Seja um artista, já!
-
0:00 - 0:02O tema da minha palestra de hoje é:
-
0:02 - 0:05"Seja um artista, já."
-
0:05 - 0:08A maior parte das pessoas,
quando se aborda este tema, -
0:08 - 0:11ficam tensas e criam resistência:
-
0:11 - 0:14"A arte não me interessa
e agora estou ocupado. -
0:14 - 0:16Tenho que ir para a escola,
encontrar um emprego, -
0:16 - 0:18levar os meus filhos à escola..."
-
0:19 - 0:24Pensam: "Estou muito ocupado.
Não tenho tempo para a arte." -
0:25 - 0:27Há centenas de razões
para não sermos artistas agora. -
0:27 - 0:29Elas não surgem na vossa cabeça?
-
0:29 - 0:31Existem tantas razões para não o sermos
-
0:31 - 0:33que nem sabemos
porque é que deveríamos ser. -
0:33 - 0:36Não sabemos porque é
que deveríamos ser artistas, -
0:36 - 0:39mas temos muitos motivos
para não o sermos. -
0:39 - 0:41Porque é que as pessoas se opõem
-
0:41 - 0:43instantaneamente à ideia
de se relacionarem com a arte? -
0:44 - 0:47Talvez pensem que arte
é só para os talentosos -
0:47 - 0:52ou para profissionais
bem preparados e treinados. -
0:53 - 0:57Alguns podem pensar que já estão
longe da arte há muito tempo. -
0:57 - 1:01Podem estar, mas eu não acredito nisso.
-
1:01 - 1:04Este é o tema da minha palestra hoje.
-
1:04 - 1:06Todos nós nascemos artistas.
-
1:06 - 1:09Se vocês têm filhos, sabem
do que é que eu estou a falar. -
1:09 - 1:13Quase tudo o que as crianças fazem é arte.
-
1:13 - 1:16Eles desenham com lápis de cera
nas paredes. -
1:16 - 1:18Dançam ao ver a Son Dam Bi a dançar na TV.
-
1:18 - 1:21mas não podemos dizer
que é a dança da Son Dam Bi -
1:21 - 1:23— é uma dança única de crianças.
-
1:23 - 1:28Dançam uma dança estranha
e contagiam com a canção delas. -
1:28 - 1:32Talvez a arte delas seja uma coisa
que apenas os pais delas suportam, -
1:32 - 1:36porque eles praticam essa arte
durante o dia inteiro. -
1:36 - 1:37(Risos)
-
1:37 - 1:41As pessoas ficam
um pouco fartas das crianças. -
1:42 - 1:44As crianças às vezes representam monólogos
-
1:44 - 1:47— brincar às casinhas
é um monólogo ou um teatro. -
1:47 - 1:50Algumas crianças, quando ficam
um pouco mais velhas, -
1:50 - 1:52começam a mentir.
-
1:52 - 1:58Normalmente os pais lembram-se
da primeira vez que os filhos mentiram. -
1:57 - 1:59Ficam admirados.
-
1:59 - 2:01"Agora estás a mostrar
o que és," diz a mãe. -
2:01 - 2:04E pensa: "Porque é que ele
herdou isso do pai?" -
2:04 - 2:06Pergunta-lhe:
"Que tipo de pessoa vais ser?" -
2:06 - 2:08Mas não deviam preocupar-se.
-
2:08 - 2:12Quando uma criança começa a mentir
é quando começa a contar histórias. -
2:12 - 2:13(Risos)
-
2:13 - 2:15Estão a falar de coisas que não veem.
-
2:15 - 2:17É incrível. É um momento maravilhoso.
-
2:17 - 2:19Os pais deviam festejar.
-
2:19 - 2:22"Viva! O meu filho começou a mentir!
-
2:22 - 2:23(Aplausos)
-
2:23 - 2:26Ótimo! Isso exige uma celebração".
-
2:26 - 2:27Por exemplo, uma criança diz:
-
2:27 - 2:30"Mãe, sabes? Encontrei um ET
a caminho de casa." -
2:30 - 2:33Uma mãe normal responde:
"Deixa-te de loucuras." -
2:33 - 2:37Uma boa mãe responderia uma coisa assim:
-
2:37 - 2:41"A sério? Um ET? Como era?
Disse-te alguma coisa? -
2:41 - 2:42Onde o encontraste?"
-
2:42 - 2:44"Em frente do supermercado."
-
2:45 - 2:47Quando temos uma conversa assim,
-
2:47 - 2:51a criança tem que inventar para se tornar
responsável pelo que começou. -
2:51 - 2:53Portanto, desenvolve uma história.
-
2:53 - 2:57Claro que isto é uma história infantil
-
2:57 - 3:01mas criar uma frase atrás de outra
-
3:01 - 3:04é o que faz
um escritor profissional como eu. -
3:06 - 3:08Em essência, não é diferente.
-
3:08 - 3:11Roland Barthes disse uma vez
sobre os romances de Flaubert: -
3:11 - 3:13"Flaubert não escreveu um romance.
-
3:13 - 3:16Só ligou umas frases a outras.
-
3:16 - 3:20A essência dos romances de Flaubert
é o eros entre as frases" -
3:21 - 3:24Isso é verdade — um romance,
basicamente, é escrever uma frase. -
3:24 - 3:27Depois, sem violar o âmbito da primeira,
-
3:27 - 3:28escrever a frase seguinte.
-
3:28 - 3:30Continuamos a criar ligações.
-
3:30 - 3:32Olhem para esta frase:
-
3:32 - 3:35"Uma manhã, quando Gregor Samsa
acordou dum sonho inquieto, -
3:35 - 3:38descobriu que se tinha transformado
num inseto monstruoso." -
3:38 - 3:41Sim, esta é a primeira frase
de "A Metamorfose", de Franz Kafka. -
3:41 - 3:43Ao escrever uma frase tão injustificável
-
3:43 - 3:45e ao continuar para justificá-la,
-
3:45 - 3:48a obra de Kafka ficou como uma obra-prima
da literatura contemporânea. -
3:48 - 3:50Kafka não mostrou ao pai o seu trabalho.
-
3:50 - 3:52Ele não se dava muito bem com o pai.
-
3:52 - 3:56Escreveu estas frases, a sós.
-
3:56 - 3:58Se ele tivesse mostrado ao pai,
ele teria pensado: -
3:58 - 4:00"O meu filho enlouqueceu mesmo".
-
4:00 - 4:03E está certo. A arte tem tudo a ver
com enlouquecer um pouco -
4:03 - 4:04e justificá-lo na frase seguinte,
-
4:04 - 4:06o que não é diferente
do que as crianças fazem. -
4:06 - 4:08Uma criança que começa a mentir
-
4:08 - 4:11está a dar o primeiro passo
como contador de histórias. -
4:11 - 4:13As crianças fazem arte.
-
4:13 - 4:15Não se cansam e divertem-se com isso.
-
4:15 - 4:17Há dia, estive na ilha Jeju.
-
4:17 - 4:21Quando as crianças estão na praia,
a maioria gosta de brincar na água. -
4:21 - 4:25Mas algumas passam muito tempo na areia,
-
4:25 - 4:28a criar montanhas e mares
-
4:28 - 4:31— bem, mares não, mas coisas diferentes —
pessoas e cachorros, etc. -
4:31 - 4:32Os pais dizem-lhes:
-
4:32 - 4:34"As ondas vão destruir tudo."
-
4:34 - 4:36Por outras palavras, não vale a pena.
-
4:36 - 4:37Não há necessidade.
-
4:37 - 4:39Mas as crianças não se importam.
-
4:39 - 4:42Estão a divertir-se nesse momento
e querem continuar a brincar na areia. -
4:42 - 4:45As crianças não fazem isso
por alguém lhes ter pedido. -
4:45 - 4:47Não são os patrões que mandam,
-
4:47 - 4:49nem qualquer pessoa,
elas apenas o fazem. -
4:49 - 4:52Quando vocês eram pequenos,
aposto que passavam algum tempo -
4:52 - 4:55a desfrutar o prazer da arte primitiva.
-
4:55 - 4:59Quando peço aos meus alunos que escrevam
sobre o seu momento mais feliz, -
4:59 - 5:02muitos escrevem
sobre uma experiência artística antiga -
5:02 - 5:05que tiveram quando eram crianças.
-
5:05 - 5:09Aprender a tocar piano pela primeira vez
e tocar a quatro mãos com um amigo, -
5:09 - 5:13ou representar uma paródia ridícula
com amigos idiotas — coisas assim. -
5:13 - 5:16Ou quando criaram o primeiro filme
com uma máquina de filmar antiga. -
5:16 - 5:19Falam sobre esse tipo de experiências.
-
5:19 - 5:21Vocês devem ter tido esse tipo de momento.
-
5:21 - 5:23Nesse momento, a arte faz-nos felizes
-
5:23 - 5:24porque não é trabalho.
-
5:24 - 5:27O trabalho não nos faz feliz, pois não?
Geralmente é difícil. -
5:27 - 5:30O escritor Michel Tournier
tem um ditado famoso. -
5:30 - 5:32É um pouco malicioso.
-
5:32 - 5:36"O trabalho é contra a natureza humana.
A prova é que ficamos cansados." -
5:36 - 5:37(Risos)
-
5:37 - 5:40Porque é que o trabalho nos cansaria
se isso estivesse na nossa natureza? -
5:40 - 5:42Brincar não nos cansa.
-
5:42 - 5:43Podemos brincar a noite inteira.
-
5:43 - 5:46Se trabalhamos à noite,
devemos ganhar horas extras. -
5:46 - 5:48Porquê? Porque é cansativo
e sentimo-nos exaustos. -
5:48 - 5:52Mas as crianças, normalmente criam arte
por diversão. É uma brincadeira. -
5:52 - 5:54Não desenham para vender
o seu trabalho a um cliente -
5:54 - 5:57nem tocam piano para ganhar
dinheiro para a família. -
5:58 - 6:00É claro, há crianças
que tiveram que fazer isso. -
6:00 - 6:02Vocês conhecem este cavalheiro, não é?
-
6:02 - 6:06Teve que fazer uma "tournée"
por toda a Europa para ajudar a família -
6:06 - 6:07— Wolfgang Amadeus Mozart —
-
6:07 - 6:10mas isso foi há centenas de anos,
por isso é uma exceção. -
6:11 - 6:15Infelizmente, a certa altura a nossa arte
— um passatempo tão agradável — termina. -
6:15 - 6:18As crianças têm que ir à escola,
fazer os trabalhos de casa -
6:18 - 6:21e, claro, têm aulas
de piano ou de "ballet", -
6:21 - 6:23mas deixam de ser engraçadas.
-
6:23 - 6:25Vocês dizem-lhe
o que devem fazer e há competição. -
6:25 - 6:27Como é que pode ser divertido?
-
6:27 - 6:32Se estão na escola básica
e ainda desenham nas paredes -
6:32 - 6:36de certeza que vão ter problemas com a mãe.
-
6:36 - 6:38Além disso,
-
6:38 - 6:42se continuarem a agir como artistas,
ao ficarem mais velhas, -
6:42 - 6:46irão sentir cada vez mais pressão.
-
6:46 - 6:52As pessoas vão questionar os seus atos
e pedir-lhes que ajam apropriadamente. -
6:52 - 6:54Essa é a minha história:
-
6:54 - 6:56Eu estava no oitavo ano
e entrei num campeonato de desenho -
6:56 - 6:58na minha escola em Gyeongbokgung.
-
6:58 - 7:02Eu estava a fazer o meu melhor
e o professor aproximou-se e perguntou: -
7:02 - 7:04"O que é que estás a fazer?"
-
7:04 - 7:07"Estou a desenhar
o melhor que posso," disse. -
7:07 - 7:09"Porque é que só estás a usar o preto?"
-
7:09 - 7:12Eu estava a colorir de preto
a folha do caderno. -
7:12 - 7:14E eu expliquei:
-
7:14 - 7:17"É uma noite escura
e há um corvo num ramo." -
7:17 - 7:18Então o meu professor disse:
-
7:18 - 7:21"Ai é? Young-ha, podes não ter
muito jeito para o desenho, -
7:21 - 7:24mas tens um grande talento
para contar histórias." -
7:24 - 7:26Pelo menos, era o que eu desejava
que ele dissesse. -
7:26 - 7:28"Já vais ver, meu malandro!"
foi a resposta. -
7:28 - 7:29(Risos)
-
7:29 - 7:31"Já vais ver!" disse ele.
-
7:31 - 7:33Tínhamos que desenhar o palácio,
o Gyeonghoeru, etc.. -
7:33 - 7:36mas eu estava a colorir tudo de preto,
-
7:36 - 7:37Então ele tirou-me do grupo.
-
7:37 - 7:40Também havia lá muitas meninas
-
7:40 - 7:42e eu fiquei terrivelmente envergonhado.
-
7:42 - 7:45Não atenderam a nenhuma
das minhas explicações ou desculpas -
7:45 - 7:48e eu dei uma bela bronca.
-
7:50 - 7:53Se ele fosse um bom professor,
teria respondido o que eu disse antes, -
7:53 - 7:55"Young-ha, podes não ter talento
para o desenho, -
7:55 - 7:59mas tens talento para inventar histórias,"
e ter-me-ia encorajado. -
8:00 - 8:02Mas raras vezes encontramos
esse tipo de professor. -
8:02 - 8:05Depois, cresci e fui
para as galerias europeias. -
8:05 - 8:09Eu era um estudante universitário
e pensei que isso era muito injusto. -
8:09 - 8:11Vejam o que eu encontrei.
-
8:11 - 8:12(Risos)
-
8:12 - 8:14(Aplausos)
-
8:14 - 8:17Obras como esta expostas em Basileia,
enquanto eu fora castigado. -
8:17 - 8:22e ficara em frente do palácio
com o meu desenho pendurado na boca. -
8:22 - 8:25Olhem para isto.
Não parece papel de parede? -
8:25 - 8:27A arte contemporânea,
que mais tarde descobri, -
8:27 - 8:30não é explicada por uma história
esfarrapada como a minha. -
8:30 - 8:32Não há corvos.
-
8:32 - 8:34A maior parte das obras
não tem nenhum título: "Sem título". -
8:34 - 8:36(Risos)
-
8:36 - 8:38Enfim, a arte contemporânea no século XX
-
8:38 - 8:43é fazer algo estranho e preencher o vazio
com explicações e interpretações -
8:43 - 8:45— essencialmente o mesmo que eu fizera.
-
8:45 - 8:47Claro, o meu trabalho foi muito amador,
-
8:47 - 8:50mas vamos recorrer
a exemplos mais famosos. -
8:50 - 8:53Este é de Pablo Picasso.
-
8:53 - 8:55Ele juntou um guiador e um assento
duma bicicleta -
8:55 - 8:57e chamou-lhe "Cabeça de boi."
-
8:57 - 8:59Soa convincente, certo?
-
9:00 - 9:04Em seguida, houve quem agarrasse
num mictório e lhe chamasse "Fonte". -
9:04 - 9:06Foi Duchamp.
-
9:06 - 9:07Assim, preencher a lacuna
-
9:07 - 9:10entre a explicação
e um ato estranho com histórias -
9:10 - 9:13é de facto o que é a arte contemporânea.
-
9:13 - 9:16Picasso fez esta declaração:
-
9:15 - 9:19"Eu não desenho o que vejo,
mas o que penso." -
9:19 - 9:22Sim, isso significa que eu não tinha
que desenhar Gyeonghoeru. -
9:22 - 9:24Foi pena não saber naquela época
o que Picasso dissera. -
9:24 - 9:27Podia ter argumentado melhor
com o meu professor. -
9:27 - 9:29Infelizmente, os pequenos artistas
dentro de nós -
9:29 - 9:32são asfixiados até à morte,
-
9:32 - 9:35antes de começarem a lutar
contra os opressores da arte. -
9:35 - 9:36Ficam trancados.
-
9:36 - 9:38Esta é a nossa tragédia.
-
9:38 - 9:43Que acontece quando os pequenos artistas
ficam trancados, banidos ou até mortos? -
9:43 - 9:45O nosso desejo artístico
não se vai embora. -
9:45 - 9:47Queremos exprimir-nos,
para nos revelarmos, -
9:47 - 9:50mas com o artista morto,
-
9:50 - 9:53o desejo artístico
revela-se na forma escura. -
9:53 - 9:55Nos bares de "karaoke",
há sempre pessoas que cantam -
9:55 - 9:58"She's Gone" ou "Hotel California",
-
9:58 - 10:00imitando os solos de guitarra.
-
10:00 - 10:03Geralmente são horríveis.
Realmente horríveis. -
10:03 - 10:06Há pessoas que se transformam
em roqueiros como este. -
10:06 - 10:08Outras pessoas dançam em clubes.
-
10:08 - 10:10Pessoas que teriam gostado
de contar histórias -
10:10 - 10:14acabam a provocar
na Internet toda a noite. -
10:14 - 10:17É como um talento de escrita
se revela pelo lado escuro. -
10:17 - 10:21Às vezes vemos pais que ficam
mais animados do que os filhos -
10:21 - 10:24a brincar com Legos
ou a montar robôs de plástico. -
10:24 - 10:26Dizem: "Não mexas. O papá é que faz. "
-
10:26 - 10:29O garoto já perdeu o interesse
e está a fazer outra coisa, -
10:29 - 10:31mas o pai sozinho constrói castelos.
-
10:32 - 10:34Isso mostra que os impulsos artísticos
dentro de nós -
10:34 - 10:36são suprimidos, mas não destruídos.
-
10:36 - 10:40Mas podem muitas vezes revelar-se
negativamente, sob a forma de ciúme. -
10:40 - 10:43Conhecem a canção
♪ I would love to be on TV ♪? -
10:43 - 10:45Porque é que havíamos de gostar?
-
10:45 - 10:49A TV está cheia de pessoas
que fazem o que queríamos fazer, -
10:49 - 10:51mas nunca conseguimos.
-
10:52 - 10:57Elas dançam, representam,
e quanto mais fazem, mais elogiadas são. -
10:57 - 11:00Então, começamos a ter inveja delas.
-
11:00 - 11:02Tornamo-nos ditadores
com o controlo remoto -
11:02 - 11:05e começamos a criticar as pessoas da TV.
-
11:05 - 11:07"Ele não sabe representar."
-
11:07 - 11:10"Vocês acham que aquilo é cantar?
Ela nem acerta nas notas." -
11:10 - 11:12Podemos facilmente
dizer este tipo de coisas. -
11:12 - 11:15Ficamos com ciúmes, não porque somos maus,
-
11:15 - 11:19mas porque temos pequenos artistas
fechados dentro de nós. -
11:20 - 11:22Isto é o que eu penso.
-
11:22 - 11:25Então, o que é que devemos fazer?
-
11:25 - 11:26Sim, isso mesmo.
-
11:26 - 11:29Precisamos de começar
com a nossa arte, agora mesmo. -
11:29 - 11:31Neste preciso momento,
podemos desligar a TV, -
11:31 - 11:33sair da Internet,
-
11:33 - 11:35levantarmo-nos e começarmos
a fazer qualquer coisa. -
11:35 - 11:37Onde dou aulas a alunos
da escola de teatro, -
11:37 - 11:40existe um curso chamado Drama.
-
11:40 - 11:44Neste curso, todos os alunos
têm que encenar uma peça. -
11:44 - 11:48No entanto, os atores mais maduros
não podem atuar. -
11:48 - 11:50Podem escrever a peça, por exemplo,
-
11:50 - 11:53e os escritores podem trabalhar
na carpintaria do palco. -
11:53 - 11:55Os estudantes de encenação
podem ser atores. -
11:55 - 11:57E é assim que a peça é montada.
-
11:57 - 11:59A princípio, os alunos duvidam
de conseguir fazer isso, -
11:59 - 12:01mas depois divertem-se muito.
-
12:01 - 12:03Raramente vejo alguém que seja muito mau.
-
12:03 - 12:06Na escola, na tropa
ou até numa instituição mental, -
12:06 - 12:08quando pomos as pessoas a fazê-lo,
elas gostam. -
12:09 - 12:12Vi acontecer isso no exército
— muita gente a divertir-se a representar. -
12:13 - 12:15Eu tenho uma outra experiência:
-
12:15 - 12:19Na minha classe de escrita,
dou aos alunos uma tarefa especial. -
12:19 - 12:22Tenho estudantes como vocês na classe
-
12:22 - 12:25— muitos deles ainda
não se formaram em escrita. -
12:25 - 12:29Há uns, formados em arte ou música,
que julgam que não sabem escrever. -
12:30 - 12:33Então, dou-lhes folhas
de papel em branco e um tema. -
12:33 - 12:35Pode ser um tema simples:
-
12:35 - 12:38Escrever sobre a experiência
mais infeliz da sua infância. -
12:38 - 12:42Há uma condição: tem que escrever
como um louco, como um louco! -
12:42 - 12:44Eu ando em volta deles e incentive-os.
-
12:44 - 12:48"Vá lá, vá lá!" Eles têm que escrever
como loucos durante uma ou duas horas. -
12:48 - 12:51Só conseguem pensar
nos primeiros cinco minutos. -
12:51 - 12:54Eu ponho-os a escrever como loucos
-
12:54 - 12:57porque, quando escrevemos lentamente
e vêm muitos pensamentos à cabeça, -
12:57 - 13:00aparece o demónio artístico.
-
13:00 - 13:03Esse demónio vai dar-nos
centenas de razões -
13:03 - 13:06para nos convencer
que não sabemos escrever: -
13:06 - 13:09"As pessoas vão-se rir de ti.
Isso não é coisa que se escreva! -
13:09 - 13:11Que raio de frase é essa?
Olha para a caligrafia!" -
13:11 - 13:13Vai dizer um monte de coisas.
-
13:13 - 13:16Temos que andar tão depressa
que o demónio não consiga acompanhar-nos. -
13:16 - 13:19As melhores escritas
que eu já vi na minha aula -
13:19 - 13:21não apareceram em tarefas de longo prazo,
-
13:21 - 13:25mas em 40 a 60 minutos
a escrever loucamente -
13:25 - 13:28que os alunos fizeram
na minha frente com um lápis. -
13:28 - 13:31Os alunos entram numa espécie de transe.
-
13:31 - 13:35Ao fim de 30 ou 40 minutos,
escrevem sem saber o que estão a escrever. -
13:35 - 13:38Nessa altura,
o irritante demónio desaparece. -
13:38 - 13:40Então posso dizer o seguinte:
-
13:40 - 13:43Não é por centenas de razões
que um indivíduo não pode ser um artista, -
13:43 - 13:47mas pela única razão
que deve fazer-nos artistas. -
13:47 - 13:51Não é importante a razão
por que não podemos ser qualquer coisa. -
13:51 - 13:54A maioria dos artistas tornaram-se
artistas por uma única razão. -
13:54 - 13:56Quando pomos o diabo
a dormir no nosso coração -
13:56 - 13:59e começamos a nossa arte,
aparecem os inimigos do lado de fora. -
13:59 - 14:01Quase sempre, têm a cara dos nossos pais.
-
14:01 - 14:03(Risos)
-
14:03 - 14:05Às vezes, parecem-se
com os nossos cônjuges, -
14:05 - 14:07mas não são os nossos pais
ou os nossos cônjuges. -
14:07 - 14:09São demónios. Demónios.
-
14:09 - 14:11Eles vieram à terra transformados
-
14:11 - 14:15para nos impedir de sermos artistas,
de nos tornarmos artistas. -
14:15 - 14:17E têm uma pergunta mágica.
-
14:17 - 14:20Quando dizemos:
"Acho que vou tentar representar. -
14:20 - 14:23Há uma escola de teatro
no centro comunitário," -
14:23 - 14:25ou "Gostava de aprender
canções italianas", -
14:25 - 14:28eles perguntam:
"Ai sim? Uma peça? Para quê?" -
14:28 - 14:30É a pergunta mágica: "Para quê?"
-
14:30 - 14:32(Risos)
-
14:32 - 14:35Mas a arte não é para nada.
-
14:36 - 14:37A arte é o objetivo final.
-
14:37 - 14:41Ela salva a nossa alma
e faz-nos viver felizes. -
14:41 - 14:44Ajuda-nos a exprimirmo-nos
e a sermos felizes -
14:44 - 14:47sem a ajuda do álcool ou das drogas.
-
14:47 - 14:51Então, para responder
a essa questão pragmática, -
14:51 - 14:54precisamos de ser ousados.
-
14:54 - 14:58"Bem, é só pelo divertimento.
Desculpem se me divirto sem vocês" -
14:58 - 15:02é o que devemos dizer.
"Eu vou em frente, seja como for." -
15:02 - 15:07Imagino que o futuro ideal é
onde todos tenhamos várias identidades, -
15:07 - 15:11em que pelo menos uma seja um artista.
-
15:11 - 15:14Uma vez eu estava em Nova York
e entrei em um táxi. -
15:14 - 15:18Entrei para o banco traseiro e vi na frente
uma coisa relacionada com uma peça. -
15:18 - 15:20Perguntei ao motorista, "O que é aquilo?"
-
15:20 - 15:24Ele disse que era o seu perfil.
Perguntei: "Você o que é?" "Ator". -
15:24 - 15:28Era motorista e ator. E perguntei:
"Que papéis é que normalmente representa?" -
15:28 - 15:30Ele disse vaidoso
que tinha interpretado o Rei Lear. -
15:30 - 15:31O Rei Lear.
-
15:31 - 15:34"Quem pode dizer-me quem eu sou?"
— um belo verso do Rei Lear. -
15:34 - 15:37Esse é o mundo com que eu sonho.
-
15:37 - 15:39Ser jogador de golfe de dia
e escritor durante a noite. -
15:39 - 15:42Ou motorista e ator,
ou banqueiro e pintor, -
15:42 - 15:47secreta ou publicamente,
a executar a sua arte. -
15:47 - 15:52Em 1990, Martha Graham,
a lenda da dança moderna, veio à Coreia. -
15:52 - 15:58A grande artista, então com 90 anos,
chegou ao Aeroporto de Gimpo -
15:58 - 16:01e um repórter fez-lhe uma pergunta típica:
-
16:01 - 16:04"O que é que devemos fazer
para sermos um grande bailarino? -
16:04 - 16:07Tem algum conselho para os candidatos
coreanos a bailarinos?" -
16:07 - 16:08Ela era a mestra.
-
16:08 - 16:11Esta foto foi tirada em 1948
e já era uma artista famosa. -
16:12 - 16:14Em 1990, fizeram-lhe esta pergunta.
-
16:14 - 16:16Eis o que ela respondeu:
-
16:16 - 16:18"Just do it"
[Basta dançar]. -
16:19 - 16:20(Risos)
-
16:20 - 16:22Uau! Fiquei emocionado.
-
16:22 - 16:26Só essas três palavras
e saiu do aeroporto. Só isso. -
16:26 - 16:29Então, o que devemos fazer?
-
16:29 - 16:32Vamos ser artistas, agora mesmo.
Agora mesmo. Como fazer? -
16:32 - 16:34Basta fazê-lo!
-
16:34 - 16:35Obrigado.
-
16:35 - 16:37(Aplausos)
- Title:
- Seja um artista, já!
- Speaker:
- Young-ha Kim
- Description:
-
Porque é que nós nunca deixamos de brincar e de criar? Com encanto e humor, o célebre autor coreano Kim Young-ha invoca os maiores artistas do mundo, para nos apressarmos a libertar a nossa criança interior — o artista que quer brincar eternamente. (Filmado no TEDxSeoul)
- Video Language:
- Korean
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 16:57
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