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Na nossa mente, temos
uma tendência a discriminar.
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Discriminamos contra,
discriminamos entre
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mente e matéria.
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E é por isso que
fazemos a pergunta:
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Será que a mente é um produto da matéria?
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E a matéria é um produto da mente?
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O materialismo diz que
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a nossa mente é um produto da matéria,
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e o idealismo diz que
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o que vemos como matéria
é apenas a nossa mente.
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Então, continuam
a discutir e a discordar,
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simplesmente porque
usam a mente discriminatória
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para olhar para as coisas.
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Mas na tradição do Budismo,
mente e matéria não são duas entidades separadas.
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Às vezes manifestam-se como mente...
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às vezes manifestam-se como matéria.
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É como na física subatómica:
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a partícula elementar, às vezes,
expressa-se como uma partícula,
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e outras vezes como uma onda.
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Então, dizer que é uma partícula está errado,
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e dizer que é uma onda também está errado.
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É ambos.
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E esta folha de papel,
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que tem o 'lado esquerdo' e o 'lado direito'.
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Sabemos que não podemos
separar o 'esquerdo' do 'direito',
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e o 'direito' do 'esquerdo'.
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Não é possível pegar no 'direito'
e levá-lo para Bordéus,
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e no 'esquerdo' e levá-lo para Toulouse.
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Não, estão sempre juntos.
Não podemos separá-los um do outro.
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E isso é o ensinamento do Interser no Budismo.
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Interser significa que não podes
existir sozinho, por ti mesmo.
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Tens de inter-existir connosco.
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O 'esquerdo' tem de inter-existir com o 'direito'.
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O 'esquerdo' não é inimigo do 'direito'. (risada leve)
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O 'esquerdo' precisa apoiar-se no 'direito'
para se manifestar,
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e o 'direito' precisa apoiar-se no 'esquerdo'
para se manifestar.
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Isto é a mente da não-discriminação.
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Mas se continuarmos
com a mente da discriminação,
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distorcemos tudo. E...
opomos matéria à mente,
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esquerda à direita, e assim por diante. (tosse)
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(Inspirando) E na semana passada
também aprendemos que
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o sofrimento e a felicidade
não são inimigos. (risada leve)
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Eles inter-são.
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O sofrimento é feito de felicidade,
e a felicidade é feita de sofrimento.
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Se não há sofrimento,
não há felicidade.
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E se não há felicidade,
não há sofrimento.
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É como a flor de lótus e o lodo.
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Se não houver lodo,
não se pode cultivar lótus.
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E o lótus permanece por algum tempo
e volta a ser lodo.
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Portanto, olhando para o lótus, vês o lodo,
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e olhando para o lodo,
vês o futuro lótus.
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O sofrimento é assim.
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Alguém que tem a capacidade
de voltar-se para si mesmo,
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de escutar o seu próprio sofrimento,
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e de olhar profundamente para o seu sofrimento,
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será capaz de compreender
que o sofrimento dentro dele
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carrega consigo
o sofrimento do pai, da mãe,
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dos seus antepassados.
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E entrar em contacto com o sofrimento dentro de si
ajuda-te a entender o teu próprio sofrimento.
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E compreender o sofrimento
faz surgir a compaixão.
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E quando a compaixão surge,
o sofrimento diminui imediatamente,
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porque vês o caminho
da transformação e da cura.
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Se tiveres compreendido
a natureza e as raízes do teu sofrimento,
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então o caminho para
a cessação do sofrimento
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aparecerá diante de ti.
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E ao veres o caminho,
já não tens medo.
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Sabes como fazer bom uso
do sofrimento para criar felicidade.
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É como os irmãos em Plum Village,
que sabem como aproveitar bem o lodo
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para produzir belas flores de lótus.
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Ainda restam uma ou duas flores de lótus
no Upper Hamlet e no Lower Hamlet.
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Então... então... uma das coisas que aprendeste
na semana passada é que precisamos do sofrimento.
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O sofrimento pode ser... pode ser útil,
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e podemos falar sobre
os benefícios do sofrimento.
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Porque... ao voltar, ouvir e compreender
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e compreender o nosso sofrimento,
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fazemos nascer
a compaixão e o amor.
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E quando a compaixão e o amor nascem,
sofremos menos imediatamente.
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Imagina que olhas para alguém,
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mesmo que essa pessoa
te tenha feito sofrer muito
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durante muitos anos.
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Não queres olhar para ele ou ela,
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porque... porque... sempre que olhas
para ele ou ela, sofres.
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Talvez acredites que essa pessoa
te fez sofrer tanto.
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Mas agora, com a prática,
tu és diferente.
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Porque já compreendeste
o teu próprio sofrimento.
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É por isso que és capaz de reconhecer
o sofrimento nele, nela.
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E compreendes por que razão
essa pessoa sofre tanto.
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E essa pessoa sofre muito,
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e não sabe
como lidar com o sofrimento.
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Por isso, o sofrimento dela
se espalha por toda parte,
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e tu és uma vítima.
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Talvez ele ou ela
não quisesse fazer-te sofrer.
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Simplesmente porque não sabe como,
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não sabe lidar com o sofrimento,
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é por isso que continua a sofrer.
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E porque ele ou ela sofre,
tu também tens de sofrer.
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Tu és a segunda vítima.
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E ele ou ela é a primeira vítima
do seu próprio sofrimento.
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Então, ao compreenderes
o teu próprio sofrimento,
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tens compaixão, tens discernimento.
E sofres menos.
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E isso permite-te olhar para outra pessoa,
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e quando consegues ver o sofrimento
nele, nela,
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e compreendes por que razão
essa pessoa sofre assim,
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já não ficas zangado com ela.
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E isso é verdade.
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Quando olhas para alguém,
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e consegues ver o sofrimento
nessa pessoa,
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que ela não é capaz
de lidar com esse sofrimento,
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não a culpas mais.
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Já não estás zangado com ela.
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Em vez disso, queres fazer algo
ou dizer algo
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para que ela sofra menos.
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Isso significa que tens
compaixão no coração.
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E a compaixão no teu coração
já não te faz sofrer.