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Se souberes quais são as verdadeiras
raízes da tua raiva,
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também poderás transformar a tua raiva.
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A princípio, pensas que a tua raiva foi
causada por algo de fora...
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que algo que alguém disse ou fez
causou a tua raiva.
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Não sabes que a principal causa da tua raiva
é a semente de raiva que está em ti.
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Isso é muito importante.
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Outras pessoas, quando ouvem ou
vêem a mesma coisa,
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não ficam zangadas como tu,
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porque a semente da raiva nelas é menor.
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A tua semente da raiva é muito grande,
e é por isso que ficas zangado tão facilmente.
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Por isso, tens de aceitar o facto de que...
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a principal causa do teu sofrimento ou da tua raiva
é a semente de raiva em ti. É demasiado grande.
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O teu filho também deve reconhecer isso
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e não culpar tudo o que está à sua volta
ou outras pessoas.
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Isso é uma coisa a ver.
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A outra coisa a ver é que...
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alguém que não sabe lidar com a sua raiva...
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o seu sofrimento irá transbordar para outras pessoas.
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Quando alguém está zangado,
ele sofre, ela sofre.
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Porque ela não sabe lidar com a energia da raiva,
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ela faz com que as pessoas à sua volta sofram,
incluindo os seus entes queridos.
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E essa pessoa precisa de ser ajudada,
e não punida.
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Quando vês o sofrimento dessa pessoa,
não queres puni-la mais.
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Sabes que tens de ajudá-lo
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a transformar a raiva que há nele.
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Mas não podes ajudá-lo, a menos que saibas
como fazer isso contigo mesmo.
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Se não souberes como voltar a ti com
plena atenção...
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reconhecer, abraçar e transformar a tua raiva,
não podes ajudar a outra pessoa a transformar
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a raiva dela.
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É por isso que tens de te ajudar primeiro.
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As meditações budistas oferecem-te formas muito
concretas de reconhecer, abraçar, acalmar,
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e transformar a tua raiva.
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E se fores até ao teu filho com essas técnicas que
dominaste, então podes ajudá-lo.
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Caso contrário, qualquer conselho não ajudará.
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Toda a gente sabe que a raiva não é boa para
nós nem para os outros.
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Toda a gente sabe disso.
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Mas o facto é que eles não conseguem evitar.
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Eles são dominados pela energia da violência da raiva.
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Por isso, todos deviam aprender a arte de
abraçar a raiva e transformá-la.
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O primeiro passo é aprender a respirar com atenção plena,
a sorrir para a tua própria raiva,
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e a abraçar a tua raiva ternamente,
como uma mãe que abraça o seu bebé.
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Isto é algo que eu fiz,
muitos amigos meus fizeram,
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e aprendemos isso com o Buda.
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Sabemos que quando a raiva se manifesta em nós,
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não devemos fazer nada,
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não devemos dizer nada.
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Porque fazer ou dizer algo movido pela raiva,
vai trazer coisas negativas
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que nos farão arrepender mais tarde.
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É por isso que, quando a raiva se manifesta,
o melhor a fazer é
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praticar a respiração consciente, a caminhada consciente...
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cuidar da nossa raiva, e não tentar falar ou fazer algo
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com a pessoa que pensamos ser a causa da nossa raiva.
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Perguntaram se, às vezes, a raiva ajuda.
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Essa pergunta tem sido feita tantas vezes.
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Na verdade, se alguém te faz ficar zangado,
não deves tentar reprimir a tua raiva,
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porque reprimir a raiva pode ser muito perigoso.
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Usar a energia da atenção plena para
reconhecer a tua raiva
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e abraçá-la ternamente é o que devemos fazer.
É muito mais seguro.
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Isso não significa que não tenhas o direito de dizer
a ele ou a ela que estás zangado,
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que sofres...
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que ele ou ela fez algo ou disse
algo que te fez sofrer,
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que estás zangado.
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Podes muito bem dizer isso com uma fala amorosa.
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Na Plum Village,
aconselhamos os nossos amigos a fazer assim:
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Dentro do prazo de 24 horas, ou antes,
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tens de lhe dizer que estás zangado,
que sofres,
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e gostarias que ele ou ela soubesse disso.
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Não tens o direito de manter a tua raiva
só para ti por mais de 24 horas.
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Não é saudável!
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Deves dizer a ele ou a ela, mas de forma calma.
Se não conseguires dizer,
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podes escrever num papel.
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Os nossos amigos memorizam bem as fórmulas.
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Podes querer tentar.
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A primeira linha que podes escrever para ele ou ela é:
Querido(a),
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Eu sofro. Estou zangado.
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E quero que saibas disso.
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Não sei por que fizeste isso comigo.
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Não sei por que disseste isso para mim.
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Sofro muito.
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Estou zangado.
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Quero que saibas.
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Este é o conteúdo da primeira frase.
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Se não consegues dizer, então tens de escrever.
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Certifica-te de que entregas o papel
a ele ou a ela antes do prazo.
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Vais sentir-te melhor.
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A segunda frase, a segunda coisa que
podes dizer a ele ou ela é...
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Estás a fazer o teu melhor.
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Querido(a), estou a fazer o meu melhor.
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Isso significa: estou a praticar de acordo
com o ensinamento do Buda.
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Estou a praticar a respiração consciente
e a caminhada consciente,
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gerando a energia da atenção plena
para cuidar da minha raiva,
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para trazer alívio, e depois irei olhar
profundamente para a minha raiva
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para ver qual é a raiz da minha raiva.
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Isso para ver se é a minha percepção errada
que criou a raiva,
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ou talvez por causa de alguma inabilidade tua.
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Olhar profundamente é encontrar a
raiz da tua raiva.
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E geralmente ela nasce da nossa falta de
entendimento e compaixão.
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Então, a segunda frase que escreves é:
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Querido(a), estou a fazer o meu melhor.
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Quando a outra pessoa ler essa frase,
ela terá muita admiração por ti.
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És uma pessoa que sabe lidar com a sua raiva.
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És um praticante.
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Não reages com raiva como as outras pessoas.
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Isso inspira ele ou ela a praticar o mesmo.
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O que fiz para com ela?
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O que disse para a fazer sofrer assim?
Tenho de refletir.
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E isso é um convite para a outra pessoa
fazer o mesmo.
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Muito gentil, muito não-violento:
Querido(a), estou a fazer o meu melhor.
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E a terceira frase.
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Muito difícil de dizer ou escrever:
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Por favor, ajuda-me.
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Por favor, ajuda-me.
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Porque geralmente, quando ficas zangado
com ele ou ela,
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queres mostrar que não precisas
dele ou dela.
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Queres provar que consegues sobreviver,
que consegues muito bem sobreviver sozinho.
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Isso é o orgulho
que sempre anda de mãos dadas com a raiva.
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Se fores capaz de escrever:
Querido(a), sofro.
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Preciso da tua ajuda.
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Vais sofrer muito menos imediatamente.
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Mesmo que ele ou ela não tenha feito nada,
o facto de conseguires
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escrever essa frase já faz diminuir a tua raiva.
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Querido(a), preciso da tua ajuda.
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Tenho a certeza de que quando ela receber a mensagem,
vai refletir muito sobre isso.
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O que fiz para o deixar tão zangado?
O que disse para o deixar tão zangado?
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Assim, convidaste-a para meditar contigo.
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Sempre aconselho os meus amigos a escrever essas três frases
num pequeno pedaço de papel,
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do tamanho de um cartão de crédito.
E guardá-lo na carteira.
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Sempre que a raiva se manifestar,
volta a ti,
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respira com atenção plena, expira com atenção plena,
e tira o papel para ler.
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E saberás exatamente o que fazer
e o que não fazer.
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E serás um verdadeiro praticante.
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Se puderes ajudar o teu filho, o teu parceiro,
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o teu marido, a tua mulher, a tua
filha a fazer o mesmo,
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isso seria maravilhoso.
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Vocês estão juntos no caminho da
transformação e cura.
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E podem transformar a energia da
raiva e violência
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em energia de compreensão e compaixão.
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Quando estamos zangados,
não estamos muito lúcidos.
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É por isso que agir com raiva trará
sofrimento.
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Às vezes, podemos fingir estar zangados.
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Mas se estiveres realmente zangado,
não faças nada.
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Não digas nada.
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E podes dizer a ele ou a ela,
sem raiva, que sofres,
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que estás zangado,
e que queres que ele saiba disso.
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Isso é muito melhor do que usar a
raiva para provar algo.
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Há aqueles entre nós que acham que
a energia da raiva pode ser muito poderosa...
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que se usares essa energia,
farás muitas coisas.
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Se as pessoas são capazes de se explodir
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é porque têm muita raiva dentro delas,
a raiva é uma energia tremenda.
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É verdade que os terroristas têm
muita raiva dentro deles.
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É por isso que podem fazer qualquer coisa
para punir.
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Se estamos zangados
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e usamos a raiva como energia
para os punir de volta,
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estamos a comportar-nos exatamente
da mesma maneira.
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O ensinamento do Buda é que
a raiva nunca pode remover a raiva.
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A raiva só pode promover mais raiva.
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Apenas o entendimento e a compaixão
podem apagar a chama da raiva
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em nós e na outra pessoa.
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O entendimento e a compaixão
são o único antídoto para a raiva.
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E ao usá-los, curas-te a ti mesmo e ajudas
a curar as pessoas que são vítimas da raiva.
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É por isso que não podemos acreditar
no benefício da raiva,
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porque a raiva sempre trará mais raiva.
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A violência sempre trará mais violência.
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E numa relação de pessoa para pessoa,
isso também é verdade.
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Numa relação entre um grupo de
pessoas e outro grupo,
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um país e outro país,
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a mesma coisa é verdade.
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(sino)