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Nondiscrimination | Dharma Talk by Thich Nhat Hanh, 2004.03.26

  • 0:26 - 0:32
    A expirar, sorrio para a vida.
    Vamos desfrutar da respiração ao som do sino.
  • 0:39 - 0:41
    [Tocando o sino uma vez]
  • 0:42 - 0:44
    [Sino]
  • 1:06 - 1:08
    [Sino]
  • 1:18 - 1:23
    Ao inspirar, tomo consciência
    de que estou rodeado pelas montanhas.
  • 1:25 - 1:28
    Ao expirar, sorrio para as montanhas.
  • 1:32 - 1:34
    [Sino]
  • 2:01 - 2:07
    Ao inspirar, sei que estou sentado
    com a minha sangha muito colorida.
  • 2:07 - 2:10
    Ao expirar, sorrio para a minha sangha.
  • 2:55 - 2:59
    Cheguei, portanto não tenho pressa.
  • 3:09 - 3:11
    [Reverência]
  • 3:16 - 3:20
    Querida sangha, ontem falei sobre o lar.
    O verdadeiro lar.
  • 3:23 - 3:29
    E disse-vos que tenho um lar
    que ninguém me pode tirar,
  • 3:31 - 3:33
    onde quer que eu vá.
  • 3:43 - 3:47
    Portanto, mesmo que me digam
    que tenho de esperar mais dez anos
  • 3:48 - 3:50
    para poder ir para lá,
    ainda assim tenho o meu verdadeiro lar.
  • 3:58 - 4:00
    Ontem contei-vos que, a certa altura,
  • 4:06 - 4:08
    enquanto estava em Washington DC,
  • 4:10 - 4:15
    a imprensa informou-me de que o meu passaporte
    já não era válido.
  • 4:22 - 4:26
    Fizeram isso para que eu não pudesse
  • 4:27 - 4:31
    viajar e falar em nome das vítimas da guerra.
  • 4:32 - 4:36
    E as pessoas em Washington DC insistiram
    para que eu me escondesse.
  • 4:44 - 4:47
    Porque corria o risco de ser deportado ou preso.
  • 4:54 - 4:55
    Mas consegui...
  • 4:55 - 4:58
    Não me escondi.
  • 5:01 - 5:03
    Procurei...
  • 5:03 - 5:09
    Fui forçado a pedir asilo político em França,
  • 5:14 - 5:17
    e concederam-me esse asilo.
  • 5:17 - 5:20
    E obtive um tipo de documento de viagem chamado...
  • 5:27 - 5:32
    "documento de viagem para apátridas".
  • 5:32 - 5:37
    Não tens pátria,
    não tens um país,
  • 5:37 - 5:43
    não pertences a país nenhum,
    sem pátria, sem terra-mãe ou pai.
  • 5:44 - 5:47
    "Apátrida" — a palavra em inglês é...
  • 5:50 - 5:55
    "expatriate" (expatriado), sim, tive esse documento.
  • 6:00 - 6:02
    Com esse documento, não podes pedir visto
    para certos países europeus,
  • 6:03 - 6:10
    a não ser que tenham assinado as Convenções de Genebra.
  • 6:17 - 6:24
    Mas para países como o Canadá ou os Estados Unidos
    da América, onde é preciso pedir visto,
  • 6:24 - 6:30
    é muito difícil consegui-lo
    quando não tens um país.
  • 6:30 - 6:36
    Estás sem terra natal, sem pátria.
  • 6:38 - 6:41
    Mas foi exatamente por não ter...
  • 6:44 - 6:45
    um país só meu
  • 6:47 - 6:50
    que tive a oportunidade de encontrar o meu verdadeiro lar.
  • 6:53 - 6:56
    Isto é muito importante.
  • 6:56 - 7:05
    Foi... É por não pertencer
    a nenhum país em particular
  • 7:10 - 7:15
    que fiz o esforço necessário para romper barreiras
    e encontrei o meu verdadeiro lar.
  • 7:16 - 7:29
    Queridos amigos, se têm a sensação
    de que não pertencem a nenhuma terra, a nenhum país,
  • 7:32 - 7:50
    a nenhum ponto geográfico, a nenhuma herança cultural,
    a nenhum grupo étnico em particular...
  • 7:54 - 7:59
    Quando vão ao Japão, não sentem
    que o Japão vos aceita.
  • 8:00 - 8:03
    Quando voltam à América, não sentem
    que a América seja o vosso lar.
  • 8:05 - 8:10
    Quando vão a África, não sentem
    que sejam africanos.
  • 8:10 - 8:14
    Ou quando voltam aos...
    Estados Unidos da América,
  • 8:14 - 8:18
    não sentem que são aceites.
  • 8:19 - 8:23
    Quando sentem isso,
    que não são aceites,
  • 8:24 - 8:29
    que não têm onde pertencer,
    que não têm identidade,
  • 8:31 - 8:35
    é aí que têm uma oportunidade
    de romper e aceder ao vosso verdadeiro lar.
  • 8:38 - 8:42
    Esse foi o meu caso.
  • 8:43 - 8:46
    O meu verdadeiro lar não...
    não está limitado a nenhum...
  • 8:51 - 8:54
    ... não está limitado...
  • 8:58 - 9:07
    geograficamente falando, não está limitado
    a nenhum local, nenhum lugar.
  • 9:09 - 9:20
    Geograficamente, etnicamente, culturalmente.
  • 9:20 - 9:25
    Apesar de haver, por vezes, alguma preferência cultural,
  • 9:28 - 9:37
    alguma preferência étnica,
    alguma preferência geográfica.
  • 9:41 - 9:46
    Às vezes gostam de neve, de clima muito frio.
  • 9:46 - 9:51
    Outras vezes preferem estar num lugar
    com muito sol.
  • 9:56 - 10:02
    Podem ter preferências,
    mas não discriminam.
  • 10:03 - 10:05
    Tudo vos pertence.
  • 10:19 - 10:27
    Não há qualquer discriminação
    no vosso verdadeiro lar.
  • 10:31 - 10:37
    Podem ter uma preferência por algo,
    mas não discriminam nada
  • 10:36 - 10:48
    em termos de geografia, etnia, cultura...
    porque tudo é belo.
  • 10:49 - 10:54
    Tudo pode ser belo.
    Qualquer lugar pode ser belo.
  • 10:57 - 11:02
    E não têm apenas uma parte disso.
    Têm a totalidade.
  • 11:07 - 11:12
    E são livres para desfrutar de tudo.
  • 11:14 - 11:16
    Suponham que adoram...
  • 11:21 - 11:23
    laranja.
  • 11:25 - 11:29
    Consideram a laranja o vosso fruto preferido.
  • 11:31 - 11:35
    E são livres para desfrutar das vossas laranjas.
  • 11:38 - 11:43
    Mas nada vos impede de desfrutar de outros frutos,
    como manga, kiwi...
  • 11:45 - 11:49
    ou até durião.
    [risos na plateia]
  • 11:51 - 11:56
    É uma pena estar comprometido apenas
    com um tipo de fruto.
  • 11:57 - 12:01
    São livres,
    e podem saborear todos os frutos.
  • 12:03 - 12:07
    É uma pena estarem comprometidos apenas com o Cristianismo,
  • 12:09 - 12:12
    ou com o Budismo.
  • 12:13 - 12:22
    Porque o Cristianismo
    é uma das heranças espirituais da humanidade.
  • 12:22 - 12:31
    O Budismo também. O Budismo é apenas uma
    das heranças espirituais da humanidade.
  • 12:32 - 12:36
    Seria uma pena estarem comprometidos
    apenas com uma herança espiritual,
  • 12:37 - 12:42
    se quiserem ser fiéis apenas a uma herança.
  • 12:42 - 12:45
    Porque nas outras heranças
    há coisas belas também.
  • 12:46 - 12:53
    A vossa laranja pode ter um sabor maravilhoso,
    mas a manga também pode ter um sabor maravilhoso.
  • 12:53 - 12:59
    Seria uma pena discriminarem
    a manga, o kiwi, ou o durião.
  • 13:01 - 13:04
    No vosso verdadeiro lar, não há discriminação.
  • 13:05 - 13:07
    São livres.
  • 13:09 - 13:15
    E quando vivem com a sabedoria
    da não-discriminação, não sofrem.
  • 13:16 - 13:19
    Têm muita sabedoria, e acolhem
  • 13:19 - 13:26
    todos, todos os países,
    todas as culturas, todos os grupos étnicos.
  • 13:26 - 13:31
    E esse é o meu caso. Não discrimino
    coisa alguma.
  • 13:31 - 13:38
    Adoro laranja, mas também adoro manga e kiwi.
  • 13:38 - 13:41
    Durião?
  • 13:41 - 13:43
    [risos na plateia]
  • 13:46 - 13:52
    Apesar de não o comer,
    não discrimino contra ele.
  • 13:52 - 13:56
    [Plateia ri em alta]
  • 13:59 - 14:06
    E os meus amigos, os meus discípulos, comem por mim.
    [risos na plateia]
  • 14:14 - 14:17
    A minha mão direita.
  • 14:19 - 14:29
    Chamam-lhe mão direita.
    E esta, mão esquerda.
  • 14:32 - 14:35
    São duas mãos,
    e não se confundem.
  • 14:36 - 14:38
    Esta é a mão direita,
    esta é a esquerda.
  • 14:40 - 14:42
    E sabem de uma coisa... a minha mão direita
    escreveu todos os poemas, todos os meus poemas.
  • 14:49 - 14:53
    Exceto um.
  • 14:58 - 15:09
    Nunca escrevi... Não...
    Sempre escrevo os meus poemas com uma caneta,
  • 15:10 - 15:13
    exceto uma vez em que não tinha uma caneta.
  • 15:14 - 15:22
    Havia um poema em mim que queria sair.
    E eu não tinha... caneta.
  • 15:22 - 15:29
    Então havia uma máquina de escrever em cima da mesa.
  • 15:30 - 15:37
    Peguei num envelope velho,
    coloquei-o na máquina e escrevi o poema.
  • 15:38 - 15:44
    E foi... a única vez em que
    a minha mão esquerda participou na escrita de um poema.
  • 15:45 - 15:47
    [Plateia ri]
  • 15:47 - 15:53
    E lembro-me do título do poema:
    "O Búfalo Pequeno a Correr Atrás do Sol."
  • 15:56 - 16:01
    E mesmo assim, a minha mão direita
    nunca teve complexo de superioridade.
  • 16:01 - 16:04
    [Plateia ri]
  • 16:05 - 16:12
    A minha mão direita nunca pensou, nem disse coisas como:
    “Mão esquerda, sabes, sabes...
  • 16:12 - 16:16
    ... que escrevi todos os poemas menos um?”
    [risos]
  • 16:18 - 16:23
    “Sabes que faço caligrafia?”
    [risos]
  • 16:23 - 16:26
    “Sei convidar o sino a soar.
  • 16:28 - 16:32
    “E tu, tu és a mão esquerda,
    e pareces não servir para nada.”
  • 16:34 - 16:38
    A minha mão direita nunca teve esse tipo de pensamento,
    essa atitude.
  • 16:43 - 16:48
    E é por isso que a minha mão direita nunca sofre
    por ciúmes,
  • 16:48 - 16:52
    nem por ter complexo de superioridade.
  • 16:56 - 17:07
    Quando sentes que és mais poderoso,
    mais talentoso, mais importante, então sofres.
  • 17:07 - 17:12
    Porque isso é um complexo. Complexo de superioridade.
  • 17:14 - 17:21
    Não é só quando tens complexo de inferioridade,
    quando tens baixa autoestima, que sofres,
  • 17:20 - 17:31
    mas também quando tens esse tipo de autoestima elevada,
    sofrerás.
  • 17:36 - 17:38
    E a minha mão esquerda,
  • 17:38 - 17:46
    embora não tenha escrito muitos poemas,
    embora não tenha feito caligrafia,
  • 17:46 - 17:53
    não sofre de complexo nenhum.
    Não tem complexo de inferioridade.
  • 17:54 - 17:58
    É maravilhoso, ela não sofre de todo.
  • 18:00 - 18:06
    Não há comparação.
    Não há baixa autoestima.
  • 18:08 - 18:10
    É por isso que a minha mão esquerda está perfeitamente feliz.
  • 18:12 - 18:18
    Um dia, eu estava a tentar pendurar um quadro na parede.
  • 18:20 - 18:26
    A minha mão esquerda segurava um prego.
    A mão direita, um martelo.
  • 18:28 - 18:30
    Nesse dia, não sei porquê…
  • 18:31 - 18:37
    Em vez de bater no prego,
    bati no dedo.
  • 18:39 - 18:45
    E quando acertei no dedo da mão esquerda,
    a mão esquerda sofreu.
  • 18:45 - 18:48
    A mão direita pousou imediatamente o martelo
  • 18:49 - 18:53
    e cuidou da mão esquerda
    com a maior ternura.
  • 18:55 - 19:01
    Como se cuidasse de si mesma. Muito ternamente.
  • 19:05 - 19:09
    Não considerou que fosse um dever.
    Não.
  • 19:11 - 19:14
    As coisas aconteceram assim, naturalmente.
  • 19:16 - 19:23
    A minha mão direita cuida da esquerda
    como se cuidasse de si própria.
  • 19:24 - 19:28
    Sem qualquer pensamento de
    “Eu sou eu e tu és tu.”
  • 19:33 - 19:42
    Lembram-se daquele psicólogo que disse:
    “Eu sou eu, e tu és tu.
  • 19:49 - 19:55
    E se por acaso concordarmos, ótimo”?
    Não, aqui não é assim.
  • 19:57 - 20:01
    A minha mão direita não diz:
    “Eu sou eu e tu és tu. Somos mãos diferentes.”
  • 20:02 - 20:03
    Não há tal pensamento.
  • 20:07 - 20:12
    As minhas duas mãos praticam perfeitamente
    o ensinamento do Buda: o não-eu, o não-eu separado.
  • 20:19 - 20:23
    A minha mão direita considera o sofrimento
    da mão esquerda como seu próprio sofrimento.
  • 20:23 - 20:25
    E por isso…
  • 20:25 - 20:29
    fez tudo o que podia para cuidar da mão esquerda.
  • 20:30 - 20:36
    E garanto-vos:
    a mão esquerda não ficou zangada. Acreditem em mim.
  • 20:36 - 20:41
    A mão esquerda não sentiu raiva nenhuma
    da mão direita.
  • 20:41 - 20:48
    Não disse: “Tu, mão direita, cometeste uma injustiça comigo.
    Dá-me esse martelo — quero justiça!”
  • 20:48 - 20:51
    [Risos na audiência]
  • 20:51 - 20:54
    Nada disso aconteceu.
  • 21:01 - 21:03
    E é por isso que podemos confirmar
    que existe uma sabedoria inata
  • 21:03 - 21:09
    na minha mão direita e na minha mão esquerda.
  • 21:09 - 21:14
    E essa sabedoria é chamada pelo Buda
    de sabedoria da não-discriminação.
  • 21:16 - 21:19
    Se a tiverem, não precisam de sofrer de todo.
  • 21:23 - 21:28
    A sabedoria da não-discriminação escreve-se assim em chinês:
    無分別智
  • 21:40 - 21:47
    Em sânscrito: nirvikalpa-jñāna.
  • 21:52 - 21:59
    "Vikalpa" significa discriminação;
    "nirvikalpa", não-discriminação;
  • 21:59 - 22:05
    "jñāna", sabedoria.
    A sabedoria da não-discriminação.
  • 22:22 - 22:27
    Essa sabedoria é inata em nós.
  • 22:30 - 22:39
    Mas se permitirmos que perceções erradas e hábitos mentais
    a cubram, ela não pode manifestar-se.
  • 22:41 - 22:46
    A prática da meditação ajuda-nos
    a reconhecer esta semente de liberdade em nós.
  • 22:47 - 22:55
    E se a cultivarmos, se a regarmos todos os dias,
    ela manifestar-se-á plenamente e libertar-nos-á.
  • 22:58 - 23:03
    Na outra pessoa também existe
    a sabedoria da não-discriminação.
  • 23:04 - 23:09
    Mas como ela viveu numa cultura,
    num ambiente
  • 23:10 - 23:15
    onde o pensamento e a ação
    são moldados pelo individualismo,
  • 23:15 - 23:23
    pelo egoísmo, pela ignorância...
  • 23:24 - 23:29
    A sabedoria da não-discriminação
    não pôde manifestar-se.
  • 23:34 - 23:40
    Naquele ano, fui a Itália para um retiro.
  • 23:43 - 23:49
    E reparei que plantavam oliveiras
    em grupos de três ou quatro. Fiquei surpreendido.
  • 23:50 - 23:56
    Perguntei:
    “Porque é que plantam oliveiras em grupos de três ou quatro?”
  • 23:57 - 23:58
    Responderam:
    “Não plantámos.”
  • 23:58 - 24:07
    Mas, na verdade, se olharem com atenção,
    vêem grupos de três ou quatro oliveiras assim.
  • 24:16 - 24:18
    Dessa forma.
  • 24:23 - 24:30
    Explicaram-me: “Não são três ou quatro oliveiras. É só uma.
  • 24:31 - 24:37
    “Aquele ano foi tão frio
    que as oliveiras morreram.
  • 24:39 - 24:43
    “Mas lá em baixo, bem fundo,
    ao nível das raízes, elas não morreram.
  • 24:45 - 24:46
    “Então,
  • 24:53 - 24:58
    depois do inverno rigoroso,
    chegou a primavera,
  • 24:59 - 25:04
    e começaram a nascer rebentos novos.
  • 25:05 - 25:11
    “E, em vez de haver um só tronco,
    passaram a haver três ou quatro troncos de oliveira.
  • 25:11 - 25:16
    “Se olharmos superficialmente, pensamos que são
    três ou quatro árvores diferentes.
  • 25:16 - 25:18
    “Mas, na verdade, são uma só.”
  • 25:20 - 25:24
    Se pertencem à mesma família,
    são irmãos do mesmo pai e da mesma mãe.
  • 25:24 - 25:26
    São assim.
  • 25:26 - 25:29
    Têm as mesmas raízes,
  • 25:29 - 25:31
    o mesmo pai e a mesma mãe.
  • 25:32 - 25:38
    Estas três ou quatro oliveiras
    partilham o mesmo bloco de raízes.
  • 25:45 - 25:51
    Parecem três ou quatro árvores diferentes.
    Mas são uma só.
  • 25:52 - 25:57
    Seria estranho se estas árvores
    discriminassem umas contra as outras,
  • 25:57 - 25:59
    lutassem ou se matassem.
  • 25:59 - 26:02
    Isso seria pura ignorância.
  • 26:02 - 26:10
    Se olharem profundamente e tocarem as suas raízes,
    sabem que são irmãos, irmãs. Que são uma só.
  • 26:13 - 26:17
    Imaginem se os israelitas tocassem…
  • 26:20 - 26:22
    ...a sabedoria da não-discriminação,
  • 26:24 - 26:27
    descobririam que os palestinianos…
  • 26:28 - 26:31
    ...são seus irmãos.
  • 26:33 - 26:36
    São como a mão direita e a mão esquerda.
  • 26:37 - 26:41
    E seria absurdo
    considerarem-se inimigos
  • 26:42 - 26:46
    e matarem-se uns aos outros
    em nome da sobrevivência.
  • 26:52 - 26:54
    Seria uma...
  • 27:00 - 27:02
    tristeza.
  • 27:06 - 27:12
    Se hindus e muçulmanos tivessem de se matar,
    de lutar uns contra os outros.
  • 27:15 - 27:21
    Seria uma tristeza se católicos e protestantes
    lutassem e se matassem.
  • 27:22 - 27:25
    Porque todos têm as mesmas raízes.
  • 27:29 - 27:34
    Eles não foram capazes de tocar
    o seu chão do ser,
  • 27:35 - 27:43
    permitindo que a sabedoria da não-discriminação
    se manifestasse, lhes mostrasse o caminho e a verdade.
  • 27:47 - 27:52
    Quando regressas à tua verdadeira casa,
    quando consegues tocar a tua verdadeira casa,
  • 27:57 - 28:07
    vês que tudo inclui tudo o resto,
    tocas a natureza do interser, de tudo.
  • 28:26 - 28:29
    Esta flor
  • 28:30 - 28:33
    Se olhares profundamente para a flor, o que vês?
  • 28:33 - 28:35
    Vês uma nuvem.
  • 28:37 - 28:42
    Porque sabes que, se não houver nuvem,
    não haverá chuva
  • 28:42 - 28:46
    e esta flor não se poderá manifestar.
  • 28:47 - 28:55
    Portanto, ao olhar para a flor, vês um elemento
    que não chamas de flor, mas que faz parte da flor.
  • 28:58 - 29:01
    A nuvem, ou a água.
  • 29:01 - 29:10
    Se retirares a nuvem da flor,
    a flor já não poderá estar presente para ti.
  • 29:13 - 29:18
    E se olhares profundamente, verás o sol.
    Pois o sol está nela.
  • 29:19 - 29:22
    Sem o sol, nada pode crescer.
  • 29:22 - 29:26
    Posso tocar o sol
    tocando a pétala da flor.
  • 29:27 - 29:32
    Se retirares o sol,
    a flor desaparecerá.
  • 29:33 - 29:39
    Ao olhar para a flor,
    vês a terra, vês os minerais.
  • 29:39 - 29:47
    Não podes remover os elementos —
    solo e minerais — da flor.
  • 29:47 - 29:50
    Ela colapsaria, desaparecería.
  • 29:50 - 29:56
    Por isso é que se pode dizer
    que cada flor é feita apenas de elementos não-flor.
  • 29:57 - 30:03
    Certo? A nuvem é um elemento não-flor,
    essencial à flor.
  • 30:03 - 30:12
    A luz do sol é um elemento não-flor.
    A terra, o composto... são elementos não-flor.
  • 30:12 - 30:20
    Sem elementos não-flor, uma flor não pode
    manifestar-se como algo maravilhoso.
  • 30:25 - 30:29
    Uma flor não pode existir sozinha.
  • 30:34 - 30:44
    Sem o sol, sem a chuva,
    sem a terra, a flor não pode ser.
  • 30:44 - 30:47
    Uma flor só pode inter-ser.
  • 30:48 - 30:56
    Inter-ser com o sol, com a nuvem,
    com a terra, com o agricultor e com tudo.
  • 30:56 - 31:01
    Portanto, ser significa inter-ser.
    Não podes ser sozinho, por ti próprio.
  • 31:01 - 31:08
    E uma flor é feita exclusivamente
    de elementos não-flor.
  • 31:24 - 31:31
    Se retirares todos os elementos não-flor,
    já não haverá flor para ver ou tocar.
  • 31:32 - 31:35
    Portanto, a flor não tem uma existência separada.
  • 31:39 - 31:45
    Não podes imaginar que existe uma flor
    sem sol, sem nuvem, sem terra.
  • 31:45 - 31:49
    Uma coisa assim não existe.
    E o Buda chamou-lhe um "Eu".
  • 31:49 - 31:58
    A flor está cheia de tudo, do cosmos,
    com exceção de uma coisa que a flor não tem:
  • 31:58 - 32:03
    um eu separado, uma existência separada.
  • 32:03 - 32:06
    E esta é a visão profunda do Buda.
  • 32:08 - 32:16
    A flor está cheia de tudo, cheia do cosmos,
    mas vazia de um eu, de uma existência separada.
  • 32:20 - 32:22
    Isto é importante.
  • 32:22 - 32:28
    Com meditação, com atenção plena e
    concentração, podes olhar profundamente para a flor
  • 32:28 - 32:37
    e descobres a natureza do vazio.
    Vazio de quê? Vazio de uma existência separada.
  • 32:38 - 32:43
    Mas, ao mesmo tempo,
    a flor está totalmente cheia do cosmos.
  • 33:03 - 33:05
    Portanto, "ser"...
  • 33:07 - 33:13
    ... o verdadeiro significado de "ser"
    é "inter-ser".
  • 33:17 - 33:28
    Não podes "ser" sozinho. Tens de
    "inter-ser" com todos os outros, com tudo o resto.
  • 33:28 - 33:33
    Esse é o caso da flor.
    Esse é o caso da mesa.
  • 33:34 - 33:38
    Esse é o caso da casa.
    Esse é o caso do rio.
  • 33:58 - 34:06
    Imaginemos que falamos da América como uma flor.
    De que é feita a América?
  • 34:07 - 34:10
    Apenas de elementos não-americanos.
  • 34:13 - 34:19
    Culturalmente falando, a América é feita
    apenas de elementos não-americanos.
  • 34:20 - 34:25
    Etnicamente falando, a América é feita
    apenas de elementos não-americanos.
  • 34:27 - 34:35
    Geograficamente falando, é o mesmo.
    A América não tem um eu, um eu separado.
  • 34:38 - 34:47
    E a América não pode existir sozinha.
    A América tem de inter-ser com elementos não-americanos.
  • 34:50 - 34:52
    E este é o ensinamento do Buda.
  • 34:53 - 34:59
    Esta é a visão profunda que podes tocar
    com a prática de olhar profundamente.
  • 35:01 - 35:06
    A América é feita apenas de elementos não-americanos.
  • 35:07 - 35:15
    E se tiveres essa sabedoria, farás tudo
    para proteger os elementos não-americanos.
  • 35:16 - 35:19
    Se destruíres os elementos não-americanos,
    destróis a América.
  • 35:20 - 35:21
    Certo?
  • 35:33 - 35:38
    Na verdade, a América está agora a causar muitos danos
    aos elementos não-americanos.
  • 35:42 - 35:47
    A América pensa que tem um eu, um eu separado.
  • 35:48 - 35:53
    Por isso é preciso trazer de volta a sabedoria
    à América.
  • 35:53 - 35:59
    Para que a América compreenda que é feita apenas
    de elementos não-americanos.
  • 36:11 - 36:13
    [Um toque do sino]
  • 36:16 - 36:19
    [Sino]
  • 36:34 - 36:37
    Se a América é feita apenas
    de elementos não-americanos,
  • 36:37 - 36:40
    então...
  • 36:41 - 36:46
    os americanos, os cidadãos americanos,
  • 36:47 - 36:51
    os americanos são feitos
    de elementos não-americanos.
  • 36:53 - 36:58
    Não existe tal coisa
    como uma identidade americana.
  • 37:03 - 37:10
    Ao olhar profundamente para um americano,
    vês apenas elementos não-americanos.
  • 37:11 - 37:18
    Não existe tal coisa chamada de eu,
    eu americano, entidade americana.
  • 37:20 - 37:23
    Falando cientificamente,
  • 37:28 - 37:34
    a ideia de eu, a ideia de entidade, é uma ilusão.
  • 37:37 - 37:43
    E se tocas a tua verdade do não-eu,
    és livre.
  • 37:46 - 37:52
    E se permites que essa ilusão te ocupe,
    continuas a sofrer muito.
  • 37:55 - 38:02
    Budismo. O que é o Budismo?
    De que é feito o Budismo?
  • 38:03 - 38:08
    É muito claro: o Budismo é feito apenas
    de elementos não-budistas.
  • 38:09 - 38:15
    Por isso é absurdo morrer pelo Budismo,
    matar pelo Budismo.
  • 38:19 - 38:25
    E, por isso, o Budismo não aceita
    nenhuma cruzada, nenhuma guerra santa.
  • 38:27 - 38:32
    Porque no Budismo deve haver a sabedoria
    da não-discriminação, a sabedoria do não-eu.
  • 38:33 - 38:38
    É por isso que, se te consideras budista,
    não lutas pelo Budismo
  • 38:40 - 38:43
    de uma forma que destrói
    os elementos não-budistas.
  • 38:45 - 38:50
    Uma guerra santa no Budismo é impensável, inaceitável.
  • 38:51 - 38:55
    Porque se declaras guerra contra elementos
    não-budistas,
  • 38:56 - 38:58
    estás a declarar guerra ao Budismo.
  • 38:59 - 39:03
    Porque o Budismo é feito apenas
    de elementos não-budistas.
  • 39:04 - 39:10
    Por isso, o espírito de tolerância,
    de abertura total, no Budismo é muito claro.
  • 39:11 - 39:21
    Como budista, não estás preso à ideia
    de que o Budismo é um eu.
  • 39:21 - 39:26
    Como verdadeiro budista, abraças
    todos os elementos não-budistas.
  • 39:28 - 39:33
    Não discriminas o Cristianismo, o Judaísmo, o Islão...
  • 39:34 - 39:43
    porque, ao olhar profundamente, vês
    elementos belos em cada tradição.
  • 39:46 - 39:49
    Consegues ver elementos budistas nessas tradições.
  • 39:50 - 39:52
    E podes ajudá-los a...
  • 39:58 - 40:02
    ... a desenterrar, a descobrir as coisas belas
    que estão...
  • 40:03 - 40:05
    que estiveram escondidas nelas.
  • 40:09 - 40:14
    Quando olho profundamente para o evangelho cristão
    com os olhos de um praticante,
  • 40:15 - 40:19
    vejo o ensinamento do interser.
    Vejo o ensinamento do não-eu.
  • 40:19 - 40:22
    Vejo o ensinamento da não-discriminação,
  • 40:22 - 40:28
    que não foram explorados
    nem desenvolvidos pelos teólogos cristãos.
  • 40:28 - 40:36
    Se tivesse nascido cristão, eu faria isso.
    [Risos na audiência.]
  • 40:48 - 40:55
    Chamam-me vietnamita,
    e estão certos de que sou vietnamita.
  • 40:57 - 41:01
    E consideram "vietnamita" como uma identidade.
  • 41:09 - 41:12
    No meu caso, eu não tenho passaporte vietnamita.
  • 41:14 - 41:21
    Não tenho cartão de identidade.
    Legalmente falando, não sou vietnamita.
  • 41:36 - 41:47
    Culturalmente falando,
    tenho elementos da cultura francesa em mim,
  • 41:50 - 41:57
    da cultura chinesa em mim, da cultura indiana em mim,
    até da cultura indígena americana em mim.
  • 42:00 - 42:02
    Não existe algo como uma cultura puramente vietnamita.
  • 42:07 - 42:14
    E quando olham para os meus escritos,
    a minha pessoa, a minha palestra do Dharma,
  • 42:14 - 42:25
    podem descobrir várias fontes
    de cultura e correntes culturais.
  • 42:29 - 42:33
    Do ponto de vista antropológico,
    não existe uma raça chamada "raça vietnamita".
  • 42:35 - 42:45
    Ao olhar para mim, podes ver
    elementos melanésios, indonésios,
  • 42:45 - 42:49
    mongóis, negritos...
  • 42:52 - 42:56
    A raça vietnamita é feita apenas
    de elementos não-vietnamitas.
  • 42:57 - 42:59
    E se souberes isso, estás livre.
  • 43:06 - 43:10
    O cosmos uniu-se
    para te ajudar a manifestar.
  • 43:14 - 43:21
    E em ti, pode ser encontrado o cosmos inteiro.
  • 43:27 - 43:32
    Quando seguro uma flor, convido-te a olhar profundamente
    para a flor,
  • 43:32 - 43:37
    podes ver o sol, a nuvem,
    a terra, os minerais...
  • 43:37 - 43:45
    Mas se continuares a olhar, descobrirás que tudo no cosmos está presente na flor.
  • 43:45 - 43:49
    Incluindo o tempo, o espaço e a consciência.
  • 43:51 - 43:54
    Sim, a consciência está na flor.
  • 43:54 - 44:00
    Consciência coletiva
    e consciências individuais.
  • 44:02 - 44:07
    Porque a flor, antes de mais,
    é um objeto da tua perceção.
  • 44:07 - 44:10
    E perceção é consciência.
  • 44:11 - 44:13
    Perceber significa perceber algo.
  • 44:14 - 44:17
    E a flor é apenas o objeto da tua perceção.
  • 44:17 - 44:24
    A perceção inclui o que percebe
    e o que é percebido,
  • 44:24 - 44:28
    e aquilo que seguras na mão não é uma entidade separada.
  • 44:29 - 44:31
    É parte da tua perceção.
  • 44:32 - 44:38
    Portanto, a tua consciência está na flor.
    E a flor está na tua consciência.
  • 44:39 - 44:45
    Esse é o ensinamento do Buda
    relativo à mente.
  • 44:51 - 45:06
    A sabedoria do interser ajuda-te a tocar
    a sabedoria da não-discriminação que existe em ti
  • 45:06 - 45:09
    e liberta-te.
  • 45:11 - 45:15
    Não há mais discriminação.
    Não há mais ódio.
  • 45:15 - 45:25
    Já não pensas que queres pertencer apenas
    a uma área geográfica, ou a uma identidade cultural.
  • 45:26 - 45:47
    Ao olhar para ti mesmo, vês uma multiplicidade
    de origens étnicas, uma multiplicidade de fontes culturais.
  • 45:51 - 45:55
    E consegues ver a presença
    do cosmos inteiro dentro de ti.
  • 45:56 - 46:06
    Podes manifestar-te como uma flor de lótus.
    Podes manifestar-te como uma magnólia.
  • 46:06 - 46:12
    Podes manifestar-te como uma flor de laranjeira.
    Mas cada tipo de flor é bela.
  • 46:13 - 46:21
    Seja vermelha, amarela,
    branca ou preta.
  • 46:23 - 46:42
    Cientificamente, sabes que uma cor não tem um eu.
    Uma cor é feita apenas de elementos… de outras cores.
  • 46:42 - 46:49
    Ao olhar profundamente para uma cor, verás
    todos os outros tipos, todas as outras cores nela.
  • 46:51 - 46:56
    Branco. A cor branca é feita
    de elementos não-brancos.
  • 46:59 - 47:02
    E isso pode ser provado cientificamente.
  • 47:02 - 47:10
    A cor castanha é feita de elementos não-castanhos.
    A cor preta é feita de elementos não-pretos.
  • 47:11 - 47:18
    Nós inter-somos. Isso é um facto.
    Nós inter-somos. Tu estás em mim. E eu estou em ti.
  • 47:18 - 47:28
    É tolice discriminarmos uns contra os outros.
    Isto é ignorância.
  • 47:28 - 47:45
    É ignorância discriminar, pensar que
    és superior a mim, que eu sou superior a ti,
  • 47:46 - 47:47
    e por aí fora.
  • 47:53 - 48:00
    Na Europa e na América, há muitas pessoas
    com doenças mentais.
  • 48:02 - 48:06
    E os psicoterapeutas costumam dizer-lhes
  • 48:06 - 48:11
    que sofrem porque têm baixa autoestima.
    E é por isso que sofrem.
  • 48:19 - 48:26
    E tentam de tudo para te ajudar
    a sentires-te superior.
  • 48:33 - 48:37
    Neste retiro de Inverno, os monásticos
    no Deer Park
  • 48:38 - 48:49
    estudam o papel dos monges beneditinos
    juntamente com o Pratimokṣa budista.
  • 48:49 - 48:53
    Estudos comparativos das duas tradições.
  • 48:54 - 49:01
    E descobrimos que, na tradição beneditina,
    eles tentavam combater...
  • 49:02 - 49:10
    ... o complexo de superioridade, a arrogância,
    com o complexo de inferioridade.
  • 49:11 - 49:16
    "Eu não sou nada, não valho mais do que uma minhoca, eu sou..."
  • 49:22 - 49:30
    Porque o complexo, o sentimento de que
    és superior, pode trazer muito sofrimento.
  • 49:30 - 49:36
    Por isso, para contrariar e curar isso,
    usas o complexo de inferioridade.
  • 49:39 - 49:44
    Mas o complexo de inferioridade também é um complexo.
  • 49:45 - 49:50
    Estás a usar um veneno
    para neutralizar outro veneno.
  • 49:56 - 50:04
    De acordo com o ensinamento do Buda,
    não existe um "eu". Não podes comparar.
  • 50:05 - 50:09
    Não há nada com que comparar.
    Não há um "eu" para ser comparado.
  • 50:11 - 50:14
    A mão direita e a mão esquerda
    não têm um eu separado.
  • 50:15 - 50:18
    Por isso não se podem comparar.
    E não deves comparar.
  • 50:19 - 50:22
    E é por isso que não sofres.
  • 50:23 - 50:30
    No Budismo, todos os complexos nascem
    da noção de "eu".
  • 50:31 - 50:34
    Existem três complexos, não dois.
  • 50:35 - 50:43
    O complexo de superioridade, chamado "thắng mạn".
  • 50:50 - 50:55
    Em vietnamita, chama-se "thắng mạn".
  • 51:09 - 51:19
    E se pensas que és superior
    a ele, ou a ela, ou a eles, estás doente.
  • 51:24 - 51:31
    E a base dessa tua doença
    é a ilusão de um eu, de um eu que é "melhor".
  • 51:35 - 51:42
    E muitos de nós temos lutado
    para provar que "somos melhores",
  • 51:43 - 51:50
    "somos mais poderosos do que eles",
    "somos mais inteligentes do que eles".
  • 51:54 - 52:01
    Estamos à procura da felicidade
    tentando provar que somos superiores.
  • 52:01 - 52:08
    Comportamo-nos como um martelo a tentar pregar um prego
    só para provar que:
  • 52:08 - 52:11
    "Todos são o prego, menos eu, que sou o martelo."
  • 52:11 - 52:13
    [Público ri]
  • 52:15 - 52:20
    E toda a nossa vida tentamos demonstrar uma coisa:
    "Sou superior a ti", …
  • 52:21 - 52:27
    … "a nossa nação é superior à tua",
    "a nossa raça é superior à tua".
  • 52:33 - 52:41
    Queremos provar que, militarmente,
    somos a potência número um.
  • 52:42 - 52:45
    Que conseguimos dominar qualquer outra nação.
  • 52:46 - 52:51
    Queremos provar que, militarmente,
    podemos derrotar qualquer país.
  • 52:53 - 53:04
    E isso dá-nos uma certa satisfação: "Ah,
    sou superior a eles. A minha é a nação mais poderosa."
  • 53:11 - 53:21
    E quando eles sofrem, o outro lado sofre,
    querem responder da mesma forma.
  • 53:22 - 53:27
    Querem dizer: "Nós não somos nada.
    Somos alguma coisa.
  • 53:31 - 53:35
    Se nos consegues atacar assim,
    nós conseguimos atacar-te de outra maneira."
  • 53:38 - 53:45
    "Se nos consegues bombardear, nós conseguimos trazer uma bomba
    e fazer-nos explodir num autocarro.
  • 53:46 - 53:53
    Podemos tirar-te o sono. Podemos
    fazer com que a tua nação viva dia e noite com medo."
  • 53:53 - 54:01
    Então tentam retaliar, para provar
    que são alguma coisa, que não são nada.
  • 54:01 - 54:06
    E ambos os lados estão a tentar mostrar
    que conseguem castigar, que são superiores.
  • 54:06 - 54:12
    E isso está a acontecer com muitos grupos,
    sejam os palestinianos, os israelitas,
  • 54:12 - 54:17
    hindus e muçulmanos,
    antiterroristas e terroristas.
  • 54:19 - 54:22
    Queremos provar que não somos nada,
    que temos valor.
  • 54:23 - 54:25
    E que não podem olhar para nós de cima.
  • 54:26 - 54:32
    E toda essa luta
    baseia-se na ilusão do "eu".
  • 54:32 - 54:44
    Na verdade, nós inter-somos. Se tu sofres, nós também sofremos.
    Se estiveres em segurança, nós também estaremos em segurança.
  • 54:46 - 54:51
    Segurança e paz não são assuntos individuais.
  • 54:52 - 54:55
    Se a outra pessoa não estiver segura, tu não podes estar seguro.
  • 54:56 - 55:02
    Se a outra pessoa não estiver feliz,
    não há maneira de tu estares feliz.
  • 55:03 - 55:11
    Olha para um casal: se o pai está infeliz,
    o filho não tem hipótese de ser feliz.
  • 55:11 - 55:17
    Se a esposa não está feliz, bem,
    é muito difícil para o marido estar feliz.
  • 55:17 - 55:22
    Por isso, a felicidade não é uma questão individual.
  • 55:23 - 55:26
    Tens de ver essa natureza do interser.
  • 55:26 - 55:31
    Quando fazes a outra pessoa feliz,
    tens também uma oportunidade de ser feliz.
  • 55:31 - 55:38
    E é por isso que a visão do interser
    é a base da paz e da felicidade.
  • 55:40 - 55:46
    Tens de tocar o chão do teu interser.
    Tens de ajudar o outro, ajudar a outra
  • 55:46 - 55:50
    a tocar o chão do interser
    e a discriminação desaparecerá.
  • 55:56 - 56:02
    Assim, o complexo de superioridade
    traz muito sofrimento a ti e aos outros
  • 56:03 - 56:07
    porque, quando eles sofrem do
    complexo de inferioridade, lutam,
  • 56:08 - 56:10
    e fazem-te sofrer.
  • 56:12 - 56:23
    Segundo o Buda, o complexo
    de superioridade, ou autoestima elevada, é uma doença.
  • 56:23 - 56:27
    Porque se baseia na ilusão do "eu".
  • 56:28 - 56:41
    E agora, a baixa autoestima, "liệt mạn", a inferioridade,
    é outra doença.
  • 56:42 - 56:50
    E não se pode usar um veneno
    para curar outro veneno. Andas em círculos.
  • 56:51 - 56:58
    Porque o sofrimento do complexo de inferioridade
    também nasce da ilusão de um "eu" separado.
  • 57:02 - 57:05
    A mão direita e a mão esquerda
    não têm um eu separado.
  • 57:07 - 57:12
    As três oliveiras
    não têm uma existência separada.
  • 57:13 - 57:20
    Os dois irmãos também não. As duas irmãs também não.
    Os dois parceiros também não.
  • 57:21 - 57:29
    E se te considerares igual
    a ele ou a ela, isso também é uma doença.
  • 57:30 - 57:35
    Porque é preciso haver um "eu" para que
    possa haver comparação. E há competição.
  • 57:36 - 57:40
    "Sabes, eu sou tão bom como tu.
    Vou prová-lo."
  • 57:41 - 57:52
    E isso também causará muito sofrimento.
    Por isso a psicoterapia no Budismo é um pouco diferente.
  • 57:54 - 57:59
    A psicoterapia no Budismo baseia-se na sabedoria do não-eu, do interser.
  • 58:00 - 58:06
    E por isso, quando se remove a noção de "eu",
    fica-se livre dos três tipos de complexos.
  • 58:07 - 58:10
    E haverá paz, reconciliação,
  • 58:15 - 58:20
    e irmandade entre irmãos e irmãs.
  • 58:24 - 58:29
    E o Buda não é um deus.
    O Buda é um ser humano como nós.
  • 58:29 - 58:40
    Sofreu, praticou.
    Conseguiu transformar-se.
  • 58:41 - 58:47
    E conseguiu transmitir-nos a sabedoria
    do interser, da não-discriminação.
  • 58:48 - 58:54
    E com essa sabedoria, podemos libertar-nos,
    e ajudar a libertar o mundo…
  • 58:55 - 58:58
    … com a nossa prática.
  • 58:59 - 59:02
    Vivemos sem qualquer tipo de complexo, seja
    de superioridade, inferioridade ou igualdade.
  • 59:12 - 59:16
    Porque não há um "eu".
  • 59:16 - 59:25
    Ser uma flor de lótus é maravilhoso.
    Mas ser uma magnólia também é igualmente maravilhoso.
  • 59:26 - 59:31
    Na flor de lótus, há uma magnólia.
    Na magnólia, há uma flor de lótus.
  • 59:41 - 59:46
    O Buda disse-nos que
    o homem é feito de elementos não-humanos,
  • 59:46 - 59:53
    nomeadamente animais, vegetais e minerais.
  • 59:58 - 60:05
    E é por isso que se deve remover
    a noção de homem, de ser humano.
  • 60:08 - 60:14
    Se o ser humano estiver consciente do facto
    de que é feito apenas de elementos não-humanos,
  • 60:14 - 60:18
    nomeadamente elementos animais, vegetais
    e minerais,
  • 60:19 - 60:26
    saberá como proteger a vida dos
    animais, minerais e vegetais.
  • 60:27 - 60:34
    E não os explorará, poluirá
    ou destruirá.
  • 60:34 - 60:40
    Porque proteger o reino dos animais,
    proteger os reinos dos vegetais e dos minerais,
  • 60:40 - 60:46
    é proteger o reino dos humanos.
    Esse é o ensinamento do Sutra do Diamante.
  • 60:47 - 60:52
    O Sutra do Diamante
    é o texto mais antigo sobre ecologia profunda.
  • 60:54 - 61:01
    Ao olhares para o homem, tens de ver os elementos não-humanos,
    nomeadamente os animais, os vegetais e os minerais.
  • 61:03 - 61:10
    O ensinamento é tão claro, e simples o suficiente
    para que o possamos compreender, tocar e praticar.
  • 61:25 - 61:35
    [Sino]
  • 62:01 - 62:10
    Thay precisa de alguns elementos não-Thay
    [sorrindo e a preparar chá]
  • 62:18 - 62:25
    (Alguém pergunta:) “Querido Thay,
    na tua verdadeira casa, há sofrimento?”
  • 62:34 - 62:45
    Tu desfrutas da tua verdadeira casa.
    Mas existe sofrimento na tua verdadeira casa?
  • 63:08 - 63:17
    Há as Quatro Nobres Verdades.
    E a Primeira Nobre Verdade é o mal-estar.
  • 63:17 - 63:19
    Dukkha.
  • 63:29 - 63:37
    Ele encorajou-nos a olhar profundamente
    para reconhecer o mal-estar
  • 63:37 - 63:42
    e a olhar profundamente
    para a natureza do nosso mal-estar.
  • 63:44 - 63:49
    Aconselhou-nos a não fugir do sofrimento.
  • 63:55 - 63:58
    O mal-estar é sofrimento.
  • 63:58 - 64:03
    Mas porque é que o Buda chamou ao sofrimento uma verdade nobre?
  • 64:03 - 64:06
    O que é que o sofrimento tem de nobre?
  • 64:08 - 64:10
    A verdade é que...
  • 64:13 - 64:23
    ... graças ao sofrimento, graças à compreensão
    da natureza do sofrimento,
  • 64:23 - 64:28
    é que tens a oportunidade de cultivar
    a tua compreensão e a tua compaixão.
  • 64:30 - 64:36
    Sem sofrimento, não há maneira
    de aprenderes a ser compreensivo e compassivo.
  • 64:37 - 64:40
    E é por isso que o sofrimento é nobre.
  • 64:41 - 64:43
    Não deves deixar que o sofrimento te domine.
  • 64:43 - 64:47
    Mas, se souberes como olhar profundamente
    para a natureza do sofrimento e aprender com ele,
  • 64:47 - 64:54
    então surge a sabedoria da compreensão
    e a sabedoria da compaixão.
  • 65:02 - 65:33
    O mal-estar pode ser descrito em termos de
    violência, discriminação, ódio, inveja, e por aí fora.
  • 65:37 - 65:57
    Raiva, desejo, e sobretudo ignorância.
  • 66:03 - 66:18
    Por causa da ignorância, fazemos muitas coisas
    que nos fazem sofrer, e fazem o outro sofrer.
  • 66:20 - 66:27
    E o Evangelho diz:
    “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”
  • 66:28 - 66:34
    Isso é ignorância.
    A ignorância é a natureza do mal-estar, a raiz do mal-estar.
  • 66:43 - 66:47
    E o Buda falou da Segunda Nobre Verdade:
  • 66:49 - 66:55
    é a criação do mal-estar,
    como é que o mal-estar é criado,
  • 66:55 - 67:00
    qual é a raiz do mal-estar,
    qual é a sua causa.
  • 67:04 - 67:24
    O caminho que leva ao mal-estar.
    Essa é a Segunda Nobre Verdade.
  • 67:28 - 67:37
    O mal-estar tem raízes,
    e para um praticante...
  • 67:38 - 67:47
    quando ela olha profundamente
    para a natureza do mal-estar, descobre as raízes desse sofrimento...
  • 67:54 - 67:59
    … e a compreensão da sua natureza.
  • 68:04 - 68:09
    [Som do marcador a escrever no quadro]
  • 68:10 - 68:17
    De repente, a Quarta Nobre Verdade revela-se.
  • 68:26 - 68:37
    Se este é o caminho que conduz ao mal-estar,
    então não o devemos seguir.
  • 68:37 - 68:51
    Reconhecemos este caminho como ignóbil.
    O Caminho Ignóbil que conduz ao sofrimento.
  • 68:51 - 69:11
    Descobrimos então um caminho nobre
    que conduz à cessação do mal-estar.
  • 69:18 - 69:29
    E, claro, a Terceira Nobre Verdade:
    a cessação do mal-estar.
  • 69:53 - 70:08
    “A cessação do mal-estar”
    significa “o nascimento do bem-estar”.
  • 70:18 - 70:21
    Mal-estar é a ausência…
  • 70:29 - 70:32
    … de bem-estar.
  • 70:44 - 70:49
    “A ausência de mal-estar”
    significa “a presença de bem-estar”.
  • 70:55 - 71:04
    É como quando há escuridão: não há luz.
    E quando a escuridão cessa, a luz revela-se.
  • 71:22 - 71:29
    Segundo o ensinamento e a prática,
    a presença do bem-estar é possível.
  • 71:35 - 71:42
    E a cessação do mal-estar é possível
    com a prática do Caminho Nobre.
  • 71:44 - 71:47
    E o Caminho Nobre
    que conduz à cessação do sofrimento
  • 71:47 - 71:52
    não pode ser visto se não compreenderes
    o sofrimento e a sua natureza.
  • 71:53 - 71:58
    É por isso que a Primeira Verdade é nobre.
    A Segunda é nobre.
  • 71:58 - 72:02
    A Terceira é nobre.
    E a Quarta é nobre.
  • 72:07 - 72:10
    O Caminho Nobre que conduz
    à cessação do sofrimento...
  • 72:14 - 72:16
    ... começa com a Visão Correta,
  • 72:30 - 72:35
    a sabedoria da não-discriminação,
    a sabedoria do interser.
  • 72:37 - 72:41
    E quando tens essa sabedoria,
    tens o Pensamento Correto:
  • 72:45 - 72:55
    pensas apenas em termos de interser,
    em termos de não-eu, em termos de não-discriminação.
  • 72:56 - 73:01
    Quando o teu pensamento está carregado
    de discriminação e raiva,
  • 73:01 - 73:08
    isso não é Pensamento Correto — é Pensamento Errado,
    que leva a ações erradas e fala errada.
  • 73:09 - 73:11
    E é por isso que o Pensamento Correto
    é o tipo de pensamento
  • 73:11 - 73:14
    que caminha lado a lado com a compreensão,
    com o amor e com a compaixão.
  • 73:15 - 73:17
    Porque esses nascem da Visão Correta,
  • 73:18 - 73:23
    da sabedoria do interser,
    da sabedoria da não-discriminação.
  • 73:24 - 73:29
    E quando o teu pensamento é correto,
    a tua fala será correta — Fala Correta.
  • 73:34 - 73:40
    E quando a tua visão é correta,
    o teu pensamento é correto, e então...
  • 73:42 - 73:47
    As tuas ações físicas serão corretas — Ação Correta.
  • 73:55 - 74:00
    E assim temos o Meio de Vida Correto.
  • 74:03 - 74:05
    E assim por diante.
  • 74:06 - 74:09
    Isto não é um curso chamado “Budismo”.
    [Público ri]
  • 74:11 - 74:13
    Isto é um retiro.
  • 74:28 - 74:37
    As pessoas pensam que o Reino de Deus é um lugar
    onde não há sofrimento.
  • 74:40 - 74:46
    E a maioria das pessoas tende a pensar
    que o Reino de Deus é um lugar
  • 74:46 - 74:51
    onde há apenas felicidade, sem sofrimento.
  • 74:51 - 74:54
    E muitos budistas acreditam que
    na Terra Pura de Buda…
  • 74:55 - 75:00
    … na Terra Pura, as pessoas não sofrem,
    não há sofrimento.
  • 75:04 - 75:06
    E isso é...
  • 75:06 - 75:08
    pensamento dualista.
  • 75:14 - 75:20
    Vai contra a sabedoria do Budismo,
    contra a sabedoria do interser.
  • 75:22 - 75:24
    Olha para este marcador.
  • 75:26 - 75:30
    Chamas a este lado “esquerdo”
    e a este lado “direito”.
  • 75:34 - 75:39
    Acreditas que o lado direito pode existir
    sem o lado esquerdo?
  • 75:40 - 75:44
    Não. Sem esquerda, não há direita.
    Sem direita, não há esquerda.
  • 75:44 - 75:53
    Se és politicamente de esquerda,
    não desejes o desaparecimento da direita.
  • 75:54 - 75:57
    Se não houver direita, tu não podes existir como esquerda.
  • 75:57 - 76:05
    Por isso, tens de desejar a existência da direita
    para que possas ser esquerda.
  • 76:06 - 76:10
    Agora, se eu o virar assim,
    vemos o que está por cima e o que está por baixo.
  • 76:10 - 76:12
    Achas que o “acima” pode existir
    sem o “abaixo”?
  • 76:13 - 76:14
    Não.
  • 76:15 - 76:21
    Achas que podemos cultivar uma flor de lótus
    sem o lodo? Podemos cultivá-la em mármore?
  • 76:21 - 76:22
    Não.
  • 76:24 - 76:28
    Para cultivar legumes,
    precisas de composto.
  • 76:29 - 76:32
    E podes transformar o lixo em composto.
  • 76:32 - 76:38
    Se fores jardineiro orgânico, sabes
    que não precisas de deitar o lixo fora.
  • 76:39 - 76:42
    O lixo é orgânico.
    E com esse lixo...
  • 76:42 - 76:48
    … podes fazer composto
    e alimentar flores e legumes.
  • 76:48 - 77:00
    Por isso, o sofrimento e a felicidade são orgânicos.
    Se souberes, podes transformar sofrimento em bem-estar.
  • 77:01 - 77:05
    Esse é o ensinamento do Buda — não dualista.
  • 77:09 - 77:14
    Não há flor de lótus possível
    sem o lodo.
  • 77:14 - 77:19
    Não há compreensão nem compaixão
    sem sofrimento.
  • 77:21 - 77:26
    Eu nunca gostaria de enviar os meus filhos para um lugar
    onde não há sofrimento,
  • 77:27 - 77:29
    porque, num lugar assim,
    os meus filhos não teriam oportunidade
  • 77:30 - 77:36
    de aprender a compreender
    e a ser compassivos.
  • 77:36 - 77:40
    É tocando o sofrimento, compreendendo o sofrimento,
    que temos uma oportunidade
  • 77:41 - 77:46
    de aprender, de compreender as pessoas,
    e o sofrimento das pessoas.
  • 77:47 - 77:51
    E a partir dessa compreensão
    do sofrimento dos outros — e do teu próprio sofrimento —
  • 77:51 - 77:56
    começas a perceber o que significa
    ser compassivo.
  • 77:57 - 78:01
    Nenhuma flor de lótus pode existir sem lama.
  • 78:01 - 78:05
    E é por isso que a minha definição
    do Reino de Deus não é um lugar
  • 78:05 - 78:09
    onde não há sofrimento.
    Há sofrimento.
  • 78:10 - 78:16
    Mas há também uma oportunidade para cultivar
    a compreensão e a compaixão.
  • 78:17 - 78:25
    Por isso, a minha definição do Reino de Deus é um lugar
    onde há compreensão e compaixão.
  • 78:28 - 78:34
    Um lugar onde não há
    compreensão nem compaixão é o inferno.
  • 78:38 - 78:44
    A Terra Pura também é assim.
    A Terra Pura é uma espécie de universidade.
  • 78:46 - 78:50
    Os Bodhisattvas são professores
    de compreensão e de amor,
  • 78:50 - 78:56
    e precisam do sofrimento para poder ajudar as pessoas
    a compreender e a ser compassivas.
  • 79:00 - 79:02
    Mesmo...
  • 79:05 - 79:11
    Quando vês muita violência, discriminação,
    ódio, inveja e desejo,
  • 79:13 - 79:19
    se estiveres equipado com
    compreensão e compaixão, não sofres.
  • 79:22 - 79:23
    Tu és o Bodhisattva.
  • 79:23 - 79:26
    Tu és o professor de
    compreensão e de compaixão.
  • 79:27 - 79:32
    E estás a ajudar os outros a aprender
    a serem mais compreensivos e compassivos.
  • 79:33 - 79:36
    E estás a...
    estás a construir o Reino de Deus.
  • 79:36 - 79:40
    Estás a construir a Terra Pura do Buda.
  • 79:40 - 79:46
    Quão bela, quão significativa é a tua vida
    porque tens essa oportunidade.
  • 79:47 - 79:56
    Tu és o jardineiro orgânico.
    Sabes como usar o lixo
  • 79:57 - 80:01
    para nutrir as flores e os legumes.
  • 80:02 - 80:06
    Estás a tornar a vida
    mais bela, mais significativa,
  • 80:07 - 80:11
    porque tens em ti
    o poder da compreensão e da compaixão.
  • 80:12 - 80:16
    E a compreensão e a compaixão protegem-te.
  • 80:18 - 80:20
    Não tens de sofrer,
  • 80:20 - 80:28
    mesmo que haja raiva, violência,
    discriminação contra ti.
  • 80:31 - 80:36
    A compreensão gera compaixão.
  • 80:36 - 80:41
    E aqueles de nós que têm compreensão
    e compaixão, não têm de sofrer.
  • 80:41 - 80:44
    Não têm qualquer tipo de complexo.
  • 80:58 - 81:05
    E na minha verdadeira casa, existe
    a presença do bem-estar.
  • 81:07 - 81:10
    Porque a compreensão e a compaixão estão lá.
  • 81:11 - 81:16
    É por isso que sou capaz de me proteger
    e de proteger os outros.
  • 81:18 - 81:25
    com o meu cuidado, ajudo-os a cultivar
    mais compreensão e compaixão,
  • 81:25 - 81:31
    para que não sofram por causa
    da presença destas coisas negativas.
  • 81:34 - 81:39
    Um jardim deve ter tanto o lixo como as flores.
  • 81:40 - 81:47
    E a jardineira, se for uma jardineira orgânica,
    sabe como dominar a situação,
  • 81:47 - 81:54
    como lidar com o lixo, para que a flor
    seja protegida e possa crescer.
  • 81:56 - 82:03
    E é por isso que, num mundo onde existe violência,
    discriminação, ódio e desejo...
  • 82:04 - 82:10
    se estiveres equipado com sabedoria, com Visão Correta,
  • 82:10 - 82:16
    com a sabedoria do interser, com a sabedoria da não
    discriminação, não precisas de sofrer.
  • 82:19 - 82:24
    A dor é inevitável.
  • 82:24 - 82:29
    Mas o sofrimento é opcional.
  • 82:30 - 82:35
    Estás protegido pela
    compreensão e pela compaixão.
  • 82:38 - 82:42
    Já não és uma vítima.
    Já não és A vítima.
  • 82:42 - 82:47
    São eles que são vítimas
    da sua ignorância e discriminação.
  • 82:47 - 82:51
    E são eles o objeto do teu trabalho.
  • 82:53 - 82:56
    Estás a viver de forma a poderes ajudá-los
  • 82:56 - 83:04
    a remover, a transformar a sua ignorância,
    a sua discriminação, o seu desejo, o seu ódio.
  • 83:08 - 83:11
    O desejo...
  • 83:12 - 83:17
    ... nasce da ignorância.
    A raiva nasce da ignorância.
  • 83:18 - 83:21
    Desejas ser reconhecido como superior.
  • 83:28 - 83:30
    Desejas poder...
  • 83:31 - 83:33
    ... fama...
  • 83:36 - 83:38
    ... riqueza.
  • 83:38 - 83:45
    Não sabes que, à nossa volta, há muitas pessoas
    que têm muito poder, fama e riqueza,
  • 83:45 - 83:52
    e que sofrem profundamente de solidão,
    de isolamento, de desespero.
  • 83:52 - 83:54
    E muitos deles suicidaram-se.
  • 83:55 - 83:59
    Aqueles que têm muito poder,
    muita riqueza e muita fama.
  • 84:00 - 84:06
    Porque é que as pessoas que têm
    muita compreensão e compaixão em si...
  • 84:06 - 84:09
    ... não precisam de sofrer,
    e conseguem viver felizes?
  • 84:09 - 84:17
    Porque estão protegidas pela sua sabedoria
    e pela sua compaixão.
  • 84:18 - 84:21
    [Som de pequeno sino]
  • 84:24 - 84:26
    [Som de pequeno sino]
Title:
Nondiscrimination | Dharma Talk by Thich Nhat Hanh, 2004.03.26
Description:

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Video Language:
English
Duration:
01:24:26

Portuguese subtitles

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