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No Discurso sobre...
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Os Quatro Estabelecimentos da Atenção Plena,
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na contemplação das formações mentais,
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ou seja, "contemplação da mente na mente,"
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diz-se o seguinte:
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"Quando a raiva se manifesta,
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um praticante sabe
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'Existe a formação mental da raiva.
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A formação mental da raiva está presente em mim.'
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Quando a formação mental do desejo sensual
se manifesta,
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um praticante sabe
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'A formação mental do desejo sensual
está presente em mim.'
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E, claro, com formações mentais
como a raiva ou o desejo,
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quando se manifestam, devemos reconhecê-las, sem dúvida.
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Reconhecer para transformar...
Abraçar e transformar, sem dúvida.
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Mas o sutra também diz,
"Quando não há formação mental de raiva,"
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temos de estar conscientes de que
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"a formação mental da raiva não está presente em mim."
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"Quando não há formação mental de desejo em mim,
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um praticante sabe,
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'a formação mental do desejo
não está presente em mim.'"
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Se lermos o sutra
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sem os olhos de um praticante,
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pensaremos, "Porque é que isto é tão repetitivo?"
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"Quando há desejo,
um praticante sabe que há desejo."
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"Quando não há desejo,
um praticante sabe que não há desejo."
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"Quando há raiva,
um praticante sabe que há raiva."
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"Quando não há raiva,
um praticante sabe que não há raiva."
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O sutra segue assim repetidamente.
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E temos a impressão
de que é muito redundante.
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Mas, na verdade, não é nada redundante!
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Nem uma única palavra do sutra é desnecessária.
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Quando não temos
a formação mental da raiva em nós,
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esse é exatamente o momento
em que temos muita felicidade.
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Mas nesse momento,
não nos sentimos felizes de todo.
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Só quando a formação mental da raiva se manifesta,
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é que sabemos, naquele momento,
que sofremos imensamente.
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Mas quando a raiva não está presente, tomamo-la como garantida.
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Não pensamos que isso seja felicidade.
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Assim, felicidade significa, antes de mais,
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a ausência de sofrimento.
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Paz significa a ausência de guerra.
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Quando temos desejo, sofremos imensamente.
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Mas quando não temos desejo em nós,
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sentimo-nos tão livres e em paz,
mas não valorizamos isso.
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Por isso, no sutra, lê-se, "Quando não há desejo,"
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sabemos, "'Em mim não há desejo.'"
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E temos de nos lembrar,
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"Querido eu, onde há desejo, há sofrimento.
Não te esqueças disso!"
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Compreendes?
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A frase "Não há desejo em mim,"
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significa "Querido eu, onde há desejo,
há definitivamente sofrimento."
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E graças a isso, podemos desfrutar e sentir felicidade
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com o nosso estado de não-desejo.
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Em Plum Village, costumamos falar
sobre ter dor de dentes.
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À meia-noite, à uma ou duas da manhã,
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de repente, os dentes doem imenso.
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E sabemos muito bem
que o dentista só abre às nove da manhã,
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por isso temos de sofrer até lá.
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Só então despertamos para o facto de que,
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"Não ter dor de dentes é bom."
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"Não ter dor de dentes é maravilhoso."
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"Não ter dor de dentes faz-nos felizes."
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Mas tantas vezes,
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quando não temos dor de dentes,
não nos sentimos felizes de todo.
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Agora, seguindo esse princípio,
devemos praticar assim:
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"Os meus dentes doem, e quando isso acontece,
sei que tenho uma dor de dentes."
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E quando não tenho dor de dentes,
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devo reconhecer para mim mesmo:
"Não tenho nenhuma dor de dentes."
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Quando sei que não tenho dor de dentes,
sinto-me feliz imediatamente.
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E o facto de não ter dor de dentes
só pode ser reconhecido
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em contraste com ter uma dor de dentes.
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Da mesma forma, a paz só pode ser reconhecida
em contraste com a guerra.
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Assim, o sofrimento e a felicidade
estão intrinsecamente ligados.
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Sem sofrimento,
a felicidade nunca será reconhecida.
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E temos essa experiência,
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temos...
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memórias de dor e sofrimento.
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Elas são muito importantes.
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Se já sofreste imensamente,
se já passaste por muito sofrimento,
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essa experiência é preciosa.
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Porque, graças a isso, podes reconhecer
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os momentos de felicidade
que podes absolutamente ter.
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Por isso, um praticante é capaz de cultivar a felicidade.
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Apenas recordando
a dor e o sofrimento do passado,
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é que alguém pode já tocar
a felicidade no momento presente.
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Não é assim tão difícil.
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Assim,
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cada momento da nossa vida diária
pode ser um momento de felicidade,
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se colocarmos esse momento
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em contraste
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com o sofrimento do passado
e o sofrimento do presente,
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que acontece em nós e à nossa volta.
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E quando temos tristeza ou dor,
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se soubermos como lidar com isso e abraçá-lo,
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embora a dor ainda esteja presente, já não sofremos.
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Porque damos conta de que...
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podemos fazer algo para lidar com o nosso sofrimento.
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Há aqueles que estão em sofrimento, mas...
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só conseguem ficar ali sentados sem nada fazer.
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Apenas permitem que o sofrimento os domine,
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os consuma e os esmague.
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Mas, como praticantes,
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sabemos que podemos fazer algo a respeito.
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E podemos dizer: "Esta é a lama de que realmente preciso
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para reconhecer e cultivar as minhas flores de lótus."
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E assim que temos esta compreensão,
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a situação muda imediatamente.
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Portanto, um praticante deve ser capaz
de gerir a sua própria dor e sofrimento.
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E, uma vez que sabemos como
gerir a nossa dor e sofrimento,
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sabemos como cultivar a felicidade.
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Elas estão intrinsecamente ligadas.
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Este domingo, estudaremos o...
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Dhammapada.
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Dhammapada.
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Capítulo 39. O último capítulo.
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Este sutra também fala sobre felicidade.
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[Thay faz uma vénia]
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[Sino]
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[Sino]
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[Sino]
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[Pequeno sino]