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Relativamente à terceira parte (da observação do corpo no corpo), ou seja, a observação das ações corporais,
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precisamos de fazer o nosso melhor para aplicar esta parte...
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na nossa vida quotidiana,
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porque o nosso corpo está sempre...
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em movimento.
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Na palestra anterior,
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a Irmã Giới Nghiêm...
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deu um exemplo.
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Ou seja, ela deixou cair um...
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marcador no chão.
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E quando o marcador caiu no chão,
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ela sabia que o marcador tinha caído no chão.
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E depois ela...
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quis inclinar-se
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para apanhar o marcador.
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Então, quando o corpo se inclina assim,
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estamos plenamente conscientes de que o corpo se está a inclinar.
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E quando estendemos o braço
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para apanhar o marcador,
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estamos plenamente conscientes de que estamos a estender o braço
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para apanhar o marcador.
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Quando nos erguemos,
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estamos plenamente conscientes de que nos estamos a erguer.
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Isso é um...
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um exemplo.
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Na nossa prática no dia a dia,
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devemos aplicar este ensinamento em todas as ações corporais.
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Tudo o que fazemos,
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fazemos com plena consciência
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de...
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disso
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—do que estamos a fazer.
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Por isso, em...
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no "Sa Di Luật Nghi Yếu Lược" ou "Entrar na Liberdade",
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vemos que há gathas para praticar a atenção plena.
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Essas gathas servem para encarnar
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este ensinamento do Buda.
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Por exemplo, quando estendemos a mão
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para tocar no interruptor da luz
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para acender a luz,
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precisamos de estar plenamente conscientes
de que estamos a estender a mão
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para tocar no interruptor da luz.
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Em vez de o fazermos mecanicamente,
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seguimos a gatha:
"O esquecimento é a escuridão.
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A atenção plena é a luz.
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Trago a minha consciência
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para iluminar toda a vida."
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E então, ligamos a luz.
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Quando o interruptor é ligado,
a luz...
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acende-se, começa a brilhar.
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Vemos claramente que essa luz vem da lâmpada,
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mas — ao mesmo tempo — também é a luz da atenção plena.
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Um praticante precisa de praticar assim.
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Não é uma questão de, sempre que nos apetece,
ligarmos a luz por hábito automático.
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Porque é assim que normalmente se faz lá fora.
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Mas na prática espiritual, precisamos de
ligar a luz de uma forma diferente.
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As gathas que usamos para praticar a atenção plena
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ajudam-nos a habitar pacificamente na atenção plena em cada ação corporal
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na nossa vida quotidiana.
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Quando tiramos o hábito,
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quando vestimos uma camisola,
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quando vamos à casa de banho, etc.,
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todas estas ações corporais
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precisam de ser acompanhadas por consciência plena.
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Se quisermos ser capazes de fazer isso,
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ou seja,
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praticar de modo que a luz da atenção plena
possa iluminar todas as ações corporais
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na nossa vida quotidiana,
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precisamos de praticar até que se torne um hábito.
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Mas este hábito
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é mais facilmente cultivado nos retiros.
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Porque nos retiros há muitas pessoas
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e todos praticam como os outros.
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Graças a isso, praticamos juntos.
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Após alguns dias, torna-se um hábito.
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E tudo o que fazemos, fazemos sempre
com consciência plena.
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Andar. Estar de pé. Sentar. Deitar.
Comer. Beber. Trabalhar.
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Esta prática encontra-se no Sutra Avataṃsaka
(Kinh Hoa Nghiêm, 大方廣佛華嚴經).
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No Sutra Avataṃsaka, há um capítulo chamado
"Condutas Puras" (em vietnamita: "Tịnh Hạnh", ou em chinês: "净行品").
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No capítulo "Condutas Puras",
existem muitas gathas
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que podemos recitar
quando vestimos um hábito ou uma camisola,
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quando defecamos,
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quando...
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atravessamos um rio,
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quando lavamos os pés,
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quando enxaguamos a boca.
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Esta tradição da atenção plena
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existe há muito tempo.
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Tem origem no Sutra da Plena Atenção à Respiração.
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É como quando...
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acendemos uma vela.
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Ao segurar a caixa de fósforos,
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estamos plenamente conscientes de que estamos a segurar a caixa de fósforos.
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Quando...
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riscamos o fósforo na lateral da caixa
para o acender,
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estamos plenamente conscientes de que estamos a riscar o fósforo
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e de que surge a chama.
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Quando levamos o fósforo aceso à vela,
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estamos plenamente conscientes de que
estamos a levar o fósforo para acender a vela.
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"Acendendo esta vela,
ofereço luz a incontáveis Budas.
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A paz e a alegria que sinto,
iluminam a face da Terra."
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Inspiramos ao recitar o primeiro verso.
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Expiramos ao recitar o segundo verso.
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Com isso,
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reestabelecemos o corpo e a mente
no círculo da atenção plena.
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Isto cria a substância e o material belos
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que fazem de alguém um monástico, um praticante.
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Essa substância e material belos — essa substância e material da atenção plena,
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geram concentração e compreensão profunda.
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Por isso, cada ação corporal
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deve ser iluminada pela luz da atenção plena.
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Na tradição Theravāda,
por vezes leva-se esta prática
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ao ponto de se tornar bastante...
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bastante meticulosa.
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E…
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por vezes, se praticarmos dessa maneira,
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sentimos que
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é um pouco forçado.
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A vida já não se torna…
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já não se torna natural.
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Imaginemos que alguém está…
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a apanhar um pedaço de comida com os pauzinhos
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ou a levar uma colherada de comida,
e a colocá-la na boca.
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Quando se leva a colherada de comida, a pessoa…
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repete em silêncio: "Colher. Colher. Colher."
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Quando a aproxima da boca, diz:
"Levar. Levar. Levar."
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Quando coloca a comida na boca,
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diz: "Colocar na boca. Colocar na boca. Colocar na boca."
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Depois: "Mastigar. Mastigar. Mastigar. Mastigar. Mastigar."
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A pessoa repete a descrição breve da ação a cada momento.
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E por fim: "Engolir."
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Provavelmente, a atenção plena está lá,
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e a atenção plena é guiada por esse reconhecimento inicial,
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guiada por essas pequenas frases.
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"Colher. Colher.
Levar. Levar. Levar.
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Colocar na boca. Colocar na boca.
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Mastigar. Mastigar. Mastigar. Mastigar. Mastigar.
-
E engolir."
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É assim que, por vezes, se pratica.
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Provavelmente, ao praticar assim,
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está presente a…
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vontade de praticar a atenção plena de forma diligente.
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Mas podemos cair numa situação
em que tudo se torna demasiado forçado e inflexível.
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Não sentimos um sentido de vitalidade,
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nem um sentimento de paz interior, de alegria, de contentamento,
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nem um sentido de naturalidade nesta forma de prática.
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Se alguma vez…
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participaste…
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num retiro assim, verás que, quando as pessoas caminham,
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em vez de…
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em vez de apenas reconhecer inicialmente:
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"Este é o pé esquerdo a pisar.
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Este é o pé direito a pisar.
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Esta é a inspiração.
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Esta é a expiração,"
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as pessoas podem…
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as pessoas podem praticar de forma muito mais meticulosa.
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Eis como praticam:
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Erguer.
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Mover.
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Colocar.
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Erguer.
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Mover.
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Colocar.
-
Erguer.
-
Mover.
-
Colocar.
-
Erguer.
-
Mover.
-
Colocar.
-
Erguer.
-
Mover.
-
Colocar.
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É assim que a prática da atenção plena é feita
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em muitos retiros
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da…
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tradição Theravāda.
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Vemos claramente que há uma intenção de aplicar com rigor
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os ensinamentos do Buda.
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Algumas pessoas vão ainda mais longe:
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"Querendo erguer.
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Preparando-se para erguer.
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Tendo erguido.
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Querendo
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avançar.
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Avançando.
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Tendo avançado.
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Preparando-se para pousar o pé.
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Tendo pousado o pé no chão."
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Dividem tudo em…
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frações de segundo, em…
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momentos minúsculos assim.
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Vemos que há esta determinação
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em seguir muito de perto
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cada ação do corpo,
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e há o desejo de o fazer muito bem, da melhor forma possível.
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Mas podemos cair no erro
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de tornar a nossa prática da atenção plena
forçada e inflexível,
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privando-a de vida.
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Entretanto, a tradição em Plum Village
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está muito bem definida,
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ou seja, praticamos a atenção plena de tal forma
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que, durante toda a prática, há vida,
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há este sentido de estarmos presentes,
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há vitalidade,
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e há também alegria e felicidade.
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Porque é assim?
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Porque a vida está cheia de maravilhas.
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Essas maravilhas estão dentro de nós
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e ao nosso redor.
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Quando há atenção plena,
quando há plena consciência,
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conseguimos entrar em contacto com essa vida
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e com essas maravilhas.
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Por isso, a atenção plena
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gera alegria,
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paz interior, felicidade,
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e vida.
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Esse é o princípio de Plum Village.
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Se disseres:
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"levantar, mover, pousar"
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e "levantar, mover, pousar,"
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e caminhares assim durante uma hora,
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sem sentires qualquer alegria,
sem estares em contacto com a vida,
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essa prática é feita apenas por aparência.
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Podemos dizer que o mais importante
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é treinarmo-nos para ter concentração…
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para termos atenção plena e concentração.
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Onde há atenção plena e concentração, há entendimento.
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Podemos afirmar isso.
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No entanto, atenção plena…
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este tipo de atenção plena
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é aquela que faz surgir a vida, o sentido de estarmos vivos.
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Todos queremos praticar muito bem,
-
e
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praticar…
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de forma muito perfeita.
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Mas sabemos que
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os ensinamentos do Buda foram pronunciados…
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pela boca do Buda:
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"Os meus ensinamentos
-
trazem paz e felicidade
-
durante todo o tempo da prática,
-
no presente e no futuro.
-
O meu ensinamento, a minha prática,
-
são belos no início,
-
no meio,
-
e no fim."
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A paz interior, a alegria e a felicidade de hoje
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trazem paz interior, alegria e felicidade para amanhã.
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Se hoje não houver paz interior, alegria e felicidade,
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como poderão existir paz interior, alegria e felicidade amanhã?
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A paz e felicidade de hoje
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tornam possível a paz e felicidade de amanhã.
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Por isso, na prática, tem de haver vida,
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e tem de haver…
-
paz interior, felicidade e bem-estar.
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Se na nossa prática não encontramos vida,
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nem paz interior, nem felicidade,
nem bem-estar,
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sabemos que, segundo os critérios
definidos pelo Buda,
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ainda não é o verdadeiro Dharma,
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ainda não é o "Dharma vivo."
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E sabemos que, em qualquer religião,
-
as pessoas facilmente misturam algum formalismo.
-
Por isso devemos evitar cair no formalismo.
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Tomemos o exemplo de comer.
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Deve haver paz interior e felicidade em nós durante todo o tempo em que comemos.
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Essa paz interior e felicidade surgem do facto de estarmos realmente presentes
-
durante todo o tempo em que comemos com a sangha, a comunidade.
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Entramos em contacto com a comida
-
— o presente da Terra e do Céu.
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E entramos em contacto com a comunidade
que está sentada à nossa volta.
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Se ruminamos o passado,
-
ou nos preocupamos com o futuro,
se estamos sentados mas não estamos realmente presentes,
-
então,
-
a nossa prática não tem sucesso.
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Se não conseguimos estar plenamente conscientes de que estamos sentados aqui,
-
de que estamos vivos,
-
a comer estes alimentos
-
e rodeados por uma comunidade querida de praticantes,
-
a vida não está disponível,
-
e a alegria e a felicidade não estão disponíveis.
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E se…
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se praticamos atenção plena mas…
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ficamos presos a coisas como: "isto é 'pegar na colher, pegar na colher';
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'isto é 'levar à boca, levar à boca';
-
'isto é 'pôr na boca, pôr na boca';
-
'isto é 'mastigar, mastigar, mastigar, mastigar';
-
'e isto é 'engolir',”
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talvez, em termos de forma exterior,
seja indiscutivelmente a prática da atenção plena.
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No entanto, em termos de espírito e conteúdo da prática,
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isto continua a ser um problema porque…
-
— segundo a nossa definição,
-
atenção plena correta significa…
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estar plenamente presente…
-
estar plenamente presente…
-
estar plenamente presente…
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e estar em contacto com a vida.
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Ser atento
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é estar totalmente
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presente.
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Ser atento é estar totalmente presente,
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é tocar a vida a cada segundo,
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e experimentar as maravilhas da vida
-
a cada segundo. Essa é a nossa definição.
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Ser atento significa tornarmo-nos verdadeiramente presentes
-
em cada momento da nossa vida quotidiana,
-
com corpo e mente em perfeita unidade.
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Ser atento significa ser capaz
de estar em contacto com a vida
-
e com as maravilhas da vida que estão disponíveis
-
neste momento presente.
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Por isso, quando praticamos atenção plena de forma mecânica,
-
provavelmente não conseguimos entrar em contacto com esses milagres.
-
Quando caminhamos e dizemos:
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"Levantar, levantar, levantar;
-
já levantado;
-
mover, mover, mover;
-
pousar o pé, pousar o pé;
já pousado,"
-
isso pode ser considerado um sucesso
-
em termos de…
-
seguir de perto cada ação corporal.
-
Mas essa ação do corpo
deixa de ser uma ação natural.
-
Deixa de ser uma ação natural do corpo.
-
Perdemos a nossa naturalidade.
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Isso pode fazer com que não estejamos verdadeiramente presentes,
-
porque ficamos tão presos à forma exterior.
-
Com isso,
-
não conseguimos estar em contacto com a vida.
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Na tradição de Plum Village,
podemos ver muito claramente
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que, em cada momento da nossa vida quotidiana,
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a vida tem de estar presente.
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Nós temos de estar presentes
-
— temos de estar verdadeiramente presentes.
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Só assim a vida estará verdadeiramente presente.
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Quando estas duas coisas — nós e a vida — estão verdadeiramente presentes,
-
de forma muito natural, entramos em contacto com as maravilhas da vida.
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Estando vivos, temos consciência de que estamos vivos.
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A comer, temos consciência de que estamos a comer.
A caminhar, temos consciência de que estamos a caminhar.
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Isso significa que temos consciência desperta.
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Chama-se despertar.
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Uma pessoa que caminha,
mas não tem consciência de que está a caminhar,
-
é um sonâmbulo.
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Uma pessoa que come,
mas não tem consciência de que está a comer,
-
é um “comedor adormecido.”
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Uma pessoa que está sentada, mas não tem consciência
de que está sentada, é um “sentado adormecido.”
-
Por essa razão, precisamos de ser hábeis,
-
sábios e…
-
com os pés bem assentes na terra ao treinarmo-nos.
-
Digamos que organizamos
um retiro de 3, 5 ou 7 dias.
-
Nesse retiro, todos…
-
se treinam de tal forma
-
que
-
estar atentamente conscientes de cada ação do corpo
se torna uma segunda natureza.
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Todos praticam o mesmo.
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Ao dar um passo, estamos plenamente conscientes
de que estamos a dar um passo.
-
A mastigar…
-
arroz e tofu, estamos plenamente conscientes
de que estamos a mastigar arroz e tofu.
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A nossa mente, a nossa atenção, está ali mesmo.
-
Isso,
-
no Cristianismo, chama-se “tâm tại,”
que significa “mente presente.”
-
Mas, quando fazemos algo
sem estarmos conscientes de o fazer,
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quando a nossa mente e atenção estão noutro lugar,
chama-se “tâm bất tại” (“mente ausente”).
-
- a tua mente não está presente
-
[Tocando o sino]
-
[Sino]
-
Por isso, não devemos seguir a prática
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chamada “dividir um fio de cabelo em quatro partes,
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e depois dividir uma dessas partes em mais quatro.”
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Ao praticar assim,
-
embora exista a boa intenção de praticar
os ensinamentos do Buda o melhor possível,
-
provavelmente falharemos em praticar
no espírito ensinado pelo Buda.
-
“Dividir um fio de cabelo em quatro partes”
-
— a tendência de sobreanalisar,
-
existe há milénios.
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Na literatura do Abhidharma (A Tỳ Đàm),
-
também existe essa tendência,
-
que analisa um fio de cabelo
em quartos, e depois em oitavos.
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Se na nossa prática fizermos o mesmo,
-
teme-se que, dessa forma de praticar,
-
acabemos por ser privados
-
da essência e da vitalidade da prática.