8:27 - 8:32
    O fato de não deixar cicatriz no peito
    é algo muito importante para elas.
  • 8:32 - 8:35
    Cirurgiões do mundo todo
    vêm se especializar aqui.
  • 8:35 - 8:39
    Há pouco tempo, a primeira cirurgia
    foi realizada nos EUA, e outra no Brasil.
  • 8:40 - 8:42
    A boa notícia é que,
    após os bons resultados do estudo,
  • 8:42 - 8:46
    a empresa fabricante do robô
    solicitou uma autorização
  • 8:46 - 8:49
    para que essa técnica
    fosse utilizada em todo o mundo.
  • 8:50 - 8:54
    Esse é um exemplo de resultado,
    essa foto é anterior à cirurgia.
  • 8:54 - 8:57
    A paciente tem uma mutação genética
    de predisposição ao câncer.
  • 8:57 - 9:01
    Portanto, ela passaria pela mastectomia
    total e pela reconstrução mamária.
  • 9:02 - 9:04
    Vejam o resultado da cirurgia.
  • 9:04 - 9:08
    É esse tipo de resultado
    que devemos buscar hoje,
  • 9:08 - 9:10
    em termos de reconstrução mamária.
  • 9:10 - 9:15
    É uma cirurgia cada vez mais discreta,
    menos invasiva e menos mutilante,
  • 9:15 - 9:17
    que permite que a paciente
    volte às atividades normais
  • 9:17 - 9:21
    o mais rápido possível
    e que deixe a doença para trás.
  • 9:21 - 9:25
    A cicatriz fica distante do seio,
    embaixo do braço,
  • 9:25 - 9:28
    e mede entre três e quatro centímetros.
  • 9:30 - 9:31
    Concluindo,
  • 9:31 - 9:34
    não vou lhes falar
    sobre a importância de pensar além
  • 9:34 - 9:38
    ou que certas frustrações da infância
    talvez resultem em grandes projetos.
  • 9:38 - 9:39
    (Risos)
  • 9:39 - 9:42
    Vou lhes falar sobre superpoderes.
  • 9:42 - 9:47
    Um deles está em cada um de nós
    e é essencial para nossa evolução:
  • 9:48 - 9:53
    é a capacidade que temos
    de confiar em alguém.
  • 9:54 - 9:57
    Na minha vida, tive a sorte
    de encontrar super-heroínas:
  • 9:57 - 10:03
    todas as minhas pacientes que aceitaram
    se submeter à cirurgia robótica,
  • 10:03 - 10:04
    resultando nesse projeto.
  • 10:04 - 10:08
    A propósito, agradeço e dedico
    a elas esta palestra.
  • 10:08 - 10:13
    É preciso saber que, dentro de todo
    projeto, qualquer que seja a área,
  • 10:13 - 10:18
    às vezes apenas precisamos de uma pessoa,
    que talvez esteja entre vocês,
  • 10:18 - 10:22
    sentada à nossa frente,
    que nos olha nos olhos e diz:
  • 10:22 - 10:25
    "Então, está bem. Vamos em frente!"
  • 10:25 - 10:26
    (Aplausos)
  • 10:32 - 10:33
    Obrigado.
Title:
Cirurgia robótica: uma cirurgia mais humana? | Benjamin SARFATI | TEDxAnnecy
Description:

O robô cirúrgico permite realizar cirurgias mais precisas e menos invasivas para o paciente. Entretanto, não havia jamais sido utilizado em cirurgia de mama. Esta palestra fala sobre o nascimento dessa nova técnica muito promissora. Benjamin SARFATI trabalha no Instituto Gustave Roussy, um dos maiores centros da lutra contra o câncer na Europa, na reconstrução da mama após o câncer. Ele desenvolveu uma nova técnica cirúrgica que, com o auxílio de um robô, permite minimizar as sequelas da mastectomia.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
French
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
10:42

Portuguese, Brazilian subtitles

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