Como vencer - em termos evolutivos - e sobreviver a uma extinção em massa

Parabéns! Por estar aqui, vivo, você é um dos vencedores da história, o resultado de uma história de sucesso que já dura 4 bilhões de anos. Os outros 99% de espécies que já existiram estão mortos, seja por fogo, por inundações, asteroides, gelo, calor e pela fria e calculista seleção natural. Como tivemos tanta sorte? E será que continuaremos vencedores? Nesta palestra curta e divertida, a paleontóloga e TED Fellow Lauren Sallan compartilha ideias sobre como a sobrevivência dos nossos ancestrais às extinções em massa nos tornou quem somos hoje.

Parabéns.

Por estar aqui, assistindo ao vivo,
como membro de uma espécie em expansão,

você é um dos maiores
vencedores da história,

o resultado de uma história de sucesso
que já dura 4 bilhões de anos.

Você faz parte do 1% da vida.

Os perdedores, os 99% das espécies
que já viveram na Terra, estão mortos,

mortos pelo fogo, por inundações,
asteroides, predação, fome, gelo, calor

e pela fria e calculista seleção natural.

Seus ancestrais,
desde os primeiros peixes,

superaram todos esses desafios.

Você está aqui por causa
de oportunidades de ouro

que se tornaram possíveis
devido a extinções em massa.

(Risos)

É verdade.

O mesmo se aplica aos demais vencedores,
nossos parentes próximos,

os 34 mil tipos de peixes.

Como todos nós tivemos tanta sorte?

Vamos continuar vencendo?

Sou paleobióloga de peixes,

e uso toda essa gama de dados,
o registro fóssil,

para estudar por que algumas espécies
vencem e outras perdem.

Os vivos não servem pra isso.
Eles só sabem ganhar!

Então, precisamos consultar os mortos.

Como fazer peixes mortos falarem?

Museus contêm milhares
de lindos fósseis de peixes,

mas sua real beleza aparece

quando combinados com fósseis feios
e quebrados, existentes em maior número,

e transformados em uns e zeros.

Posso pesquisar numa base dados
de 500 milhões de anos

por padrões evolutivos.

Por exemplo,

formas de peixes podem ser
capturadas por coordenadas

e transformadas para revelar
grandes padrões de mudança

e tendências ao longo do tempo.

Eis a história de vencedores e perdedores
de apenas um evento crucial,

que descobri usando dados de fósseis.

Vamos voltar no tempo 360 milhões de anos,

seis vezes mais atrás no tempo
que a época do último dinossauro...

ao período devoniano, um mundo estranho.

Predadores armados com mandíbulas
superafiadas dominavam,

junto com peixes gigantes com ossos
enormes em suas barbatanas.

Peixes em forma de crustáceo
que vasculhavam o fundo do mar.

Os poucos parentes actinopterígeos
do salmão e do atum

se encolhiam no fundo da cadeia alimentar.

Os poucos e primeiros tubarões
viviam na costa, com medo.

Nossos primeiros ancestrais
de quatro patas, os tetrápodes,

lutavam pra sobreviver
em planícies de rios tropicais.

Os ecossistemas eram abarrotados.

Não havia escapatória,
nenhuma oportunidade à vista.

Aí, o mundo acabou.

(Risos)

Mas isso é uma coisa boa.

Noventa e seis por cento
de todas as espécies de peixe morreram

durante o evento Hangenberg,
359 milhões de anos atrás:

um intervalo de fogo e gelo.

Um mundo abarrotado foi
perturbado e exterminado.

Bem, talvez vocês achem
que esse foi o fim da história.

Os poderosos pereceram,
os mansos herdaram a Terra,

e aqui estamos nós.

Mas vencer não é tão simples.

Os poucos sobreviventes
vieram de diversos grupos,

todos superados em número,
e muito, por seus próprios mortos.

Variavam de grandes predadores
a pequenas presas,

de grandes a pequenos,
de marinhos a de água doce.

A extinção foi um filtro.

Só equilibrou o cenário.

O que realmente importou

foi o que sobreviventes fizeram ao longo
dos vários milhões de anos seguintes

naquele mundo devastado.

O antigos donos do pedaço
deviam ter uma vantagem.

Eles se tornaram ainda maiores,

armazenando energia,
investindo nos mais jovens,

se espalhando pelo mundo,
se alimentando de peixes,

mantendo o que sempre funcionou
e aproveitando bem o tempo.

Mesmo assim, só persistiram por um tempo,

declinando sem inovar
e se tornando fósseis vivos.

Ficaram presos demais
em sua forma de viver

e foram praticamente esquecidos.

Alguns dos sofridos actinopterígeos,
tubarões e tetrápodes

seguiram na direção oposta.

Ficaram menores,

vivendo pouco e morrendo jovens,

comendo pouco e se reproduzindo rápido.

Eles tentaram novos alimentos,
casas diferentes,

cabeças estranhas e corpos esquisitos.

(Risos)

E eles encontraram oportunidade,

proliferaram e garantiram o futuro
para as suas 60 mil espécies vivas,

inclusive você.

Por isso eles parecem familiares.
Vocês sabem os nomes deles.

Vencer não tem a ver
com eventos aleatórios

ou com uma corrida armamentista.

Em vez disso, os sobreviventes tomaram
caminhos evolutivos e alternativos.

Alguns tiveram incrível sucesso,

enquanto outros se tornaram
peixes mortos ambulantes.

(Risos)

Um verdadeiro termo científico.

(Risos)

Agora estou investigando

como esses caminhos para vitória
ou derrota se repetem ao longo do tempo.

Meu laboratório já compilou milhares
e milhares de peixes mortos,

mas ainda faltam muitos.

Porém, já está claro

que a sobrevivência de nossos ancestrais
às extinções em massa

e a forma como reagiram
ao cenário resultante delas

nos tornaram quem somos hoje.

O que isso nos revela sobre o futuro?

Desde que algumas espécies sobrevivam,

a vida vai se recuperar.

Os versáteis e os sortudos
não só vão recompor o que perdemos,

mas vão ganhar de novas formas.

Só que pode levar vários milhões de anos.

Obrigada.

(Aplausos)