Sapatos novos | Pachi Tamer | TEDxRosario
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0:42 - 0:44Comprei uns sapatos novos
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0:44 - 0:46e queria mostrá-los a toda a gente.
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0:47 - 0:49Comprei-os a este homem.
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0:50 - 0:52Este homem chama-se Catalino.
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0:52 - 0:55Vive aqui, na estação
Rosario Norte, há 20 anos. -
0:57 - 1:00Aqui é o Catalino
a dar-me os sapatos dele. -
1:02 - 1:06Comprei-os para esta palestra porque,
para mim, é uma ocasião muito especial -
1:07 - 1:09e queria estrear uns sapatos.
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1:11 - 1:14Quando estava a estudar
publicidade em Buenos Aires, -
1:15 - 1:17na faculdade, deram-nos um trabalho
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1:17 - 1:21em que tínhamos que ir para a rua
e mudar qualquer coisa -
1:21 - 1:23para ver as reações das pessoas.
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1:24 - 1:28Então vesti-me como estou vestido hoje
e fui para o Obelisco. -
1:29 - 1:31Quando os carros paravam no semáforo,
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1:31 - 1:35em vez de lhes pedir dinheiro,
dava-lhes um peso. -
1:38 - 1:39O que é que comprovei com isso?
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1:39 - 1:41Comprovei os preconceitos
que as pessoas têm. -
1:41 - 1:43Assim que me viam aproximar-me,
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1:43 - 1:46fechavam a janela
ou olhavam para o outro lado -
1:46 - 1:49fingindo que não havia ali ninguém,
que não havia nenhuma pessoa. -
1:50 - 1:53Sentiam-se numa situação incómoda
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1:53 - 1:58que durava até ao semáforo seguinte
e voltavam a sentir-se incomodados -
1:58 - 2:00ao ignorarem outra pessoa.
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2:01 - 2:04As mulheres, geralmente,
escondiam a bolsa na parte de trás. -
2:06 - 2:09O exercício foi um êxito,
e foi assim que consegui trabalho -
2:09 - 2:12na minha primeira agência,
Agulla Y Baccetti. -
2:12 - 2:15Depois disso, fui para a VegaOlmosPonce.
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2:15 - 2:20Em 2001 fugi do ruído
ensurdecedor das panelas -
2:20 - 2:23e fui para Londres com 1000 dólares,
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2:23 - 2:27com um visto de turista e sem falar
uma só palavra de inglês. -
2:27 - 2:30Sobrevivi um ano,
trabalhei a lavar pratos, -
2:30 - 2:33a colocar andaimes
em obras em construção -
2:34 - 2:37e a instalar equipamentos
de refrigeração e ar condicionado. -
2:37 - 2:40Voltei de Londres, deportado
por trabalhar ilegalmente, -
2:40 - 2:43por trabalhar o dobro
das horas permitidas. -
2:43 - 2:46Mas foi a melhor
experiência da minha vida. -
2:47 - 2:52Voltei a trabalhar em publicidade,
durante dois anos, numa nova agência, -
2:52 - 2:56até que recebi uma proposta
de outra agência em Nova Iorque. -
2:57 - 3:00Aceitei sem pensar mas, desta vez,
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3:00 - 3:03com um apartamento pago
em frente do Empire State -
3:03 - 3:05e um salário de 60 000 dólares por ano.
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3:06 - 3:10Uma experiência completamente diferente
mas que podia valorizar-me muito -
3:10 - 3:12depois da experiência de Londres.
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3:13 - 3:18Então arranjei uma namorada e,
pouco tempo depois de irmos viver juntos, -
3:18 - 3:22recebi uma chamada de outra agência
em Austin, no Texas, -
3:22 - 3:24a oferecer-me trabalho e eu disse-lhes:
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3:24 - 3:27"Ouçam, acabei de mudar-me
com a minha namorada há um mês. -
3:27 - 3:29"Não posso aceitar.
Ela está a trabalhar aqui". -
3:30 - 3:31E eles disseram-me:
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3:31 - 3:33"Também arranjamos trabalho para ela".
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3:33 - 3:36Fomos lá passar um fim de semana
gostámos da cidade, mudámo-nos. -
3:36 - 3:40Chegámos num domingo e na segunda
descobrimos que ela estava grávida. -
3:42 - 3:48Casámos, trouxe os meus pais da Argentina
e casámos em Porto Rico, com ela grávida. -
3:48 - 3:51Casámos por obrigação, mas muito felizes.
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3:53 - 3:56Em 2009 nasceu a Elena
que é o amor da minha vida. -
3:56 - 3:59É aquele bebé que está ali.
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4:00 - 4:05Quando a Elena tinha ano e meio,
recebi uma chamada do meu irmão. -
4:05 - 4:08Eu estava a almoçar e ele disse-me
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4:08 - 4:11que os meus pais tinham tido
um acidente de carro muito grave, -
4:11 - 4:14nem sabia como é que estavam,
só sabia que era grave, -
4:14 - 4:17que fora perto de Rafaela
quando vinham de Santiago de Estero -
4:17 - 4:19e não tinha mais notícias.
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4:20 - 4:22Sem saber absolutamente
nada apanhei um avião. -
4:22 - 4:26Um amigo meu estava à minha
espera em Ezeiza e levou-me a Rafaela. -
4:27 - 4:28E deparei-me com isto.
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4:28 - 4:32Encontrei o meu pai em coma
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4:35 - 4:40e a minha mãe com os ossos todos partidos.
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4:40 - 4:43O meu pai esteve em coma
durante 10 meses até que morreu. -
4:44 - 4:48A minha mãe esteve seis meses de cama
e fez seis operações. -
4:50 - 4:54Esta foi a última vez
que apertei a mão do meu pai -
4:54 - 4:57porque, no início, ele ouvia e respondia,
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4:58 - 5:00até que deixou de responder.
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5:05 - 5:09Voltei para Austin para trabalhar,
tinha que continuar a trabalhar. -
5:10 - 5:15Cinco meses antes de o meu pai morrer,
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5:17 - 5:20uma manhã tive uma discussão
com a minha mulher, -
5:20 - 5:23saí para o trabalho e atirei com a porta.
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5:23 - 5:27No dia seguinte recebi uma notificação
para o divórcio e fiquei na rua. -
5:27 - 5:30Perdi a minha filha, perdi a minha casa.
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5:30 - 5:32Com os meus pais
naquela situação na Argentina, -
5:32 - 5:36fiquei totalmente só e fui viver
para casa de um amigo -
5:36 - 5:37a dormir num sofá.
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5:38 - 5:40Nessa altura eu usava o Instagram,
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5:40 - 5:41essa aplicação de fotografia.
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5:41 - 5:43Como toda a gente, tirava fotos ao céu,
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5:43 - 5:45a um passarinho, ao que encontrasse.
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5:47 - 5:51Um dia encontrei este homem
e pedi-lhe para tirar uma fotografia. -
5:52 - 5:55Dei-lhe um dólar pela foto
e fiquei a falar com ele. -
5:55 - 5:57E ele contou-me a sua história.
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5:58 - 6:00De repente todos os meus problemas
ficaram pequeninos -
6:00 - 6:03comparados com a história deste homem.
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6:03 - 6:07Serviu-me para dar valor a todas as coisas
que eu tinha, que não eram poucas. -
6:07 - 6:10Eu era saudável,
a minha filha era saudável, -
6:10 - 6:14tinha um sofá para dormir,
o que já era muito. -
6:15 - 6:20A partir desse dia, passei
a fazer retratos de pessoas da rua. -
6:20 - 6:26Encontrei nelas a família que me faltava,
o apoio que me faltava. -
6:28 - 6:31As histórias delas fizeram com que
eu desse valor a tudo o que eu tinha -
6:31 - 6:34e comecei a ganhar seguidores.
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6:35 - 6:39Sempre que punha a foto deles com o nome,
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6:39 - 6:43se a história era interessante,
contava parte dessa história. -
6:45 - 6:48Neles encontrei a família que me faltava.
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6:49 - 6:51Até que um dia encontrei este homem.
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6:52 - 6:55Estivemos a falar, tirei-lhe a foto
e paguei-lhe o dólar. -
6:55 - 6:57Antes de me ir embora, o homem diz-me:
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6:57 - 7:00"Sabe qual é a única coisa
que eu gostava de fazer antes de morrer?" -
7:01 - 7:03E eu: "Não".
E ele disse: "Oktoberfest!" -
7:03 - 7:07Oktoberfest? Sim! E contou-me
que era descendente de alemães -
7:08 - 7:10que sempre tinha sonhado ir à Alemanha.
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7:10 - 7:12Rimo-nos e fui para o trabalho.
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7:12 - 7:14A caminho do trabalho
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7:14 - 7:18— eu nessa altura, tinha cerca
de 5000 seguidores no Instagram — -
7:18 - 7:21a caminho do trabalho tive uma ideia:
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7:21 - 7:26se cada seguidor que tenho der um dólar
— que era o que eu lhes pagava — -
7:27 - 7:29eu posso levar este tipo à Alemanha
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7:29 - 7:31e posso fazer um livro
a contar a experiência. -
7:32 - 7:34Comecei a sonhar com isso.
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7:35 - 7:38Sem pensar muito, publiquei
a foto dele com o título: -
7:38 - 7:41"Quem quer levar este tipo à Oktoberfest?"
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7:41 - 7:44Abri uma conta PayPal,
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7:44 - 7:47criei um "site" chamado One Dollar Dreams.
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7:47 - 7:50De repente, uma senhora do Japão
enviou-me 100 dólares, -
7:50 - 7:53um homem da África do Sul enviou-me cinco
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7:53 - 7:55e outro dos EUA enviou-me dois.
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7:56 - 8:00E eu percebi que tinha tido
uma boa ideia, uma grande ideia. -
8:02 - 8:04O meu pai morreu nessa altura
-
8:04 - 8:07e um amigo meu que vive
na Colômbia disse-me: -
8:07 - 8:12"Porque não vens até cá e ficas uns dias?
Esqueces os teus problemas". -
8:13 - 8:15Comprei a passagem com milhas
e fui para a Colômbia. -
8:16 - 8:18Na Colômbia tirei fotos.
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8:18 - 8:22Enquanto o meu amigo estava a trabalhar
eu ia para a rua e tirava fotos, -
8:22 - 8:25escutava as histórias e anotava os nomes.
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8:26 - 8:31Dei-me conta da realidade,
tão diferente da realidade dos EUA, -
8:31 - 8:33como a de qualquer país da América Latina.
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8:33 - 8:36A realidade da gente da rua
aqui é muito diferente. -
8:37 - 8:41Encontrei este rapaz que me pediu
dinheiro para comprar sapatilhas. -
8:41 - 8:45Como eu sabia que, às tantas,
ele ia gastar o dinheiro noutra coisa, -
8:45 - 8:47fui com ele e comprei-lhe as sapatilhas.
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8:47 - 8:49Aqui está ele a provar as sapatilhas
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8:49 - 8:51e ali está todo contente
com as sapatilhas novas. -
8:54 - 8:57Continuei a tirar fotos,
até que me encontrei... -
8:57 - 9:00É assim que as pessoas dormem na Colômbia.
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9:01 - 9:04Faz parte da paisagem, nem damos por isso.
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9:04 - 9:07Reparem como as pessoas passam,
elas não existem. -
9:07 - 9:09É mais um caixote do lixo.
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9:11 - 9:13Vejam por onde passa aquele autocarro.
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9:16 - 9:18Continuei até que encontrei este rapaz.
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9:18 - 9:20Este rapaz chama-se Alex.
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9:20 - 9:22Alex vinha duma aldeia do interior,
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9:22 - 9:26tinha chegado a Medelim,
tocava guitarra nos autocarros -
9:26 - 9:28e era viciado em cocaína.
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9:28 - 9:33Fora comprar droga e, enquanto isso,
deram-lhe uma navalhada, -
9:33 - 9:35roubaram-lhe a droga, a guitarra,
as sapatilhas, tudo. -
9:35 - 9:39Andava na rua há três dias,
tinha os pés inchados, não podia andar. -
9:39 - 9:42Tinha um folheto
dum centro de reabilitação. -
9:43 - 9:46Contou-me que não aguentava mais,
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9:46 - 9:48que tinha ido pedir à polícia
se o levava ao centro -
9:48 - 9:51e a polícia não lhe tinha passado cartão.
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9:51 - 9:55Então perguntei-lhe
se queria mesmo reabilitar-se -
9:55 - 9:58e ele disse-me que era o que mais queria,
que não aguentava mais. -
9:58 - 10:01Apanhámos um táxi e eu levei-o
ao centro de reabilitação, -
10:01 - 10:03fui o seu padrinho.
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10:03 - 10:06Alex esteve no centro durante 10 meses,
até sair e conseguiu trabalho. -
10:08 - 10:11Voltei a Austin e a agência mandou-me
filmar um anúncio no México. -
10:12 - 10:17Fiz o anúncio e depois fiquei
o fim de semana em casa dum amigo -
10:17 - 10:18e tirei fotos no México.
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10:18 - 10:21A primeira foto que tirei foi deste miúdo.
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10:21 - 10:24Estava pintado de palhaço,
a pedir junto do semáforo, -
10:24 - 10:28e os pais estavam à esquina, a beber vinho
e à espera que ele trabalhasse. -
10:29 - 10:31Isto é o México, muitos miúdos na rua.
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10:35 - 10:40Continuei a juntar histórias e a contar
tudo ao vivo através do Instagram. -
10:42 - 10:46Ia ganhando seguidores
e as pessoas davam-me alento, -
10:48 - 10:52o que me fez muito bem
para a minha história pessoal, -
10:52 - 10:57e também para o facto de que
trabalhei sempre em publicidade. -
10:57 - 11:00Gosto das ideias, sou um apaixonado
pelas ideias e por resolver problemas, -
11:00 - 11:07mas não sou apaixonado por vender
aperitivos da Monsanto, percebem? -
11:07 - 11:09Então, encontrei neste projeto
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11:09 - 11:13uma coisa que preencheu a minha vida.
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11:14 - 11:17Tive que ir a Los Angeles,
fazer a edição do anúncio. -
11:17 - 11:20Tinha que editá-lo
de quarta para quinta-feira -
11:20 - 11:23e fiquei o fim de semana na rua.
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11:23 - 11:25Não tinha dinheiro, fiquei na rua
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11:25 - 11:28e tirei fotos em Los Angeles
partilhando a experiência ao vivo -
11:28 - 11:30através do Instagram.
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11:31 - 11:34Tirei fotos em Los Angeles
e, quando chego a Austin, -
11:34 - 11:37em Austin encontrei este homem.
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11:37 - 11:39Este homem estava
sem trabalho, era "chef". -
11:39 - 11:44Levei-o a um armazém, comprei-lhe
um equipamento completo de "chef" -
11:44 - 11:47um conjunto de facas e fui com ele
a diversos restaurantes, -
11:47 - 11:49e ofereci publicidade aos restaurantes
-
11:49 - 11:52nas minhas redes sociais,
a quem lhe desse trabalho. -
11:52 - 11:55E ele conseguiu trabalho
no primeiro sítio a que fomos. -
11:56 - 11:59Convidaram-me para fazer uma conferência
no Uruguai, cheguei 10 dias antes -
11:59 - 12:01Tirei fotos no Uruguai.
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12:01 - 12:05Para a conferência do Uruguai,
agarrei num miúdo da rua, -
12:05 - 12:07que é este, Sebastián.
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12:07 - 12:09E fiz o contrário do que fiz hoje aqui.
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12:10 - 12:13Vesti Sebastián de publicitário.
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12:13 - 12:16Sebastián ficou num quarto do hotel,
com roupas novas, -
12:16 - 12:18misturado no meio das pessoas
durante o festival. -
12:18 - 12:21Aí comprovei que, quanto
ao aspeto duma pessoa, -
12:22 - 12:23também se passa o contrário:
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12:23 - 12:27se estamos bem vestidos, não interessa
se somos alcoólicos ou sem-abrigo -
12:27 - 12:28as pessoas respeitam-nos.
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12:28 - 12:31Fui a Espanha, a casa dum amigo
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12:32 - 12:34é ótimo ter amigos por todo o mundo.
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12:34 - 12:38Tirei fotos em Madrid durante 10 dias
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12:39 - 12:43e uma jornalista, através do Instagram,
propôs fazer-me uma entrevista. -
12:43 - 12:47Depois da entrevista, ofereceu-me
o seu apartamento em Barcelona. -
12:47 - 12:49Eu fui a Barcelona
e estive 10 dias em Barcelona. -
12:49 - 12:51A tirar fotos em Barcelona.
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12:53 - 12:57Depois de Espanha — tudo isto é Espanha,
muitas fotos de Espanha — -
12:57 - 13:00convidaram-me para El Salvador,
onde fiz o mesmo. -
13:00 - 13:02Fui 10 dias antes,
tirei fotos em El Salvador. -
13:03 - 13:06Mas, para El Salvador, entrei em contacto
-
13:06 - 13:08com a mãe dum participante na conferência
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13:08 - 13:13sem que ele soubesse e disfarçámos
a mãe dele de sem-abrigo -
13:13 - 13:15tirei fotos da mãe dele
vestida de sem-abrigo. -
13:16 - 13:19Quando estava a mostrar as fotos,
como estou a mostrá-las agora, -
13:19 - 13:24de repente apareceu a mãe
desse rapaz, que é esta. -
13:26 - 13:28Ninguém percebeu nada, só ele,
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13:28 - 13:32mas ele deixou de ver
os indigentes da mesma maneira. -
13:32 - 13:35Porquê? Porque, quando
essa pessoa é alguém querido -
13:35 - 13:39a perspetiva muda, quando
é alguém por quem temos carinho. -
13:39 - 13:42Estas pessoas que vivem na rua
são irmãos de alguém -
13:42 - 13:45filhos de alguém,
mães de alguém, todos eles. -
13:47 - 13:49Depois regressei a Austin
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13:49 - 13:52e tinha vontade de fazer
um estudo mais amplo dos EUA, -
13:53 - 13:56porque só tinha feito Austin e Los Angeles
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13:56 - 14:01Não tinha dinheiro e, de qualquer modo,
como das outras vezes, agarrei no carro -
14:01 - 14:03e parti, com 1000 dólares,
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14:03 - 14:06a mesma quantia de dinheiro
que tinha levado para Londres. -
14:08 - 14:14Fiz-me à estrada, estive dois meses,
percorri 16 000 km, durante dois meses -
14:14 - 14:20Fiz Las Vegas, Los Angeles, São Francisco,
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14:20 - 14:24Denver, Saint Louis, Detroit,
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14:24 - 14:29Nova Iorque, Washington,
Atlanta, Miami, Key West, -
14:29 - 14:32Nova Orleães e regressei a Austin.
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14:33 - 14:38As pessoas abriram-me as portas
das suas casas, deram-me dinheiro, -
14:38 - 14:40deram-me comida e muito alento.
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14:41 - 14:44Em São Francisco convidei um sem-abrigo,
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14:44 - 14:47um rapaz que estava na rua,
para ir comigo, -
14:47 - 14:50e viajámos juntos durante um mês
e deixei-o em Key West. -
14:50 - 14:52A viagem foi um êxito.
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14:54 - 14:56Por último, quero falar da sorte,
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14:56 - 14:59da sua importância, porque, muitas vezes,
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14:59 - 15:03discriminamos as pessoas
apenas pela sua aparência, -
15:03 - 15:06mas não temos em conta
que tudo é uma questão de sorte. -
15:07 - 15:09Vocês têm muita sorte em estar hoje aqui,
-
15:09 - 15:11a ouvir esta palestra, bem vestidos.
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15:12 - 15:14A sorte é um fator fundamental,
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15:14 - 15:16não só nas coisas que nos tocam,
-
15:16 - 15:18mas nas decisões que nós tomamos.
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15:18 - 15:21Porque tudo isso determina
o que vamos decidir mais à frente. -
15:21 - 15:24Por exemplo, este boné que eu tenho
-
15:24 - 15:26é resultado dum pai alcoólico e abusador.
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15:27 - 15:28Este boné.
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15:28 - 15:32Este casaco foi o meu irmão
que me deu droga -
15:32 - 15:33quando eu tinha sete anos.
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15:33 - 15:36Este casaco é isso.
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15:37 - 15:41Estes sapatos que trago calçados
são o não ter ido à escola. -
15:42 - 15:46Os sapatos de Catalino
que doem, doem muito. -
15:47 - 15:50Esta camisa que tenho posta
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15:55 - 15:58é da pancada que apanhei no bairro,
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15:58 - 16:01dos amigos, dos bons amigos.
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16:02 - 16:06E finalmente, estas calças,
estas calças são a minha mãe, -
16:06 - 16:08que trabalhava como prostituta
e nunca estava em casa. -
16:13 - 16:18Somos todos iguais, como podem ver,
mais diferença, menos diferença. -
16:18 - 16:21Eu trato sempre de estar agradecido
por aquilo que tenho -
16:21 - 16:24e não me preocupar com o que me falta.
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16:24 - 16:27(Aplausos)
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16:40 - 16:41Estes...
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16:44 - 16:46Estes calções...
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16:49 - 16:54foi ter nascido no Sanatório Britânico
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16:54 - 16:56com médicos de primeira linha.
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16:57 - 16:59São estes os calções.
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17:04 - 17:09Esta "T-shirt" é ter andado
no colégio dos Maristas -
17:09 - 17:11desde o infantário até ao secundário,
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17:11 - 17:13Martín Jáuregui: Queres que te ajude?
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17:13 - 17:15Podem continuar a aplaudir.
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17:15 - 17:18(Aplausos)
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17:19 - 17:21Pachi Tamer: Engomada pela minha mãe.
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17:21 - 17:24À noite a minha mãe,
que está por aí, engomou-a. -
17:33 - 17:36Estas calças são ter-me enganado
três vezes quanto ao meu curso -
17:36 - 17:39e os meus velhotes apoiaram-me
até eu encontrar aquilo de que gostava. -
17:39 - 17:43(Aplausos)
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17:54 - 17:57Finalmente, estes são os meus sapatos,
os que uso todos os dias -
17:58 - 18:01e que representam o esforço da minha mãe,
-
18:01 - 18:03que, com 74 anos continua a trabalhar,
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18:03 - 18:06para que um estúpido divórcio
não me deixe na rua. -
18:06 - 18:08Estes são os meus sapatos.
-
18:08 - 18:10E agradeço a todos por
terem-nos calçado durante 18 minutos. -
18:10 - 18:12Obrigado, mãe, obrigado a todos.
-
18:12 - 18:14(Aplausos)
- Title:
- Sapatos novos | Pachi Tamer | TEDxRosario
- Description:
-
Pachi Tamer esteve disfarçado de indigente toda a manhã, perto da entrada para a conferência, para depois, corajosamente, poder desnudar os preconceitos que marcam a nossa sociedade.
Publicitário, fotógrafo e trabalhador social, Pachi é daquelas pessoas que se envolve constantemente em problemas mas com a intenção de resolvê-los. A maior parte das vezes fracassa e isso, de certo modo, é um êxito total. Entre os seus fracassos mais importantes contam-se: nunca ter ganhado um Leão de Cannes, ter sido deportado de Inglaterra por trabalhar ilegalmente, ser pai divorciado e estar bastante endividado atualmente.
Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Spanish
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 18:30
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