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Podemos parar de envelhecer? | Andrei Gudkov | TEDxMorristown

  • 0:13 - 0:15
    Hoje, neste país,
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    não há pessoas nascidas no século 19.
  • 0:21 - 0:23
    Já não existem tais pessoas,
  • 0:23 - 0:27
    não apenas aqui, mas provavelmente
    em todo o planeta.
  • 0:28 - 0:31
    A razão é óbvia, todas morreram.
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    As que morreram de doença,
  • 0:34 - 0:38
    costumamos dizer que se foram
    de forma prematura.
  • 0:38 - 0:42
    Ou seja, as que faleceram
    de envelhecimento
  • 0:44 - 0:46
    se foram na hora certa.
  • 0:46 - 0:47
    (Risos)
  • 0:48 - 0:53
    Aqui vocês veem
    a programação normal da vida,
  • 0:53 - 0:56
    que consiste em dois períodos
  • 0:56 - 0:59
    nos quais nos desenvolvemos
    e atingimos a idade reprodutiva,
  • 0:59 - 1:03
    e então inevitavelmente começa
    o declínio de todas as nossas funções,
  • 1:04 - 1:06
    nos debilitamos e, finalmente, morremos.
  • 1:06 - 1:11
    Esse é o melhor cenário hoje em dia.
  • 1:11 - 1:13
    Não sei quanto a vocês,
  • 1:13 - 1:17
    mas acho esse cenário muito deprimente.
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    O mistério do envelhecimento,
  • 1:22 - 1:25
    da morte por envelhecimento
    e a limitação de nossa longevidade
  • 1:27 - 1:29
    está em nossos pensamentos desde sempre.
  • 1:29 - 1:32
    Os contos de fada do passado
  • 1:32 - 1:38
    estão cheios de receitas
    de rejuvenescimento.
  • 1:38 - 1:42
    Esta é uma pintura famosa
  • 1:42 - 1:47
    de Lucas Cranach, o Velho,
    "A Fonte da Juventude",
  • 1:47 - 1:50
    na qual se vê uma dessas receitas.
  • 1:50 - 1:52
    O interessante é que essa imagem,
  • 1:52 - 1:58
    do século 16, foi pintada numa época
    em que a grande maioria das pessoas
  • 1:58 - 2:02
    nunca chegava a envelhecer
    porque morria de doenças infecciosas:
  • 2:02 - 2:05
    cólera, peste, varíola, sífilis.
  • 2:06 - 2:11
    Entretanto, o envelhecimento
    já era reconhecido como um mistério.
  • 2:14 - 2:17
    O que podemos fazer hoje em dia?
  • 2:17 - 2:19
    Será que a medicina,
  • 2:19 - 2:24
    que encontrou a cura para várias doenças
    nos últimos 100 anos,
  • 2:24 - 2:27
    também fez algo pelo envelhecimento?
  • 2:27 - 2:30
    É evidente que na época de Lucas Cranach,
  • 2:30 - 2:34
    envelhecimento e doenças infecciosas
    estavam claramente separados
  • 2:34 - 2:37
    porque a peste atacava a todos,
  • 2:37 - 2:42
    sem diferenciar crianças ou idosos.
  • 2:42 - 2:48
    Porém, depois que passamos a tratar
    doenças infecciosas com antibióticos,
  • 2:48 - 2:49
    chegamos a uma época
  • 2:49 - 2:52
    em que as pessoas começaram a morrer
    de câncer e doenças cardiovasculares,
  • 2:52 - 2:55
    doenças claramente relacionadas à idade.
  • 2:56 - 2:59
    Portanto, seria de se esperar...
  • 2:59 - 3:02
    Há 100 anos, quando ainda
    não tínhamos antibióticos,
  • 3:03 - 3:07
    e nesse caminho do nascimento à morte
  • 3:07 - 3:11
    perdíamos muitas pessoas
    para doenças infecciosas,
  • 3:11 - 3:14
    esperava-se que 100 anos mais tarde,
    a situação mudaria.
  • 3:14 - 3:16
    E mudou mesmo.
  • 3:16 - 3:18
    Sabemos que existem enormes
    diferenças demográficas
  • 3:18 - 3:21
    entre nossa sociedade e a daquela época.
  • 3:21 - 3:25
    Mais pessoas vivem
    até uma idade muito avançada
  • 3:25 - 3:28
    devido ao sucesso de nossos tratamentos,
  • 3:28 - 3:30
    primeiro, contra doenças infecciosas,
  • 3:30 - 3:32
    e depois, contra câncer
    e doenças cardiovasculares.
  • 3:32 - 3:36
    Agora, quando celebramos
    esse triunfo da medicina,
  • 3:37 - 3:41
    também podemos comemorar o triunfo
    sobre o envelhecimento?
  • 3:41 - 3:46
    Intuitivamente pensamos
    que se a vida média da população
  • 3:46 - 3:48
    em países civilizados,
    durante os últimos 100 anos,
  • 3:48 - 3:54
    aumentou mais de 25 anos
    em relação à geração anterior,
  • 3:55 - 3:56
    espera-se intuitivamente
  • 3:56 - 4:00
    que isso afete também
    a longevidade máxima.
  • 4:00 - 4:03
    Infelizmente a resposta
    parece ser bem diferente.
  • 4:03 - 4:05
    Porque se observarmos o que aconteceria
  • 4:05 - 4:10
    com as pessoas que chegam
    aos 90 ou 100 anos hoje,
  • 4:10 - 4:14
    nenhuma atingiria 120 anos.
  • 4:15 - 4:21
    Recentemente, a pessoa mais idosa
    deste país morreu com 114 anos
  • 4:21 - 4:27
    e a pessoa mais idosa já registrada
    no planeta morreu aos 122 anos.
  • 4:28 - 4:31
    Isso significa que algo misterioso
    está acontecendo
  • 4:31 - 4:34
    na última parte de nossa vida.
  • 4:35 - 4:39
    E por mais saudáveis que estejamos
    ao chegarmos nesse ponto,
  • 4:39 - 4:42
    nosso destino, na verdade,
    já está predeterminado:
  • 4:42 - 4:45
    vamos morrer de crescente debilidade.
  • 4:45 - 4:48
    E todas as conquistas da medicina,
  • 4:48 - 4:53
    toda nossa capacidade de tratar doenças
    e nos recuperamos delas
  • 4:53 - 4:55
    não mudaram isso em nada.
  • 4:56 - 4:58
    Na verdade, isso é muito importante:
  • 4:58 - 5:03
    há algo que chamei
    de "precipício do envelhecimento",
  • 5:03 - 5:06
    um declínio muito acentuado da nossa saúde
  • 5:06 - 5:12
    que ocorre depois dos 90 anos
    e conduz à morte inevitável,
  • 5:12 - 5:15
    mesmo nas pessoas mais saudáveis,
    com poucas doenças.
  • 5:16 - 5:20
    Portanto, aquela parada
    brusca em nossa vida,
  • 5:20 - 5:24
    que nunca poderia durar mais de 120 anos,
  • 5:25 - 5:27
    e tudo isso quer dizer
  • 5:27 - 5:31
    que existe algum mecanismo misterioso
    fazendo tique-taque dentro de nós,
  • 5:31 - 5:33
    que podemos chamar de "relógio da vida",
  • 5:33 - 5:39
    que determina nossa real capacidade
    de viver o maior tempo possível.
  • 5:39 - 5:41
    E parece ser um mecanismo
    específico da espécie
  • 5:41 - 5:43
    porque, como sabemos,
  • 5:43 - 5:48
    toda espécie, além dos humanos,
  • 5:48 - 5:54
    tem um tempo de vida muito claro
    que ela nunca pode ultrapassar.
  • 5:55 - 5:58
    Sabemos disso principalmente por causa
    de nossos animais de estimação.
  • 5:58 - 6:00
    Então, podemos ter esperanças?
  • 6:01 - 6:03
    Nosso senso comum diz que não,
  • 6:03 - 6:07
    porque durante nossa vida,
    não vimos um único exemplo
  • 6:07 - 6:11
    de alguém que não envelhecesse
    e vivesse o dobro do tempo,
  • 6:11 - 6:15
    pelo menos duas vezes mais que os outros.
  • 6:15 - 6:17
    Não vemos isso em humanos,
    nem animais de estimação.
  • 6:18 - 6:21
    Vemos em não mamíferos apenas.
  • 6:21 - 6:23
    Mas há esperança.
  • 6:23 - 6:27
    E ela vem dessas criaturas interessantes.
  • 6:28 - 6:30
    Não as vemos todo dia
  • 6:30 - 6:32
    porque vivem nos subterrâneos
    de países quentes.
  • 6:33 - 6:35
    São roedores típicos.
  • 6:35 - 6:40
    Têm o tamanho de ratos ou camundongos,
    e genética muito similar,
  • 6:40 - 6:45
    mas a diferença fundamental
    é que vivem até dez vezes mais
  • 6:45 - 6:48
    que seus vizinhos de gênero.
  • 6:48 - 6:52
    Por exemplo, esta criatura no alto
    vive dez vezes mais que um camundongo
  • 6:52 - 6:54
    e morre sem debilidades.
  • 6:54 - 6:57
    Essas criaturas também
    nunca desenvolvem câncer.
  • 6:57 - 6:59
    São os animais dos sonhos.
  • 7:00 - 7:03
    Frequentemente ouço o comentário:
  • 7:03 - 7:08
    "Se o preço pela longevidade
    for ter uma aparência tão feia,
  • 7:08 - 7:09
    (Risos)
  • 7:09 - 7:12
    não tenho certeza se quero".
  • 7:13 - 7:15
    Geralmente penso:
  • 7:15 - 7:17
    "Se ficarmos nus,
  • 7:17 - 7:20
    não seremos muito atraentes também".
  • 7:20 - 7:22
    (Risos)
  • 7:24 - 7:27
    O que é importante sobre essas criaturas?
  • 7:27 - 7:30
    Elas são exemplos inspiradores
  • 7:30 - 7:34
    de que, tecnicamente, mamíferos
    podem viver muito mais
  • 7:34 - 7:37
    e sem debilidades.
  • 7:37 - 7:41
    Elas nos inspiram a pensar
  • 7:41 - 7:46
    que o envelhecimento
    não é uma lei inquebrável da natureza
  • 7:46 - 7:51
    e não é mais um exemplo
    de "perpetuum mobile",
  • 7:51 - 7:53
    que, como sabemos, é impossível construir.
  • 7:54 - 7:58
    Porque essas duas criaturas
    são, até certo ponto, "perpetuum mobile".
  • 7:58 - 8:01
    O que a ciência nos mostra
  • 8:01 - 8:06
    sobre esse período de declínio,
    de envelhecimento?
  • 8:06 - 8:09
    O que sabemos hoje sobre esse processo,
  • 8:09 - 8:12
    e o que podemos fazer
    com esse conhecimento?
  • 8:13 - 8:15
    Cerca de 100 anos atrás,
  • 8:16 - 8:19
    um dos primeiros ganhadores
    do Prêmio Nobel de Medicina,
  • 8:19 - 8:22
    Ilya Mechnikov, em 1903,
  • 8:22 - 8:27
    teve a ideia de que o envelhecimento
    se assemelhava ao envenenamento.
  • 8:27 - 8:30
    Acho que podemos
    aceitar isso intuitivamente,
  • 8:30 - 8:33
    porque todos conhecemos
    exemplos deprimentes
  • 8:33 - 8:36
    de pessoas que estão envelhecendo
    prematuramente e morrendo,
  • 8:36 - 8:40
    que são viciadas em drogas
    ou estão se envenenando com álcool.
  • 8:42 - 8:46
    Ele pensava na possível origem
    desse envenenamento
  • 8:46 - 8:51
    e tinha a ideia de que vinha
    da microflora natural,
  • 8:52 - 8:56
    que muda com a idade
    e ganha algum microrganismo tóxico
  • 8:56 - 9:00
    que começa a nos envenenar
    com produtos de sua secreção.
  • 9:00 - 9:02
    Infelizmente ele estava errado,
  • 9:02 - 9:07
    mas a ciência atual não foi
    muito além conceitualmente,
  • 9:07 - 9:12
    porque hoje, a esperança
    nessa teoria de envenenamento
  • 9:12 - 9:18
    está nestas células que aparecem aqui,
    por trás de outras células, em azul.
  • 9:18 - 9:20
    Demos a elas o nome
    de "células senescentes".
  • 9:20 - 9:26
    Elas não existem em nosso corpo
    ou no de animais na juventude,
  • 9:26 - 9:31
    mas se acumulam em grande número
    nos tecidos à medida que envelhecemos.
  • 9:32 - 9:36
    Células senescentes têm uma série
    de diferenças em relação às normais.
  • 9:36 - 9:38
    Sua aparência é diferente
    sob o microscópio,
  • 9:38 - 9:44
    mas o mais importante, elas secretam
    uma série de fatores bioativos
  • 9:44 - 9:47
    que criam inflamação em torno delas.
  • 9:48 - 9:52
    Como o envelhecimento no nível fisiológico
  • 9:52 - 9:57
    está associado à inflamação sistêmica
    de origem desconhecida,
  • 9:58 - 10:00
    surgiu a ideia de que talvez
    devêssemos vincular
  • 10:00 - 10:03
    a aquisição e acúmulo dessas células
  • 10:03 - 10:08
    ao envenenamento
    pelos fatores secretados por elas.
  • 10:08 - 10:12
    Essa ideia foi apoiada
    por vários trabalhos acadêmicos
  • 10:12 - 10:17
    e recentemente tornou-se a teoria
    mais popular sobre envelhecimento.
  • 10:17 - 10:24
    Há vários laboratórios no mundo
    tentando criar drogas
  • 10:24 - 10:30
    que matem apenas células senescentes,
    sem tocar nas outras
  • 10:30 - 10:35
    e, com isso, interromper
    o processo de fragilização,
  • 10:35 - 10:40
    agregando rejuvenescimento
    e uma boa perspectiva de vida.
  • 10:40 - 10:43
    Posso dizer que já existem vários artigos
  • 10:43 - 10:46
    publicados em revistas
    de grande visibilidade
  • 10:46 - 10:50
    descrevendo a pesquisa
    de diferentes compostos senolíticos
  • 10:50 - 10:52
    que dividiram opiniões.
  • 10:52 - 10:54
    Por um lado, vemos claramente
  • 10:54 - 10:57
    que animais tratados
    contra células senescentes
  • 10:57 - 11:00
    tiveram sua qualidade de vida melhorada.
  • 11:00 - 11:05
    No entanto, sua longevidade
    não se estendeu muito,
  • 11:05 - 11:07
    não mais do que cerca de 20%.
  • 11:07 - 11:09
    Não é uma revolução,
  • 11:09 - 11:13
    embora sintamos que estamos
    no caminho certo,
  • 11:13 - 11:16
    mas algo não está certo.
  • 11:16 - 11:18
    E, de fato,
  • 11:18 - 11:23
    suspeitamos que no momento
    em que pararmos o tratamento,
  • 11:23 - 11:30
    as células senescentes voltarão
    e continuarão sua atividade danosa,
  • 11:30 - 11:34
    e voltaremos a caminhar
    para a zona cinzenta.
  • 11:37 - 11:40
    O que pode ser feito se realmente
    estivermos no caminho certo
  • 11:40 - 11:44
    e já tivermos um bom intermediário
    como alvo potencial
  • 11:44 - 11:46
    para intervenção terapêutica?
  • 11:46 - 11:49
    Talvez precisemos só pensar um pouco mais.
  • 11:49 - 11:55
    Quando lidamos com, por exemplo,
    terrorismo internacional,
  • 11:55 - 12:01
    podemos impedir que terroristas explodam
    seus cinturões com dinamites, por exemplo.
  • 12:01 - 12:03
    Mas isso acabaria com o terrorismo?
  • 12:03 - 12:07
    Não, é preciso lidar
    com o sistema que os cria,
  • 12:07 - 12:11
    treina, recruta e equipa.
  • 12:12 - 12:14
    Células senescentes
    surgem de alguma coisa.
  • 12:14 - 12:18
    A esperança é que quando
    encontrarmos essa "coisa"
  • 12:18 - 12:20
    que cria células senescentes
    em nosso corpo,
  • 12:20 - 12:25
    isso nos dará o conhecimento
    de como lidar com elas.
  • 12:25 - 12:28
    Essa não é a caixa preta, mas azul,
  • 12:28 - 12:32
    que até recentemente
    era um mistério para mim.
  • 12:32 - 12:35
    Agora vou compartilhar
    o que encontramos nela
  • 12:35 - 12:40
    e espero que, com isso,
    possamos nos aproximar da solução,
  • 12:40 - 12:44
    porque células senescentes,
    conforme aprendemos em nossos estudos,
  • 12:44 - 12:50
    são apenas a ponta do iceberg,
    apenas um dos tipos de células
  • 12:50 - 12:55
    que são danificadas durante a vida,
    se acumulam e começam a nos envenenar.
  • 12:55 - 13:00
    Elas são melhores vistas como
    biomarcadores de envelhecimento
  • 13:00 - 13:03
    e não como alvos finais.
  • 13:03 - 13:09
    Isso significa que precisamos encontrar
    esse "mecanismo de produção de lixo"
  • 13:09 - 13:11
    e fazê-lo parar de produzir.
  • 13:11 - 13:14
    O que sabemos sobre esse mecanismo?
  • 13:15 - 13:19
    A esperança é que ao encontrá-lo,
    decifraremos a origem
  • 13:19 - 13:24
    do precipício do envelhecimento
    e poderemos fazer algo a respeito.
  • 13:24 - 13:28
    Acreditamos que o relógio
    possa estar escondido nessa caixa.
  • 13:28 - 13:30
    Como chegar até esse relógio?
  • 13:30 - 13:35
    Vocês podem perguntar: "O que
    transforma as células em senescentes?"
  • 13:35 - 13:41
    Hoje sabemos que é o dano em seu DNA.
  • 13:42 - 13:45
    Então dizemos: "Ah, é muito simples".
  • 13:45 - 13:47
    Como o DNA é danificado?
  • 13:47 - 13:50
    Pela luz ultravioleta?
  • 13:50 - 13:52
    Radiação gama?
  • 13:52 - 13:55
    Carcinógenos do cigarro?
  • 13:55 - 13:56
    Álcool?
  • 13:56 - 13:59
    Porque isso tudo cria espécies reativas
    de oxigênio e assim por diante.
  • 13:59 - 14:03
    Então vamos mudar os hábitos
    e estaremos seguros.
  • 14:04 - 14:07
    Mas sabemos que o que quer
    que façamos com nossos hábitos,
  • 14:07 - 14:12
    só aumentaremos a chance de chegar
    ao precipício relativamente saudáveis,
  • 14:12 - 14:15
    mas não conseguiremos movê-lo.
  • 14:15 - 14:17
    A prova está nos ratos.
  • 14:17 - 14:20
    Hoje, os ratos neste país
    vivem em condições
  • 14:20 - 14:23
    muito mais saudáveis que as nossas,
  • 14:23 - 14:25
    porque os estamos forçando a fazer isso,
  • 14:25 - 14:28
    embora seja provável
    que não o fizessem sozinhos.
  • 14:28 - 14:31
    Vocês acham que eles vivem mais?
  • 14:31 - 14:32
    Na verdade, não.
  • 14:32 - 14:34
    Claro, eles não morrem
    de doenças infecciosas,
  • 14:34 - 14:37
    mas passam pelo mesmo processo,
  • 14:37 - 14:43
    ou seja, levar uma vida saudável
    é algo bom a se fazer,
  • 14:43 - 14:46
    mas não pensem que isso
    vai nos permitir uma vida longa,
  • 14:46 - 14:49
    só vai nos fazer morrer mais saudáveis.
  • 14:49 - 14:50
    (Risos)
  • 14:50 - 14:53
    (Aplausos)
  • 14:55 - 14:58
    Qual é a origem desse misterioso relógio?
  • 14:58 - 14:59
    Qual é sua natureza?
  • 14:59 - 15:02
    Vocês se lembram
    que Mechnikov teve a ideia
  • 15:02 - 15:03
    de que parasitas são os culpados?
  • 15:03 - 15:05
    Uma ideia brilhante.
  • 15:05 - 15:07
    Diria que ele estava absolutamente certo.
  • 15:07 - 15:09
    O problema é que naquela época,
  • 15:09 - 15:11
    ele conhecia apenas
    uma fonte de parasitas:
  • 15:11 - 15:12
    as bactérias em nossos intestinos.
  • 15:12 - 15:15
    Mas não sabia que os parasitas
    são muito mais abundantes
  • 15:15 - 15:19
    e intimamente envolvidos
    em nossa estrutura e vida
  • 15:19 - 15:22
    porque fazem parte do nosso próprio DNA.
  • 15:23 - 15:25
    Sabemos disso há 50 anos,
  • 15:25 - 15:29
    mas só hoje começamos a entender
    o que esses parasitas fazem.
  • 15:30 - 15:36
    O problema é que entre 65
    e 100 milhões de anos atrás,
  • 15:36 - 15:41
    época em que os dinossauros morreram
    repentinamente, foram extintos,
  • 15:41 - 15:47
    e a era dos dinossauros mudou
    para a nossa era, dos mamíferos,
  • 15:48 - 15:53
    foi o período em que apareceram os vírus
  • 15:53 - 15:57
    de certos tipos, não registrados antes,
  • 15:57 - 16:00
    que na verdade eram pedaços de DNA
  • 16:00 - 16:05
    que começaram a invadir
    o DNA de nossos ancestrais
  • 16:05 - 16:09
    e a se multiplicar, criando
    inúmeras cópias novas,
  • 16:09 - 16:14
    destruindo genes,
    mudando seu nível de atividade
  • 16:15 - 16:19
    e matando muitos indivíduos,
  • 16:19 - 16:21
    provavelmente levando
    a extinções em massa.
  • 16:21 - 16:23
    Não ficaria surpreso se um dia provarmos
  • 16:23 - 16:26
    que os dinossauros morreram
    de alguma doença em particular.
  • 16:26 - 16:29
    Sabemos disso porque, pensem nisso:
  • 16:29 - 16:34
    quase 50% do comprimento
    do nosso DNA consiste nesses vírus.
  • 16:34 - 16:36
    A maioria está morta.
  • 16:36 - 16:41
    O DNA é tão antigo que sofreu
    mutações que os mataram.
  • 16:42 - 16:46
    Até recentemente achávamos
    que nosso genoma
  • 16:46 - 16:52
    era um cemitério de vírus
    que, há cerca de 65 milhões de anos,
  • 16:52 - 16:58
    foram a principal fonte de extinção
    de mamíferos e vertebrados deste planeta.
  • 16:59 - 17:02
    Somos os sobreviventes sortudos
  • 17:02 - 17:06
    que mantiveram esses vírus
    em um lugar seguro, no nosso genoma,
  • 17:06 - 17:09
    no qual felizmente não causaram mal algum.
  • 17:09 - 17:13
    Mas parece que estávamos errados.
  • 17:13 - 17:16
    Descobrimos que alguns deles,
  • 17:16 - 17:20
    e se pensarmos sobre o número
    de cópias desses vírus,
  • 17:20 - 17:23
    milhões delas em nosso DNA,
  • 17:24 - 17:28
    várias dezenas desses vírus
    estão na verdade vivos
  • 17:28 - 17:30
    e apenas profundamente adormecidos.
  • 17:30 - 17:32
    Mas eles podem ser despertados
  • 17:32 - 17:36
    e a probabilidade de acordarem
    e começarem a se multiplicar
  • 17:37 - 17:41
    parece ser determinada
    pelo mecanismo específico da espécie.
  • 17:41 - 17:46
    Em ratos, eles dormem muito menos
    profundamente do que em humanos,
  • 17:46 - 17:50
    por isso ratos vivem 2,5 anos
    e humanos, cerca de 90.
  • 17:50 - 17:54
    Isto é, esses vírus
    adormecidos dentro de nós
  • 17:54 - 17:59
    que, em princípio, foram capazes
    de repetir o que faziam há muito tempo,
  • 17:59 - 18:01
    podem ser o misterioso relógio,
  • 18:01 - 18:06
    porque ao multiplicar nosso genoma
    com seu DNA venenoso,
  • 18:06 - 18:09
    eles o quebram, criam células senescentes
    e causam outros tipos de danos
  • 18:09 - 18:13
    que mais tarde levam
    a uma enxurrada de eventos,
  • 18:13 - 18:16
    provocando envenenamento e morte.
  • 18:18 - 18:21
    Vou repetir o que acabei de falar.
  • 18:21 - 18:25
    Há cerca de 65 milhões de anos,
    não havia diversidade de mamíferos,
  • 18:25 - 18:27
    havia poucos deles.
  • 18:27 - 18:32
    Eram universais e imperceptíveis
    no meio de tantos dinossauros.
  • 18:32 - 18:35
    Então esses vírus apareceram,
    sei lá de onde,
  • 18:35 - 18:40
    e começaram a invadir massivamente
    o genoma desses pobres ancestrais,
  • 18:40 - 18:41
    criando diversidade,
  • 18:41 - 18:44
    não só entre os que morreram
    e os que sobreviveram,
  • 18:44 - 18:47
    mas também afetando sua aparência.
  • 18:47 - 18:53
    Foi nessa época que surgiu
    essa enorme diversidade de mamíferos.
  • 18:53 - 18:55
    Aqueles que sobreviveram,
  • 18:55 - 19:00
    e esse foi um período muito difícil
    e turbulento em nossa evolução,
  • 19:00 - 19:04
    no qual vários tipos arcaicos
    de mamíferos apareceram,
  • 19:04 - 19:08
    depois disso, não aconteceu muita coisa,
    somente microevolução,
  • 19:10 - 19:15
    eles não só conseguiram
    impedir a multiplicação desses vírus,
  • 19:15 - 19:19
    mas também os incorporaram
    como grande parte de seu genoma
  • 19:19 - 19:25
    e os fizeram adormecer,
    silenciar sob certas condições.
  • 19:25 - 19:28
    Para alguns vírus, o silêncio
    era total ou quase total,
  • 19:28 - 19:32
    e isso traz a expectativa
  • 19:32 - 19:37
    de quanto tempo podem
    ficar assim, sem nos matarem,
  • 19:37 - 19:40
    provavelmente formando
    o relógio específico da espécie,
  • 19:40 - 19:43
    determinando a duração de nossa vida.
  • 19:43 - 19:46
    O importante é que esse processo
    está em andamento
  • 19:46 - 19:49
    em cada célula de nosso corpo,
  • 19:49 - 19:52
    ou seja, esse mecanismo
  • 19:52 - 19:55
    está implementado
    em cada uma de nossas células
  • 19:55 - 20:00
    como uma probabilidade
    de despertar vírus endógenos
  • 20:00 - 20:06
    que podem causar danos ao DNA
    das células somáticas de nosso corpo,
  • 20:06 - 20:07
    criando assim aquele lixo
  • 20:07 - 20:12
    que por fim nos matará
    de debilidade e envelhecimento.
  • 20:14 - 20:17
    Esse cenário permite
    que tomemos alguma providência?
  • 20:17 - 20:19
    O que esse conhecimento significa?
  • 20:20 - 20:22
    Parece deprimente, assustador,
  • 20:22 - 20:26
    parece que cada célula do nosso corpo
    tem um pequeno pedaço de urânio
  • 20:27 - 20:32
    que faz buracos em nosso DNA
    e finalmente nos mata.
  • 20:33 - 20:36
    Existe algo que podemos fazer.
  • 20:36 - 20:41
    Ao conhecermos o mecanismo
    pelo qual esses vírus se amplificam,
  • 20:41 - 20:44
    descobrimos que, em nossa história médica,
  • 20:44 - 20:48
    lidamos com vírus remotamente semelhantes.
  • 20:49 - 20:53
    E alguns dos medicamentos
    antivirais que desenvolvemos
  • 20:53 - 20:56
    não são muito eficientes,
    mas funcionam suficientemente bem
  • 20:56 - 21:00
    contra os mecanismos
    de replicação desses vírus,
  • 21:00 - 21:04
    bons o suficiente para que usemos
    alguns deles atualmente
  • 21:04 - 21:07
    para tratar AIDS, HIV.
  • 21:07 - 21:09
    Eles poderiam ser usados
    como prova de conceito
  • 21:09 - 21:13
    para prolongar a vida de ratos
    nos quais esse processo está em andamento.
  • 21:13 - 21:16
    Hoje, com alguns
    dos medicamentos antivirais,
  • 21:16 - 21:21
    podemos impedir o processo
    de amplificação desses vírus
  • 21:21 - 21:26
    e esperamos que isso tenha
    um impacto positivo dramático
  • 21:26 - 21:29
    em nossa capacidade de estender
    a longevidade significativamente,
  • 21:29 - 21:31
    interromper a fragilização
    e assim por diante.
  • 21:31 - 21:34
    Portanto, é um medicamento a ser buscado,
  • 21:34 - 21:38
    que atinge o que hoje acreditamos ser
    aquele misterioso relógio da vida,
  • 21:38 - 21:43
    que é o conteúdo do nosso DNA
  • 21:43 - 21:48
    adquirido como parasita
    65 a 100 milhões de anos atrás.
  • 21:50 - 21:55
    Esse conteúdo está nos matando
    ao não ser reprimido o suficiente.
  • 21:56 - 21:58
    Como resultado,
    o relógio pode ser quebrado
  • 21:58 - 22:01
    e a inundação de células senescentes
  • 22:01 - 22:05
    criada pelo funcionamento desse relógio
  • 22:05 - 22:07
    agora será drenada,
  • 22:07 - 22:12
    irá secar e não nos envenenará mais.
  • 22:12 - 22:15
    Hoje, pela primeira vez,
    temos esperança real.
  • 22:15 - 22:19
    Esperamos que esse precipício
  • 22:19 - 22:22
    para o qual todos caminhamos
    em etapas diferentes,
  • 22:22 - 22:24
    possa ser evitado.
  • 22:24 - 22:26
    E que possamos criar uma ponte
  • 22:26 - 22:30
    com a ajuda de medicamentos
    nos quais trabalhamos hoje
  • 22:30 - 22:33
    para evitar o precipício
  • 22:34 - 22:37
    e avançar rumo à próxima doença
    que passará a nos matar
  • 22:37 - 22:39
    após lidarmos com o envelhecimento.
  • 22:39 - 22:40
    (Risos)
  • 22:40 - 22:41
    Obrigado.
  • 22:41 - 22:43
    (Aplausos)
Title:
Podemos parar de envelhecer? | Andrei Gudkov | TEDxMorristown
Description:

O cientista e especialista Dr. Andrei Gudkov nos conta o que realmente é envelhecer, como e por que acontece e qual pode ser nosso futuro. Qual é a solução para vidas mais longas e saudáveis? Ela está ao nosso alcance?

Ele é responsável por desenvolver os pontos principais da pesquisa básica e translacional do programa Cell Stress Biology sobre danos e reparo de DNA, terapia fotodinâmica, estresse térmico e hipóxico e modulação imunológica. Andrei trabalhou anteriormente no Lerner Research Institute, da Cleveland Clinic Foundation, onde atuou como presidente do Departamento de Genética Molecular e professor de bioquímica na Case Western Reserve University. Ele obteve seu doutorado em Oncologia Experimental no Cancer Research Center, na URSS e um doutorado em Ciências (D.Sci) em Biologia Molecular na Moscow State University, URSS. É autor ou coautor de 218 artigos científicos, detém 54 patentes e é cofundador de seis empresas de biotecnologia, incluindo a Everon Biosciences, Inc., que desenvolve medicamentos antienvelhecimento.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
22:56

Portuguese, Brazilian subtitles

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