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Gary Cooper e Barbara Stanwyck
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"Um João Ninguém"
de Frank Capra
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Banda Sonora de
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Direção de
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(Choro de bebés)
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[1862 — The Bulletin
Uma imprensa livre significa um povo livre]
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[O novo Bulletin]
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[Diretor]
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(Assobio)
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(Assobio) (Assobio) (Assobio)
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Alô, D.B? Estou a fazer a limpeza.
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Ok.
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Mr. Connell, não posso ficar
sem trabalho neste momento,
-
nem mesmo por um dia.
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Tenho mãe e duas irmã pequenas...
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Mais telegramas de felicidades.
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Sabe como é.
Tenho que trabalhar, não é?
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Lamento. Mandaram-me para aqui
para fazer a limpeza,
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já lhe disse que não podia
continuar com a sua coluna.
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É lavana e rendas velhas.
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Mande entrar as outras pessoas.
-
Eu digo-lhe o que vou fazer.
-
Recebo 30 dólares por semana.
Aceito por 25, ou 20, se necessário.
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- Faço tudo o que me mandar.
- Não é um questão de dinheiro.
-
Queremos aumentar a tiragem.
-
Pessoas que causem sensação,
provoquem discussões.
-
Eu posso fazer isso, conheço a cidade
como as minhas mãos.
-
Por favor, dê-me uma hipótese.
-
Entrem, entrem!
-
O caixa já tem o seu cheque.
-
Quem são estas pessoas?
-
Gibbs, Crawley,
Cunningham, Giles.
-
Espere aí!
-
Não se esqueça da última coluna
antes de ir buscar o seu cheque.
-
Faltam-lhe agumas linhas nesta coluna.
-
Um ricaço como D.B. Norton compra
um jornal e corta 40 cabeças.
-
- Também foi despedida?
- Fui.
-
Você também?
-
Oh, Joe, lamento muito, amigo.
-
Vamos deitar abaixo este edifício.
-
Antes disso, é melhor acabar esta coluna.
-
"Lavanda e rendas velhas".
-
Espere, Joe, espere.
-
Querem sensações fortes, hem?
-
Ok.
-
(Som da máquina de escrever)
-
Pronto.
-
"Recebi esta carta hoje de manhã.
-
É um comentário sobre aquilo
a que chamamos 'um mundo civilizado':
-
Querida Miss Mitchell, fui despedido
do meu emprego há quatro anos.
-
Desde então, não arranjei trabalho.
-
A princípio, fiquei irritado
com a administração
-
porque é por causa da porcaria da política
que temos tanto desemprego.
-
Mas, olhando à minha volta,
parece que estão todos fritos.
-
Como protesto, vou suicidar-me,
saltando do telhado da Câmara.
-
Assinado: um cidadão americano
desgostoso: John Doe".
-
Nota do editor:
"Na opinião desta coluna
-
quem anda a saltar dos telhados
são as pessoas erradas".
-
Ann, isto é inventado, não é?
-
Não interessa, avança.
(Gargalhadas)
-
... é por causa da porcaria da política
que temos tanto desemprego.
-
Cá está. Um ataque aberto
de D.B. ao Governador.
-
Calma, Jim, é apenas uma carta
enfiada numa coluna.
-
Não, tenho a certeza. É o Norton.
-
Bom dia, meus senhores.
Vieram muito cedo.
-
Governador, já viu o novo Bulletin?
-
Já, trouxeram-mo com o pequeno almoço.
-
- Jim pensa que é do D.B. Norton.
- Claro que é.
-
Vá lá, Jim. Aquela coisinha?
-
D.B. Norton faz as coisas em grande.
-
É um ataque aberto contra si, Governador.
Acredite em mim.
-
Para que é que ele comprou um jornal?
-
Porque é que ele contratou
um editor de primeira como o Connell?
-
Ele está na idústria do petróleo,
Governador, quer dar cabo de si.
-
Ok, Jim. Vê lá se tens uma congestão.
-
Eu vou averiguar.
-
Sim, Governador?
-
Por favor, ligue-me a Spencer,
do Daily Chronicle.
-
Sim, Governador, já vi,
Acho que é uma carta inventada.
-
Esse truque já tem barbas.
-
Ok. Vou pôr o Mayor
e a Câmara do Comércio atrás deles.
-
Passe o telefone ao Mayor Lovett.
-
Lamento, mas o Mayor
está a falar no outro telefone.
-
Sim, eu sei, Mrs. Brewster, é um fenómeno
terrível na nossa cidade.
-
-Já recebi uma dúzia de chamadas.
- É Spencer, do Chronicle.
-
Um instante.
-
Sim, Mrs. Brewster, estou a ouvir.
-
Insisto em que arranje imediatamente
um trabalho para este John Doe.
-
Se não fizerem nada,
chamo a Auxiliary toda
-
e a Junior Auxiliary, para uma reunião
e veremos...
-
Sim, Spencer? Quem?!
-
O Governador?
-
Então e eu? Ele vai saltar do meu edifício!
E eu quero ser reeleito!
-
O quê? Ligue para Connell do Bulletin.
-
Porquê, ele é capaz de me passar...
-
- O que foi aquilo?
- O quê?
-
- A janela. Passou qualquer coisa a voar.
- Não vejo nada.
-
Não fique aí parado, idiota.
Vá ver. Abra a janela.
-
Porque é que ele
foi escolher o meu edifício?
-
Há alguma multidão na rua? Não, senhor.
Talvez tenha ficado preso num parapeito. Veja outra vez.
-
- Deve ter sido uma gaivota.
- Uma gaivota?
-
O que é que uma gaivota
anda a fazer em volta da Câmara?
-
- É um mau presságio, não é?
- Não a gaivota é uma ave simpática.
-
Está tudo bem, Mrs. Brewster.
É apenas uma gaivota.
-
Ainda não aconteceu nada. Estou atento.
-
Não se preocupe. Deixe isso comigo.
-
Spencer, eu depois ligo-lhe.
-
Alô, Connell?
-
Fala... O que é que está a fazer?
Fala o Mayor.
-
Sim, Mayor Lovett.
Quantas vezes é que me vai ligar?
-
Tenho toda a gente,
mais o irmão e a irmã à procura dele.
-
Quer ver a caixa que vou publicar?
-
"Um apelo a John Doe,
Pense bem, John.
-
A vida petcode ser bela, diz o Mayor.
-
Se precisa de emprego,
contacte o editor deste jornal, etc. etc.
-
Ok, Mayor. Eu digo-lhe
logo que tenha alguma coisa.
-
O quê?
-
Bem, baixe os estores.
-
Fui a casa de Miss Mitchell.
Ela está muito em baixo.
-
- Onde é que ela está?
-
- Ela é que sustenta
a mãe e duas crianças, não sabia?
-
- Encontrou-a?
- Não, a mãe dela está preocupada.
-
Ela disse que ia apanhar uma piela,
quer dizer, a rapariga.
-
Vá procurá-la e encontre-a.
-
Não lhe disse o melhor.
O marido é o Dr. Mitchell, conhece-o?
-
Salvou a vida da minha mãe
e não levou dinheiro por isso.
-
Ok, chefe. Vou procurá-la.
-
Com os diabos, Comissário.
Dou-lhe 24 horas.
-
Ok, Hawkshaw, agarre num lápis.
Cá vai mais uma vez.
-
Altura, 1,65 m, olhos castanhos,
cabelo castanho...
-
e as pernas mais bonitas...
-
que já entraram neste escritório.
-
- Queria ver-me?
- Não.
-
Tenho o exército e a marinha
inteiros à sua procura.
-
porque é um jogo
que jogamos todos os dias.
-
Lembro-me muito bem
de que fui despedida.
-
É verdade, mas ficou com uma coisa
que pertence a este jornal.
-
- Que coisa é?
- A carta.
-
- Que carta?
- A carta de John Doe.
-
A cidade está numa polvorosa,
temos que o encontrar. É a única pista.
-
- Não há nenhuma carta.
- Vamos arranjar um perito em carligrafia...
-
- O quê?!
- Não há carta nenhuma.
-
- Diga lá isso outra vez.
- Fui eu que a inventei.
-
Você é que a inventou.
-
Você disse que queria sensação!
-
Sabe que há nove empregos
à espera desse tipo?
-
Há 22 famílias que lhe querem
dar pensão de graça?
-
Há cinco mulheres que querem casar com ele
e o Mayor está disposto a adotá-lo?
-
- Ligaram da morgue. Uma rapariga...
- Cale-se!
-
Ann! Porque é que não...?
-
Hank! Só há uma coisa a fazer.
Largue tudo e depressa.
-
Publique uma notícia.
Diga que John Doe esteve aqui
-
e lamenta ter escrito a carta...
-
Certo. Veio aqui e eu convenci-o
a mudar de ideias.
-
"Editor do Bulletin
salva a vida de John Doe!" Perfeito.
-
Vou pedir ao Ned para a escrever.
-
- Ned, tenho uma notícia...
- Espere aí.
-
Oiça, seu grande génio de jornalista.
-
Você acaba de injetar um pouco de vida
neste jornal moribundo.
-
Toda a cidade está curiosa
por causa de John Doe e, bum!
-
Você vai enterrá-lo.
-
Há potencial suficiente neste homem
para provocar a falta de tinta.
-
- Em que homem?
- John Doe.
-
- Que John Doe?
- O nosso. O que eu inventei.
-
Oiça, génio. Repare.
-
Suponha que um John Doe entrava
neste gabinete. O que é que fazia, hem?
-
Arranjava-lhe um emprego e esquecia tudo, hem?
-
Eu cá não, eu fazia um acordo com ele.
-
Um acordo?
-
Não se deixa cair uma bomba para vender
batatas como se fosse uma batata quente.
-
Isto dá para uns meses.
Sabe o que é que eu faria?
-
Entre hoje e o Natal, quando ele vai saltar,
eu publicava uma notícia diária.
-
A começar pela sua infância,
os estudos, o primeiro emprego.
-
Um jovem de vistas largas,
perante um mundo caótico.
-
O problema do homem médio,
são todos John Does.
-
Depois, chega o drama.
Fica desencorajado.
-
Descobre que o mundo tem pés de barro,
os seus ideais desabam.
-
O que é que ele faz? Decide suicidar-se
-
como protesto
contra o estado da civilização.
-
Pens no rio, mas não.
Tem uma ideia melhor:
-
A Câmara. Porquê?
Quer atrair as atenções.
-
Quer aliviar o coração
e é a única maneira de ser ouvido.
-
- E depois?
- E depois?
-
Escreve-me uma carta
e eu aperto com ele.
-
Ele abre-me a sua alma.
A partir de agora, citamos:
-
"Protesto", de John Doe.
-
Protesta contra todos os males do mundo.
-
A ganância, a luxúria, o ódio, o medo.
Todas s desumanidades de homem para homem.
-
Vão começar as discussões.
Deverá suicidar-se ou não?
-
As pessoas vão escrever, implorando-lhe.
Mas não!
-
John Doe vai manter-se inflexível.
-
Na véspera do Natal, a quente ou a frio,
ele aparece, está a ver?
-
Muito bonito, muito bonito, Miss Mitchell.
-
Mas importa-se de me dizer
quem aparece na véspera de Natal?
-
- John Doe.
- Que John Doe?!
-
O que nós contratarmos
para essa tarefa, cabeça de abóbora.
-
Espere aí. Deixe ver se o meu miserável
cérebro percebeu bem.
-
Contratamos uma pessoa para dizer
que vai suicidar-se na véspera do Natal?
-
Agora já está a apanhar a coisa.
-
- Quem, por exemplo?
- Qualquer um. Pode ser o Beany.
-
Claro. Quem, eu? Saltar dum...
-
Em qualquer altura, menos no Natal.
Sou supersticioso.
-
Faça-me um favor. Vá-se embora,
case-se, tenha bebés, mas...
-
mantenha-se longe do mundo jornalístico.
-
É melhor ter essa notícia à mão.
Está a fazer-se tarde.
-
Julgava que você era um tipo esperto.
-
Se estivessem a chover notas de 1000 dólares,
você andava à procura de um cêntimo, perdido algures.
-
Vida a minha! A perder tempo a ouvir esta louca.
-
Olhem o que o Chronicle anda a publicar sobre John Doe.
Dizem que é tudo falso.
-
-
"A história de John Doe, jornalismo amador,
-
É tão falso que é para admirar
que alguém a leve a sério."
-
- O que é que pensa destes tipos?
- Ótimo. Ótimo.
-
Agora caia nas mãos deles. Avance.
-
Diga que John Doe apareceu e cancelou tudo.
-
Sabe bem o que isso vai parecer.
-
- É tudo, Ned. Obrigado.
- Certo.
-
Jornalismo amador, hem?
-
Ese bando de aprendizes.
-
- Eu podia ensinar-lhes mais...
- Chefe! Veja isto.
-
- O que é?
- Olhe.
-
O que é que eles querem?
-
- Estão a dizer que escreveram a carta.
- Sim, fui eu que a escrevi, chefe!
-
Todos eles escreveram a carta.
-
Diga-lhes que esperem.
Um deles é o seu John Doe.
-
Estão desesperados e farão tudo
por uma chávena de café.
-
Escolha um e pode fazer
o Chronicle engolir o que disse.
-
Estou a começar a gostar disto.
-
Se quer saber, Hank,
está a brincar com dinamite.
-
Não, a rapariga tem razão.
-
Não podemos deixar
que o Chronicle se ria de nós.
-
Agora temos que arranjar um John Dow.
-
Jornalismo amador, hem?
Eu mostro-lhes.
-
Claro, e eles não vão descobrir a verdade,
-
porque, naturalmente, eu não abro a boca.
-
- Ok, está de volta ao seu lugar.
- Mais um bonus.
-
- Que bónus?
- Oh, o bónus de 1000 dólares...
-
que o Chronicle me ia pagar
por este documento:
-
"Eu, Ann Mitchell, certifico que a carta
de John Doe foi criada por mim..."
-
- Eu sei ler, eu sei ler.
- Desculpe.
-
Acha que isto vale 1000 dólares?
-
O Chronicle havia de achar
que era muito barato.
-
Toma e embrulha, incluindo uma pistola.
-
Ok, está combinado.
Vamos ver os candidatos.
-
O que escolhermos terá que ser
o homem médio, comum,
-
o americano típico,
que saiba manter a boca fechada.
-
Mostre-me um americano que consiga
manter a boca fechada e eu como-o.
-
Beany, traga-me um de cada vez.
-
Foi você que escreveu a carta a Miss Mitchell?
-
- Não, não fui eu.
- Então o que é que está aqui a fazer?
-
O jornal diz que há alguns empregos.
Talvez sobre algum.
-
Tem estudos?
-
Tenho. Um pouco.
-
O que é que faz quando trabalha?
-
- Era lançador.
- Beisebol?
-
Sim, até o meu braço ficar magoado.
-
- Onde é que jogava?
- Ligas de segunda ordem, quase sempre.
-
- Família? Tem família?
- Não.
-
- Está só de passagem, hem?
- Estou.
-
Eu e um amigo meu. Ele é suplente.
-
- Parece bem.
- É perfeito. Um jogador de beisebol.
-
O que é que podia ser mais americano?
-
- Seria bom se tivesse família.
- Assim é menos complicado.
-
Olhe para aquela cara. É ótimo.
-
Vão acreditar nele. Vamos.
-
- Como é que se chama?
- John Willoughby
-
John Willoughby, o Comprido,
como me chamavam no beisebol.
-
Quer ganhar dinheiro?
-
Quero... talvez.
-
Está disposto a dizer que escreveu
aquela carta e manter essa afirmação?
-
Estou a perceber.
-
Sim. Talvez.
-
É o nosso homem. Foi feito de encomenda.
-
Não sei, não me parece ser
um tipo que se encaixe.
-
Quando estamos desesperados por dinheiro,
fazemos muitas coisas.
-
Digo-lhe que é o nosso homem,
Ele vai desmaiar.
-
Vá buscar água, depressa.
-
Despache-se. Hop.
-
Venha para aqui. Sente-se.
-
- Sente-se bem?
- Sim, estou bem.
-
Quantos são? Seis?
-
Bastante esfomeado, não é?
-
Na minha opinião, esta história de John Doe é muito estranha.
-
Ninguém pediu a tua opinião.
-
Tentar melhorar o mundo, saltando dum edifício.
-
Não podes melhorar o mundo se os edifícios saltassem em cima de ti.
-
Não liguem ao Coronel. Ele odeia as pessoas.
-
Gosta de ti o suficiente para andar contigo.
-
Isso é porque ambos tocamos gaita.
-
Encontrei-o num vagão há uns anos.
-
Eu andava a vaguear com a minha harmónica e ele veio ter comigo.
-
Nunca mais o larguei.
-
- Ok, rapazes, ele está aqui.
- Não, não podem tirar-lhe fotografias
-
a comer uma sanduíche
e de barba por fazer.
-
- Ele vai saltar de um edifício.
- Não é por não ter emprego.
-
Isso não são notícias. Ele vai saltar
por uma questão de princípio.
-
Talvez tenha razão.
-
Vamos lavá-lo, pô-lo num hotel
com um guarda-costas. Manter o mistério.
-
- Falou com Mr. Norton?
- Ele acha que é terrífico.
-
Quer que a gente faça uma fogueira
debaixo de cada fotografia no estado.
-
- Ótimo, é esse o contrato?
- É.
-
- O que é que aquele está aqui a fazer?
- É amigo dele. Tocam em dueto.
-
Um dueto? Podemos confiar nele?
-
Eu confio.
-
Você confia nele, hem?
Suponho que ele também confia em si.
-
Não se preocupe. Ele é de confiança.
-
Ok, só não queremos
mais de cem pessoas metidas nisto.
-
Primeiro, quero uma cópia exata
da carta de John Doe
-
escrita pelo seu punho.
-
Já a tenho. Está aqui.
-
Está bem.
-
Agora, assine este acordo.
-
Dá-nos a história exclusiva, sob o seu nome, dia a dia.
-
a partir de agora e até ao Natal.
-
No dia 26 de dezembro, recebe um bilhete de comboio
-
para sair da cidade.
-
O Bulletin paga para tratar do seu braço. É isso que quer, não é?
-
É, mas tem que ser o endireita Brown.
-
Ok. seja o endireita Brown. Aqui, assine aqui,
-
Entretanto, tem aqui 50 dólares para despesas.
-
Está ótimo. Beany?
-
Encarrega-te dele. Arranja uma suite no Imperial e guarda-costas.
-
E roupas novas.
-
- É melhor despiolhá-lo?
- Sim, claro.
-
-A ambos?
- Sim, mas não os percas de vista.
-
- Beany, um fato cinzento, hem?
- Está bem.
-
Ok, meus amigos.
-
Descontrai-te, John Doe.
-
E você, comece a martelar na máquina de escrever.
-
Oh, isto é fantástico!
Nenhuma responsabilidade da nossa parte.
-
São só declarações de John Doe e lavamos as nossas mãos.
-
Antes de deitar foguetes,
não se esqueça do cheque dos 1000.
-
Está bem.
-
Ok, meus amigos, vocês ficam lá fora e ninguém entra.
-
Vocês dois ficam aqui.
-
Hei, muito elegante, hem?
-
- Não penses que eu vou ficar aqui.
- Claro que vais.
-
Não. Para mim, chega ficar debaixo da ponte, onde dormimos a noite passada.
-
- Onde é que ponho esta bagagem?
- Meta-a no quarto.
-
Dê cá a minha. Eu não fico aqui.
-
Nós íamos para a região do rio Columbia
-
antes desta história do John Doe. Lembras-te disso, não lembras?
-
Claro que me lembro.
-
Os teus ouvidos deram estalidos quando subimos no elevador? Os meus deram.
-
Oh John, digo-te uma coisa. Isto não é nada bom.
-
Vais habituar-te a muitas coisas que te vão destruir,
-
Essas 50 notas no teu bolso já começaram a fazer efeito.
-
E não me venhas com isso.
-
Deixa de resmungar. Vou tratar do meu braço.
-
Olha, uns charutos que o chefe nos mandou. Tirem um,
-
- Coronel?
- Não.
-
Aposto que nem os jogadores principais não gozam duma coisa destas.
-
Ponha-se à vontade. Um jornal?
-
Não leio jornais e também não oiço rádio.
-
O mundo é barbeado por um barbeiro bêbado. Não preciso de ler.
-
Já tenho visto gajos como tu mergulhar.
-
Gajos que nunca tiveram uma preocupação,
arranjaram algum dinheiro e ficaram idiotas.
-
A primeira coisa que acontece a um gajo...
-
- Dá uma vista de olhos ao quarto.
- Não.
-
A primeira coisa que acontece é querer ir a restauranres
-
comer saladas, bolinhos e chá.
-
O que é que esse tipo de comida faz ao nosso sistema?
-
O que o parvo quer a seguir, é um quarto.
-
Um quarto com aquecimento,
-
com cortinados e tapetes.
-
Vai amolecendo até já não conseguir dormir se não tiver uma cama.
-
Não te preocupes, Coronel.
Não são 50 dólares que me vão arruinar.
-
Já vi muitos tipos começarem com 50 dólares
-
e acabarem com uma conta no banco.
-
Já agora, qual é o problema com uma conta no banco?
-
Eu explico-te, John, quando tiveres uma conta no banco,
-
eles têm-te na mão. Sim, amigo, têm-te na mão.
-
- Quem é que o tem na mão?
- Os hilotas.
-
Quem?
-
Hei! Aquela é a Câmara, de onde eu vou saltar, supostamente.
-
Ainda é mais alta do que aqui.
-
- Quem é que o tem na mão?
- Os hilotas.
-
- Uuuh!
- Espere aí.
-
Não pode saltar antes da véspera de Natal!
-
Quer-me meterem sarilhos?
-
Se isso o mete em sarilhos, eu faço-lhe um favor, não salto.
-
Quando te tiverem na mão, nunca mais podes ser um coelho na estrada.
-
Quem é que vai tê-lo na mão?
-
Isto aqui é um daqueles sítios em que tocamos uma campainha se queremos qualquer coisa?
-
- Sim, pode usar o telefone.
- Sempre quis fazer isso.
-
Hei, Doc, olha.
-
Diga-me lá outra vez. Quem é que o vai ter na mão?
-
Os hilotas.
-
Quem é que são esses?
-
- Oiça, já alguma vez esteve falido?
- Quase sempre.
-
Ok.
-
Vai a caminhar, sem um cêntimo, livre como o vento, ninguém o chateia.
-
Passam por si centenas de coisas, de todo o tipo,
-
sapatos, chapéus, automóveis, rádios, móveis, tudo.
-
Todas as pessoas são simpáticas, mas deixam-no sozinho.
-
Acha isso bem?
-
Depois, arranja alguma massa e o que é que acontece?
-
Todas aquelas pessoas simpáticas, doces, amorosas,
-
tornam-se hilotas. Um monte de heels!
-
Começam a colar-se. A tentar vender-nos coisas.
-
Têm garras compridas e estrangulam-nos.
-
Nós esbracejamos e agachamo-nos
-
e vociferamos, mas não temos hipóteses.
-
Eles têm-nos na mão.
-
Quando damos por isso, temos coisas. Um carro, por exemplo.
-
A nossa vida começa a ficar cheia de coisas.
-
Arranjamos taxas de licenças, e chapas de matrículas,
-
gasoline, impostos e seguros,
-
e cartões de identificação e cartas
-
e contas e pneus carecas e amolgadelas
-
e bilhetes de trânsito e polícias motorizados
-
e tribunais, advogados, multas e um milhão de outras coisas.
-
O que é que acontece?
-
Deixamos de ser o tipo livre e feliz que éramos.
-
Temos que arranjar dinheiro para pagar essas coisas todas.
-
Por isso imitamos o que os outros fazem
-
e pronto, passamos a ser hilotas também.
-
Ganhou, Coronel,
tome lá cinquenta.
-
- Saia e gaste-os.
- Pode apostar. O mais depressa que possa.
-
Vou comprar comida enlatada,
uma cana de pesca, o resto vou deitar for a.
-
Deitar fora?
-
Arranje-me uma luva de beisebol.
Tenho que praticar.
-
Olhem, ele vi deitá-los fora.
Podia dar-me alguns.
-
Venha cá, seu hilota.
-
Mande vir cinco hamburgueres,
com todos os acompanhamentos.
-
Cinco gelados
-
e cinco fatias de tarte de maçã.
-
Não, de maçã. Com queijo.
-
Sim, obrigado.
-
Olá!
-
Bem, bem.
-
Olhem quem aqui está.
-
Tudo em ordem, Miss Ann.
-
Oh, sim. Vamos.
-
Vejamos. Queremos ação com estes fotos.
-
Ação?
-
Ação!
-
Não, não. Este homem vai saltar de um telhado.
-
Esperem um instante. Deixe-me arranjar-lhe o cabelo. Sente-se.
-
Pronto, assim está melhor.
-
Sabem, ele tem uma cara simpatico, não tem?
-
Pois tem, é bonito!
-
Sente-se. Calma, idiota.
-
Agora, uma expressão séria.
-
- Não posso. Sinto-me muito bem.
- Vá lá, isto é a sério.
-
Você é um homem desgostoso com toda a civilização.
-
- Com toda?
- Claro, você está zangado com o mundo.
-
- Um tipo rabugento, hem?
- Sim.
-
Não, não!
-
Não
-
Oiça...
-
Não tem que ???
-
- Com estes tipos a olhar.
- Esqueça esses tipos.
-
Levante-se.
-
Vejamos como se porta quando protesta.
-
- Contra o quê?
- Contra qualquer coisa, proteste apenas.
-
Estou tramado.
-
Oiça, eu sou o árbitro.
-
Você marca um golo, bem metido e eu anulo-o.
-
- O que é que você faz?
- Você anula-o, hem?
-
Porque é que não o validou?
Cabeça de burro! ???
-
Apanhe-o, Eddy. Apanhe-o.
-
Extra! Extra!
-
Leiam tudo! Extra!
-
Não me interessa de quem é o retrato que eles estão a publicar.
-
Continuo a dizer que este John Doe é um mito.
-
Podem citar o que eu digo.
-
Vou insistir que ele seja detido para um interrogatório.
-
Sabem tão bem como eu que tudo isto
-
está a ser cozinhado por um homem manhoso
-
com um objetivo manhoso.
-
Mr. D.B. Norton.
-
Mr. Connell e Miss Mitchell estão em casa.
-
Ah, estão? Ok, venham.
-
Pessoalmente, acho que é uma estupidez abandona isto agora.
-
O correio dos fãs é de milhares.
Está a avançar como um incêndio numa casa.
-
De que é que tem medo, Connell?
A tiragem duplicou.
-
Mas está toda a gente irritada,
-
Andam a publicar anúncios. O Governador está a iniciar um processo de calúnia.
-
Toda a gente sabe que ele é uma invenção e insistem em conhecê-lo.
-
Querem vê-lo? Nós vamos deixá-los escutá-lo.
-
Você tem uma estação de rádio. Porque é que não o põe no ar?
-
Tenha cuidado com esta senhora, D.B., ela vai pô-lo maluco.
-
Não podemos deixar que eles comecem a apertar este amador.
-
Não sabemos o que aquele maluco pode fazer.
-
Fui lá ontem, ele estava em cima da mesa com uma cana de pesca,
-
a apanhar moscas.
-
Tirem-no da cidade antes que esta coisa expluda na nossa cara.
-
Faça isso e sera tão pateta quanto ele. Desculpe.
-
- Você arranjou uma fonte de receita.
- Sim, reconheço...
-
mas também é um lucro inesperado para Mr. Norton que quer entrar na política.
-
Não foi por isso que comprou o jornal, para chegar a muita gente?
-
Ponha John Doe no ar e vai chegar a 130 milhões.
-
Ele pode dizer tudo o que quiser.
-
Esqueça o Governador e o Mayor e toda essa arraia miúda.
-
Isto pode despertar o interesse nacional.
-
Se ele aqui o consegue, pode consegui-lo em todo o país.
-
E será o senhor quem puxará os cordelinhos, Mr. Norton.
-
Trate de arranjar tempo na radio.
-
- D.B. ...
- Logo que possível.
-
Ok. Eu só entrei para me aquecer.
-
Venha, toca a andar.
-
Não vá ainda. Quero falar consigo.
-
Sente-se.
-
Esse John Doe. A ideia foi sua, não foi?
-
Foi, sim senhor.
-
- Quanto dinheiro recebe?
- 30 dólares.
-
30 dólares.
-
Bem, o que é que pretende? Quer dizer...
-
- Quer uma carreira jornalítica?
- Dinheiro.
-
Dinheiro. Ainda bem que oiço alguém confessar isso.
-
Pode escrever um discurso para a rádio para aquele tipo ler?
-
- Claro que posso.
- Faça isso e dou-lhe 100 dólares por semana.
-
- 100 dólares!
- Só para começar.
-
Joque bem as suas cartas e nunca mais se preocupará com dinheiro.
-
Eu bem sabia.
-
Sempre que há uma mulher bonita por aí...
-
Este é o meu sobrinho, Ted Shelton.
Miss Mitchell.
-
- Como vai?
- Como vai?
-
Dou-te folga, Casanova. Arranja um carro para Miss Mitchell ir para casa.
-
Está sempre a ler os meus pensamentos.
-
Obrigada por tudo.
-
E, Miss Mitchell,
-
a partir de agora, é melhor trabalhar diretamente comigo.
-
Certamente.
-
- Julgava que vocês estavam a dormer.
- Queremos dar as boas noites.
-
Suas marotas, só estão a fazer tempo.
-
Vamos, meninas. Já passa da hora de dormer.
-
Oh, está bem.
-
Vamos, vamos.
-
Se o Scootch me vê, estou feita.
-
Nunca conseguirei fazer este discurso.
-
Consegues,sim, querida Ann. Tu és muito inteligente.
-
Sim, eu sei. De que é que estás à procura?
-
A tua bolsa. Preciso de dez dólares.
-
Para quê? Dei-te cinquenta outro dia.
-
Eu sei, mas Mrs. Burke teve o bebé ontem. Quatro quilos e meio.
-
Não havia nada lá em casa.
-
Então, chegou a senhora do Cofre da Comunidade.
-
E os 50 dólares foram-se. Para quem são os 10 dólares?
-
- Os Websters.
- Os Websters.
-
Lembras-te daquelas pessoas amorosas que o teu pai costumava tratar?
-
Pensei que lhes podia comprar algumas coisas de mercearia.
-
Ann, é uma pena que aquelas pobres...
-
Tu és maravilhosa, tal como o pai também era.
-
Já te esqueceste que há umas semanas não tínhamos que chegasse para comer?
-
Mas essas pessoas precisam tanto e agora nós temos abundância.
-
Se estás a falar dos 1000 dólares, esquece. Já praticamente sumiram.
-
Nós devíamos a toda a gente na cidade.
-
Tens que deixar de dar dinheiro a toda a gente.
-
Oh, querida Ann.
-
Desculpa, Mãe. Não me ligues.
-
Acho que ando muito preocupada com tudo isto.
-
Aqui estou eu com uma grande oportunidade para chegar a qualquer parte
-
para te dar segurança duma vez por todas e estou encalhada.
-
Se eu conseguir acabar isto, Mrs. Burke pode ter seis bebés.
-
- O discurso que estás a escrever?
- Sim. Não consigo que saia.
-
Criei uma pessoa que vai suicidar-se por uma questão de princípio.
-
Milhares de pessoas vão ouvi-lo pela rádio,
-
e se ele não disser qualquer coisa sensacional,
-
não serve de nada.
-
Não sei que tipo de discurso é que vais escrever
-
mas pelas amostras que já li, acho que ninguém vai ouvir.
-
O quê?
-
Há tantos discursos politicos com queixas.
-
As pessoas estão cansadas de ouvir desgraças e desespero na rádio.
-
Se queres que ele diga alguma coisa,
-
porque não arranjas uma coisa simples e real, com alguma esperança?
-
Se o teu pai estivesse vivo, ele saberia.
-
Pois.
-
O pai havia de saber.
-
Espera aí.
-
Isto é o diário do teu pai, Ann.
-
Do pai...?
Não sabia que ele tinha um diário.
-
Chega para 100 discursos.
-
Coisas que as pessoas deviam escutar hoje em dia.
-
Tem cuidado com ele, ouviste?
-
Sempre me ajudou a manter o teu pai vivo.
-
Claro que vou, Mãe.
-
Queremos vê-lo!
-
Esperem aí, John Doe não quer dar autografos.
-
- O que é que faz durante o dia todo?
- O que é que faz durante o dia todo?
-
- Está a escrever as suas memórias.
- Por favor!
-
Lamento, minha senhora. Não pode ver Mr. Doe. Ele quer estar sozinho.
-
Não, ele mantém-se sentado o dia todo e fala sozinho.
-
Bola!
-
Não sei como é que ele se vai aguentar aqui até depois do Natal.
-
Há duas semanas que não ouves o apitar dum comboio.
-
Em cheio!
-
Eu seu porque é que te aguentas.
-
Estás embeiçado pela rapariga.
-
Tudo o que um tipo precisa é de estar embeiçado por uma mulher.
-
Ele acertou?
-
O primeiro base deixou cair a bola.
-
Dedos de manteiga!
-
Azar, pá.
-
Um tipo tem uma mulher nas mãos,
-
a primeira coisa que vê é que a vida dele fica cheia de coisas.
-
Mobília.
-
Apanhaste-a?
-
Estás for a!
-
- Isto é o fim do 8.º?
- Do 9.º.
-
Beany, há uns tipos do Chronicle a espiolhar por aí.
-
Vá lá, Cara de Anjo.
-
- Qual é a pontuação, Cara de Anjo?
- 3 a 2, a nosso favor.
-
- Isso é ótimo.
-
Estás em boa forma. Deves ter sido um bom lançador.
-
Bastante bom? Eu já estava preparado para a liga principal quando lesionei
-
um osso do ombro. Foi num jogo de 19 rondas.
-
- 19?
- Sim.
-
Havia um olheiro da liga principal a observar.
-
Depois apareceu com um contrato.
-
Sabem que mais? Não consegui levanter o braço para o assinar.
-
- Vou ficar bem depois de tratar dele.
- É pena.
-
O que é que isso quer dizer, "é pena"?
-
Que nunca mais voltas a jogar.
-
O que é que estás a dizer? Eu já te disse...
-
Sabes como eles são no basebol. Se um tipo se mete num escândalo.
-
Escândalo? O que é que queres dizer com isso?
-
Estava a pensar nessa história do John Doe.
-
Logo que se venha a saber que é tudo falso,
-
ficas arrumado para o basebol, não é?
-
Pois.
-
Estou feito, nunca tinha pensado nisso.
-
- Bolas!
- E os miúdos?
-
Os miúdos que idolatram os jogadores?
-
O que é que eles vão pensar de ti?
-
Pois é.
-
Hei, Colonel.
-
Ouviste aquilo?
-
Tenho que arranjar forma de sair disto.
-
Os elevadores ainda estão a funcionar.
-
- Eu sei uma forma de o poderes fazer.
- Como é?
-
Quando chegares à rádio,
-
basta dizeres que tudo isto é uma montagem.
-
Ficas a ser um herói, tão certo como teres nascido.
-
Pois é, mas como é que eu vou tratar do braço?
-
Isso é fácil.
-
Conheço uma pessoa que te dará 5000 dólares para dizeres a verdade na rádio.
-
5000 dólares?
-
Sim, 5000 dólares e recebe-os imediatamente.
-
Não precisa de esperar pelo Natal.
-
Cuidado, Long John, estão a apertar-te.
-
Diz-me cá, quem é que está a propor essa massa?
-
O tipo que dirige o Chronicle.
-
Está aqui o discurso que tens que fazer, escrito para ti
-
5000 dólares.
-
Santo Deus! Estou a ver os hilotas a aparecer.
-
Todo um exército.
-
Está esgotado.
-
Não, lamento, todos os bilhetes para a emissão de rádio estão esgotados.
-
Telefone ao Bulletin.
-
Lamento, já não há bilhetes.
-
Tudo a postos para a grande noite? Ótimo!
-
- Volte-se. Agora fique quieto.
- Aguente, Mr. Doe.
-
Um grande sorriso, Mr. Doe.
-
- Ok, Beany, já chega.
- Está bem, agora desandem.
-
John, tem aqui o discurso. Está em maiúsculas e com espaço a duas linhas.
-
Não vai ter dificuldade em lê-lo.
-
- Não está nervoso, pois não?
- Não.
-
- Claro que não, não vai estar.
- Quem?
- John Doe, Aquele ali.
-
Não fique com os joelhos a tremer.
Ouve-se no microfone.
-
Não precisa de ficar nervoso. Trate de ser sincero.
-
- É para si, Miss Mitchell.
- Ok.
-
Alô? Sim, mãe. Obrigada, querida.
-
Cá está ele, o pobrezinho.
-
Muitas felicidades, Mr. Doe. Estamos todas a torcer por si.
-
As raparigas todas decidiram que você não vai saltar de nenhum telhado.
-
-
- Tem o discurso que eu lhe dei?
- Tenho.
-
Eu dou o dinheiro ao Colonel
-
logo que você comece.
-
- Temos um carro à sua espera na entrada lateral.
- Ok.
-
Como é que entrou aqui dentro?
-
- Vim só desejar-lhe boa sorte.
- Saia! Saia!
-
A minha mãe também lhe deseja boa sorte.
-
John, quando ler o discurso, por favor acredite em cada palavra.
-
- Vai ser uma pessoa maravilhosa.
- Quem?
-
- John Doe, o do discurso.
- Oh!
-
Sabe uma coisa? Eu apaixonei-me por ele.
-
Está bem, aqui está ele,
-
- Qual é a ideia?
- Não, isso é demais.
-
Não, assim não. Agora venha.
-
Isto não é altura para publicidade barata, Mr. Connell.
-
Se este tipo põe um ovo, também quero uma parte.
-
Tenho preparada uma Jane Doe.
-
Vamos lá, meus amigos! Deixem-me respirar.
-
Só mais uma, por favor?
-
Boa, querido, vá à frente.
-
Como vai?
-
Tudo bem, Beany, manda-os entrar.
-
Fumo sagrado! Meio hilota.
-
Cá estão eles, chefe. Os símbolos da arraia miúda.
-
- Ok, de pé.
- Tudo bem, arraia miúda.
-
Isto é ridículo, Mr. Connell. Ele vai para o ar daqui a minutos.
-
Pode tirar esses retratos todos depois.
-
Vamos lá, Ed.
-
Vamos. Tudo bem.
-
-
Vamos, Snooks. É melhor pirares.te.
-
Adeus, Mr. Doe.
-
- Beany!
- Ok, ok.
-
Etá pronto? Falta um minuto.
-
-
Agora, por favor, John. Não me vai deixar ficar mal, pois não?
-
Pois não?
-
Claro que não.
-
Se pensar que é o verdadeiro John Doe...
-
Tudo nesse discurso são coisas em que um homem acreditou.
-
Era o meu pai, John.
-
Quando ele falava, as pessoas escutavam.
-
E também o vão ouvir a si.
-
Tem piada...
-
Sabe o que é que a minha mãe disse?
-
Disse-me para olhar para os seus olhos, que encontraria aí o meu pai.
-
- O que é que está a dizer?
- Ok, eles estão a chegar.
-
Oiça, John, Você é um lançador. Entre ali e lance.
-
Felicidades.
-
Deixem-no passar.
-
Vamos sair daqui para fora.
A porta é já ali.
-
- O que é que vocês estão aqui a fazer?
- Isso era o que eu gostava de saber.
-
- Vá lá, saiam!
- Ele é meu amigo.
-
Não interessa. Deixem-no em paz.
-
Eu vou ficar ali a torcer por si.
-
Não, John, por aqui.
-
Prepare-se.
-
Telefone ao Chronicle. Diga-lhes para fazerem sair o Extra.
-
Boa noite, Kenneth Fry a falar para o New Bulletin.
-
Esta noite vamos dar-vos uma coisa totalmente nova e diferente.
-
Ao pé de mim, o jovem que declarou publicamente
-
que na véspera do Natal se vai suicidar
-
dando como razão, passo a citar:
-
"Protesto contra o estado da civilização".
-
Fim de citação.
-
Senhoras e cavalheiros, o New Bulletin apresenta
-
o homem que está a tornar-se rapidamente na pessoa de quem mais se fala
-
no pais, John Doe.
-
Senhoras e cavalheiros...
-
eu sou o homem que todos conhecem como John Doe.
-
Assumi este nome porque parece descrever...
-
porque parece descrever
-
o homem comum, que sou eu.
-
Sou eu.
-
Ou seja, era eu antes de dizer que ia saltar
-
do telhado da City Hall na véspera do Natal.
-
Acho que já deixei de ser um homem comum.
-
Agora, sou alvo de todo o tipo de atenção, de pessoas importantes também.
-
Fomos duplamente atraiçoados.
-
O Mayor e o Governador, por exemplo, não gostam dos artigos que eu escrevi.
-
Você é um impostor, jovem!
-
É um monte de mentiras o que está a contar!
-
Quem é que lhe escreveu esse discurso?
-
Beany, apanha esse tipo!
-
... truque publicitário para o Bulletin.
-
Spencer.
-
Senhoras e cavalheiros, a perturbação que acabam de ouvir
-
foi causada por alguém da assistência que interrompeu Mr. Doe.
-
O discurso vai continuar.
-
Bem, pessoas como o Governador...
-
pessoas como o Governador e aquele tipo andam muito preocupados.
-
Mas eu vou falar deles, vou falar de nós,
-
das pessoas comuns, dos John Does.
-
Se alguma vez vos perguntarem como é o John Doe comum
-
não é possível responder porque ele é mil e uma coisa diferentes.
-
Ele é o Sr. Grande e o Sr. Pequeno.
-
Ele é simples e é sábio.
-
É intrinsecamente honesto mas tem um traço de ratoneiro no coração.
-
Raras vezes entra numa cabina telefónica
-
sem enfiar o dedo na ranhura pare ver se alguém deixou uma moeda. (Risos)
-
É o homem para quem se dirige a publicidade,
-
o tipo a quem todos querem vender coisas.
-
É esse o John Doe, a maior marioneta do mundo,
-
e a maior força do mundo.
-
Sim, senhores...
-
Sim, senhores, somos uma grande família, os John Does.
-
Somos os pobres que.. supostamente herdamos a terra.
-
Podem encontrar-nos por toda a parte.
-
Nós fazemos as colheitas, escavamos as minas, trabalhamos nas fábricas
-
guardamos os livros, pilotamos os aviões e guiamos os autocarros.
-
Quando um polícia grita; "Para trás!"
está a falar connosco, com os John Does.
-
Que tipo de discurso é este?
Leste-o?
-
Existimos desde que os tempos começaram.
-
Construímos as pirâmides, vimos Cristo crucificado,
-
puxámos os remos dos imperadores romanos,
-
vogámos nos barcos com Colombo
-
recuámos de Moscovo com Napoleão,
-
e gelámos com Washington em Valley Forge
-
Sim, senhores,
-
estivemos lá, esquivando-nos a anzóis traiçoeiros
-
ainda antes de a História começar a andar.
-
Na nossa luta pela liberdade muitas vezes fomos vencidos
-
mas recuperámos sempre porque somos o povo e somos duros. (Aplausos)
-
Tem-se dalado muito de as pessoas livres ficarem moles, de não podermos aguentar.
-
Mas issso é um absurdo!
-
As pessoas livres podem vencer o mundo desde a guerra ao jogo da pulga
-
se todos puxarmos na mesma direção.
-
Sei que muitos de vós estão a dizer: O que é que eu posso fazer?
-
Sou apenas um pobre tipo, não conto.
-
Estão muito enganados.
-
Os pobres tipos sempre contaram porque, afinal de contas,
-
o carácter duma nação é o somatório do carácter dos seus pobres tipos. (Aplausos)
-
Mas temos que nos envolver todos e arremessar.
-
Não podemos ganhar o velho jogo da bola a não ser que tenhamos uma equipa,
-
e é aí que entra cada um dos John Does.
-
É ele que tem que se juntar ao colega da sua equipa
-
e a vossa equipa, meus amigos,
-
é o rapaz da casa ao lado.
-
O vosso vizinho é um tipo extremamente importante.
-
Ele e vocês precisam um do outro, por isso chamem-no.
-
Se ele estiver doente, telefonem-lhe.
-
Se ele tiver fome, deem-lhe de comer.
-
Se ele estiver desempregado, arranjem-lhe trabalho.
-
Para a maioria de nós, o vizinho é um estranho.
-
Um tipo com um cão que ladra e uma vedação alta à sua roda.
-
Não podemos ser estranhos para um tipo que pretence à nossa equipa.
-
Portanto, deitem abaixo a vedação que vos separa.
-
Deitem-na abaixo e deitarão abaixo muitos ódios e preconceitos.
-
Deitem abaixo todas as vedações
-
e terão um verdadeiro espírito de equipa. (Aplausos)
-
Conheço muitos como vós que estão a pensar:
-
"Ele está a pedir um milagre.
-
"Está à espera que as pessoas mudem de repente".
-
Estão muito enganados.
-
Não é milagre nenhum. Não é milagre...
-
porque eu vejo isso acontecer uma vez por ano e vocês também têm visto
-
na altura do Natal.
-
Há qualquer coisa de formidável no espírito do Natal.
-
Ver o que ele faz às pessoas, a todo o tipo de pessoas.
-
Ora bem, porque é que esse espírito,
-
esse mesmo espírito cristão, não pode durar o ano inteiro?
-
Meu Deus!
-
Se isso acontecesse, se todos os John Does
-
fizessem durar esse espírito 365 dias,
-
desenvolveríamos uma tal força,
-
criaríamos uma onda tão grande de boa vontade
-
que nenhuma força humana poderia contrariar.
-
Sim, meus amigos,
-
os pobres só podem herder a terra
-
quando os John Does começarem a amar os seus vizinhos.
-
O melhor é começar imediatamente.
-
Não esperem até que o jogo acabe por causa da escuridão.
-
Acorda, John Doe, és a esperança do mundo!
-
John, foi maravilhoso!
-
Bravo! Bravo!
-
- Vamos sair daqui
- isso é que é falar.
-
Corredor, hilotas!
-
Eu sabia que acabarias por acordar mais cedo ou mais tarde.
-
Rapaz, ainda bem que te livraste daquela trapalhada.
-
Eu tinha aqueles 5000 dólares garantidos. Podíamos ter ido ao Doc Brown.
-
"És um lançador", disse ela. "Vai e lança".
-
Que truxa!
-
Ela é uma hilota, como os outros. É uma sorte teres-te livre dela.
-
Aliás, o que é eu estava a fazer, a fazer um discurso? Eu?
-
- Quanto mais penso nisso...!
- Deitar abaixo todas as vedações,
-
Se deitares um só pau abaixo da vedação do teu vizinho, ele processa-te.
-
Tinha na mão 5000 dólares.
-
O que é que queres dizer "ele fugiu"?
-
Encontra-o. Esse homem é precioso.
-
Rio Columbia, cá estamos nós!
-
-
- Sim.
-
- Quanto dinheiro nos resta?
- Quatro dólares.
-
- O melhor é trocá-los por donutes, hem?
- Sim.
-
O que é que vai ser, pessoal?
-
Têm dois bifes daqueles grandes e altos?
-
Sim, com batatinhas e tomate e tarte de maçã...
-
- ...e gelado e café?
- e donutes, já sei.
-
Hei, Mãe! Dois bifes.
-
Dois bifes. Sai já.
-
-
Olha para aquilo.
-
Juntem-se ao Clube John Doe.
-
Clube John Doe?
-
Você é o John Doe?
-
- Quem?
- John Doe?
-
Precisas de usar óculos, rapaz.
-
Mas é a imagem escarrapachada do John Doe.
-
Sim, mas chama-se Willoughby.
-
Sou John Willoughby. Sou jogador de basebol.
-
Não, reconhecia essa voz onde quer que fosse. Não me engana.
-
Você é o John Doe.
-
Mãe!
-
Mãe! Está ali o John Doe!
-
- John Doe?
- Sim, ali sentado, vivinho da silva.
-
- Quem é que disse que era?
- John Doe. Aquele grandalhão ali.
-
Aquele é john Doe.
-
É o John Doe!
-
John Doe!
-
John Doe!
-
Operadora, Dan Beaver,
Ligue a toda a gente da cidade.
-
John Doe esteve aqui neste local.
Sim, pediu donutes.
-
Vocês estão todos aqui para ver John Doe e são todos vizinhos,
-
mas o meu gabinete está cheio como sardinhas em lata.
-
Como é que John Doe se parece, Sr. Mayor?
-
É um desses homens altos, grandes, tipo ar livre.
-
Não, você não pode vê-lo, você não votou em mim. O que é que estão a fazer?
-
Saiam daqui, de frente da entrada. Mr. Norton já chegou?
-
Porque é que não aparece? Já devia aqui estar há 15 minutos.
-
Lá vem ele.
-
Toda a gente com ar digno.
-
Não desgracem a nossa cidade. Temos que ter compostura.
-
É melhor deixar-me falar com ele.
-
Ok. Apresente-o como uma grande causa para o homem comum.
-
Cá vem ele. Deixem passer.
-
Lá vêm eles. Este é Mr. Norton.
-
Como está, Mr. Norton?
Eu sou o Mayor.
-
A multidão que está aqui!
-
Deixe-me passar, seu idiota. Eu sou o Mayor.
-
Sou o Mayor Hawkins! O seu gabinete telefonou-me para eu o deter.
-
- Ótimo. Como é que ele está?
- Está ótimo. Está no meu gabinete.
-
É uma grande honra ter John Doe aqui, e a si também.
-
Não tínhamos tanta excitação desde que ardeu a antiga City Hall.
-
As pessoas estão tão excitadas que quase lhe arrancaram a roupa.
-
Matilda, telefone para os jornais. Diga-lhes que está cá Mr. Norton.
-
Entre no meu gabinete, Mr, Norton.
-
Deve estar confortável. Instalei ar condicionado há pouco tempo.
-
Deixem passar Mr. Norton.
-
Abram alas, abram alas.
-
Os vizinhos estão a servir-lhe um almoço ligeiro.
-
Olá, John.
-
Olá.
-
Mr. Mayor, se não se importa, gostávamos de falar com ele a sós.
-
Claro. Toda a gente lá para fora!
-
Toda a gente, depressa. Venham.
-
Venham.
-
É assim mesmo. Venham.
-
Não discutas comigo aqui. Espera até chegarmos a casa.
-
Não podes empurrar-me, apesar de eu ser tua mulher!
-
Mr. Norton, é preciso lata para mandar esta gente ter-nos aqui detidos.
-
Ninguém o está a deter, Mr. Doe.
É natural que você...
-
Nesse caso, vamos andando.É
-
A propósito, não me chamo Doe, chamo-me Willoughby.
-
Oiça, John. Aconteceu uma coisa muito importante.
-
Estão a formar Clubes John Doe. Já sabemos de oito e andam a dizer...
-
Clubes John Doe? Para quê?
-
Para pôr em prática os princípios do discurso da rádio.
-
Não me interessa, estou a caminho e não gosto de ser travado.
-
Mas você não sabe a dimensão disto.
-
Devia ver os milhares de telegramas que recebemos, o que dizem sobre si..
-
Oiça, isto começou como um truque para aumentar a tiragem, não foi?
-
Já têm essa tiragem. Porque é que não me deixam em paz?
-
Começou como um truque para aumentar a tiragem, mas ja não é.
-
Mr. Norton quer dar-lhes apoio, patrocinar os clubes por todo o país.
-
Quer enviá-lo numa digressão de palestras.
-
A mim?
-
Claro. Com a sua capacidade de influenciar as pessoas,
-
pode aumentar até ser um movimento glorioso.
-
Vamos pôr as coisas em pratos limpos.
-
Eu não quero participar nisto.
-
Se vocês julgam que eu vou fazer palestras, devem estar doidos.
-
O basebol é a minha raqueta e vou manter-me agarrado a ela,
-
Vamos, Colonel, vamos sair daqui.
-
John, por favor!
-
Eu acabei de me livrar duma multidão.
-
Por favor, Mr. Mayor, diga-lhe que o Clube John Doe
-
quer falar com ele.
-
Deixe-os entrar, Mr. Mayor.
-
Ok, mas tenham maneiras. Nada de bater com os pés.
-
Andem devagar, como fazem quando vêm pagar os impostos.
-
Ok, Deem-me licence.
-
Avance.
-
Chamo-me Bert Hansen, Mr. Doe.
-
Sou um mero servidor de soda na loja Schwabacher.
-
Bem...
-
eu e a minha mulher, ouvimos o seu discus na rádio
-
e gostámos muito dele, em especial a minha mulher.
-
Passou a noite toda a dizer: "Aquele homem tem razão, querido.
-
O problema é que ninguém se rala com o vizinho.
-
É por isso que toda a gente na cidade anda azeda e rritada uns com os outros".
-
Eu disse: "Está bem, mas como é que um tipo
-
vai andar por aí a amar o tipo de vizinhos que temos?"
-
O velho Sourpuss, por exemplo.
-
Sourpuss Smithers é um tipo que vive sozinho na casa ao lado da nossa.
-
É um velhote excêntrico que tem a loja de mobília em segunda mão.
-
Há anos que não falávamos com ele.
-
Eu julgava que ele era um velho teimoso que odiava o mundo
-
porque estava sempre a atirar com a porta da garagem
-
e tocava o rádio tão alto que não deixava dormer os vizinhos.
-
Adiante, na manhã seguinte eu estava a regar o jardim
-
e lá estava o velho Sourpuss,
-
a arranjar uma mossa na vedação.
-
A minha mulher gritou-me da janela:
-
"Vá lá, fala com ele, Bert".
-
Achei que não tinha nada a perder, por isso gritei-lhe:
-
"Bom dia, Mr. Smithers".
Ele continuous a martelar na vedação.
-
Fiquei lixado! Virei-me para a minha mulher e ela disse:
-
"Mais alto, ele não te ouviu".
-
Então, num tom que se podia ouvir no condado ao lado, eu disse:
-
"Bom dia, Mr. Smithers!"
-
Bem, podiam deitar-me ao chão com uma pena.
-
O velho Sourpuss virou-se, admirado,
-
fez um grande sorriso,
-
aproximou-se, agarrou-me na mão, como um irmão e disse:
-
"Bom dia, Hansen,
-
há anos que queria falar consigo, mas julgava que não gostava de mim".
-
Depois pôs-se a conversar como uma criança feliz.
-
Tinha os olhos brilhantes...
-
Bem, antes de continuar, descobri que Smithers
-
é um bom tipo mas é muito surdo, o que explica os barulhos.
-
Diz que é uma pena sabermos tão pouco sobre os vizinhos.
-
Depois teve uma ideia. Disse: "Que tal...
-
convidar toda a gente para um sítio qualquer onde possamos todos
-
juntar-nos e conhecermo-nos um pouco melhor.
-
Senti-me tão bem, aderi logo à ideia.
-
Então, Smithers foi pelo bairro
-
a convidar toda a gente para uma reunião na escolar.
-
E eu digo a toda a gente que entra lá na loja,
-
incluindo o meu patrão.
-
- Estou a falar demais.
- Não, não está,
-
Continue.
-
Diabos me levem se não vão aparecer umas 40 pessoas.
-
Claro que nenhum de nós sabe o que fazer,
-
mas descobrimos que toda a gente estava contente
-
só por dizer olá uns aos outros.
-
Querido, conta-lhe sobre fazer Sourpuss president.
-
Oh, sim, fizemos Sourpuss presidente
-
e decidimos chamar-nos o Clube John Doe.
-
Já agora, esta é a minha mulher. Anda cá, querida,
-
Esta é a minha mulher, Mr. Doe.
-
Como vai, Mr. Doe?
-
- Sourpus também está aqui.
- Ai está?
-
Este é Sourpuss. Desculpe-me, Mr. Smithets, Mr. Doe.
-
Se não me chamasse Sourpuss, não parecia natural.
-
Bem, acho...
-
que veio toda a gente do bairro, exceto os Delaneys,
-
Vivem numa grande casa com uma vedação de ferro em volta
-
e têm sempre as persianas fechadas.
-
Pensámos que ele era um velho avarento
-
sentado lá dentro a contra o seu dinheiro, por isso porquê convidá-lo?
-
Até que o leiteiro Grimes disse:
-
!Vocês não conhecem os Delaneys"
-
Depois disse-nos que cancelaram o leite a semana passada.
-
e encontrou uma nota na garrafa,
-
ficou curioso e espreitou pelas persianas
-
e descobriu que a casa estava vazia.
-
"Na minha opinião", disse, "eles estão a passer fome".
-
O Delaney tem-me trazido a mobília à noite,
-
um móvel de cada vez e vende-a.
-
Meia dúzia de nós fomos lá buscá-lo
-
e trouxemo-lo para a reunião.
-
Toda a gente apertou as mãos e cumprimentaram-nos alegremente.
-
Por fim...
-
Mr. e Mrs. Delaney sentaram-se e choraram.
-
Então começámos a descobrir muitas coisas sobre outras pessoas.
-
- Claro, Grubbel, por exemplo.
- Grubbel está aqui.
-
- Veem-no?
- Sim, é ele.
-
Claro. vocâ não conhece Grubbel, mas...
-
é o homem que toda a gente julgava
-
ser o pior do bairro
-
porque vivia como um eremita.
-
Ninguém tinha nada a ver com ele
-
até que o carteiro Murphy nos contou a verdade.
-
Grubbel, disse, vive dos caixotes do lixo
-
porque não aceita caridade que lhe daria cabo do seu amor próprio.
-
Tal como você disse na radio, Mr. Doe.
-
Uma dúzia de famílias juntaram-se e arranjaram trabalho para Grubbel
-
a regar os jardins.
-
Depois arranjámos trabalho para mais seis pessoas
-
e todas elas conseguiram algum alívio.
-
E o meu chefe, Mr. Schwabacher,
-
arranjou trabalho no armazém para o velhote Delaney.
-
- E deu-te um aumento de 5 dólares.
- Sim, Não foi bom?
-
Bert...
-
Sinto-me desprezado. Gostava de alinhar, mas ninguém me convida.
-
Lamento, Mayor, mas deliberámos que não entrava nenhum politico.
-
Só os John Does do bairro.
-
Você sabe como são os politicos.
-
A razão por que queríamos contra-lhe isto, Mr. Doe,
-
era dar-lhe uma ideia do que o senhor desencadeou.
-
Na minha opinião,
-
não vejo razão nenhuma para o senhor saltar dum edifício.
-
Não!
-
Bem, obrigado por nos ter ouvido.
-
Adeus, Mr. Doe.
-
O senhor é um homem maravilhoso.
-
Acho que seria muito útil se andasse por aqui durante algum tempo.
-
Adeus, Mr. Doe.
-
Eu sou Mrs. Delaney, Mr. Doe.
-
Deus o abençoe, meu filho.
-
Estou muito confuse.
-
Não percebo.
-
Estas pessoas todas pensam que eu vou saltar de um edifício.
-
Isso nunca me passou pela cabeça.
-
Bolas!
-
Um tipo tem que ser um bom exemplo para contar aos outros...
-
O que aconteceu a noite passada foi da responsabilidade de Miss Mitchell.
-
Ela é que escreveu aquilo.
-
Você não vê que isto pode ser uma coisa maravilhosa?
-
- Nós precisamos de si, John.
- Você é uma vigarista.
-
Eu já sabia. Eles apanharam-te. Para mim, chega.
-
Há três anos que estou a tentar levar-te para o Rio Columbia.
-
Primeiro, foi o teu braço, depois a radio, agora os clubes de John Doe.
-
Não vou esperar nem mais um minute.
-
Rua, hilotas!
-
Colonel, espera aí!
-
Hei, Colonel!
-
Quero que vás com John Doe e Miss Mitchell
-
e trates da imprensa e da rádio.
-
- Eu?
- Sim. Não quero corer riscos.
-
- E Johnson.
- Sim, D.B.?
-
Segue John por todas as cidades,
-
vê se se organizam clubes e se aprovam os estatutos.
-
Só há ali oito bandeiras, por agora.
-
Quero ver este mapa coberto, antes de continuarmos.
-
Isto aumentou como um incêndio. Eu até percebia exigências
-
mas os John Does não pedem nada.
-
As pessoas estão por conta propria. Se isto continua, vou para o desemprego.
-
Quando John Does estiver muito forte, vamos saber o que é que ele quer,
-
Trinta todas as sextas-feiras, sessenta a sessenta!
-
Quem sabe o quê?
-
Lamento, chefe, não deixam ninguém falar de política com ele. É de doidos!
-
Temos que conseguir chegar até eles.
-
Representam milhões de votos.
-
Senhoras e cavalheiros, isto tem sido fogo numa pradaria.
-
Recebemos tantos pedidos para estatutos John Doe
-
que não conseguimos dar vasão.
-
Detestaria ter esses alfinetes todos espetados em mim.
-
Esta convenção John Doe vai pôr a nossa cidade no mapa.
-
Imaginem, mais de 2400 clubes John Doe estão a enviar delegados!
-
Mr. Mayor, o senhor vai ser o anfitrião oficial. Enfeite a cidade, desfiles,
-
e uma receção a John Doe, quando ele voltar para casa.
-
E não ponha o chapéu alto.
-
- O chapéu alto, não?
- O chapéu alto, não.
-
E Connell, quero uma edição John Doe especial todos os dias
-
até a convenção terminar.
-
Agora, façam o favor, passem para o outro gabinete
-
e façam um sorriso porque estão lá os fotógrafos.
-
Não se preocupe, D.B., trataremos de tudo.
-
Isto não é maravilhoso?
-
Mr. Mayor, venha para a frente, por favor.
-
As senhoras, aproximem-se dele.
-
- Não estou a perceber.
- A perceber o quê?
-
D.B. eu devia saber o que ando para aqui a fazer.
-
Este movimento de John Doe está a custar-lhe uma fortuna.
-
A convenção vai sair muito cara.
-
E então?
-
Estou encalhado com 2 + 2 e não consigo chegar a 4.
-
Onde é que você entra?
-
Tenho a satisfação de saber
-
que o meu dinheiro está a ser gasto por uma boa causa.
-
Estou a perceber. É melhor eu limitar-me a dirigir o jornal, não é?
-
Acho melhor.
-
Connell.
-
Gostava de ter o contrato de John Doe,
-
todos os recibos do dinheiro que avançámos para a carta de Miss Mitchell
-
pela qual lhe dei 1000 dólares.
-
Sim, certamente.
-
Partimos para o aeroporto dentro de meia hora.
-
Ali é o quarto do Johnny? É melhor apressá-lo.
-
Ele vai estar pronto. Está a fazer a mala.
-
- Ótimo. Viu a foto dele na capa da Time?
- Vi.
-
Tenho que dar-lhe os parabéns, Annie.
-
Tratei de muitas grandes promoções no meu tempo,
-
desde a Feira Mundial ao nadador do Canal,
-
mas isto pôs-me a cabeça a andar à roda.
-
E agora, uma convenção John Doe, uau!
-
Se o puser a saltar do City Hall na véspera do Natal,
-
garanto-lhe que estará lá meio milhão de pessoas.
-
- Charlie.
- Hmmm?
-
Que pensa dele?
-
Do Johnny?
-
Bem, não sei qual é o ângulo que quer, mas digo-lhe já.
-
Número um, tem um grande encanto provinciano, mas é um bom tipo.
-
Número dois, está a começar a acreditar que escrever a carta de suicídio
-
que você inventou.
-
Número três. pensa que você é a Joana d'Arc ou coisa parecida.
-
Sim, eu sei.
-
Número quatro, bem...
-
Você sabe o que é o número quatro. Está doidinho por si.
-
Vê-se logo nos olhos dele.
-
Esqueceu-se do número cinco.
Somos todos uns trafulhas, em especial eu.
-
Meu Deus!
-
Entre.
-
Já fiz a mala.
-
Ótimo. Vou buscar o Beany.
-
Ok, Charlie.
-
Posso ajudá-la a fazer a mala?
-
Não, obrigada.
-
- Posso sentar-me aqui?
- Pode.
-
Sabe,
-
tive um sonho maluco a noite passada.
-
Era sobre si.
-
Sobre mim?
-
Era mesmo maluco.
-
Sonhei que eu era seu pai.
-
Havia qualquer coisa que eu queria impedir que fizesse.
-
Por isso, saí da cama,
-
atravessei a parede, e entrei no seu quarto.
-
Sabe como são os sonhos.
-
Você estava na cama,
-
mas era uma miúda, com cerca de 10 anos
-
e muito bonita, também.
-
Abanei-a e...
-
quando você abriu os olhos, saltou da cama
-
e começou a correr como uma louca. De camisa de noite!
-
Correu pela janela fora, pelo topo dos edifícios
-
e dos telhados, durante quilómetros e eu atrás de si.
-
Enquanto andava a correr, ia crescendo
-
cada vez mais.
-
Depressa ficou como é agora, está a ver? Adulta.
-
E durante esse tempo todo
-
eu pensava: "Porque é que estou a persegui-la?"
-
E não sabia.
-
Não é delirante?
-
Adiante, você correu para um sítio qualquer e eu atrás de si.
-
Quando lá cheguei, você estava a casar-se.
-
A camisa de noite tinha-se transformado
-
num belo vestido de noiva.
-
Estava muito bonita.
-
Depois, percebi do que é que estava a tentar impede-la.
-
Os sonhos são malucos, não são?
-
Bem,
-
quer saber com quem é que se ia casar?
-
Um Ubangi alto e bonito, parece-me.
-
Não era assim tão mau. Era o tipo que lhe manda flores todos os dias.
-
Como é que se chama? O sobrinho de Mr. Norton.
-
- Ted Sheldon.
- Sim, esse mesmo.
-
Mas esta é a melhor parte.
-
Eu era o tipo que estava a fazer o casamento,
-
- Juiz da Paz, ou coisa parecida.
- Ai era?
-
Julgava que estava a perseguir-me.
-
Sim, nessa altura eu era o seu pai.
-
mas o verdadeiro eu, John Doe, quer dizer...
-
John Willoughby era o tipo com um livro.
-
- Sabe a que é que me refiro=
- Acho que sim.
-
E depois, o que é que aconteceu?
-
Bem, pu-la em cima dos meus joelhos e comecei a bater-lhe.
-
Quer dizer, não fiz isso...
-
Quer dizer, fiz mesmo. Eu, nessa altura, era o seu pai.
-
Pu-la nos meus joelhos e disse:
-
"Annie,
-
"Não permit que cases com esse homem
-
"que só é rico
-
"ou que manda a secretária enviar-te flores.
-
"O homem com quem casares tem que nadir rios para te merecer,
-
"trepar montanhas, matar dragões, para te merecer.
-
"Tem que realizar façanhas espantosas para te merecer!"
-
Durante todo esse tempo, o tipo com o livro, eu,
-
ficou ali a acenar com a cabeça e disse:
-
"Continue, bata-lhe.
-
"Era o que também me apetecia fazer".
-
Ele diz: "Venha cá e bata-lhe você".
-
Eu avancei e dei-lhe uma grande palmada.
-
Está a ver? Ele bateu-lhe e eu bati-lhe.
-
Começámos os dois a bater-lhe.
-
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