-
A expirar, sorrio para a vida.
Vamos desfrutar da respiração ao som do sino.
-
[Tocando o sino uma vez]
-
[Sino]
-
[Sino]
-
Ao inspirar, tomo consciência
de que estou rodeado pelas montanhas.
-
Ao expirar, sorrio para as montanhas.
-
[Sino]
-
Ao inspirar, sei que estou sentado
com a minha sangha muito colorida.
-
Ao expirar, sorrio para a minha sangha.
-
Cheguei, portanto não tenho pressa.
-
[Reverência]
-
Querida sangha, ontem falei sobre o lar.
O verdadeiro lar.
-
E disse-vos que tenho um lar
que ninguém me pode tirar,
-
onde quer que eu vá.
-
Portanto, mesmo que me digam
que tenho de esperar mais dez anos
-
para poder ir para lá,
ainda assim tenho o meu verdadeiro lar.
-
Ontem contei-vos que, a certa altura,
-
enquanto estava em Washington DC,
-
a imprensa informou-me de que o meu passaporte
já não era válido.
-
Fizeram isso para que eu não pudesse
-
viajar e falar em nome das vítimas da guerra.
-
E as pessoas em Washington DC insistiram
para que eu me escondesse.
-
Porque corria o risco de ser deportado ou preso.
-
Mas consegui...
-
Não me escondi.
-
Procurei...
-
Fui forçado a pedir asilo político em França,
-
e concederam-me esse asilo.
-
E obtive um tipo de documento de viagem chamado...
-
"documento de viagem para apátridas".
-
Não tens pátria,
não tens um país,
-
não pertences a país nenhum,
sem pátria, sem terra-mãe ou pai.
-
"Apátrida" — a palavra em inglês é...
-
"expatriate" (expatriado), sim, tive esse documento.
-
Com esse documento, não podes pedir visto
para certos países europeus,
-
a não ser que tenham assinado as Convenções de Genebra.
-
Mas para países como o Canadá ou os Estados Unidos
da América, onde é preciso pedir visto,
-
é muito difícil consegui-lo
quando não tens um país.
-
Estás sem terra natal, sem pátria.
-
Mas foi exatamente por não ter...
-
um país só meu
-
que tive a oportunidade de encontrar o meu verdadeiro lar.
-
Isto é muito importante.
-
Foi... É por não pertencer
a nenhum país em particular
-
que fiz o esforço necessário para romper barreiras
e encontrei o meu verdadeiro lar.
-
Queridos amigos, se têm a sensação
de que não pertencem a nenhuma terra, a nenhum país,
-
a nenhum ponto geográfico, a nenhuma herança cultural,
a nenhum grupo étnico em particular...
-
Quando vão ao Japão, não sentem
que o Japão vos aceita.
-
Quando voltam à América, não sentem
que a América seja o vosso lar.
-
Quando vão a África, não sentem
que sejam africanos.
-
Ou quando voltam aos...
Estados Unidos da América,
-
não sentem que são aceites.
-
Quando sentem isso,
que não são aceites,
-
que não têm onde pertencer,
que não têm identidade,
-
é aí que têm uma oportunidade
de romper e aceder ao vosso verdadeiro lar.
-
Esse foi o meu caso.
-
O meu verdadeiro lar não...
não está limitado a nenhum...
-
... não está limitado...
-
geograficamente falando, não está limitado
a nenhum local, nenhum lugar.
-
Geograficamente, etnicamente, culturalmente.
-
Apesar de haver, por vezes, alguma preferência cultural,
-
alguma preferência étnica,
alguma preferência geográfica.
-
Às vezes gostam de neve, de clima muito frio.
-
Outras vezes preferem estar num lugar
com muito sol.
-
Podem ter preferências,
mas não discriminam.
-
Tudo vos pertence.
-
Não há qualquer discriminação
no vosso verdadeiro lar.
-
Podem ter uma preferência por algo,
mas não discriminam nada
-
em termos de geografia, etnia, cultura...
porque tudo é belo.
-
Tudo pode ser belo.
Qualquer lugar pode ser belo.
-
E não têm apenas uma parte disso.
Têm a totalidade.
-
E são livres para desfrutar de tudo.
-
Suponham que adoram...
-
laranja.
-
Consideram a laranja o vosso fruto preferido.
-
E são livres para desfrutar das vossas laranjas.
-
Mas nada vos impede de desfrutar de outros frutos,
como manga, kiwi...
-
ou até durião.
[risos na plateia]
-
É uma pena estar comprometido apenas
com um tipo de fruto.
-
São livres,
e podem saborear todos os frutos.
-
É uma pena estarem comprometidos apenas com o Cristianismo,
-
ou com o Budismo.
-
Porque o Cristianismo
é uma das heranças espirituais da humanidade.
-
O Budismo também. O Budismo é apenas uma
das heranças espirituais da humanidade.
-
Seria uma pena estarem comprometidos
apenas com uma herança espiritual,
-
se quiserem ser fiéis apenas a uma herança.
-
Porque nas outras heranças
há coisas belas também.
-
A vossa laranja pode ter um sabor maravilhoso,
mas a manga também pode ter um sabor maravilhoso.
-
Seria uma pena discriminarem
a manga, o kiwi, ou o durião.
-
No vosso verdadeiro lar, não há discriminação.
-
São livres.
-
E quando vivem com a sabedoria
da não-discriminação, não sofrem.
-
Têm muita sabedoria, e acolhem
-
todos, todos os países,
todas as culturas, todos os grupos étnicos.
-
E esse é o meu caso. Não discrimino
coisa alguma.
-
Adoro laranja, mas também adoro manga e kiwi.
-
Durião?
-
[risos na plateia]
-
Apesar de não o comer,
não discrimino contra ele.
-
[Plateia ri em alta]
-
E os meus amigos, os meus discípulos, comem por mim.
[risos na plateia]
-
A minha mão direita.
-
Chamam-lhe mão direita.
E esta, mão esquerda.
-
São duas mãos,
e não se confundem.
-
Esta é a mão direita,
esta é a esquerda.
-
E sabem de uma coisa... a minha mão direita
escreveu todos os poemas, todos os meus poemas.
-
Exceto um.
-
Nunca escrevi... Não...
Sempre escrevo os meus poemas com uma caneta,
-
exceto uma vez em que não tinha uma caneta.
-
Havia um poema em mim que queria sair.
E eu não tinha... caneta.
-
Então havia uma máquina de escrever em cima da mesa.
-
Peguei num envelope velho,
coloquei-o na máquina e escrevi o poema.
-
E foi... a única vez em que
a minha mão esquerda participou na escrita de um poema.
-
[Plateia ri]
-
E lembro-me do título do poema:
"O Búfalo Pequeno a Correr Atrás do Sol."
-
E mesmo assim, a minha mão direita
nunca teve complexo de superioridade.
-
[Plateia ri]
-
A minha mão direita nunca pensou, nem disse coisas como:
“Mão esquerda, sabes, sabes...
-
... que escrevi todos os poemas menos um?”
[risos]
-
“Sabes que faço caligrafia?”
[risos]
-
“Sei convidar o sino a soar.
-
“E tu, tu és a mão esquerda,
e pareces não servir para nada.”
-
A minha mão direita nunca teve esse tipo de pensamento,
essa atitude.
-
E é por isso que a minha mão direita nunca sofre
por ciúmes,
-
nem por ter complexo de superioridade.
-
Quando sentes que és mais poderoso,
mais talentoso, mais importante, então sofres.
-
Porque isso é um complexo. Complexo de superioridade.
-
Não é só quando tens complexo de inferioridade,
quando tens baixa autoestima, que sofres,
-
mas também quando tens esse tipo de autoestima elevada,
sofrerás.
-
E a minha mão esquerda,
-
embora não tenha escrito muitos poemas,
embora não tenha feito caligrafia,
-
não sofre de complexo nenhum.
Não tem complexo de inferioridade.
-
É maravilhoso, ela não sofre de todo.
-
Não há comparação.
Não há baixa autoestima.
-
É por isso que a minha mão esquerda está perfeitamente feliz.
-
Um dia, eu estava a tentar pendurar um quadro na parede.
-
A minha mão esquerda segurava um prego.
A mão direita, um martelo.
-
Nesse dia, não sei porquê…
-
Em vez de bater no prego,
bati no dedo.
-
E quando acertei no dedo da mão esquerda,
a mão esquerda sofreu.
-
A mão direita pousou imediatamente o martelo
-
e cuidou da mão esquerda
com a maior ternura.
-
Como se cuidasse de si mesma. Muito ternamente.
-
Não considerou que fosse um dever.
Não.
-
As coisas aconteceram assim, naturalmente.
-
A minha mão direita cuida da esquerda
como se cuidasse de si própria.
-
Sem qualquer pensamento de
“Eu sou eu e tu és tu.”
-
Lembram-se daquele psicólogo que disse:
“Eu sou eu, e tu és tu.
-
E se por acaso concordarmos, ótimo”?
Não, aqui não é assim.
-
A minha mão direita não diz:
“Eu sou eu e tu és tu. Somos mãos diferentes.”
-
Não há tal pensamento.
-
As minhas duas mãos praticam perfeitamente
o ensinamento do Buda: o não-eu, o não-eu separado.
-
A minha mão direita considera o sofrimento
da mão esquerda como seu próprio sofrimento.
-
E por isso…
-
fez tudo o que podia para cuidar da mão esquerda.
-
E garanto-vos:
a mão esquerda não ficou zangada. Acreditem em mim.
-
A mão esquerda não sentiu raiva nenhuma
da mão direita.
-
Não disse: “Tu, mão direita, cometeste uma injustiça comigo.
Dá-me esse martelo — quero justiça!”
-
[Risos na audiência]
-
Nada disso aconteceu.
-
E é por isso que podemos confirmar
que existe uma sabedoria inata
-
na minha mão direita e na minha mão esquerda.
-
E essa sabedoria é chamada pelo Buda
de sabedoria da não-discriminação.
-
Se a tiverem, não precisam de sofrer de todo.
-
A sabedoria da não-discriminação escreve-se assim em chinês:
無分別智
-
Em sânscrito: nirvikalpa-jñāna.
-
"Vikalpa" significa discriminação;
"nirvikalpa", não-discriminação;
-
"jñāna", sabedoria.
A sabedoria da não-discriminação.
-
Essa sabedoria é inata em nós.
-
Mas se permitirmos que perceções erradas e hábitos mentais
a cubram, ela não pode manifestar-se.
-
A prática da meditação ajuda-nos
a reconhecer esta semente de liberdade em nós.
-
E se a cultivarmos, se a regarmos todos os dias,
ela manifestar-se-á plenamente e libertar-nos-á.
-
Na outra pessoa também existe
a sabedoria da não-discriminação.
-
Mas como ela viveu numa cultura,
num ambiente
-
onde o pensamento e a ação
são moldados pelo individualismo,
-
pelo egoísmo, pela ignorância...
-
A sabedoria da não-discriminação
não pôde manifestar-se.
-
Naquele ano, fui a Itália para um retiro.
-
E reparei que plantavam oliveiras
em grupos de três ou quatro. Fiquei surpreendido.
-
Perguntei:
“Porque é que plantam oliveiras em grupos de três ou quatro?”
-
Responderam:
“Não plantámos.”
-
Mas, na verdade, se olharem com atenção,
vêem grupos de três ou quatro oliveiras assim.
-
Dessa forma.
-
Explicaram-me: “Não são três ou quatro oliveiras. É só uma.
-
“Aquele ano foi tão frio
que as oliveiras morreram.
-
“Mas lá em baixo, bem fundo,
ao nível das raízes, elas não morreram.
-
“Então,
-
depois do inverno rigoroso,
chegou a primavera,
-
e começaram a nascer rebentos novos.
-
“E, em vez de haver um só tronco,
passaram a haver três ou quatro troncos de oliveira.
-
“Se olharmos superficialmente, pensamos que são
três ou quatro árvores diferentes.
-
“Mas, na verdade, são uma só.”
-
Se pertencem à mesma família,
são irmãos do mesmo pai e da mesma mãe.
-
São assim.
-
Têm as mesmas raízes,
-
o mesmo pai e a mesma mãe.
-
Estas três ou quatro oliveiras
partilham o mesmo bloco de raízes.
-
Parecem três ou quatro árvores diferentes.
Mas são uma só.
-
Seria estranho se estas árvores
discriminassem umas contra as outras,
-
lutassem ou se matassem.
-
Isso seria pura ignorância.
-
Se olharem profundamente e tocarem as suas raízes,
sabem que são irmãos, irmãs. Que são uma só.
-
Imaginem se os israelitas tocassem…
-
...a sabedoria da não-discriminação,
-
descobririam que os palestinianos…
-
...são seus irmãos.
-
São como a mão direita e a mão esquerda.
-
E seria absurdo
considerarem-se inimigos
-
e matarem-se uns aos outros
em nome da sobrevivência.
-
Seria uma...
-
tristeza.
-
Se hindus e muçulmanos tivessem de se matar,
de lutar uns contra os outros.
-
Seria uma tristeza se católicos e protestantes
lutassem e se matassem.
-
Porque todos têm as mesmas raízes.
-
Eles não foram capazes de tocar
o seu chão do ser,
-
permitindo que a sabedoria da não-discriminação
se manifestasse, lhes mostrasse o caminho e a verdade.
-
Quando regressas à tua verdadeira casa,
quando consegues tocar a tua verdadeira casa,
-
vês que tudo inclui tudo o resto,
tocas a natureza do interser, de tudo.
-
Esta flor
-
Se olhares profundamente para a flor, o que vês?
-
Vês uma nuvem.
-
Porque sabes que, se não houver nuvem,
não haverá chuva
-
e esta flor não se poderá manifestar.
-
Portanto, ao olhar para a flor, vês um elemento
que não chamas de flor, mas que faz parte da flor.
-
A nuvem, ou a água.
-
Se retirares a nuvem da flor,
a flor já não poderá estar presente para ti.
-
E se olhares profundamente, verás o sol.
Pois o sol está nela.
-
Sem o sol, nada pode crescer.
-
Posso tocar o sol
tocando a pétala da flor.
-
Se retirares o sol,
a flor desaparecerá.
-
Ao olhar para a flor,
vês a terra, vês os minerais.
-
Não podes remover os elementos —
solo e minerais — da flor.
-
Ela colapsaria, desaparecería.
-
Por isso é que se pode dizer
que cada flor é feita apenas de elementos não-flor.
-
Certo? A nuvem é um elemento não-flor,
essencial à flor.
-
A luz do sol é um elemento não-flor.
A terra, o composto... são elementos não-flor.
-
Sem elementos não-flor, uma flor não pode
manifestar-se como algo maravilhoso.
-
Uma flor não pode existir sozinha.
-
Sem o sol, sem a chuva,
sem a terra, a flor não pode ser.
-
Uma flor só pode inter-ser.
-
Inter-ser com o sol, com a nuvem,
com a terra, com o agricultor e com tudo.
-
Portanto, ser significa inter-ser.
Não podes ser sozinho, por ti próprio.
-
E uma flor é feita exclusivamente
de elementos não-flor.
-
Se retirares todos os elementos não-flor,
já não haverá flor para ver ou tocar.
-
Portanto, a flor não tem uma existência separada.
-
Não podes imaginar que existe uma flor
sem sol, sem nuvem, sem terra.
-
Uma coisa assim não existe.
E o Buda chamou-lhe um "Eu".
-
A flor está cheia de tudo, do cosmos,
com exceção de uma coisa que a flor não tem:
-
um eu separado, uma existência separada.
-
E esta é a visão profunda do Buda.
-
A flor está cheia de tudo, cheia do cosmos,
mas vazia de um eu, de uma existência separada.
-
Isto é importante.
-
Com meditação, com atenção plena e
concentração, podes olhar profundamente para a flor
-
e descobres a natureza do vazio.
Vazio de quê? Vazio de uma existência separada.
-
Mas, ao mesmo tempo,
a flor está totalmente cheia do cosmos.
-
Portanto, "ser"...
-
... o verdadeiro significado de "ser"
é "inter-ser".
-
Não podes "ser" sozinho. Tens de
"inter-ser" com todos os outros, com tudo o resto.
-
Esse é o caso da flor.
Esse é o caso da mesa.
-
Esse é o caso da casa.
Esse é o caso do rio.
-
Imaginemos que falamos da América como uma flor.
De que é feita a América?
-
Apenas de elementos não-americanos.
-
Culturalmente falando, a América é feita
apenas de elementos não-americanos.
-
Etnicamente falando, a América é feita
apenas de elementos não-americanos.
-
Geograficamente falando, é o mesmo.
A América não tem um eu, um eu separado.
-
E a América não pode existir sozinha.
A América tem de inter-ser com elementos não-americanos.
-
E este é o ensinamento do Buda.
-
Esta é a visão profunda que podes tocar
com a prática de olhar profundamente.
-
A América é feita apenas de elementos não-americanos.
-
E se tiveres essa sabedoria, farás tudo
para proteger os elementos não-americanos.
-
Se destruíres os elementos não-americanos,
destróis a América.
-
Certo?
-
Na verdade, a América está agora a causar muitos danos
aos elementos não-americanos.
-
A América pensa que tem um eu, um eu separado.
-
Por isso é preciso trazer de volta a sabedoria
à América.
-
Para que a América compreenda que é feita apenas
de elementos não-americanos.
-
[Um toque do sino]
-
[Sino]
-
Se a América é feita apenas
de elementos não-americanos,
-
então...
-
os americanos, os cidadãos americanos,
-
os americanos são feitos
de elementos não-americanos.
-
Não existe tal coisa
como uma identidade americana.
-
Ao olhar profundamente para um americano,
vês apenas elementos não-americanos.
-
Não existe tal coisa chamada de eu,
eu americano, entidade americana.
-
Falando cientificamente,
-
a ideia de eu, a ideia de entidade, é uma ilusão.
-
E se tocas a tua verdade do não-eu,
és livre.
-
E se permites que essa ilusão te ocupe,
continuas a sofrer muito.
-
Budismo. O que é o Budismo?
De que é feito o Budismo?
-
É muito claro: o Budismo é feito apenas
de elementos não-budistas.
-
Por isso é absurdo morrer pelo Budismo,
matar pelo Budismo.
-
E, por isso, o Budismo não aceita
nenhuma cruzada, nenhuma guerra santa.
-
Porque no Budismo deve haver a sabedoria
da não-discriminação, a sabedoria do não-eu.
-
É por isso que, se te consideras budista,
não lutas pelo Budismo
-
de uma forma que destrói
os elementos não-budistas.
-
Uma guerra santa no Budismo é impensável, inaceitável.
-
Porque se declaras guerra contra elementos
não-budistas,
-
estás a declarar guerra ao Budismo.
-
Porque o Budismo é feito apenas
de elementos não-budistas.
-
Por isso, o espírito de tolerância,
de abertura total, no Budismo é muito claro.
-
Como budista, não estás preso à ideia
de que o Budismo é um eu.
-
Como verdadeiro budista, abraças
todos os elementos não-budistas.
-
Não discriminas o Cristianismo, o Judaísmo, o Islão...
-
porque, ao olhar profundamente, vês
elementos belos em cada tradição.
-
Consegues ver elementos budistas nessas tradições.
-
E podes ajudá-los a...
-
... a desenterrar, a descobrir as coisas belas
que estão...
-
que estiveram escondidas nelas.
-
Quando olho profundamente para o evangelho cristão
com os olhos de um praticante,
-
vejo o ensinamento do interser.
Vejo o ensinamento do não-eu.
-
Vejo o ensinamento da não-discriminação,
-
que não foram explorados
nem desenvolvidos pelos teólogos cristãos.
-
Se tivesse nascido cristão, eu faria isso.
[Risos na audiência.]
-
Chamam-me vietnamita,
e estão certos de que sou vietnamita.
-
E consideram "vietnamita" como uma identidade.
-
No meu caso, eu não tenho passaporte vietnamita.
-
Não tenho cartão de identidade.
Legalmente falando, não sou vietnamita.
-
Culturalmente falando,
tenho elementos da cultura francesa em mim,
-
da cultura chinesa em mim, da cultura indiana em mim,
até da cultura indígena americana em mim.
-
Não existe algo como uma cultura puramente vietnamita.
-
E quando olham para os meus escritos,
a minha pessoa, a minha palestra do Dharma,
-
podem descobrir várias fontes
de cultura e correntes culturais.
-
Do ponto de vista antropológico,
não existe uma raça chamada "raça vietnamita".
-
Ao olhar para mim, podes ver
elementos melanésios, indonésios,
-
mongóis, negritos...
-
A raça vietnamita é feita apenas
de elementos não-vietnamitas.
-
E se souberes isso, estás livre.
-
O cosmos uniu-se
para te ajudar a manifestar.
-
E em ti, pode ser encontrado o cosmos inteiro.
-
Quando seguro uma flor, convido-te a olhar profundamente
para a flor,
-
podes ver o sol, a nuvem,
a terra, os minerais...
-
Mas se continuares a olhar, descobrirás que tudo no cosmos está presente na flor.
-
Incluindo o tempo, o espaço e a consciência.
-
Sim, a consciência está na flor.
-
Consciência coletiva
e consciências individuais.
-
Porque a flor, antes de mais,
é um objeto da tua perceção.
-
E perceção é consciência.
-
Perceber significa perceber algo.
-
E a flor é apenas o objeto da tua perceção.
-
A perceção inclui o que percebe
e o que é percebido,
-
e aquilo que seguras na mão não é uma entidade separada.
-
É parte da tua perceção.
-
Portanto, a tua consciência está na flor.
E a flor está na tua consciência.
-
Esse é o ensinamento do Buda
relativo à mente.
-
A sabedoria do interser ajuda-te a tocar
a sabedoria da não-discriminação que existe em ti
-
e liberta-te.
-
Não há mais discriminação.
Não há mais ódio.
-
Já não pensas que queres pertencer apenas
a uma área geográfica, ou a uma identidade cultural.
-
Ao olhar para ti mesmo, vês uma multiplicidade
de origens étnicas, uma multiplicidade de fontes culturais.
-
E consegues ver a presença
do cosmos inteiro dentro de ti.
-
Podes manifestar-te como uma flor de lótus.
Podes manifestar-te como uma magnólia.
-
Podes manifestar-te como uma flor de laranjeira.
Mas cada tipo de flor é bela.
-
Seja vermelha, amarela,
branca ou preta.
-
Cientificamente, sabes que uma cor não tem um eu.
Uma cor é feita apenas de elementos… de outras cores.
-
Ao olhar profundamente para uma cor, verás
todos os outros tipos, todas as outras cores nela.
-
Branco. A cor branca é feita
de elementos não-brancos.
-
E isso pode ser provado cientificamente.
-
A cor castanha é feita de elementos não-castanhos.
A cor preta é feita de elementos não-pretos.
-
Nós inter-somos. Isso é um facto.
Nós inter-somos. Tu estás em mim. E eu estou em ti.
-
É tolice discriminarmos uns contra os outros.
Isto é ignorância.
-
É ignorância discriminar, pensar que
és superior a mim, que eu sou superior a ti,
-
e por aí fora.
-
Na Europa e na América, há muitas pessoas
com doenças mentais.
-
E os psicoterapeutas costumam dizer-lhes
-
que sofrem porque têm baixa autoestima.
E é por isso que sofrem.
-
E tentam de tudo para te ajudar
a sentires-te superior.
-
Neste retiro de Inverno, os monásticos
no Deer Park
-
estudam o papel dos monges beneditinos
juntamente com o Pratimokṣa budista.
-
Estudos comparativos das duas tradições.
-
E descobrimos que, na tradição beneditina,
eles tentavam combater...
-
... o complexo de superioridade, a arrogância,
com o complexo de inferioridade.
-
"Eu não sou nada, não valho mais do que uma minhoca, eu sou..."
-
Porque o complexo, o sentimento de que
és superior, pode trazer muito sofrimento.
-
Por isso, para contrariar e curar isso,
usas o complexo de inferioridade.
-
Mas o complexo de inferioridade também é um complexo.
-
Estás a usar um veneno
para neutralizar outro veneno.
-
De acordo com o ensinamento do Buda,
não existe um "eu". Não podes comparar.
-
Não há nada com que comparar.
Não há um "eu" para ser comparado.
-
A mão direita e a mão esquerda
não têm um eu separado.
-
Por isso não se podem comparar.
E não deves comparar.
-
E é por isso que não sofres.
-
No Budismo, todos os complexos nascem
da noção de "eu".
-
Existem três complexos, não dois.
-
O complexo de superioridade, chamado "thắng mạn".
-
Em vietnamita, chama-se "thắng mạn".
-
E se pensas que és superior
a ele, ou a ela, ou a eles, estás doente.
-
E a base dessa tua doença
é a ilusão de um eu, de um eu que é "melhor".
-
E muitos de nós temos lutado
para provar que "somos melhores",
-
"somos mais poderosos do que eles",
"somos mais inteligentes do que eles".
-
Estamos à procura da felicidade
tentando provar que somos superiores.
-
Comportamo-nos como um martelo a tentar pregar um prego
só para provar que:
-
"Todos são o prego, menos eu, que sou o martelo."
-
[Público ri]
-
E toda a nossa vida tentamos demonstrar uma coisa:
"Sou superior a ti", …
-
… "a nossa nação é superior à tua",
"a nossa raça é superior à tua".
-
Queremos provar que, militarmente,
somos a potência número um.
-
Que conseguimos dominar qualquer outra nação.
-
Queremos provar que, militarmente,
podemos derrotar qualquer país.
-
E isso dá-nos uma certa satisfação: "Ah,
sou superior a eles. A minha é a nação mais poderosa."
-
E quando eles sofrem, o outro lado sofre,
querem responder da mesma forma.
-
Querem dizer: "Nós não somos nada.
Somos alguma coisa.
-
Se nos consegues atacar assim,
nós conseguimos atacar-te de outra maneira."
-
"Se nos consegues bombardear, nós conseguimos trazer uma bomba
e fazer-nos explodir num autocarro.
-
Podemos tirar-te o sono. Podemos
fazer com que a tua nação viva dia e noite com medo."
-
Então tentam retaliar, para provar
que são alguma coisa, que não são nada.
-
E ambos os lados estão a tentar mostrar
que conseguem castigar, que são superiores.
-
E isso está a acontecer com muitos grupos,
sejam os palestinianos, os israelitas,
-
hindus e muçulmanos,
antiterroristas e terroristas.
-
Queremos provar que não somos nada,
que temos valor.
-
E que não podem olhar para nós de cima.
-
E toda essa luta
baseia-se na ilusão do "eu".
-
Na verdade, nós inter-somos. Se tu sofres, nós também sofremos.
Se estiveres em segurança, nós também estaremos em segurança.
-
Segurança e paz não são assuntos individuais.
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Se a outra pessoa não estiver segura, tu não podes estar seguro.
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Se a outra pessoa não estiver feliz,
não há maneira de tu estares feliz.
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Olha para um casal: se o pai está infeliz,
o filho não tem hipótese de ser feliz.
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Se a esposa não está feliz, bem,
é muito difícil para o marido estar feliz.
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Por isso, a felicidade não é uma questão individual.
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Tens de ver essa natureza do interser.
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Quando fazes a outra pessoa feliz,
tens também uma oportunidade de ser feliz.
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E é por isso que a visão do interser
é a base da paz e da felicidade.
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Tens de tocar o chão do teu interser.
Tens de ajudar o outro, ajudar a outra
-
a tocar o chão do interser
e a discriminação desaparecerá.
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Assim, o complexo de superioridade
traz muito sofrimento a ti e aos outros
-
porque, quando eles sofrem do
complexo de inferioridade, lutam,
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e fazem-te sofrer.
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Segundo o Buda, o complexo
de superioridade, ou autoestima elevada, é uma doença.
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Porque se baseia na ilusão do "eu".
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E agora, a baixa autoestima, "liệt mạn", a inferioridade,
é outra doença.
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E não se pode usar um veneno
para curar outro veneno. Andas em círculos.
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Porque o sofrimento do complexo de inferioridade
também nasce da ilusão de um "eu" separado.
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A mão direita e a mão esquerda
não têm um eu separado.
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As três oliveiras
não têm uma existência separada.
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Os dois irmãos também não. As duas irmãs também não.
Os dois parceiros também não.
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E se te considerares igual
a ele ou a ela, isso também é uma doença.
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Porque é preciso haver um "eu" para que
possa haver comparação. E há competição.
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"Sabes, eu sou tão bom como tu.
Vou prová-lo."
-
E isso também causará muito sofrimento.
Por isso a psicoterapia no Budismo é um pouco diferente.
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A psicoterapia no Budismo baseia-se na sabedoria do não-eu, do interser.
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E por isso, quando se remove a noção de "eu",
fica-se livre dos três tipos de complexos.
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E haverá paz, reconciliação,
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e irmandade entre irmãos e irmãs.
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E o Buda não é um deus.
O Buda é um ser humano como nós.
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Sofreu, praticou.
Conseguiu transformar-se.
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E conseguiu transmitir-nos a sabedoria
do interser, da não-discriminação.
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E com essa sabedoria, podemos libertar-nos,
e ajudar a libertar o mundo…
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… com a nossa prática.
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Vivemos sem qualquer tipo de complexo, seja
de superioridade, inferioridade ou igualdade.
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Porque não há um "eu".
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Ser uma flor de lótus é maravilhoso.
Mas ser uma magnólia também é igualmente maravilhoso.
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Na flor de lótus, há uma magnólia.
Na magnólia, há uma flor de lótus.
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O Buda disse-nos que
o homem é feito de elementos não-humanos,
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nomeadamente animais, vegetais e minerais.
-
E é por isso que se deve remover
a noção de homem, de ser humano.
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Se o ser humano estiver consciente do facto
de que é feito apenas de elementos não-humanos,
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nomeadamente elementos animais, vegetais
e minerais,
-
saberá como proteger a vida dos
animais, minerais e vegetais.
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E não os explorará, poluirá
ou destruirá.
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Porque proteger o reino dos animais,
proteger os reinos dos vegetais e dos minerais,
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é proteger o reino dos humanos.
Esse é o ensinamento do Sutra do Diamante.
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O Sutra do Diamante
é o texto mais antigo sobre ecologia profunda.
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Ao olhares para o homem, tens de ver os elementos não-humanos,
nomeadamente os animais, os vegetais e os minerais.
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O ensinamento é tão claro, e simples o suficiente
para que o possamos compreender, tocar e praticar.
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[Sino]
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Thay precisa de alguns elementos não-Thay
[sorrindo e a preparar chá]
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(Alguém pergunta:) “Querido Thay,
na tua verdadeira casa, há sofrimento?”
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Tu desfrutas da tua verdadeira casa.
Mas existe sofrimento na tua verdadeira casa?
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Há as Quatro Nobres Verdades.
E a Primeira Nobre Verdade é o mal-estar.
-
Dukkha.
-
Ele encorajou-nos a olhar profundamente
para reconhecer o mal-estar
-
e a olhar profundamente
para a natureza do nosso mal-estar.
-
Aconselhou-nos a não fugir do sofrimento.
-
O mal-estar é sofrimento.
-
Mas porque é que o Buda chamou ao sofrimento uma verdade nobre?
-
O que é que o sofrimento tem de nobre?
-
A verdade é que...
-
... graças ao sofrimento, graças à compreensão
da natureza do sofrimento,
-
é que tens a oportunidade de cultivar
a tua compreensão e a tua compaixão.
-
Sem sofrimento, não há maneira
de aprenderes a ser compreensivo e compassivo.
-
E é por isso que o sofrimento é nobre.
-
Não deves deixar que o sofrimento te domine.
-
Mas, se souberes como olhar profundamente
para a natureza do sofrimento e aprender com ele,
-
então surge a sabedoria da compreensão
e a sabedoria da compaixão.
-
O mal-estar pode ser descrito em termos de
violência, discriminação, ódio, inveja, e por aí fora.
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Raiva, desejo, e sobretudo ignorância.
-
Por causa da ignorância, fazemos muitas coisas
que nos fazem sofrer, e fazem o outro sofrer.
-
E o Evangelho diz:
“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”
-
Isso é ignorância.
A ignorância é a natureza do mal-estar, a raiz do mal-estar.
-
E o Buda falou da Segunda Nobre Verdade:
-
é a criação do mal-estar,
como é que o mal-estar é criado,
-
qual é a raiz do mal-estar,
qual é a sua causa.
-
O caminho que leva ao mal-estar.
Essa é a Segunda Nobre Verdade.
-
O mal-estar tem raízes,
e para um praticante...
-
quando ela olha profundamente
para a natureza do mal-estar, descobre as raízes desse sofrimento...
-
… e a compreensão da sua natureza.
-
[Som do marcador a escrever no quadro]
-
De repente, a Quarta Nobre Verdade revela-se.
-
Se este é o caminho que conduz ao mal-estar,
então não o devemos seguir.
-
Reconhecemos este caminho como ignóbil.
O Caminho Ignóbil que conduz ao sofrimento.
-
Descobrimos então um caminho nobre
que conduz à cessação do mal-estar.
-
E, claro, a Terceira Nobre Verdade:
a cessação do mal-estar.
-
“A cessação do mal-estar”
significa “o nascimento do bem-estar”.
-
Mal-estar é a ausência…
-
… de bem-estar.
-
“A ausência de mal-estar”
significa “a presença de bem-estar”.
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É como quando há escuridão: não há luz.
E quando a escuridão cessa, a luz revela-se.
-
Segundo o ensinamento e a prática,
a presença do bem-estar é possível.
-
E a cessação do mal-estar é possível
com a prática do Caminho Nobre.
-
E o Caminho Nobre
que conduz à cessação do sofrimento
-
não pode ser visto se não compreenderes
o sofrimento e a sua natureza.
-
É por isso que a Primeira Verdade é nobre.
A Segunda é nobre.
-
A Terceira é nobre.
E a Quarta é nobre.
-
O Caminho Nobre que conduz
à cessação do sofrimento...
-
... começa com a Visão Correta,
-
a sabedoria da não-discriminação,
a sabedoria do interser.
-
E quando tens essa sabedoria,
tens o Pensamento Correto:
-
pensas apenas em termos de interser,
em termos de não-eu, em termos de não-discriminação.
-
Quando o teu pensamento está carregado
de discriminação e raiva,
-
isso não é Pensamento Correto — é Pensamento Errado,
que leva a ações erradas e fala errada.
-
E é por isso que o Pensamento Correto
é o tipo de pensamento
-
que caminha lado a lado com a compreensão,
com o amor e com a compaixão.
-
Porque esses nascem da Visão Correta,
-
da sabedoria do interser,
da sabedoria da não-discriminação.
-
E quando o teu pensamento é correto,
a tua fala será correta — Fala Correta.
-
E quando a tua visão é correta,
o teu pensamento é correto, e então...
-
As tuas ações físicas serão corretas — Ação Correta.
-
E assim temos o Meio de Vida Correto.
-
E assim por diante.
-
Isto não é um curso chamado “Budismo”.
[Público ri]
-
Isto é um retiro.
-
As pessoas pensam que o Reino de Deus é um lugar
onde não há sofrimento.
-
E a maioria das pessoas tende a pensar
que o Reino de Deus é um lugar
-
onde há apenas felicidade, sem sofrimento.
-
E muitos budistas acreditam que
na Terra Pura de Buda…
-
… na Terra Pura, as pessoas não sofrem,
não há sofrimento.
-
E isso é...
-
pensamento dualista.
-
Vai contra a sabedoria do Budismo,
contra a sabedoria do interser.
-
Olha para este marcador.
-
Chamas a este lado “esquerdo”
e a este lado “direito”.
-
Acreditas que o lado direito pode existir
sem o lado esquerdo?
-
Não. Sem esquerda, não há direita.
Sem direita, não há esquerda.
-
Se és politicamente de esquerda,
não desejes o desaparecimento da direita.
-
Se não houver direita, tu não podes existir como esquerda.
-
Por isso, tens de desejar a existência da direita
para que possas ser esquerda.
-
Agora, se eu o virar assim,
vemos o que está por cima e o que está por baixo.
-
Achas que o “acima” pode existir
sem o “abaixo”?
-
Não.
-
Achas que podemos cultivar uma flor de lótus
sem o lodo? Podemos cultivá-la em mármore?
-
Não.
-
Para cultivar legumes,
precisas de composto.
-
E podes transformar o lixo em composto.
-
Se fores jardineiro orgânico, sabes
que não precisas de deitar o lixo fora.
-
O lixo é orgânico.
E com esse lixo...
-
… podes fazer composto
e alimentar flores e legumes.
-
Por isso, o sofrimento e a felicidade são orgânicos.
Se souberes, podes transformar sofrimento em bem-estar.
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Esse é o ensinamento do Buda — não dualista.
-
Não há flor de lótus possível
sem o lodo.
-
Não há compreensão nem compaixão
sem sofrimento.
-
Eu nunca gostaria de enviar os meus filhos para um lugar
onde não há sofrimento,
-
porque, num lugar assim,
os meus filhos não teriam oportunidade
-
de aprender a compreender
e a ser compassivos.
-
É tocando o sofrimento, compreendendo o sofrimento,
que temos uma oportunidade
-
de aprender, de compreender as pessoas,
e o sofrimento das pessoas.
-
E a partir dessa compreensão
do sofrimento dos outros — e do teu próprio sofrimento —
-
começas a perceber o que significa
ser compassivo.
-
Nenhuma flor de lótus pode existir sem lama.
-
E é por isso que a minha definição
do Reino de Deus não é um lugar
-
onde não há sofrimento.
Há sofrimento.
-
Mas há também uma oportunidade para cultivar
a compreensão e a compaixão.
-
Por isso, a minha definição do Reino de Deus é um lugar
onde há compreensão e compaixão.
-
Um lugar onde não há
compreensão nem compaixão é o inferno.
-
A Terra Pura também é assim.
A Terra Pura é uma espécie de universidade.
-
Os Bodhisattvas são professores
de compreensão e de amor,
-
e precisam do sofrimento para poder ajudar as pessoas
a compreender e a ser compassivas.
-
Mesmo...
-
Quando vês muita violência, discriminação,
ódio, inveja e desejo,
-
se estiveres equipado com
compreensão e compaixão, não sofres.
-
Tu és o Bodhisattva.
-
Tu és o professor de
compreensão e de compaixão.
-
E estás a ajudar os outros a aprender
a serem mais compreensivos e compassivos.
-
E estás a...
estás a construir o Reino de Deus.
-
Estás a construir a Terra Pura do Buda.
-
Quão bela, quão significativa é a tua vida
porque tens essa oportunidade.
-
Tu és o jardineiro orgânico.
Sabes como usar o lixo
-
para nutrir as flores e os legumes.
-
Estás a tornar a vida
mais bela, mais significativa,
-
porque tens em ti
o poder da compreensão e da compaixão.
-
E a compreensão e a compaixão protegem-te.
-
Não tens de sofrer,
-
mesmo que haja raiva, violência,
discriminação contra ti.
-
A compreensão gera compaixão.
-
E aqueles de nós que têm compreensão
e compaixão, não têm de sofrer.
-
Não têm qualquer tipo de complexo.
-
E na minha verdadeira casa, existe
a presença do bem-estar.
-
Porque a compreensão e a compaixão estão lá.
-
É por isso que sou capaz de me proteger
e de proteger os outros.
-
com o meu cuidado, ajudo-os a cultivar
mais compreensão e compaixão,
-
para que não sofram por causa
da presença destas coisas negativas.
-
Um jardim deve ter tanto o lixo como as flores.
-
E a jardineira, se for uma jardineira orgânica,
sabe como dominar a situação,
-
como lidar com o lixo, para que a flor
seja protegida e possa crescer.
-
E é por isso que, num mundo onde existe violência,
discriminação, ódio e desejo...
-
se estiveres equipado com sabedoria, com Visão Correta,
-
com a sabedoria do interser, com a sabedoria da não
discriminação, não precisas de sofrer.
-
A dor é inevitável.
-
Mas o sofrimento é opcional.
-
Estás protegido pela
compreensão e pela compaixão.
-
Já não és uma vítima.
Já não és A vítima.
-
São eles que são vítimas
da sua ignorância e discriminação.
-
E são eles o objeto do teu trabalho.
-
Estás a viver de forma a poderes ajudá-los
-
a remover, a transformar a sua ignorância,
a sua discriminação, o seu desejo, o seu ódio.
-
O desejo...
-
... nasce da ignorância.
A raiva nasce da ignorância.
-
Desejas ser reconhecido como superior.
-
Desejas poder...
-
... fama...
-
... riqueza.
-
Não sabes que, à nossa volta, há muitas pessoas
que têm muito poder, fama e riqueza,
-
e que sofrem profundamente de solidão,
de isolamento, de desespero.
-
E muitos deles suicidaram-se.
-
Aqueles que têm muito poder,
muita riqueza e muita fama.
-
Porque é que as pessoas que têm
muita compreensão e compaixão em si...
-
... não precisam de sofrer,
e conseguem viver felizes?
-
Porque estão protegidas pela sua sabedoria
e pela sua compaixão.
-
[Som de pequeno sino]
-
[Som de pequeno sino]