A aventura movida a energia solar de Bertrand Piccard

Para o amanhecer de uma nova década, o aventureiro Bertrand Piccard nos apresenta um desafio: Encontrar motivação naquilo que parece impossível. Ele compartilha seus planos de fazer o que muitos dizem que não pode ser feito -- voar sem escalas ao redor do mundo numa aeronave movida a energia solar.

Bem, eu aprendi muitas coisas sobre balonismo.

especialmente ao final desses vôos de balão

ao redor do mundo que eu fiz com Brian Jones.

Quando eu fiz esta foto,

a janela estava congelada devido a umidade da noite.

E do outro lado o sol estava nascendo.

Então, vocês veem que do outro lado do gelo

vocês tem o desconhecido,

vocês tem o que não é óbvio,

vocês tem o que não foi visto,

para as pessoas que não ousam

atravessar o gelo.

Há muitas pessoas

que preferem sofrer no gelo que elas conhecem

ao invés de assumirem o risco de atravessar o gelo

para ver o que há do outro lado.

E eu penso que isto é um dos principais problemas da nossa sociedade.

Nós aprendemos, talvez não a famosa audiência do TED,

mas tantas outras pessoas aprendem

que o desconhecido, as dúvidas,

os pontos de interrogação são perigosos.

E nós temos que resistir às mudanças.

Nós temos que manter tudo sob controle.

Bem, o desconhecido é parte da vida.

E nesse sentido, o balonismo é uma metáfora bonita.

Porque no balão, como na vida,

nós voamos bastante em direções imprevistas.

Nós queremos ir numa direção,

mas o vento empurra-nos em outra direção, como na vida.

E a medida que nos lutamos horizontalmente,

contra a vida, contra o vento,

contra o que está acontecendo conosco,

a vida é um pesadêlo.

Como nós dirigimos um balão?

Compreendendo que a afmosfera

é composta de diferentes camadas de vento

e que todos tem diferentes direções.

Então, nós entendemos que se quisermos mudar nossa trajetória,

na vida, ou no balão,

nós temos que mudar a altitude.

Mudar a altitude, na vida,

significa elevar o nível filosófico, psicológico,

ou espiritual.

Mas como nós fazemos isto?

No balonismo ou na vida,

como nós mudamos a altitude?

Como partimos da metafóra

para algo mais prático que nós podemos realmente

usar todos os dias?

Bem, num balão é fácil, nós temos lastro.

E quando nós soltamos o lastro pela borda, nós subimos.

Areia, água, todo o equipamento que nós não precisamos mais.

E eu penso que na vida deveria ser exatamente dessa maneira.

Sabe, quando as pessoas falam sobre pioneirismo,

frequentemente elas acreditam que os pioneiros

são aqueles que tem novas idéias.

Isto não é verdade.

Pioneiros não são aqueles que tem novas idéias,

porque novas idéias são muito fáceis de se ter.

Nós apenas fechamos nossos olhos por um minuto e voltamos

com muitas idéias novas.

Não, o pioneiro é aquele que

permite a sí mesmo jogar pela borda muito lastro.

Hábitos, certezas,

convicções, pontos de exclamação,

paradigmas, dogmas.

E quando nós somos capazes de fazer isto

o que acontece?

A vida não é mais

apenas uma linha indo em uma direção

em uma dimensão. Não.

A vida será feita de todas as linhas possíveis

que vão em todas as direções possíveis

em três dimensões.

E pioneirismo será cada vez que nos permitirmos

explorar este eixo vertical.

É claro, não apenas como a atmosfera para um balão

mas na própria vida.

Explorar este eixo vertical, que significa

explorar todas as maneiras diferentes de fazer,

todas as maneiras diferentes de se comportar, todas as maneiras diferentes de pensar,

antes de nós encontrarmos aquela que vai na direção que desejamos.

Isto é muito prático.

Isto pode ser usado na política.

Isto pode ser aplicado na espiritualidade.

Isto pode ser aplicado no meio ambiente.

nas finanças, na educação das crianças.

Eu acredito profundamente

que a vida é uma aventura muitto maior

se nós conseguirmos fazer política

sem as separações entre a esquerda e a direita.

Porque nós vamos jogar fora estes dogmas políticos.

Eu acredito profundamente que nós podemos proteger muito mais o meio ambiente

se nos livrarmos - se jogarmos fora

este fundamentalismo que alguns ambientalistas mostraram no passado.

E que nós podemos apontar para uma maior espiritualidade

se nos livrarmos dos dogmas religiosos.

Jogando pela borda, como lastros, para mudar nossa direção.

Bem, estas são basicamente coisas que eu acreditava há muito tempo.

Mas na realidade eu tive que dar a volta ao mundo num balão

para ser convidado a falar a respeito.

(Risos)

(Aplausos)

Está claro que não é fácil saber qual lastro jogar

e que altitude tomar. Algumas vezes nós precisamos

amigos, membros da família ou um psiquiatra.

Bem, nos balões nos precisamos do meteorologista,

é ele quem calcula a direção de cada camada de vento,

em cada altitude, para ajudar o balonista.

Mas algumas vezes é muito paradoxal.

Quando Brian Jones e eu estávamos voando ao redor do mundo,

o meteorologista um dia nos pediu para voar

bem baixo e bem devagar.

E quando nós calculamos, nós pensamos que nunca iriamos dar a volta

ao redor do mundo àquela velocidade.

Então nós desobedecemos. Voamos muito mais alto e com o dobro da velocidade.

E eu estava táo orgulhoso de ter achado aquela corrente de vento

que eu chamei o meteorologista,

e disse a ele, "Ei cara, você não acha que nós temos bons pilotos aqui?

Nós voamos com o dobro da velocidade que você previu."

E ele me disse, "Não faça faça isso. Desça imediatamente

para baixar a velocidade."

E eu comecei a discutir. Eu disse, "Eu não vou fazer isso.

Nós não temos gás suficiente para voar tão devagar."

E ele me disse, "Sim, mas com a baixa pressão que você tem na sua esquerda

se você voar tão rápido, em duas horas

você vai virar a esquerda e terminar no Pólo Norte.

(risos)

E então ele me perguntou -

e isto é uma coisa que eu nunca vou esquecer em toda a minha vida --

ele apenas me perguntou, "Você é o bom piloto lá em cima.

O que você realmente quer? Você quer ir bem rápido

na direção errada, ou ir devagar na direção certa?

(risos)

(Aplausos)

E esta é a razão pela qual nos precisamos do meteorologista.

É por isso que você precisa de pessoas com visão de longo prazo

E isto é precisamente o que falha

na visão política que temos agora,

nos governos politizados.

Nós estamos consumindo, como vocês ouvem,

tanta energia,

não entendendo que este insustentável

meio de vida não pode durar muito tempo.

Então, finalmente, nós descemos.

Nós reduzimos a velocidade. E passamos por momentos de medo

porque não tinhamos idéia como a pequena quantidade de gás

que restava no balão

podia nos permitir viajar 45 mil quilometros.

Mas era esperado que tivessemos dúvidas, era esperado que tivessemos medos.

E na verdade, foi aí que a aventura realmente iniciou.

Quando nós estavamos voando sobre o Saara e sobre a Índia

Eram ótimas ferias.

Nó podiamos aterrisar a qualquer momento e voar de volta para casa de avião.

No meio do Pacífico,

Quando não se tem bons ventos, não se pode aterissar,

não se pode voltar.

Isto é uma crise.

Este é o momento onde você tem que acordar

da maneira automática de pensar.

É o momento onde você tem que motivar

seu potencial interior,

sua criatividade.

É quando você tem que jogar fora todo o lastro,

todas as certezas,

Para se adaptar a uma nova situação.

E na verdade, nós mudamos completamente nosso plano de vôo.

Nós mudamos completamente nossa estratégia.

E depois de 20 dias, nós aterissamos com sucesso no Egto.

Mas se eu mostro a vocês esta foto

não é para dizer como nós estavamos felizes.

É para mostrar quanto gás restava

nos últimos garrafões.

Nós partimos com 3,7 toneladas de propano líquido.

Nós aterrissamos com 40 quilos.

Quando eu vi aquilo, eu fiz uma promessa a mim mesmo.

Eu prometi que da próxima vez que eu voasse ao redor do mundo

seria sem combustível,

Independente de energia fóssil,

para que fosse seguro.

não ser ameaçado pelo medidor de combustível.

Eu não tinha idéia de como isto seria possível.

Eu apenas pensei que é um sonho e eu quero realizá-lo.

E quando a capsula do meu balão foi introduzida

oficialmente no Museu do Ar e Espaço, em Washington,

junto com a aeronave de Charles Lindbergh

com a Apolo 11, com o protótipo dos Irmãos Wright,

com o 61 de Chuck Yeager,

Então eu tive um pensamento.

Eu pensei, bem o século 20 foi brilhante.

Ele permitiu fazer todas aquelas coisas.

Mas isto não será mais possível no futuro.

Necessita-se de muita energia, vai sair muito caro.

Será proibitivo

porque nos temos que preservar nossos recursos naturais

daqui a umas poucas décadas.

Então, como nós podemos perpetuar

o pioneirismo

com alguma coisa que seja independente do combustível fóssil?

E aí foi quado o projeto Impulso Solar

realmente começou

a girar em minha cabeça.

E eu creio, é uma ótima metáfora também

para o século 21.

O pioneirismo deve continuar, mas em outro nivel.

Não para conquistar o planeta ou o espaço,

não mais. Isto já foi feito,

mas para melhorar a qualidade de vida.

Como nós podemos ir através do gelo da segurança

para fazer a coisa mais incrível possível ?

O que é completamente impossível hoje --

livrar-se da dependência em energa fóssil.

Se você disser as pessoas, nós queremos ser independentes

do combustível fóssil em nosso mundo,

as pessoas vão rir de você, exceto aqui,

onde pessoas malucas são convidadas a falar.

(risos)

então, a idéia é que se nos voarmos ao redor do mundo

em um aeroplano movido a energia solar,

não usando absolutamente nenhum combustível,

ninguém jamais poderá dizer no futuro

que é impossível fazer isto

para carros, para sistemas de aquecimento,

para computadores e assim por diante.

Bem, aviães a energia solar não são novos.

Eles voaram no passado, mas sem

capacidade de armazenamento, sem baterias.

O que significa que eles mais provaram

os limites da energia renovável

do que o potencial dela.

Se nós quisermos mostrar o potencial,

nós temos que voar dia e noite.

O que significa carregar as baterias durante o vôo,

para poder usar-las durante a noite,

e voar o dia seguinte de novo.

Isto já foi feito com controle remoto

em pequenos modelos, sem pilotos.

Mas ainda permanece um fato isolado

porque o público não pode se identificar com ele.

Eu acho que você precisa um piloto no avião

que possa falar com as universidades,

que possa falar com os estudantes,

falar com os políticos durante o vôo,

e realmente fazer disso uma aventura humana.

Para isso, infelizmente,

quatro metros de envergadura de asas não é suficiente.

Você precisa de 64 metros de envergadura.

64 metros de envergadura de asas para levar um piloto, as baterias,

voar lentamente mas com eficiência aerodinâmica.

Por que isso? Porque não é fácil repor o combustível.

Com certeza.

E com 200 metros quadrados de energia solar no nosso avião,

nós podemos produzir a mesma energia

que 200 pequenas lâmpadas.

Isto significa uma árvore de Natal, uma grande árvore de Natal.

Então a pergunta é, como levar um piloto ao redor do mundo

com um avião que usa

a mesma quantidade de energia que uma grande árvore de Natal?

As pessoas vão dizer, é impossível,

e é exatamente por isso que nós tentamos fazê-lo.

Nós lançamos o projeto com meu colega Andre Borschberg

seis anos atrás.

Agora nós temos 70 pessoas no grupo trabalhando nisso.

Nós passamos pelos estágios de simulação, design,

computação, preparação da construção

do primeiro protótipo.

Isto foi realizado depois de dois anos de trabalho.

Cabine, propulsores, hélices.

Apenas a fuselagem aqui, ela é tão leve.

Ela não foi projetada por um artista, mas poderia ter sido.

50 quilos para toda a fuselagem.

Uns dois quilos a mais para as vergas das asas.

Esta é a estrutura completa do avião.

E um mês atrás nós o revelamos.

Vocês não podem imaginar como foi isto para o grupo

que vem trabalhando a seis anos nisso.

para mostrar que não é só um sonho e uma visão.

É um avião real.

Um avião real que nós podemos finalmente apresentar.

E qual é o objetivo agora?

O objetivo é decolar,

no final deste ano para o primeiro teste,

mas principalmente, no próximo ano, primavera ou verão,

decolar com nossas próprias forças,

sem ajuda adicional, sem ser rebocado,

subir a 9 mil metros de altitude,

ao mesmo tempo que carregamos as baterias,

nós usamos os motores, e quando chegarmos a altura máxima,

chegaremos ao início da noite.

E aí,haverá somente uma meta, só uma,

alcançar o próximo nascer do sol antes que as baterias estejam vazias.

(Risos)

E isto é exatamente o símbolo do nosso mundo,

se o nosso avião for muito pesado,

se o piloto gastar muita energia,

nós nunca conseguiremos passar pela noite.

E no nosso mundo, se continuarmos depredando-o,

gastando nossas fontes de energia,

se continuarmos construindo coisas que consomem tanta energia

que muitas das empresas agora estão indo a falência,

está claro que nunca deixaremos o planeta para a próxima geração

sem um problema maior.

Então, vocês veem que este avião é mais um símbolo.

Eu não acho que ele vá transportar 200 pessoas

nos próximos anos.

Mas quando Lindbergh cruzou o Atlântico

a capacidade total era apenas a suficiente

para uma pessoa e algum combustível.

E 20 anos depois, haviam 200 pessoas

em cada avião cruzando o Atlântico.

Então, nós temos que começar,

e mostrar o exemplo.

Um pouco como a imagem aqui.

Esta pintura de Magritte,

no museu na Holanda que eu gosto tanto.

É um cachimbo e está escrito, "Isto não é um cachimbo".

Isto não é um avião.

Isto é um símbolo do que nós podemos conseguir,

quando nós acreditamos no impossível.

Quando nós temos um grupo,

quando nós temos pioneirismo,

e principalmente quando nós entendemos

que todas as certezas que nós temos

deveriam ser jogadas fora.

O que me agrada muito

é que no começo eu pensei que nós tinhamos que voar

ao redor do mundo sem combustível

para que nossa mensagem pudesse ser entendida.

E cada vez mais, eu e André somos convidados ao redor do mundo

para falar do projeto, para falar do símbolo que ele representa,

convidados por políticos, por fóruns de energia,

para mostrar que não é mais

completamente loucura

pensar em livrar-se da dependência

de combustíveis fósseis.

Então, através de pálestras coma esta de hoje,

através de entrevistas, através de encontros,

nosso objetivo é conseguir o maior número possível de pessoas para o nosso time.

O sucesso não virá

se nos "apenas", abre e fecha áspas,

voarmos ao redor do mundo em um avião movido a energia solar.

Não, o sucesso virá

se as pessoa forem suficientemente motivadas

a fazer exatamente o mesmo no seu dia-a-dia,

economizar energia, partir para a reciclagem.

E isto é possível. Vocês sabem, com a tecnologia que temos hoje

nós podemos economizar entre 30 a 50 porcento

da energia de um país na Europa,

e nós podemos resolver o restante com recicláveis.

Isto deixa 25 ou 30 porcento para

óleo, gás, carvão, energia nuclear ou qualquer que seja.

Isto é aceitável.

Este é o motivo pelo qual todas as pessoas que acreditam

nesse tipo de espírito

são bem vindas ao grupo.

Você pode apenas ir a SolarImpulse.com e assinar

para se informar do que estamos fazendo.

Mas também para muito mais, para obter orientações,

para deixar seu comentário, para propagar a idéia

de que se é possível no ar

sem dúvida é possível no chão.

E a cada vez que tivermos algum gelo no futuro

nós vamos saber que a vida será magnífica,

e o sucesso será brilhante

se nós ousarmos vencer nosso medo do gelo,

e ir através do obstáculo,

ir através do problema, para ver o que há do outro lado.

Então você vê, isto é o que nós estamos fazendo.

Todos tem suas metas, seus sonhos,

tem suas visões.

A pergunta que eu deixo para vocês agora

é qual é o lastro

que vocês gostariam de jogar fora?

Qual será a altitude na qual

vocês gostariam de voar nas suas vidas,

para conseguir o sucesso que vocês desejam ter,

para chegar ao ponto que realmente pertence a vocês,

com o potencial que vocês têm,

e aquele que vocês podem realmente desenvolver?

Por que a maior energia renovável que nós temos

é o nosso próprio potencial, nossa própria paixão.

Então vamos segui-la e eu desejo a vocês uma excelente aventura

nas asas do futuro. Muito Obrigado.

(Aplausos)