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Espaços deficientes | Mila Guedes | TEDxSãoSebastião

  • 0:17 - 0:21
    Todo mundo encontra
    obstáculos pelo caminho.
  • 0:21 - 0:27
    Quando você quer alcançar um objetivo,
    é esperado que obstáculos apareçam.
  • 0:27 - 0:34
    Dizem alguns que uma jornada
    sem obstáculos não forma caráter.
  • 0:34 - 0:37
    Eu quero convidá-los agora
  • 0:37 - 0:42
    a imaginar o maior objetivo
    de cada um de vocês.
  • 0:43 - 0:48
    Quais os desafios que vêm à sua mente,
    quando você quer alcançar o sucesso?
  • 0:52 - 0:58
    Oi. Eu sou a Mila Guedes e esta,
    em que estou sentada, é a Julinha.
  • 0:58 - 1:01
    A Julinha é minha melhor amiga.
  • 1:02 - 1:05
    Ela é minha companheira de aventuras.
  • 1:06 - 1:09
    Eu e a Julinha temos muitas
    histórias pra contar.
  • 1:10 - 1:14
    Vocês não escutam ela, mas eu escuto.
  • 1:14 - 1:17
    E eu vou passar pra vocês
    tudo que ela me disser.
  • 1:17 - 1:19
    E ela me disse agora: "Oi, pessoal".
  • 1:19 - 1:21
    Público: Oi.
  • 1:22 - 1:27
    Bom, estávamos falando
    dos objetivos e desafios da vida.
  • 1:27 - 1:31
    Pra mim, independentemente
    dos meus objetivos,
  • 1:31 - 1:35
    tudo é sempre muito trabalhoso.
  • 1:35 - 1:40
    Desde que eu me conheço por gente,
    eu não enxergo muito bem.
  • 1:40 - 1:44
    Aos 21 anos, eu descobri
    que eu não enxergava muito bem
  • 1:44 - 1:46
    por causa de uma doença.
  • 1:46 - 1:49
    A degeneração de Stargardt.
  • 1:49 - 1:54
    Nessa mesma época, eu terminava
    o curso de Publicidade e Propaganda.
  • 1:55 - 1:58
    E eu corria atrás de um grande sonho,
  • 1:58 - 2:04
    que era trabalhar em uma grande empresa
    de comunicação, eu fiz publicidade...
  • 2:04 - 2:07
    E aí, eu consegui.
  • 2:07 - 2:10
    Eu consegui e comecei a morrer de medo,
  • 2:10 - 2:13
    porque se as pessoas descobrissem
    que eu não enxergava,
  • 2:13 - 2:15
    o que elas iam falar de mim?
  • 2:15 - 2:17
    O que a minha chefe ia falar de mim?
  • 2:18 - 2:22
    Aí, o que eu fazia? Eu pegava
    tudo que eu precisava saber,
  • 2:22 - 2:24
    todo o conteúdo de tudo
    que eu precisava saber,
  • 2:24 - 2:27
    corria pro banheiro, me trancava.
  • 2:27 - 2:29
    Eu sempre tive uma memória muito boa,
  • 2:29 - 2:35
    aí eu decorava tudinho, com o papel
    coladinho aqui no meu nariz,
  • 2:35 - 2:40
    e voltava pra minha mesa
    como se nada tivesse acontecido.
  • 2:42 - 2:47
    Mas é dificil você esconder por muito
    tempo das pessoas que você não enxerga.
  • 2:48 - 2:51
    E o que vocês acham que aconteceu?
  • 2:52 - 2:57
    Quem foi a primeira pessoa
    que descobriu que eu não enxergava?
  • 2:58 - 3:00
    A minha chefe.
  • 3:01 - 3:05
    E o que vocês acham que ela fez comigo?
  • 3:08 - 3:10
    Ela me deu uma lupa.
  • 3:12 - 3:17
    Gente, essa chefe, com essa lupa
  • 3:17 - 3:20
    foram tudo de bom na minha vida.
  • 3:20 - 3:24
    A partir de então, eu perdi
    o medo de ser quem eu era
  • 3:24 - 3:26
    e me desenvolvi profissionalmente.
  • 3:27 - 3:34
    Assim como eu, no mundo, estima-se
    que existe 1 bilhão de pessoas
  • 3:34 - 3:37
    com as mais diversas deficiências.
  • 3:37 - 3:43
    No Brasil nós somos 45 milhões
    de pessoas com deficiência.
  • 3:44 - 3:49
    Gente, são quatro vezes
    o tamanho da cidade de São Paulo.
  • 3:49 - 3:54
    São 555 vezes o tamanho
    da cidade de São Sebastião.
  • 3:54 - 3:58
    Da cidade que eu nasci no interior
    de São Paulo, Tupi Paulista,
  • 3:58 - 4:02
    são 3 mil vezes o tamanho
    de Tupi Paulista.
  • 4:03 - 4:05
    É muita gente.
  • 4:05 - 4:12
    E quando você olha mais fundo esse número,
    aí a coisa fica bem mais séria.
  • 4:12 - 4:16
    Mais da metade não tem escolaridade.
  • 4:17 - 4:20
    Mais da metade não tem escolaridade.
  • 4:20 - 4:23
    E por que esse número é tão alto assim?
  • 4:24 - 4:31
    Sabe, ao longo da minha trajetória,
    eu ganhei um outro brinde.
  • 4:32 - 4:34
    A esclerose múltipla.
  • 4:34 - 4:40
    E hoje eu preciso da Julinha.
    Preciso de uma Scooter pra me locomover.
  • 4:41 - 4:45
    Mas sabe que ficou mais fácil pra eu
    entender esse número ser tão alto?
  • 4:45 - 4:49
    Porque aí eu me coloco
    no lugar de um jovem
  • 4:49 - 4:52
    que também usa uma cadeira de rodas
    e que quer estudar.
  • 4:53 - 4:58
    E aí eu sei das dificuldades
    que ele passa.
  • 4:58 - 5:02
    É muito dificil, mas ficou mais fácil
    pra eu entender esse número,
  • 5:02 - 5:07
    porque esse jovem, ao colocar
    a roda na porta de casa,
  • 5:07 - 5:11
    já vai começar a encontrar
    várias dificuldades.
  • 5:11 - 5:18
    As calçadas que são esburacadas,
    que são irregulares, que são estreitas.
  • 5:18 - 5:24
    A maioria das pessoas com deficiência
    está na classe social menos favorecida,
  • 5:24 - 5:28
    então esse jovem vai precisar
    de transporte público pra ir pra escola.
  • 5:28 - 5:31
    E ele vai pro ponto de ônibus,
    pegar um ônibus.
  • 5:31 - 5:35
    A hora que o ônibus passa, o horário
    que ele vai pra escola é um horário
  • 5:35 - 5:37
    que os ônibus vêm lotados.
  • 5:38 - 5:41
    Ele não vai conseguir entrar,
    e o motorista vai falar assim:
  • 5:41 - 5:42
    "Você pode esperar o próximo?"
  • 5:43 - 5:46
    Aí ele espera o próximo.
  • 5:46 - 5:48
    Quando o próximo chega,
    o motorista fala assim:
  • 5:48 - 5:52
    "Olha, a rampa está emperrada".
  • 5:52 - 5:55
    Ou então ele fala: "O elevador
    não está funcionando".
  • 5:56 - 6:01
    Aí ele vai precisar contar
    com os voluntários de dentro do ônibus
  • 6:01 - 6:06
    pra colocá-lo dentro do ônibus
    e, quando ele chegar no ponto dele,
  • 6:06 - 6:09
    descê-lo do ônibus
    pra ele poder ir pra escola.
  • 6:09 - 6:12
    Nisso ele já chegou atrasado na escola.
  • 6:12 - 6:15
    Quando ele chega no prédio da escola,
    a escola não tem rampa,
  • 6:15 - 6:18
    a escola não tem banheiro adaptado.
  • 6:18 - 6:23
    Na sala de aula, não tem uma mesa
    pra ele encaixar a cadeira de rodas
  • 6:23 - 6:25
    pra ele poder estudar adequadamente.
  • 6:25 - 6:29
    É o tempo inteiro precisando de ajuda.
  • 6:30 - 6:36
    Gente, fica mais fácil pra gente entender
    o porquê de tantas pessoas com deficiência
  • 6:36 - 6:39
    não serem alfabetizadas.
  • 6:39 - 6:43
    Porque a deficiência dessas pessoas
  • 6:43 - 6:49
    é tratada e é vista como um problema.
  • 6:51 - 6:57
    E na verdade, essas pessoas
    têm uma condição
  • 6:57 - 7:04
    que é jogada nas costas delas e da família
    delas, como sendo um problema.
  • 7:05 - 7:08
    E um problema que elas mesmas
    têm que resolver.
  • 7:08 - 7:11
    Têm que se virar pra resolver.
  • 7:14 - 7:15
    Olhem pra tela.
  • 7:16 - 7:18
    Isto aqui é uma escada, viu, gente?
  • 7:19 - 7:21
    Agora olhem pra mim.
  • 7:22 - 7:28
    Qual é a utilidade
    que ela tem na minha vida?
  • 7:28 - 7:33
    Essa escada, quando não vem
    acompanhada de uma rampa,
  • 7:33 - 7:38
    é como se ela me chamasse
    o tempo todo de deficiente.
  • 7:39 - 7:45
    É essa a utilidade dela. Ela me lembra
    o tempo inteiro que eu preciso de ajuda.
  • 7:45 - 7:47
    E por que,
  • 7:47 - 7:53
    se existem tantas pessoas
    como eu no mundo,
  • 7:53 - 7:58
    a escada ainda continua
    sendo a única opção?
  • 7:58 - 8:00
    Por que têm tantos restaurantes
  • 8:00 - 8:03
    que não têm cardápio
    em braille, por exemplo?
  • 8:04 - 8:09
    Porque as pessoas
    que fazem isso não vêem isso.
  • 8:10 - 8:13
    Não enxergam por esse ângulo.
  • 8:13 - 8:18
    O olhar dessas pessoas é deficiente.
  • 8:19 - 8:24
    Elas não nos enxergam
    como alunos de suas escolas,
  • 8:24 - 8:27
    como funcionários de suas empresas.
  • 8:27 - 8:33
    Elas não nos enxergam como consumidores
    de seus estabelecimentos.
  • 8:33 - 8:38
    Elas não nos enxergam
    como cidadãos de seu país.
  • 8:38 - 8:42
    E esse mesmo olhar deficiente não vê
  • 8:42 - 8:47
    que o Brasil possui 45 milhões de pessoas
  • 8:47 - 8:52
    que querem estudar, que querem trabalhar,
    que querem ganhar dinheiro,
  • 8:52 - 8:56
    que querem consumir,
    que querem girar a economia.
  • 8:56 - 9:03
    Porque uma comunidade que se une
    pra tornar o seu bairro mais acessível,
  • 9:03 - 9:07
    o pequeno estabelecimento,
    o pequeno negócio que coloca uma rampa
  • 9:07 - 9:12
    ou informações em braille, por exemplo,
    nos aproxima da sociedade,
  • 9:12 - 9:16
    o que além de justo,
    a beneficia financeiramente.
  • 9:16 - 9:19
    Afinal de contas, nós queremos comer,
  • 9:19 - 9:25
    comprar roupa, sair, passear, viajar.
  • 9:26 - 9:31
    Uma vez, eu e a Julinha fomos pra Chicago.
  • 9:31 - 9:33
    Olha eu e ela aí, gente.
  • 9:33 - 9:36
    Olha aí que felicidade, olha que cara boa.
  • 9:36 - 9:42
    Chicago é uma cidade totalmente acessível.
  • 9:42 - 9:45
    É uma cidade onde todas
    as pessoas com deficiência
  • 9:45 - 9:47
    estão o tempo inteiro na rua,
  • 9:47 - 9:51
    andando pra lá, pra cá, indo trabalhar,
    indo pra escola, indo passear.
  • 9:52 - 9:56
    Chicago é uma cidade
    que te convida pra ir pra rua.
  • 9:56 - 9:59
    É uma delicia.
  • 9:59 - 10:02
    Você tem uma vida
    completamente independente lá.
  • 10:03 - 10:07
    Lá ninguém é deficiente. Nem eu.
  • 10:08 - 10:12
    Poxa, Mila, mas você acha
  • 10:12 - 10:15
    que a infraestrutura
    das cidades brasileiras
  • 10:15 - 10:19
    um dia passará a ser igual
    a de Chicago, por exemplo?
  • 10:21 - 10:24
    A resposta pra isso eu não tenho.
  • 10:25 - 10:29
    Mas estar em um lugar onde a sensação,
  • 10:29 - 10:33
    você conviver com essa sensação,
  • 10:33 - 10:35
    com essa igualdade,
  • 10:35 - 10:39
    onde ninguém se vê diferente
    de ninguém por causa de uma condição,
  • 10:39 - 10:44
    onde você não é lembrado
    o tempo inteiro de seus limites,
  • 10:44 - 10:46
    gente, isso é um sonho.
  • 10:47 - 10:53
    É um sonho que eu luto e vivo pra trazer
    essa realidade pro nosso país.
  • 10:54 - 10:59
    Porque a minha condição não é reversível,
  • 11:00 - 11:06
    mas a condição de todo
    e qualquer acesso é.
  • 11:06 - 11:07
    Muito obrigada.
  • 11:08 - 11:11
    (Aplausos)
Title:
Espaços deficientes | Mila Guedes | TEDxSãoSebastião
Description:

Mila Guedes fala sobre espaços deficientes.

Mila Guedes é codiretora de sua empresa, Mila Guedes Consultoria, especializada em diversidade e inclusão em espaços de trabalho. Ela traz esse tema para sua palestra TEDx.

Mila é criadora da plataforma Milalá, uma plataforma on-line que abrange diversas análises de lugares acessíveis equipados para receber pessoas com diversas deficiências físicas. É uma plataforma projetada para informar, estimular e encorajar todos a circularem, viajarem e participarem ativamente na vida cotidiana.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
11:26

Portuguese, Brazilian subtitles

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