Como reconstruir a economia global

A pandemia de coronavírus quebrou a economia global. Para juntar as peças, precisamos garantir que o dinheiro vá para os países que mais precisam, e que reconstruamos sistemas financeiros resistentes a choques, diz Kristalina Georgieva, diretora administrativa do Fundo Monetário Internacional. Ela nos leva para dentro dos enormes esforços de estímulo econômico que levam o mundo à recuperação e renovação e discute o que será necessário para os países emergirem dessa "grande transformação" ainda mais fortes do que antes. (Essa conversa virtual, apresentada pelo curador do TED Chris Anderson e pela curadora de assuntos atuais Whitney Pennington Rodgers, foi gravada em 18 de maio de 2020.)

Chris Anderson: Apresento agora

uma das mulheres mais poderosas do mundo.

Para escaparmos da confusão
em que estamos agora,

ela desempenhará um papel importante
nos ajudando a fazer isso.

Ela é a diretora
do Fundo Monetário Internacional,

e é uma satisfação receber aqui
Kristalina Georgieva.

Seja bem-vinda.

Kristalina Georgieva:
Bom estar com você, Chris.

Obrigada por me receber.

CA: Você acabou de assumir
essa função no final do ano passado

e, em quatro meses, bum, a COVID chegou.

Uma baita introdução a um novo emprego.

Como você está?

KG: Eu encontro força na ação.

E no Fundo estamos,
desde o primeiro dia da crise,

avançando com tudo o que temos

para fornecer salvação aos países,

e isso quer dizer para pessoas e empresas.

Já recebemos mais de 90 pedidos

e oferecemos a 56 países

pacotes financeiros cruciais.

CA: Você descreveu essa pandemia
como uma crise como nenhuma outra.

O que quer dizer com isso?

KG: Realmente como nenhuma outra.

Primeiro, nunca antes

iremos infligir à economia
conscientemente tanto sofrimento

para combater um vírus e salvar vidas.

Pedimos às empresas que não produzam

e aos consumidores
que não saíam e consumam.

No Fundo, rotulamos isso
de "Grande Confinamento".

Segundo,

nunca antes

houve uma mudança tão rápida de fortunas

praticamente para todos em todo o mundo.

Em janeiro, eu estava em Davos
falando sobre "crescimento anêmico" de 3%.

Em abril, durante nossas reuniões
da primavera, ele já era 3% negativo.

Em janeiro,

previmos que 160 países teriam
crescimento positivo da renda per capita.

Agora são 170 países com crescimento
negativo da renda per capita.

Chamamos isso de "A Grande Inversão".

Muito triste.

E três, incerteza.

Sempre vivemos com incerteza,
Chris, mas desta vez,

é a incerteza de um novo coronavírus

que os dirigentes precisam incorporar.

Nós do Fundo combinamos
projeções epidemiológicas

com nossa modelagem
macroeconômica tradicional

para enxergarmos através dessa incerteza.

Devo acrescentar

que espero que quando estivermos
do outro lado, na recuperação,

possamos usar um novo termo
e chamar de "A Grande Transformação".

Tornar o mundo um lugar melhor.

CA: Ficarei animado em falar
sobre isso em breve.

Mas neste momento de reagir à crise,

a principal ferramenta
que parece ter sido usada,

pelo menos pelos países ricos,
tem sido esse enorme estímulo econômico,

no valor de trilhões de dólares.

Essa é uma resposta sábia?

KG: É uma necessidade.

E não escutamos o Fundo
frequentemente dizendo aos países:

"Por favor, gastem.

Gastem o máximo que puderem".

É o que fazemos agora.

Nós acrescentamos ainda:

"E guardem os recibos.

Não deixem de se responsabilizar
perante os cidadãos e contribuintes".

Essa injeção financeira é necessária,

essas medidas fiscais
de quase US$ 9 trilhões,

porque quando a economia está estagnada,

a menos que haja ajuda,
um estímulo à política monetária,

haverá falência maciça de empresas,

as pessoas ficarão desempregadas,
a economia será dilacerada.

Quando formos para o outro lado,

essa dilaceração tornará
a recuperação muito mais difícil.

Então, isso é uma coisa sábia a fazer,

e ajuda o fato de os bancos centrais
nas principais economias

agirem de maneira sincronizada

e esse estímulo fiscal ter vindo rápido.

É assim que vemos as pessoas
conseguindo atravessar

essa época muito difícil.

CA: Mas até onde isso pode ir?

Porque isso tem sido descrito
como "imprimir dinheiro",

os governos estão emitindo
cada vez mais títulos

que terão que pagar em algum momento.

Existe um termo em economia,
o "momento Minsky",

segundo o qual tudo
vai muito bem por um tempo,

enquanto todo mundo acredita

que o trem pode continuar seguindo,
a roda pode continuar girando,

que os governos têm todo esse dinheiro.

Em algum momento, porém, não vai falhar?

Você se preocupa que possamos
estar chegando a um momento Minsky?

Como Michael, em Mary Poppins,
agarra o dinheiro dele e corre ao banco.

Existe agora uma tensão
no sistema financeiro internacional

que a preocupa,

que faz sentir que podemos
estar ficando sem espaço?

KG: Claro, isso não pode durar pra sempre.

Eu confio em nossos cientistas,
acho que veremos avanços

e também pessoas em empresas

acostumando-se ao distanciamento social,

tomando medidas pra não espalhar a doença.

Vimos investimento maciço
nos sistemas de saúde,

para que os hospitais possam realmente
tratar as pessoas que procuram ajuda.

Obviamente, se durar muito tempo,

ficaríamos preocupados.

Por enquanto,

estamos projetando que haveria
uma reabertura gradual;

já vemos isso ocorrendo em vários países.

E projetamos para o próximo ano, 2021,

uma recuperação parcial.

Não é uma recuperação total, infelizmente,
mas caminhando para um lugar melhor.

O que nos ajuda

é algo que eu particularmente não adoro,

mas vejo como uma característica positiva:

taxas de juros muito baixas,

em alguns casos, negativas,

que permitam injetar
medidas fiscais e liquidez

a serem sustentadas por vários anos.

E por enquanto, não vemos no horizonte

qualquer sinal de aumentar essas taxas.

Taxas baixas por mais tempo,

e isso é, nesse contexto, um recurso útil.

CA: A crise financeira de 2008

chegou perigosamente perto
de quebrar todo o sistema financeiro;

sem dúvida, ela quase fez isso.

Pelo cálculo da maioria das pessoas,

este tem sido um impacto muito pior
para a economia em geral.

O mundo aprendeu algo a partir de 2008

que tem nos ajudado a sermos
resilientes desta vez?

KG: O mundo aprendeu
que o sistema financeiro

tem que ser testado

e depois reforçado para suportar choques.

Isso está nos ajudando tremendamente hoje.

O sistema bancário está resiliente,

e mesmo as instituições
financeiras não bancárias

estão prestando mais atenção

até onde se pode ir sem ter problemas.

Eu diria,

se você olhar ao redor do mundo,

a lição mais importante foi
"criar resiliência a choques".

Os que fizeram isso estão lidando melhor.

Aqueles que não fizeram estão
numa situação muito mais difícil.

E, na verdade, para o Fundo,

estamos rezando

para que saiamos desta crise
com esta lição sobre resiliência

sendo espalhada além do sistema bancário;

temos essa mentalidade
de gerenciamento de crises

para um mundo que inevitavelmente
será mais propenso a choques,

por causa do clima

e também da enorme densidade
da vida econômica e social no planeta.

CA: Na sua função,

você está prestando atenção especial
à situação nos países em desenvolvimento.

E parece que eles estão enfrentando
uma situação terrível no momento.

Muitos têm dívidas significativas
estipuladas em dólares.

Na crise atual,

a moeda deles está se depreciando
em relação ao dólar,

tornando quase impossível que realizem

as injeções de estímulo
que os países ricos estão recebendo,

e essa parece ser a única saída.

É um ciclo realmente perigoso.

Existe algum jeito de quebrar esse ciclo?

KG: Deixe-me primeiro separar

os países que criaram fundamentos sólidos.

E agora nesta crise,
como estamos recebendo os dados,

não são muitos, mas ainda há
algumas surpresas positivas

de países que criaram
reservas mais fortes,

fundamentos mais fortes,

foram mais disciplinados
durante os bons tempos.

Mas, de fato, vemos

vários mercados emergentes,
países em desenvolvimento,

diante de múltiplas pressões.

Eles foram atingidos pelo coronavírus,

muitos com sistemas de saúde fracos.

Eles têm o alto nível
de endividamento de antes da crise,

o que cria um ambiente muito mais difícil.

Muitos são exportadores de commodities.

Os preços de commodities e petróleo

caíram muito dramaticamente,

isso os atingiu novamente.

Muitos dependem de remessas,
que diminuíram de 20 a 30%.

E há vários países altamente
dependentes do turismo,

que é o setor mais atingido
ou um dos mais atingidos.

Então, é muito difícil para esses países,

mas é por isso que instituições
como a minha foram criadas com sabedoria.

Nós do FMI, o Banco Mundial,
os bancos regionais de desenvolvimento,

trabalhamos muito juntos nessa crise.

O FMI, felizmente,

foi uma das lições da crise de 2008, 2009,

certifica-se de que no centro da rede
de segurança financeira exista um FMI

com força financeira.

Temos quatro vezes mais dinheiro
para emprestar hoje

do que tínhamos antes,

de US$ 250 bilhões a US$ 1 trilhão.

E claro,

estamos posicionando esses fundos

exatamente para os países
que mais precisam de nós.

E fizemos mais uma coisa.

Com David Malpass,
presidente do Banco Mundial,

pedimos uma moratória da dívida
para os países mais pobres

aos credores bilaterais oficiais.

E as pessoas tendem a dizer:
"Nós não trabalhamos juntos,

não é bom o suficiente".

Mas é uma área em que fizemos
esse pedido no final de março,

e em meados de abril o G20
concordou com essa moratória.

Incrível, tivemos o Clube de Paris,
China, os países do Golfo,

todos concordando que não devemos
sufocar os países mais pobres

pedindo-lhes para pagar dívidas
quando suas economias estão estagnadas.

CA: É possível que alguns países
em desenvolvimento

estejam exagerando
na política de confinamento?

Se um grande número de cidadãos
já está lutando para permanecer vivo,

não é quase uma sentença de morte
ordená-los a não deixar a casa deles?

KG: Chris, uma das conversas
mais comoventes que eu tive

foi com líderes de países
que têm que enfrentar

a escolha entre pessoas morrendo de vírus

ou morrendo de fome.

É uma situação muito dramática para eles.

Com uma parte muito grande
da economia informal,

onde as pessoas vivem miseravelmente,

o confinamento das economias
avançadas não é aplicável,

mas mesmo assim,

aqueles países estão se saindo
muito bem com o distanciamento social,

na medida do possível.

Muitos dos países da África adotaram
medidas preventivas rapidamente.

Por quê?

Aprenderam com o Ebola e crises anteriores

medidas de higiene,

qualquer medida realmente pode ajudar.

Não posso deixar de reiterar a importância
da solidariedade com esses países,

e como é importante para minha instituição
se fazer presente em tempo hábil.

E nós fazemos isso.

CA: Whitney.

Whitney Pennington Rogers:
É uma conversa maravilhosa

e estamos começando a receber
algumas perguntas da comunidade.

A primeira que temos é de Bill Elkus,

acompanhando algo
que você mencionou anteriormente

relacionado ao estímulo, Kristalina:

"Quais são as perspectivas de inflação
a partir de um estímulo tão grande?"

KG: Neste ponto,

não estamos preocupados com a inflação
nas economias avançadas

e na maioria das economias
de mercado emergentes.

Preocupamo-nos com a inflação

em países que têm fundamentos fracos,

sem acesso fácil a divisas,

onde a única maneira de lidar com a crise

é a nossa ajuda

ou seus bancos centrais
imprimindo mais dinheiro.

E às vezes é uma combinação desses dois.

Por que não me preocupo com a inflação
nas economias avançadas?

Porque os países de moeda forte

estão implementando liquidez,

mas ao mesmo tempo,

eles não estão vendo
uma grande expansão da demanda

nem preços aumentando.

Então, para esses países,

pelo menos num futuro observável,

não vemos, como foi depois
da Segunda Guerra Mundial,

a inflação subindo.

O consumo não tem sido tão agressivo,

a demanda não é tão forte

e estas são sociedades
nas quais há muita maturidade

na forma como exercem as opções políticas.

Mas um país pobre,

que por desespero, sem acesso a mercados,

sem acesso a moeda forte,

precisa de alguma forma,
circular dinheiro suficiente,

então haverá inflação.

Um caso muito extremo é o Zimbábue
e eu me preocupo que haja outros países.

É por isso que estamos tão determinados
a nos engajar com esses países mais cedo.

Também com alguns países com alta dívida.

Seria necessário, país a país,

reestruturar dívidas

para impedir que isso se mova
em uma direção desesperadora.

WPR: Obrigada. Temos mais uma pergunta
para compartilhar da nossa comunidade.

Esta é de Keith Yamashita,

sobre como todos podemos nos envolver
em algumas dessas mudanças:

"Sobre os esforços macroeconômicos
e de financiamento.

O que devemos fazer como cidadãos
para a renovação e recuperação?"

KG: É incrivelmente importante
para todos nós cidadãos,

e além de ser diretora do FMI,
também sou uma cidadã global,

trazermos essa noção

de solidariedade em um momento de crise.

Adorei o jeito que esse segmento

teve como fundo musical "Lean on Me".

É muito importante que criemos essa noção:

"Estamos nisso juntos,
vamos superar juntos".

E por favor, falemos sobre isso.

Fui, por muitos anos, comissária de crise,

e uma coisa que aprendi
é que a maioria das pessoas

são boas e positivas.

Você pode se apoiar nelas.

E há uma minoria que é odiosa e temerosa,

e também muito barulhenta.

Então, pessoas boas, se manifestem.

Espalhem esse sentimento
de "estarmos juntos nisso,

nós vamos superar juntos".

WPR: Obrigada. Voltarei mais tarde
com outras perguntas.

CA: Kristalina, eu adoraria expandir isso
e perguntar um pouco mais sobre liderança.

Quando as pessoas pensam nas nações
que têm tido melhor desempenho,

quero dizer melhor
em resposta à atual pandemia;

elas geralmente se referem
à Alemanha, Nova Zelândia,

Coreia do Sul, Taiwan,
Dinamarca e Noruega.

Quando pensam naqueles
que têm tido pior desempenho,

costumam pensar na Espanha,
Itália, Reino Unido, Bélgica,

Suécia, Irã, Brasil, Rússia

e Estados Unidos.

Todo esse segundo grupo
é governado por homens,

e exceto um do primeiro grupo,
todos são governados por mulheres.

Isso é uma coincidência?

KG: Falando subjetivamente como mulher,

acredito que as mulheres
são ótimas para liderar uma crise.

Elas são mais propensas a mostrar empatia,

se preocupar com pessoas mais vulneráveis

e poder falar sobre isso.

Elas são decisivas.

Eu posso dizer isso por mim mesma,
que nós tiramos energia da ação.

E nós não tendemos a lamentar e reclamar

demais.

Talvez haja algo a ser dito

sobre o valor da igualdade
de gênero para o futuro.

Trazer mais mulheres para este mundo
de mais crises à nossa frente.

CA: É difícil fazer generalizações
sobre gênero de qualquer tipo,

mas será que existe também algo

na compreensão dos detalhes que mulheres
podem ser melhores do que os homens?

Os homens costumam dizer:
"Vamos vencer, vamos conquistar",

e em uma situação como essa,
na qual tudo são probabilidades,

existem muitos indicadores complexos

nesta perigosa máquina de pandemia
contra a qual estamos tentando lutar.

As mulheres são melhores
em lidar com nuances?

KG: Deixe-me dizer algo, Chris.

Precisamos de todo mundo,

dessa mistura de experiência,
conhecimento e predisposição.

Homens e mulheres se unindo.

Acho ótimo ter perspectivas diferentes

quando tomamos decisões.

Então, as chances de tomar
uma boa decisão são maiores.

Precisamos uns dos outros,

mas também precisamos reconhecer
que há coisas, e já vi isso várias vezes,

que as mulheres são mais dispostas
a encontrar um caminho para transigir,

a serem corrigidas se estiverem erradas.

A dizer: "Certo, esse é um bom ponto,
deixe-me integrá-lo no que penso disso".

E quando você está na incerteza,

essa é uma enorme vantagem
na tomada de decisões.

CA: Fale um pouco mais sobre
sua própria liderança neste momento.

Falei que você começou
recentemente neste trabalho.

Antes disso, você era Comissária Europeia,

lidou com crises humanitárias
em mais de uma parte do mundo.

E no seu próprio país, a Bulgária,
testemunhou a transformação geral,

politica e economicamente do país.

Que lições você pode trazer
de sua experiência passada

para esse momento?

KG: Bem, há muitas coisas que aprendi.

Eu tive muita sorte de ter
essas múltiplas experiências

para o trabalho que tenho agora.

Mas deixe-me destacar três.

Primeiro, como é criticamente importante

se preparar para uma crise.

Pensar no impensável

e depois agir com alguma previsão

quando um choque te atingir.

Há um título para esta série
que é "Build Back Better".

Na verdade, eu gostaria
de modificá-la, se pudesse,

e chamá-la de "Build Better Before".

Preparação e prevenção valem muito a pena.

Segundo,

e não necessariamente em prioridade,
é tão importante quanto,

é a ação coletiva,

trabalhar juntos.

Procurar e oferecer ajuda.

Faz uma enorme diferença
em caso de emergência.

E o terceiro é algo
que aprendi várias vezes.

Não conhecemos nossa força interna

até sermos afetados.

Nós somos muito resistentes,

somos capazes de suportar choques,

especialmente quando nos unimos,

e isso sempre me dá
um sentimento de otimismo

que, por mais difícil que seja,
poderemos superar isso.

Desde os dias em que meu país
e sua economia entraram em colapso,

eu acordava às quatro da manhã

e ficava na fila para comprar leite
para minha filha,

até os dias em que eu via
refugiados sírios em situações terríveis

ajudando uns aos outros,

até hoje, como diretora do FMI,

essa força interna,
nosso poder de resiliência,

quanto mais nos unimos,

mais essa força é amplificada.

CA: Você poderia falar
um pouco mais sobre o papel do FMI?

Especialmente porque estamos ansiosos
para tentarmos nos recuperar.

O que especificamente
sua organização pode fazer

para nos fazer avançar?

KG: Então, existem três coisas
que são bastante únicas para o FMI

e importantes em tempos de crise.

A primeira é dar um bom diagnóstico
do que está acontecendo

e qual é o caminho a seguir.

Deixe-me dizer, nesta crise,

nas primeiras semanas,

preparamos o que chamamos de rastreador
de ação política para 193 países.

Quais ações os países estão tomando,
como eles podem aprender um com o outro,

pra que possamos ser mais eficazes juntos.

Estamos adicionando a ele, agora,

ações para a reabertura
responsável das economias

exatamente com esse propósito,

pelo que somos mais conhecidos,
somos os primeiros socorros financeiro.

Estamos chegando neste choque incrível

com poder de fogo
financeiro significativo.

As pessoas não sabem que o Fundo
possui vários instrumentos.

Duplicamos o financiamento
de emergência para esta crise.

E não há condicionalidades,
só estamos pedindo uma coisa, Chris.

Paguem os médicos,
enfermeiras e hospitais,

protejam as pessoas mais vulneráveis
e partes da economia.

Essa é a condição.

E a terceira coisa que fazemos no Fundo

é ajudar os países a ter
capacidade para boas políticas.

Após a crise financeira,

ajudamos muitos países a ter
um bom gerenciamento de dívidas,

boa gestão fiscal,

transparência e responsabilidade

para melhorar o desempenho
das finanças públicas.

O Fundo não é uma organização muito grande

para qualquer padrão,
somos cerca de 3 mil pessoas.

Extremamente profissionais
e incrivelmente comprometidos.

Quando você usa a expressão
"todas as mãos no convés", somos nós.

E é um convés digital hoje em dia.

CA: É uma crise global.

Muitas pessoas estão preocupadas
que, ao contrário talvez até de 2008,

quando realmente parecia
haver muita cooperação global,

haja na verdade, de maneiras preocupantes,
menos cooperação desta vez?

Você está preocupada

com o quanto isso é crucial
para nos fazer superar isso?

KG: Minha preocupação é,

no nosso mandato,
na minha área de responsabilidade,

reunir os membros.

Temos quase o mundo inteiro,

189 países são nossos membros,

e até agora, estou muito impressionada
com a capacidade de resposta deles.

Eu lhes apresentei na primavera

um pacote de medidas muito forte

para expandir o papel do FMI na crise.

Tudo o que pedimos,

como a duplicação
do financiamento de emergência,

nós conseguimos.

Muito interessante.

Pedimos para triplicar
a concessão de financiamento.

Exatamente porque,

assim como o vírus atinge mais
as pessoas com sistema fraco,

a crise atinge mais fortemente
as economias fracas.

Então, queríamos triplicar
a concessão de financiamento.

Dentro de um mês, conseguimos.

Pedimos subsídios para alívio da dívida,

nós conseguimos.

Estou dizendo que precisamos focar

maneiras de unirmos o mundo.

E então agir sobre isso.

Em vez de reclamar que talvez
nem tudo seja como deveria,

cumpra seu dever com a comunidade global.

CA: De fato.

E o FMI depende do financiamento
dos principais membros.

KG: Sim.

CA: Você falou dos trilhões de dólares

que deseja disponibilizar
para as nações que precisam.

Pelo que eu entendi,

há unidades chamadas
Direitos Especiais de Saque.

Você basicamente cria
uma moeda dos membros.

E não houve nenhuma resistência dos EUA

para bloquear esse esforço
de levantar todo esse dinheiro?

KG: Então, US$ 1 trilhão é de nossas cotas

e da nossa capacidade de mover dinheiro

de membros prósperos
das economias avançadas

e emprestá-lo com juros
muito baixos ou nulos

para os mercados emergentes
em desenvolvimento.

Tínhamos esse trilhão,

e o que foi muito interessante,
nem todo mundo percebeu isso,

os EUA, em seu pacote
de estímulo de US$ 2 trilhões,

incluiu o apoio ao FMI.

Os Direitos Especiais de Saque
são algo que nós, de fato,

ainda não temos consenso entre os membros.

Foi feito durante a crise de 2009,

dando liquidez,

e vale para todo mundo.

Há muitas vozes; incluindo a minha,
falei com o G20 sobre isso;

que estão dizendo que pode ser
uma boa coisa a se fazer agora.

Há razões para não ser apoiado,
não é só por capricho.

O problema dos Direitos Especiais de Saque
é que, quando os emitimos,

eles vão para todos os membros,

as economias avançadas
recebem 62% da nova alocação

e há algumas que estão dizendo:

"Podemos pensar em algo mais direcionado

ou dirigido exclusivamente
a quem precisa?"

Mas, Chris, tudo está sobre a mesa.

À medida que a crise se desenrola,

precisamos fazer mais,
trazermos os membros para fazerem mais.

CA: Whitney.

WPR: Temos uma pergunta da comunidade
sobre o que vocês estão discutindo agora.

Yavnika Khanna pergunta:

"Que países serão resilientes
na Grande Transformação:

aqueles com líderes populares
ou com sistemas financeiros sólidos?"

KG: Os dois são importantes.

Países com fundamentos sólidos

estão claramente passando por essa crise

com menos trauma do que aqueles
que tinham fundamentos fracos.

E, claro, a liderança é importante.

Como se mobiliza um país
para ações é importante.

Na minha opinião,
o que veríamos do outro lado,

os vencedores seriam aqueles
que pensam hoje nesta crise

também como uma oportunidade.

Claramente, a transformação digital
é uma grande oportunidade.

Mudar para ensino e governo eletrônico,

pagamentos e comércio eletrônico,

ligar pequenas e médias empresas

através do digital aos consumidores;

esse será um grande vencedor.

Em segundo lugar, eu espero muito

que cheguemos ao outro lado

com uma baixa pegada de carbono

e uma economia mais resiliente ao clima.

Aqueles que se moverem nessa direção

reduzirão o risco para si e para o mundo.

Desta outra crise que não estamos
falando muito esses dias,

mas não foi a lugar nenhum.

E se você não gosta da pandemia,
não vai gostar da crise climática.

Também, os países que estão pensando

em como tornar a economia no futuro

uma economia mais justa.

Em outras palavras,

temos visto a desigualdade
crescer antes desta crise.

Meus colegas que pesquisaram pandemias

têm uma lição muito amarga para nós.

Depois de pandemias, como da H1N1,

depois da SARS e do Zika,

a desigualdade aumentou.

Vamos deixar a desigualdade
aumentar depois dessa crise?

Se deixarmos,

estaremos destruindo
o tecido de nossas sociedades

e sinto que centenas de milhões
de pessoas nesta crise

prefeririam ter um mundo mais simples,

mais justo e equitativo para se viver,

definitivamente mais sustentável.

KG: Esses seriam os vencedores.

WPR: Definitivamente.

Mais uma pergunta da comunidade,

antes de devolvê-la ao Chris
para algumas perguntas finais.

Esta é de Sarah Rugheimer.

E a questão é:

"Quais são as principais mudanças
positivas em potencial no mundo

desta pandemia daqui a dois a dez anos?"

KG: Bem, eu falei um pouco sobre isso.

Primeiro, espero ver a política fiscal

nos ajudando a nos recuperar,

sendo voltada para a recuperação verde

e mais equitativa.

E isso está nas mãos dos legisladores.

Pode ser feito.

Em segundo lugar, espero muito nos ver

integrando o que aprendemos com a crise,

em termos de trabalho virtual.

Na minha organização, o FMI,

podemos reduzir drasticamente
nossa pegada de carbono

apenas sustentando as práticas
que estamos desenvolvendo agora,

e nós vamos.

Eu certamente espero ver, no futuro,

muito mais atenção a duas coisas
essenciais que vimos nesta crise.

Acesso universal à saúde de alguma forma,

sistemas de saúde fortes,

bem como fortes redes de segurança social,

criadas como estabilizadores automáticos
em um momento de choque.

E, a propósito, é mais barato
fazer isso dessa maneira.

A conta para todos será menor.

E também espero investimento em pessoas,

reconhecendo que agora
que vemos essa tragédia horrível,

a perda de vidas,

investir nas pessoas é o melhor
investimento que podemos fazer.

WPR: Isso é ótimo.

CA: Vejo você novamente
em um minuto, Whitney.

É tão inspirador escutar a energia
que você está trazendo para isso.

Acho que muitas pessoas assistindo

não esperavam escutar da diretora
do FMI essa ênfase em:

"Vamos resolver a crise climática,
enfrentar a desigualdade e a injustiça".

Você realmente acredita que neste momento,

essa crise pode ajudar a nos levar
a uma grande transformação?

As pessoas sentirão que é
seu trabalho parecer positiva,

que você tem que fazer isso.

Você realmente vê no caminho
a seguir que podemos superar?

Que tipo de prazo estamos
falando aqui, Kristalina?

KG: Uma coisa que aprendi
com a transição que vivi,

do planejamento central para os mercados,

é que é difícil, longo, doloroso

e é uma estrada que se desvia.

Portanto, não tenho expectativa
de milagre daqui para lá.

Mas realmente acredito que estamos

em um ponto da nossa história

no qual as pessoas exigem dos líderes

segurança e proteção,

e uma sociedade que não seja
despedaçada por conflitos.

Isso não é incomum de se ver.

Então, eu inverteria as coisas, Chris.

Depois de uma guerra,

nós vemos o mundo se unindo
e construindo um lugar melhor.

Por que não depois de uma pandemia?

E sim,

podemos cometer erros
e não seguir o caminho certo.

Mas certamente temos a obrigação
de tentar chegar àquele caminho.

KG: E todo mundo importa.

CA: Se você pudesse introduzir
uma ideia na mente de todos

e para os líderes mundiais que te escutam,

neste momento qual seria?

KG: Otimismo.

Construir um mundo melhor.

É possível, desejável, devemos fazê-lo.

CA: Parece otimismo como orientação,

não uma crença ingênua
de que vai acontecer,

mas uma determinação em fazê-lo.

É isso que você está pedindo,
usar como motivação para nos unir.

KG: Chris, tenho um minuto
ou já terminei, já preciso ir?

CA: Pode dizer uma última coisa.

KG: Eu quero dizer algo.

Recomendar ao público que assista ao filme

"Ponte dos Espiões".

Há uma parte no filme

em que os dois atores principais

conversam, o advogado e o espião russo.

O advogado diz: "As coisas estão ruins,
parece que você vai ser enforcado".

O espião está muito calmo.

O advogado diz: "Não está preocupado?"

O espião responde: "Ajudaria?"

Então, eis minha mensagem: é difícil,

mas preocupações não vão ajudar.

Ação positiva vai.

Mantenham-se positivos,
essa é a minha mensagem.

CA: Tenho que te agradecer.

É incrivelmente inspirador ver sua energia

e seu otimismo determinado,
vamos chamar assim.

Te desejamos o melhor

enquanto você usa sua posição
para nos ajudar a sair dessa confusão.

Muito obrigado, Kristalina,
por passar um tempo aqui no TED.

Obrigado.

WPR: Obrigada, Kristalina.