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[música]
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Giotto não é um
um pintor renascentista
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mas ele lançou bases para o movimento
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--20, talvez 30 anos depois que
Cimabue pintou
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o grande altar para a Santa Trinita.
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Giotto, seu estudante, também pintou
Madonna e seu filho em um trono
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que achamos que é originário da
Igreja de Ognissanti, em Florença.
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E essa é uma Maria
como nenhuma outra vista
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ela ocupa espaço--ela tem
uma monumentalidade
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tem presença e tem físico.
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É totalmente diferente de
qualquer coisa
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que vimos no final do século XII
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--se você pensar em Cimabue ou ainda em
Duccio de Siena
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existe uma delicadeza,
uma forma de elegância
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dessas figuras que são chapadas
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mas a Madonna de Giotto é sólida -
ela tem bastante peso
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não há como a derrubar
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E não se trata apenas do tamanho
do corpo,
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mas também do uso das formas e técnicas.
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Luz e sombra
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o contorno de um corpo
criado pela transição
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da iluminação para a sombra.
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Exatamente. Podemos
ver isso em seu pescoço,
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ao redor dos seios, o tecido puxado
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na direção do Jesus menino.
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Podemos
notar isso em Jesus
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e também nos anjos ao redor dela.
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Isso é tão diferente do achatamento
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ou dos desenhos,
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parece muito mais uma escultura.
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Com Giotto temos a
impressão de que
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Maria está sentada dentro de seu trono,
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seus joelhos estão em perspectiva.
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Se voltarmos a Duccio, Maria
coloca seu corpo
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de um modo que as coxas
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estão em paralelo com o plano da pintura
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mas os joelhos da Madonna de Giotto vêm
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em nossa direção, criando
uma ilusão de espaço
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Sim, é verdade. E é claro que
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existe um uso mais racional de espaço
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para que ela possa existir aqui
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Essa não é uma pintura que usa
perspectiva linear
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mas sim uma que funciona como
precursora em alguns casos.
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Por exemplo, o modo específico em que o
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artista coloca o observador
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em relação com a arquitetura
que está sendo mostrada
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se prestar atenção,
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estamos claramente olhando para baixo,
para degrau em primeiro plano
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mas também olhando para cima,
para o teto do trono,
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além disso, existe um eixo
esquerda-direta também
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--podemos ver um pouco mais da janela
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no lado direito, então sabemos que estamos
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alinhados à direita, e isso faz sentido,
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uma vez que estamos exatamente
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abaixo e à esquerda de Cristo,
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Giotto está no colocando em um lugar
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bem interessante em relação
à essas figuras divinas
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e está abrindo um espaço para nós.
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Como indivíduos,
como observadores.
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Isso nos dá uma sensação de
honra por estar em presença do divino
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e isso é uma ideia inerente ao
Renascentismo.
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Algo que acho excepcional, os profetas
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do Velho Testamento que vimos com Cimabue
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foram tirados do subterrâneo e
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agora estão lado a lado
com a Virgem Maria,
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podemos ver seus rostos,
no mínimo dois deles
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nos espaços das abas do trono.
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É quase como se Giotto estivesse sugerindo
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que a pintura pudesse ser uma
espécie de janela
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que podemos ver por dentro -
que podemos ver através,
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que a pintura pudesse ser
uma espécie de moldura
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que podemos entrar com nossos olhos.
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É por isso que a obra de Giotto
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tem um poder emocional,
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mesmo com essa composição bem tradicional,
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todo o uso do dourado, todo
o uso das características
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bem medievais
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Giotto está literalmente abrindo espaço--
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De certo modo,
abrindo um espaço para nós,
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porque a obra mostra um
mundo que podemos habitar,
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um mundo onde
existem objetos,
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e também gravidade,
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onde estão presentes
todas as forças físicas
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que se relacionam com nossos corpo,
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e que podemos habitar aquele espaço.
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Isso é mostrado mais explicitamente
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do que nas obras anteriores.
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Ela está no céu, mas ao
mesmo tempo está conosco.
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Esse conflito irá movimentar
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a Renascença pelos próximos séculos,
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--como podemos concatenar
nossa experiência física
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com a nossa fé, nossa ligação emocional
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com o Divino?
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[música]
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Legendado por Lucas Nabesima
[Revisado por Cainã Perri]