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A história de Mestre Gil e o dragão | Rui Henrique | Causos de Cordel

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    [Música começa]
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    [Música acaba]
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    [Rui Henrique] Episódio de hoje:
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    "A peleja de Mestre Gil
    contra o dragão sabido".
  • 0:15 - 0:20
    [RH] Há muito tempo, mas há tanto tempo
    que nem mesmo o tempo sequer sabia
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    há quanto tempo tinha acontecido,
  • 0:22 - 0:26
    mas era tanto tempo que ainda tinha
    pouca gente pelo mundo
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    e tantas coisas inacreditáveis aconteciam,
    que nem Trancoso era capaz de acreditar.
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    Mas esta história, aconteceu
    às margens do rio Beberibe,
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    numa vilazinha chamada Ham,
    que nem no mapa se acha mais.
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    Mas dizem que ficava na divisa
    entre Recife e Olinda, em Pernambuco.
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    Lá morava um cabra chamado Agídio Júlio,
    mais conhecido como seu Gil,
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    que era dono de um sítio
    onde plantava legumes, frutas
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    e tinha umas cabeças de gado.
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    Seu Gil morava sozinho e seu único
    companheiro era um cachorro chamado Garm,
  • 1:05 - 1:08
    que o ajudava no cuidado com a terra.
  • 1:08 - 1:14
    Uma certa madrugada, um gigante tão alto
    que sua testa raspava as nuvens do céu,
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    apareceu pela vila de Ham.
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    Cada passada dele destruía as plantações
    de macaxeira de alguns moradores
  • 1:22 - 1:25
    e, pelo caminho, seus pés arrancavam
    os pés de manga e caju,
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    como se fossem capim.
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    O povo de Ham se escondeu
    onde pudesse se esconder,
  • 1:32 - 1:34
    com medo de ser esmagado
    numa pisada do gigante.
  • 1:34 - 1:40
    O cachorro Garm viu tudo e saiu correndo
    pra avisar o dono daquele acontecido.
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    Chegando na porta da casa do seu Gil,
    Garm começou a latir
  • 1:44 - 1:49
    e na porta apareceu o seu Gil,
    assustado pelo alvoroço do bicho.
  • 1:49 - 1:53
    [Seu Gil] O que foi, Garm?
    Parece que viu assombração.
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    [RH] Garm falou todo assustado:
  • 1:55 - 1:58
    [Garm] Tem um gigante na sua terra
    e acaba de esmagar sua vaca Galatéa
  • 1:58 - 2:00
    feito uma tapioca.
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    [RH] Sim, minha gente,
    o cachorro Garm falou.
  • 2:03 - 2:07
    Mas não se espante, isso era
    bem comum de acontecer naquele tempo.
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    Gil pegou sua velha garrucha e, meio
    desacreditado, saiu atrás do Garm,
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    que seguia na direção do gigante.
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    Logo viram aquela criatura enorme
    e Gil percebeu que o tiro de sua garrucha
  • 2:20 - 2:22
    não ia fazer quase nada naquele gigante.
  • 2:22 - 2:27
    Mesmo assim, morrendo de medo, ele atirou
    na direção da cabeça do gigante,
  • 2:27 - 2:30
    e o tiro pegou bem na perna dele.
  • 2:30 - 2:35
    O gigante sentiu apenas uma picada
    e pensando que era uma muriçoca,
  • 2:35 - 2:37
    levantou a perna para coçar.
  • 2:37 - 2:41
    Foi quando perdeu o equilíbrio
    e acabou caindo dentro do rio.
  • 2:41 - 2:45
    Como o coitado não sabia nadar,
    acabou se afogando.
  • 2:45 - 2:48
    E logo correu a notícia,
    por toda a cidade,
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    que Gil tinha matado o gigante
    com apenas um tiro e muita coragem.
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    O povo passou a chamá-lo
    de Mestre Gil, o herói de Ham.
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    Com tanto falatório,
  • 2:59 - 3:03
    a história de caçador de gigantes chegou
    aos ouvidos do conde de Olinda,
  • 3:03 - 3:07
    o governador da capitania de Pernambuco.
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    E o fidalgo conde enviou uma carta
    ao Mestre Gil e, junto com essa carta,
  • 3:12 - 3:16
    dois presentes muito nobres:
    uma espada e um cinturão,
  • 3:16 - 3:19
    que tinham sido de um
    antepassado real do conde,
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    um grande caçador de dragões
    lá em Portugal.
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    Apesar de assustado
    com os acontecidos repentinos,
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    Mestre Gil gostou foi muito
    da fama de herói
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    e do grande reconhecimento
    do conde de Olinda.
  • 3:32 - 3:36
    E então a paz voltou a reinar
    em toda a vila de Ham.
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    Bem, a paz durou até que um dragão
    chamado Chrysophylax
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    começou a sobrevoar a vila de Ham.
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    Não era um dragão qualquer, não.
  • 3:47 - 3:51
    Chrysophylax era um dragão
    inteligente e muito rico.
  • 3:51 - 3:58
    Em suas posses tinha o dinheiro, dobrões
    de ouro e joias reais até da Europa.
  • 3:58 - 4:00
    Mas rápido que chuva no sertão,
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    chegou a notícia do dragão
    aos ouvidos do conde de Olinda.
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    O fidalgo ficou foi preocupado,
    pois sabia que seus soldados
  • 4:08 - 4:11
    num tinham coragem pra pelejar
    contra os cangaceiros,
  • 4:11 - 4:13
    o que dirá contra um dragão.
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    Então se lembrou do fazendeiro,
    Mestre Gil, que tinha dado fim no gigante.
  • 4:18 - 4:21
    O conde mandou uma intimação
    pra Mestre Gil:
  • 4:21 - 4:24
    enfrentar e dar um fim naquela fera.
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    Ao receber a notícia,
    Mestre Gil quase caiu da cadeira.
  • 4:28 - 4:31
    Ainda pensou em fugir
    lá pras bandas de Caruaru,
  • 4:31 - 4:35
    só de pensar em ficar
    frente a frente com o dragão.
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    Mas não podia fazer
    aquela desfeita com o conde.
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    Além do mais, estava de posse
    de uma espada matadora de dragões.
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    Parece até mentira, mas foi só
    o Mestre Gil por os pés pra fora,
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    que o dragão Chrysophylax apareceu
    na frente da fazenda.
  • 4:51 - 4:56
    Apesar de ser muito sabido e rico,
    Chrysophylax não tinha muita coragem
  • 4:56 - 4:59
    e morria de medo de enfrentar
    um soldado de espada do governo.
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    Mas ali na vila de Ham, ele sabia
    que o povo era mais medroso que ele
  • 5:04 - 5:07
    e se aproveitando que os matutos correram,
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    começou o seu banquete comendo
    as vacas mais gordas que via pela frente.
  • 5:12 - 5:18
    Quando o Mestre Gil viu Chrysophylax,
    olhou pra seu cachorro Garm e falou:
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    [Mestre Gil] Agora sobrou
    pra gente, Garm.
  • 5:21 - 5:24
    [RH] E foi nessa hora que Garm deu
    uma carreira danada,
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    que deixou pra trás até as pulgas.
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    Então Mestre Gil se viu obrigado
    a seguir sozinho naquela peleja.
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    Pegou a espada e seu cinturão,
    presentes dados pelo conde,
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    e foi em direção ao dragão.
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    Ao ver Mestre Gil, o dragão parou de comer
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    e, meio sem jeito, o saudou
    com um bom-dia.
  • 5:45 - 5:48
    "Bom dia!", respondeu de volta
    Mestre Gil, sem entender.
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    Chrysophylax pensava rápido num jeito
    de se livrar daquele caçador de dragão
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    e de sua espada,
    espada esta que ele já sabia
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    que era uma exterminadora de dragões.
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    [Chrysophylax] Me desculpe perguntar,
    mas vosmecê tá vindo pra me matar?
  • 6:04 - 6:07
    [MG] Não, não, o que é isso!
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    É que eu ouvi uma zoada por estas bandas
    e vim ver o que era.
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    [RH] Nessa hora, Mestre Gil, de tão
    nervoso, derrubou a espada sem querer.
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    Chrysophylax pensou em lhe dar o bote,
    mas Mestre Gil foi mais rápido
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    e apontou a espada para o lado do dragão
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    e nisso acabou espetando
    o peito do bicho.
  • 6:26 - 6:28
    [C] Calma, calma! Meu nome é Chrysophylax
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    e eu sou um dragão muito rico
    e pago o prejuízo.
  • 6:32 - 6:36
    [RH] "Paga o prejuízo de quanto?",
    falou Mestre Gil.
  • 6:36 - 6:38
    [C] Dois contos de réis, tá bom?
  • 6:38 - 6:41
    [RH] Já pensando em aumentar a oferta,
    Mestre Gil respondeu:
  • 6:41 - 6:44
    [MG] Olha, seu dragão,
    vosmecê me desculpe,
  • 6:44 - 6:47
    mas dois contos de réis é uma mixaria
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    e não paga nem o chocalho
    da minha vaca malhadinha
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    que vosmecê acabou de devorar.
  • 6:52 - 6:56
    [RH] Chrysophylax na hora soube
    que Mestre Gil era muito do sabido.
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    [C] Cinco contos, está bom?
  • 6:58 - 7:02
    [MG] É pouco, seu dragão, já viu
    a carestia das coisas por aqui no Brasil?
  • 7:02 - 7:05
    [C] Dez contos dá para cobrir o estrago.
  • 7:05 - 7:07
    [RH] "Continue", falou Mestre Gil.
  • 7:07 - 7:09
    [C] Tá certo, tá certo!
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    Vinte contos de réis e os dobrões
    de ouro pra vosmecê.
  • 7:12 - 7:14
    [MG] Tá fechado o negócio, seu dragão.
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    Mas cadê o dinheiro?
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    [C] Eu não tenho dinheiro aqui comigo,
    tenho que buscar na minha toca.
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    [RH] Falou Chrysophylax.
  • 7:21 - 7:23
    [MG] Tá certo, vá buscar que eu espero.
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    [RH] Respondeu Mestre Gil, apontando
    a espada para o dragão.
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    Foi quando Chrysophylax teve uma ideia:
  • 7:29 - 7:33
    [C] Me desculpe a intimidade, mas
    por acaso vossa senhoria não desejaria
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    ser um conde muito rico?
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    [MG] Oxente! Mas quem é
    que não quer, seu dragão?
  • 7:37 - 7:39
    [RH] Respondeu Mestre Gil.
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    [MG] Mas tudo o que eu tenho
    é só estas terras
  • 7:41 - 7:44
    que vosmecê já destruiu metade.
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    [RH] Então Chrysophylax falou:
  • 7:45 - 7:47
    [C] Por que não fazemos um trato?
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    Vossa Senhoria me deixa morar na caverna
    que tem no pé desse morro,
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    que está dentro de suas terras,
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    me deixa comer umas três
    ou quatro vacas por semana
  • 7:56 - 7:59
    e em troca te dou todo o meu dinheiro
    e ouro que precisar.
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    Pode até construir um castelo se quiser,
  • 8:01 - 8:05
    o importante é que nunca deixe
    que me incomodem.
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    [MG] Eu estou de acordo, seu dragão.
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    Pode trazer todos os seus dinheiros
    e seus ouros
  • 8:10 - 8:14
    que, a partir de hoje, vosmecê não será
    mais incomodado.
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    [RH] Pra todo mundo de Ham,
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    Mestre Gil tinha espantado o dragão
    pra nunca mais voltar.
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    Mas naquela madrugada,
    enquanto todo mundo dormia,
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    Chrysophylax trouxe toda a sua riqueza
    numa lona gigante
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    e se instalou na caverna no pé do morro,
    dentro das terras do Mestre Gil.
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    E foi assim que Mestre Gil ficou
    muito rico e acabou se tornando
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    um dos maiores criadores
    de gado do Nordeste.
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    [Música começa]
  • 8:49 - 8:51
    [Música acaba]
Title:
A história de Mestre Gil e o dragão | Rui Henrique | Causos de Cordel
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Imagine se o escritor dos livros "O Senhor dos Anéis" e "O Hobbit" tivesse escrito uma história que se passa no nordeste. A gente imaginou e adaptou o lIvro do J.R.R Tolkien, "Mestre Gil de Ham", para o formato nordestino.

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Duration:
08:52

Portuguese, Brazilian subtitles

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