< Return to Video

Rafael Lozano-Hemmer: "Uma Fenda na Ampulheta" | "Extended Play" | Art21

  • 0:00 - 0:03
    Tradução: Andreia Frazão
  • 0:06 - 0:09
    [Rafael Lozano-Hemmer:
    "Uma fenda na ampulheta"]
  • 0:13 - 0:17
    (Lozano-Hemmer) — A meu ver,
    os monumentos mais interessantes
  • 0:18 - 0:20
    são os monumentos que desaparecem,
  • 0:21 - 0:23
    que se questionam,
  • 0:23 - 0:27
    que complicam algumas das histórias
    que contamos a nós mesmos.
  • 0:27 - 0:30
    (Sirene a tocar)
  • 0:32 - 0:35
    [Museu de Brooklyn]
  • 0:39 - 0:41
    Há já muito tempo
  • 0:41 - 0:44
    que proponho
    uma abordagem mais antimonumental,
  • 0:45 - 0:49
    que seja antes uma plataforma
    para as pessoas se autorrepresentarem.
  • 0:50 - 0:54
    No início de março,
    contraí Covid aqui em Nova Iorque.
  • 0:54 - 0:57
    Como tenho asma, foi terrível para mim.
  • 0:58 - 1:02
    Sentir aquela incapacidade de respirar
    foi uma lição de humildade.
  • 1:03 - 1:06
    Muitas das histórias que ouvi na altura
  • 1:07 - 1:11
    tinham a ver com familiares
    que iam doentes para o hospital.
  • 1:12 - 1:16
    As pessoas não os podiam acompanhar,
    duas semanas depois estavam mortos
  • 1:16 - 1:18
    e nem sequer se podia ir ao funeral.
  • 1:18 - 1:22
    Como mexicano,
    creio que pensamos muito sobre a morte.
  • 1:22 - 1:25
    E os rituais, os brindes
  • 1:26 - 1:30
    e tudo o que fazemos para superar a perda
    e para nos despedirmos
  • 1:30 - 1:33
    é fundamental para a nossa sobrevivência
    como comunidade.
  • 1:33 - 1:36
    E não era possível fazer nada disso.
  • 1:38 - 1:41
    O Museu de Brooklyn está a trabalhar
    para estabelecer ligações
  • 1:41 - 1:45
    entre esta obra de arte
    e as comunidades aqui em Nova Iorque,
  • 1:45 - 1:48
    para criar uma forma
    de as pessoas se reunirem
  • 1:48 - 1:51
    e recordarem quem partiu.
  • 1:54 - 1:57
    — Na cultura chinesa,
    não se fala muito sobre a morte.
  • 2:01 - 2:04
    É encarada com muita superstição,
  • 2:04 - 2:07
    pensando-se que poderá
    trazer mais morte ou mais azar.
  • 2:09 - 2:12
    Já era assim antes da pandemia.
  • 2:12 - 2:14
    Mas creio que, agora,
    as pessoas estão demasiado assustadas
  • 2:14 - 2:17
    ou demasiado apreensivas
    para falar sobre o assunto.
  • 2:18 - 2:23
    A minha tia faleceu em março.
  • 2:27 - 2:29
    Ela era tudo para nós, basicamente.
  • 2:30 - 2:34
    Para nós, foi difícil processar
    e até acreditar
  • 2:35 - 2:38
    que a minha tia tinha falecido,
    porque a última vez que a vimos
  • 2:38 - 2:40
    foi mesmo antes do Ano Novo Lunar.
  • 2:41 - 2:45
    Durante um funeral chinês,
    queimamos oferendas de papel.
  • 2:46 - 2:51
    São umas esculturas de papel machê
    que representam os bens materiais.
  • 2:51 - 2:53
    Pode ser uma casa, um carro, um iPhone....
  • 2:55 - 2:58
    Mas como não pudemos ter essa experiência,
  • 2:58 - 3:01
    não tivemos um espaço físico
    para falar sobre as memórias
  • 3:01 - 3:06
    e termos o consolo da presença física
    das pessoas que nos são próximas
  • 3:06 - 3:08
    para quando chegar o dia seguinte,
    esperançosamente,
  • 3:08 - 3:10
    já não sentirmos tanta tristeza.
  • 3:12 - 3:16
    (Lozano-Hemmer) — Eu e o meu estúdio
    decidimos criar uma obra de arte
  • 3:16 - 3:19
    que permitisse às pessoas juntarem-se
    e verem um evento em direto.
  • 3:19 - 3:22
    Pareceu-nos importante ser algo em direto,
  • 3:22 - 3:26
    em que as pessoas pudessem iniciar sessão,
    independentemente do fuso horário,
  • 3:26 - 3:29
    e partilhar a experiência
    com os entes queridos.
  • 3:30 - 3:34
    Basicamente, a "Fenda na ampulheta"
    é um braço robótico
  • 3:34 - 3:36
    controlado por um software feito à medida.
  • 3:36 - 3:39
    As pessoas enviam uma fotografia
    de um ente querido
  • 3:39 - 3:41
    — seja familiar ou amigo —
  • 3:41 - 3:45
    através de um site
    chamado acrackinthehourglass.net.
  • 3:45 - 3:49
    Após a análise,
    a foto é lentamente desenhada
  • 3:50 - 3:53
    pela areia que a ampulheta vai vertendo.
  • 3:54 - 3:57
    À medida que o retrato
    do ente querido é desenhado,
  • 3:57 - 4:02
    há duas câmaras
    a transmitir a ação em direto.
  • 4:02 - 4:04
    Por isso, quando participamos,
  • 4:04 - 4:08
    podemos convidar amigos
    para acederem ao site e verem connosco.
  • 4:13 - 4:18
    Esta obra é fruto de uma colaboração
    entre pessoas do meu estúdio
  • 4:19 - 4:22
    é fruto de uma discussão,
  • 4:22 - 4:26
    é fruto de um desejo nosso de criar algo
  • 4:26 - 4:30
    que faça
    com que não nos sintamos tão sozinhos.
  • 4:33 - 4:36
    Quando entramos
    nesta sala do Museu de Brooklyn
  • 4:36 - 4:38
    e vemos todos estes rostos,
  • 4:38 - 4:42
    reparamos que existe
    uma troca de olhares na sala.
  • 4:45 - 4:46
    Na maioria das fotografias,
  • 4:47 - 4:49
    as pessoas estão a olhar
    diretamente para nós.
  • 4:50 - 4:53
    As pessoas costumam escolher fotografias
    em que o ente querido
  • 4:53 - 4:55
    não está distante nem a olhar para o lado,
  • 4:55 - 4:58
    em que está a olhar diretamente
    para a câmara.
  • 5:08 - 5:12
    Há um momento em que o retrato desenhado
    é lentamente inclinado
  • 5:12 - 5:15
    e a gravidade puxa a areia para baixo,
  • 5:15 - 5:18
    fazendo o retrato desaparecer.
  • 5:20 - 5:22
    Nisto, toda a areia é recolhida
  • 5:22 - 5:25
    para ser reutilizada
    na criação de novos retratos.
  • 5:28 - 5:31
    Todos os retratos
    — até agora, são centenas —
  • 5:31 - 5:34
    são feitos com a mesma
    pequena quantidade de areia.
  • 5:34 - 5:36
    Para mim, isto foi muito importante,
  • 5:36 - 5:39
    porque incute um sentimento
    de solidariedade universal em torno disto
  • 5:39 - 5:42
    e um sentimento de ligação.
  • 5:55 - 5:57
    Sempre que estou otimista,
  • 5:57 - 5:59
    penso que há um sentimento de empatia,
  • 5:59 - 6:03
    um sentimento de que isto
    pode acontecer a qualquer pessoa,
  • 6:03 - 6:05
    em qualquer lugar,
  • 6:05 - 6:06
    numa medida que nos une
  • 6:06 - 6:10
    na compreensão de algo que é invisível.
  • 6:11 - 6:13
    Quando alguém parte das nossas vidas...
  • 6:13 - 6:16
    por vezes, o efémero
    pode ajudar-nos a recordar.
Title:
Rafael Lozano-Hemmer: "Uma Fenda na Ampulheta" | "Extended Play" | Art21
Description:

more » « less
Video Language:
English
Team:
Art21
Project:
"Extended Play" series
Duration:
06:39

Portuguese subtitles

Revisions Compare revisions