Como o sono prejudica as nossas emoções

Não tem a ver com a nossa imaginação, estamos mesmo mais irritáveis quando dormimos pouco.
O cientista do sono Matt Walker explica como o descanso noturno afeta os centros das emoções do nosso cérebro, e porque é que podemos pensar no sono como uma forma de primeiros socorros para os nossos sentimentos.

Como é que a falta de sono
afeta o nosso cérebro emocional?

Porque é que a falta de sono

nos torna tão emocionalmente
irracionais e hiperreativos?

[A dormir com a ciência]

Há vários anos, fizemos
um estudo de imagens cerebrais.

Escolhemos um grupo de adultos saudáveis,

deixámos alguns dormir a noite toda

e a outros, privámo-los de sono.

No dia seguinte, submetemo-los
a uma ressonância magnética,

e observámos como
o cérebro emocional deles reagia.

Concentrámo-nos numa estrutura específica,

a que chamamos amígdala.

A amígdala é uma das regiões centrais

na geração de reações emocionais fortes,

inclusive reações emocionais negativas.

Quando observámos as pessoas
que tinham dormido a noite toda,

observámos um grau
de reatividade da amígdala

positivo, moderado e apropriado.

Não foi como se não houvesse
nenhuma resposta,

havia uma resposta mas era apropriada.

No entanto, nas pessoas privadas de sono,

esse centro profundo do cérebro emocional
estava de facto hiperativo.

De facto, a amígdala estava
quase 60% mais reativa

na situação de falta de sono.

Mas porque é que isto acontecia?

Descobrimos depois,

que há outra região
do cérebro envolvida nisto.

Essa região cerebral
chama-se córtex pré-frontal,

e está situado
diretamente por cima dos olhos.

Podemos pensar no córtex pré-frontal,

como o CEO do nosso cérebro.

É muito bom a tomar decisões
executivas de grande responsabilidade

e a controlar reações.

Efetivamente, trata-se de uma
das regiões mais evoluídas do cérebro.

E uma das partes do cérebro que controla

é a amígdala, o centro
das emoções profundas.

Então, nas pessoas
que tinham dormido a noite toda

observámos uma conexão
e uma comunicação forte

no córtex pré-frontal,

que controla o centro
das emoções profundas.

Mas, nas pessoas que não tinham dormido,

essa comunicação, essa conexão
entre o córtex pré-frontal

e a amígdala, o centro
das emoções profundas do cérebro,

essencialmente tinha sido cortada.

Em consequência disso,

a amígdala estava a responder
de forma muito mais ativa,

devido à falta de sono.

É como se, sem sono,

pisamos no acelerador das emoções,

e temos pouco controlo sobre os travões.

E esta é a razão pela qual
nos soltamos mais,

do ponto de vista da integridade emocional

quando não dormimos bem.

Isto é algo negativo que pode acontecer

se nos privarem de sono.

Mas descobrimos também

que acontece algo positivo

quando voltamos a dormir regularmente.

O sono, especialmente na fase
do movimento rápido dos olhos,

oferece uma forma
de primeiros socorros emocionais.

Porque é durante o sono da noite,

que voltamos a estas experiências
emocionais difíceis,

pelas quais passámos durante o dia,

e o sono noturno dá-nos conforto,

alivia os aspetos mais desagradáveis
dessas experiências difíceis.

Portanto, talvez não seja o tempo
que cura todas as feridas,

mas o tempo que passamos a dormir
e que nos permite uma recuperação emotiva.

De forma que, no dia seguinte,

somos capazes de lidar
com as memórias emotivas.