Elizabeth Pisani: Sexo, drogas e HIV -- sejamos racionais
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0:01 - 0:03"Pessoas fazem coisas estúpidas.
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0:03 - 0:05É isso o que dissemina o HIV."
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0:05 - 0:07Essa era a manchete de um jornal do Reino Unido,
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0:07 - 0:09The Guardian, não faz muito tempo
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0:09 - 0:12Estou curiosa -- levantem as mãos -- quem concorda?
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0:14 - 0:16Bem, um ou dois corajosos.
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0:16 - 0:19De fato essa é a afirmação de uma epidemiologista
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0:19 - 0:21que vem trabalhando com a HIV há 15 anos,
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0:21 - 0:23trabalhou em quatro países,
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0:23 - 0:25e vocês estão olhando para ela.
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0:25 - 0:27E agora vou argumentar
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0:27 - 0:29que isso é apenas uma meia verdade.
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0:29 - 0:32Pessoas se contaminam com HIV porque fazem coisas estúpidas,
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0:32 - 0:34mas a maioria delas está fazendo coisas estúpidas
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0:34 - 0:37por razões perfeitamente racionais.
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0:37 - 0:40Sim, "racional" é o paradigma dominante
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0:40 - 0:42em saúde pública.
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0:42 - 0:45E caso você coloque seus óculos de nerd da saúde pública,
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0:45 - 0:48você verá que se dermos às pessoas a informação que elas precisam
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0:48 - 0:50sobre o que é bom e o que é mau para elas,
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0:50 - 0:52se você der a elas os serviços
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0:52 - 0:54que elas podem usar para trabalhar aquela informação,
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0:54 - 0:56um pouco de motivação,
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0:56 - 0:58as pessoas tomarão decisões racionais
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0:58 - 1:00e viverão mais e melhor.
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1:00 - 1:02Ótimo.
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1:02 - 1:05Um pouco problemático pra mim porque trabalho com HIV,
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1:05 - 1:07e embora eu tenha certeza que todos vocês sabem
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1:07 - 1:10que HIV é sobre pobreza e desigualdade de gênero,
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1:10 - 1:12e se você estivesse no TED 2007,
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1:12 - 1:14é sobre os preços do café;
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1:14 - 1:17na verdade, HIV é sobre sexo e drogas.
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1:17 - 1:19E se existem duas coisas que fazem
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1:19 - 1:21os seres humanos serem um pouco irracionais,
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1:21 - 1:24elas são ereção e vício.
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1:24 - 1:26(Risos)
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1:26 - 1:29Então, vamos começar com o que é irracional para um viciado.
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1:29 - 1:32Agora, eu me lembro de falar para um indonésio amigo meu, Frankie.
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1:32 - 1:34Estávamos almoçando, e ele estava me dizendo
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1:34 - 1:37sobre quando ele estava na cadeia em Bali por injetar drogas.
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1:37 - 1:39E era o aniversário de alguém, e eles haviam gentilmente
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1:39 - 1:41contrabandeado um pouco de heroína para a cadeia,
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1:41 - 1:44e muito generosamente a estavam dividindo
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1:44 - 1:46com todos os seus colegas.
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1:46 - 1:48Então eles fizeram uma fila,
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1:48 - 1:50todos os nóias enfileirados.
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1:50 - 1:52E então o aniversariante
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1:52 - 1:55preparou a dose,
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1:55 - 1:57e começou a injetar nas pessoas.
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1:57 - 1:59Ele então injeta no primeira cara,
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1:59 - 2:02e logo em seguida ele estava limpando a agulha em sua camiseta,
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2:02 - 2:04e injeta no próximo cara.
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2:04 - 2:08E Frankie disse, "Eu sou o número 22 da fila,
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2:08 - 2:11e eu posso ver a agulha vindo em minha direção,
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2:11 - 2:13e tem sangue por toda a parte.
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2:13 - 2:15está ficando cada vez menos afiada.
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2:15 - 2:18E uma pequena parte do meu cérebro está pensando,
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2:18 - 2:20"Isso é nojento
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2:20 - 2:22e muito perigoso,"
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2:22 - 2:24mas a maior parte do meu cérebro está pensando,
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2:24 - 2:26"Por favor deixem um pouco
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2:26 - 2:28para quando chegar até mim.
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2:28 - 2:30Por favor deixe um pouco."
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2:30 - 2:32E então, contando-me essa história,
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2:32 - 2:34Frankie disse,
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2:34 - 2:36"Você sabe, meu Deus,
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2:36 - 2:39drogas te deixam estúpido."
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2:40 - 2:43E, você sabe, que não pode culpá-lo,
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2:43 - 2:46mas, de fato, Frankie, àquela altura,
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2:46 - 2:48era um viciado em heroína, e estava preso.
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2:48 - 2:50Então suas opções eram
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2:50 - 2:53aceitar aquela agulha imunda ou não "ficar numa boa".
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2:53 - 2:55E se existe um lugar no qual você realmente quer "ficar numa boa",
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2:55 - 2:57é quando você está na cadeia.
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2:57 - 2:59Mas agora eu sou uma cientista,
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2:59 - 3:01e eu não gosto de tirar dados de relatos,
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3:01 - 3:03então vejamos alguns dados.
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3:03 - 3:06Nós conversamos com 600 viciados em drogas
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3:06 - 3:08em três cidades da Indonésia,
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3:08 - 3:10e perguntamos, "Você sabe como se pega HIV?"
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3:10 - 3:12"Ah claro. Compartilhando agulhas."
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3:12 - 3:15Quero dizer, quase 100%. Sim, compartilhando agulhas.
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3:15 - 3:17E, "Você sabe onde conseguir uma agulha limpa
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3:17 - 3:19a um preço que você pode pagar para evitar o HIV?"
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3:19 - 3:21"Ah claro." 100%.
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3:21 - 3:23"Somos nóias; sabemos onde encontrar agulhas limpas."
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3:23 - 3:25"Então você tem uma agulha?"
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3:25 - 3:27De fato nós estamos entrevistando pessoas nas ruas,
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3:27 - 3:29em lugares que eles frequentam e consomem drogas.
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3:29 - 3:31"Você está levando uma agulha limpa?"
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3:31 - 3:34Um em cada quatro, no máximo.
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3:34 - 3:36Nenhuma surpresa até descobrir que
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3:36 - 3:38a proporção que de fato usou agulhas limpas
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3:38 - 3:40todas as vezes que eles injetaram na semana passada
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3:40 - 3:43é de apenas 1 em cada 10.
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3:43 - 3:46e os outros nove em cada 10 estão compartilhando.
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3:46 - 3:48Então você tem esse descompasso enorme.
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3:48 - 3:50Todos sabem disso
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3:50 - 3:52se eles dividirem eles pegarão HIV,
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3:52 - 3:54mas estão compartilhando do mesmo jeito.
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3:54 - 3:57Então qual é o ponto? É como se você ficasse ainda mais doidão se você compartilhasse ou algo do tipo?
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3:57 - 4:00Nós perguntamos isso para um viciado eles reagiram com um, "Você está louco?
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4:00 - 4:02você não quer dividir uma agulha mais do que você quer
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4:02 - 4:05dividir sua escova de dente com alguém que dorme com você.
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4:05 - 4:07Tem um pouco de "éca" naquilo.
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4:07 - 4:10Não, não. Nós dividimos agulhas porque não queremos ir para a cadeia."
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4:11 - 4:14Portanto, na Indonésia nesse momento,
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4:14 - 4:17se você estivesse com uma seringa, e os policiais lhe abordassem,
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4:17 - 4:19eles poderiam te levar para a cadeia.
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4:19 - 4:21E isso muda um pouco a equação, não é mesmo?
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4:21 - 4:24Porque suas escolhas agora são,
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4:24 - 4:28eu uso minha própria agulha agora,
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4:28 - 4:30ou eu poderia dividir minha agulha agora
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4:30 - 4:32e pego uma doença que vai
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4:32 - 4:34possivelmente me matar em 10 anos,
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4:34 - 4:37ou eu poderia usar minha própria agulha agora
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4:37 - 4:40e ir para a cadeia amanhã.
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4:40 - 4:42E enquanto os viciados pensam que
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4:42 - 4:45é realmente uma má ideia se expor ao HIV,
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4:45 - 4:47eles pensam que é uma ideia muito pior
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4:47 - 4:49passar o próximo ano na cadeia,
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4:49 - 4:51onde provavelmente eles acabarão na mesma situação do Frankie
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4:51 - 4:54e se expor ao HIV de qualquer maneira.
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4:54 - 4:56Então de repente, torna-se perfeitamente racional
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4:56 - 4:58compartilhar agulhas.
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4:58 - 5:00Agora, olhemos da perspectiva dos legisladores.
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5:00 - 5:02Este é um problema muito fácil.
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5:02 - 5:05Pela primeira vez, seus incentivos estão organizados.
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5:05 - 5:08Nós temos o que é racional para a saúde pública.
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5:08 - 5:10Você quer que as pessoas usem agulhas limpas,
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5:10 - 5:12e os viciados querem usar agulhas limpas.
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5:12 - 5:14Então nós poderíamos fazer esse problema desaparecer
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5:14 - 5:17simplesmente tornando as agulhas limpas universalmente disponíveis
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5:17 - 5:19e eliminando o medo de ir preso.
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5:19 - 5:21Agora, a primeira pessoa a descobrir isso
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5:21 - 5:23e fazer algo sobre isso em escala nacional
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5:23 - 5:26foi aquela conhecida e benevolente liberal
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5:26 - 5:28Margaret Thatcher.
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5:28 - 5:30E ela criou o primeiro programa no mundo
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5:30 - 5:32para a troca de agulhas
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5:32 - 5:35e outros países seguiram o exemplo, Autrália, Países Baixos e alguns outros,
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5:35 - 5:37e em todos esses países, você pode ver,
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5:37 - 5:39não mais do que 4%
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5:39 - 5:42dos viciados que injetam se infectam com o HIV.
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5:42 - 5:45Agora, lugares que não fizeram isso, como Nova York,
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5:45 - 5:47Moscou, Jakarta,
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5:47 - 5:49estamos falando sobre o pico,
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5:49 - 5:52um em 2 viciados que injetavam
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5:52 - 5:55estavam infectados com essa doença fatal.
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5:55 - 5:57Agora, Margaret Thatcher não fez isso
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5:57 - 6:00porque ela tem um grande amor pelos nóias.
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6:00 - 6:03Ela fez porque ela administrava um país
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6:03 - 6:05que possuía um sistema nacional de saúde.
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6:05 - 6:08Então, se ela não investisse em prevenção,
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6:08 - 6:10ela teria de pagar os preços
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6:10 - 6:12do tratamento mais tarde,
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6:12 - 6:14e obviamente estes são muito mais caros.
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6:14 - 6:17Então ela estava tomando uma decisão politicamente racional.
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6:17 - 6:19Agora, se eu coloco meus
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6:19 - 6:21óculos de nerd da saúde pública,
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6:21 - 6:24e olho para estes dados,
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6:24 - 6:27não parece tão difícil, não é?
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6:27 - 6:29Mas neste país,
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6:29 - 6:32onde o governo não parece se sentir obrigado
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6:32 - 6:34a oferecer um programa de saúde aos seus cidadãos,
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6:34 - 6:37nós fizemos uma abordagem muito diferente.
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6:37 - 6:39Então o que nós temos feito nos EUA
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6:39 - 6:42é analisar os dados, analisar os dados indefinidamente.
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6:42 - 6:45Então essas são revisões de centenas de estudos
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6:45 - 6:47feitas por todos os grandes arrogantes
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6:47 - 6:50do panteão científico dos EUA,
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6:50 - 6:52e estes são os estudos que mostram
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6:52 - 6:54que programas de agulhas são efetivos, um grande parte deles.
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6:54 - 6:57Agora, os que mostram que programas de agulhas não são efetivos --
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6:57 - 7:00você deve estar pensando que esse é um daqueles chatos slides dinâmicos,
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7:00 - 7:02e eu vou apertar meu botão e todo o resto irá aparecer,
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7:02 - 7:05mas não, esse é o slide completo.
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7:05 - 7:07(Risos)
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7:07 - 7:10Não há nada no outro lado.
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7:12 - 7:14Então, completamente irracional,
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7:14 - 7:16você pensaria,
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7:16 - 7:19exceto que, espere um minuto, os políticos são racionais também,
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7:19 - 7:22e eles estão respondendo ao que eles pensam que os eleitores querem.
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7:22 - 7:24Então o que nós vemos é que eleitores respondem
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7:24 - 7:26muito bem a coisas desse tipo
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7:26 - 7:29e não tão bem a coisas desse tipo.
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7:29 - 7:36(Risos)
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7:36 - 7:39Então se torna totalmente racional
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7:39 - 7:42negar serviços aos viciados.
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7:42 - 7:44Agora vamos falar sobre sexo.
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7:44 - 7:47Nós somos mais racionais quanto ao sexo?
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7:47 - 7:49Bem, eu nem vou mencionar
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7:49 - 7:51as posições irracionais
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7:51 - 7:53de grupos como a Igreja Católica,
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7:53 - 7:56que pensa que se você distribuir camisinhas,
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7:56 - 8:00todos irão sair por ai fazendo sexo.
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8:00 - 8:02Eu não sei se o Papa Bento
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8:02 - 8:04assiste aos TEDTalks online,
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8:04 - 8:07mas se assiste, tenho notícias pra você Bento.
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8:07 - 8:10Eu sempre tenho camisinhas,
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8:10 - 8:12e nunca faço sexo.
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8:12 - 8:14(Risos)
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8:14 - 8:16Não é tão fácil.
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8:16 - 8:18Peguem, talvez vocês sejam mais sortudos.
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8:18 - 8:24(Aplausos)
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8:24 - 8:26Certo, sério,
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8:26 - 8:29HIV não é tão fácil
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8:29 - 8:31de se transmitir sexualmente.
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8:31 - 8:33Depende de quanto vírus tem
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8:33 - 8:35no seu sangue e nos seus fluidos corporais.
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8:35 - 8:38E o que nós temos é uma enorme quantidade de vírus,
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8:38 - 8:40bem no começo, quando você se contamina,
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8:40 - 8:42então você começa a produzir anticorpos,
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8:42 - 8:44e então cai para níveis bem baixos
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8:44 - 8:46por muito tempo, 10 ou 12 anos,
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8:46 - 8:49você tem picos caso se infecte novamente através do sexo,
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8:49 - 8:51mas basicamente, nada mais está acontecendo
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8:51 - 8:53até você começar a apresentar os sintomas da AIDS.
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8:53 - 8:55E àquela altura, aqui,
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8:55 - 8:57você não está muito bem, você não se sente bem,
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8:57 - 8:59você não está fazendo tanto sexo.
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8:59 - 9:01Então a transmissão do HIV pelo sexo
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9:01 - 9:04é essencialmente determinada pelo número de parceiros que você tem
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9:04 - 9:07nesses curtos períodos de tempo
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9:07 - 9:09quando você tem alta viremia.
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9:09 - 9:12E isso deixa as pessoas malucas
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9:12 - 9:15pois significa que você tem que falar sobre
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9:15 - 9:17alguns grupos tendo mais parceiros sexuais que outros
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9:17 - 9:19em períodos de tempo mais curto que outros grupos,
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9:19 - 9:21e isso é considerado estigmatização.
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9:21 - 9:23Sempre fui um pouco curiosa sobre isso
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9:23 - 9:25pois penso que estigma é algo ruim,
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9:25 - 9:27enquanto muito sexo é muito bom,
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9:27 - 9:30mas que seja.
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9:30 - 9:32A verdade é que 20 anos
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9:32 - 9:34de boa pesquisa
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9:34 - 9:36tem nos mostrado que
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9:36 - 9:39há grupos que são mais suscetíveis a ter
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9:39 - 9:41um número maior de parceiros em um pequeno período de tempo,
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9:41 - 9:43e esses grupos são, globalmente,
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9:43 - 9:46pessoas que vendem sexo e seus parceiros mais frequentes,
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9:46 - 9:48são homens gays nas festas
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9:48 - 9:50que têm, em média, três vezes mais parceiros
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9:50 - 9:52do que pessoas heterossexuais mas festas,
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9:52 - 9:54e eles são heterossexuais
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9:54 - 9:56que vêm de países que possuem
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9:56 - 9:58tradições em poligamia
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9:58 - 10:01e níveis relativamente altos de autonomia feminina,
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10:01 - 10:04e quase todos esses países são do leste ou do sul da África.
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10:04 - 10:07E isso se reflete na epidemia que nós temos hoje.
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10:07 - 10:10E você pode então ver essas estatísticas assustadoras da África.
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10:10 - 10:12Estes são todos os países no sul da África
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10:12 - 10:14onde entre um e sete
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10:14 - 10:16e um em três
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10:16 - 10:18de todos os adultos
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10:18 - 10:20estão infectados com HIV.
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10:20 - 10:22Agora, no resto do mundo,
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10:22 - 10:25não temos basicamente nada acontecendo na população geral,
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10:25 - 10:27níveis muito, muito baixos,
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10:27 - 10:30mas nós temos níveis extraordinariamente altos de HIV
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10:30 - 10:33nessas populações que estão correndo altos riscos,
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10:33 - 10:35consumidores de drogas injetáveis, profissionais do sexo,
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10:35 - 10:37e homens gays.
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10:37 - 10:39E você perceberá nos dados de Los Angeles.
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10:39 - 10:4225% de prevalência entre homens gays.
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10:43 - 10:46Então, claro, você não pode pegar HIV somente pelo sexo sem proteção.
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10:46 - 10:49Você só pode pegar HIV ao fazer sexo sem proteção
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10:49 - 10:52com um soropositivo.
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10:52 - 10:54Na maior parte do mundo,
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10:54 - 10:56essas poucas falhas de prevenção
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10:56 - 10:58no entanto,
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10:58 - 11:00de fato nós estamos indo muito bem nesses dias
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11:00 - 11:02no sexo comercial.
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11:02 - 11:04O uso de preservativos está entre 80% e 100%
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11:04 - 11:07no sexo comercial na maioria dos países.
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11:07 - 11:10E, novamente, é por causa do alinhamento dos incentivos.
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11:10 - 11:12O que é racional para a saúde pública
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11:12 - 11:14é também racional para os indivíduos profissionais do sexo
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11:14 - 11:17porque é realmente ruim para os negócios ter um outra DST.
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11:17 - 11:19Ninguém quer.
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11:19 - 11:21E, de fato, clientes não querem ir pra casa com nada também.
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11:21 - 11:24Então, essencialmente, você é capaz de alcançar
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11:24 - 11:27altos níveis de uso de preservativos no sexo comercial.
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11:27 - 11:29Mas em relações "íntimas",
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11:29 - 11:31é muito mais difícil porque,
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11:31 - 11:33com sua esposa ou namorado,
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11:33 - 11:36alguém que você espera que se torne uma dessas coisas,
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11:36 - 11:39nós temos essa ilusão de romance
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11:39 - 11:41de confiança e intimidade,
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11:41 - 11:44e nada é tão anti-romântico
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11:44 - 11:47como, "seu preservativo ou o meu, querida?".
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11:47 - 11:50Então, em face disso,
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11:50 - 11:53você precisa de um incentivo verdadeiramente forte
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11:53 - 11:56para usar camisinhas.
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11:56 - 11:59Esse, por exemplo, esse rapaz chamado Joseph.
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11:59 - 12:01Ele é do Haiti, e tem AIDS,
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12:01 - 12:04e provavelmente ele não está fazendo muito sexo agora,
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12:04 - 12:06mas ele é um lembrança na população,
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12:06 - 12:08do porquê você deve querer
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12:08 - 12:10usar preservativos.
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12:10 - 12:12Isso é também no Haiti e é um aviso
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12:12 - 12:15do porquê você deve querer fazer sexo, talvez.
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12:16 - 12:19Mas, o engraçado é que esse também é o Joseph
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12:19 - 12:22depois de seis meses em tratamento antiretroviral.
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12:23 - 12:26Não é por menos que chamamos isso de "Efeito Lázaro".
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12:28 - 12:31Mas está mudando a equação
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12:31 - 12:33do que é racional
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12:33 - 12:36em tomadas de decisão sexual.
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12:36 - 12:38Então, o que nós temos --
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12:38 - 12:40alguns dizem, "Ah, não importa muito
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12:40 - 12:43porque, de fato, tratamento é uma prevenção efetiva
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12:43 - 12:45porque diminui sua carga viral e portanto
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12:45 - 12:47torna mais difícil a transmissão do HIV."
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12:47 - 12:50Então, se você olhar no aspecto da viremia novamente,
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12:50 - 12:52se você começar o tratamento quando está doente,
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12:52 - 12:55bem, o que acontece? Sua carga viral cai.
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12:55 - 12:58Mas comparado a quê? O que acontece se você não está se tratando?
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12:59 - 13:01Bem, você morre,
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13:01 - 13:03então sua carga viral cai a zero.
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13:03 - 13:06E toda essa coisa verde aqui, incluindo os picos,
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13:06 - 13:10que estão aí porque você não conseguiu ir à farmácia
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13:10 - 13:13ou ficou sem remédios, ou foi a uma festa de três dias
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13:13 - 13:15e esqueceu de tomar seus remédios,
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13:15 - 13:18ou porque começou a desenvolver resistência, ou sei lá,
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13:18 - 13:20tudo aquilo é vírus
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13:20 - 13:23que não estaria lá fora, exceto pelo tratamento.
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13:23 - 13:26E, eu estou dizendo, nossa, grande estratégia de prevenção,
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13:26 - 13:28vamos parar de tratar as pessoas?
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13:28 - 13:30Claro que não. Claro que não,
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13:30 - 13:33nós precisamos expandir o tratamento anti-retroviral o máximo que nós pudermos.
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13:33 - 13:35Mas o que eu estou fazendo é chamar ao debate
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13:35 - 13:37aquelas pessoas que dizem que mais tratamento
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13:37 - 13:39é tudo que nós precisamos.
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13:39 - 13:42Isso não é necessariamente verdade,
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13:42 - 13:44e eu acho que nós podemos aprender muito através da experiência de homens gays
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13:44 - 13:47em países ricos onde o tratamento é amplamente disponível
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13:47 - 13:49e está rolando há 15 anos agora,
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13:49 - 13:51e o que nós temos visto é
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13:51 - 13:53que, de fato, as taxas de uso de preservativos,
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13:53 - 13:55que eram muito, muito altas --
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13:55 - 13:58a comunidade gay respondeu muito rapidamente ao HIV,
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13:58 - 14:00com muito pouca ajuda
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14:00 - 14:02dos nerds da saúde pública, eu diria --
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14:02 - 14:05que as taxas de uso de preservativos têm caído rapidamente desde o tratamento
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14:05 - 14:07por duas razões.
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14:07 - 14:09Uma é a ideia que, "Oh bem,
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14:09 - 14:11se ele está infectado, provavelmente está em tratamento,
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14:11 - 14:14e sua carga viral estará baixa, então estou seguro."
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14:14 - 14:16E outra coisa é que as pessoas simplesmente não estão
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14:16 - 14:18com tanto medo do HIV
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14:18 - 14:21como elas estavam com medo da AIDS, e com razão.
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14:21 - 14:24AIDS era uma doença desfiguradora que matava você,
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14:24 - 14:26e HIV é um vírus invisível
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14:26 - 14:28que faz você tomar uma pílula todos os dias.
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14:28 - 14:30E isso é chato,
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14:30 - 14:33mas é tão chato quanto
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14:33 - 14:35ter que usar camisinha toda vez que você faz sexo,
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14:35 - 14:37não importando o quão bêbado você esteja,
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14:37 - 14:40não importando o quanto tenha cheirado, ou qualquer coisa?
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14:40 - 14:42Se olharmos para os dados, podemos ver que
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14:42 - 14:44a resposta para aquela pergunta
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14:44 - 14:46é hummm.
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14:46 - 14:48Estes são os dados da Escócia.
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14:48 - 14:50Você vê o pico em usuarios de injetáveis
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14:50 - 14:52antes deles iniciarem o programa nacional de troca de agulhas.
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14:52 - 14:54Então caiu
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14:54 - 14:56e ambos em heterosexuais, a maior parte em sexo comercial
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14:56 - 14:58e em usuários de drogas,
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14:58 - 15:01você não tem muita coisa acontecendo depois que o tratamento começa,
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15:01 - 15:03e isso se deve ao alinhamento de incentivos
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15:03 - 15:05sobre o qual eu falei antes.
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15:05 - 15:07Mas nos homens gays,
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15:07 - 15:09você tem um dramático aumento
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15:09 - 15:11começando três ou quatro anos
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15:11 - 15:13depois do tratamento se tornar amplamente disponível.
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15:13 - 15:15Isso são novas infecções.
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15:15 - 15:17O que isso significa?
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15:17 - 15:20Significa que o efeito combinado de estar menos preocupado
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15:20 - 15:23e ter mais vírus lá fora na população,
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15:23 - 15:25mais pessoas vivendo vidas mais longas e saudáveis,
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15:25 - 15:27mais fácil de se tornar infectado
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15:27 - 15:29com HIV,
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15:29 - 15:32compensando os efeitos da baixa carga viral,
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15:32 - 15:34e isso é algo realmente preocupante.
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15:34 - 15:36O que significa?
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15:36 - 15:39Significa que precisamos de mais prevenção, quanto mais tratamento temos.
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15:39 - 15:41É o que está acontecendo?
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15:41 - 15:44Não, e eu chamo isso de enigma da compaixão.
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15:44 - 15:47Nós falamos muito sobre compaixão nos últimos dias.
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15:47 - 15:50E o que realmente está acontecendo é que as pessoas estão
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15:50 - 15:52incapazes de se apresentarem e disponibilizarem
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15:52 - 15:55bons serviços de saúde sexual e reprodutiva a profissionais do sexo,
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15:55 - 15:58incapazes de distribuir agulhas aos viciados,
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15:58 - 16:01mas uma vez que eles deixam de ser
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16:01 - 16:04pessoas transgressivas, cujo comportamento não queremos aceitar,
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16:04 - 16:06para serem vítimas da AIDS,
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16:06 - 16:08nós nos tornamos cheios de compaixão
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16:08 - 16:10e pagamos para eles drogas incrivelmente caras para o resto de suas vidas.
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16:10 - 16:12Não faz nenhum sentido
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16:12 - 16:14a partir da visão de um sistema de daúde pública.
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16:14 - 16:18Eu quero deixar, o que é a última palavra, à Inês.
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16:18 - 16:21Inês é uma prostituta transsexual das ruas de Jakarta.
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16:21 - 16:23Ela é uma garota com um pinto.
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16:23 - 16:25Por que ela faz aquele trabalho?
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16:25 - 16:28É claro que é porque ela foi forçada a isso
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16:28 - 16:30porque ela não tem uma melhor opção, etc, etc,
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16:30 - 16:32e se nós pudéssemos ensiná-la a costurar
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16:32 - 16:35e dar a ela um bom emprego em uma fábrica, tudo ficaria bem.
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16:35 - 16:37Isso é o que os trabalhadores ganham em uma hora na Indonésia,
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16:37 - 16:39em média, 20 centavos.
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16:39 - 16:41Varia um pouco entre as províncias.
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16:41 - 16:44Eu conversei com profissionais do sexo, 15 mil deles
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16:44 - 16:46para esse slide em particular.
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16:46 - 16:48E isso é o que os profissionais do sexo
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16:48 - 16:50dizem ganhar em uma hora.
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16:50 - 16:53Então, não é um ótimo trabalho, mas para muitas pessoas
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16:53 - 16:55é uma escolha muito racional.
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16:55 - 16:57Ok, Inês.
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17:00 - 17:05Nós temos as ferramentas, o conhecimento e o dinheiro,
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17:05 - 17:09e comprometimento em previnir o HIV também.
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17:09 - 17:15Inês: Então por que a prevalência ainda está aumentando?
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17:15 - 17:18É tudo política.
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17:18 - 17:21Quando você chega à política, nada faz sentido.
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17:21 - 17:24Elizabeth Pisani: "Quando você chega à política, nada faz sentido."
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17:24 - 17:27Então, do ponto de vista de um profissional do sexo,
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17:27 - 17:29os políticos não fazem sentido.
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17:29 - 17:31Do ponto de vista de um nerd da saúde pública,
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17:31 - 17:34viciados estão fazendo coisas estúpidas.
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17:35 - 17:38Quero dizer, a verdade é que todos possuem uma diferente visão.
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17:38 - 17:40Existem tantas maneiras de se ser racional
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17:40 - 17:42quanto pessoas no planeta,
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17:42 - 17:44e essa é uma das glórias da existência humana.
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17:44 - 17:46Mas essas maneiras de se ser racional
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17:46 - 17:48não são independentes das outras.
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17:48 - 17:50Então é racional a um
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17:50 - 17:52injetor de drogas dividir agulhas
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17:52 - 17:55por conta de uma decisão estúpida tomada por um político,
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17:55 - 17:57e é racional para um político
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17:57 - 18:00tomar aquela decisão estúpida
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18:00 - 18:02porque estão respondendo a
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18:02 - 18:04o que os eleitores querem.
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18:04 - 18:06Mas aqui está:
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18:06 - 18:08Nós somos os eleitores.
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18:08 - 18:11Não somos todos eles, claro, mas o TED é uma comunidade de formadores de opinião,
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18:11 - 18:13e todos os que estão nessa sala,
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18:13 - 18:16e todos os que estão assistindo a isso na web,
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18:16 - 18:19Eu acredito que têm o dever de exigir de seus políticos
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18:19 - 18:22que façamos política baseada em evidência científica
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18:22 - 18:24e em senso comum.
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18:24 - 18:26Vai ser muito difícil para nós
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18:26 - 18:29individualmente dizer o que é racional
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18:29 - 18:31para cada Frankie e cada Inês lá fora.
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18:31 - 18:34Mas você pode ao menos usar o seu voto
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18:34 - 18:37para impedir os políticos de fazer coisas estúpidas
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18:37 - 18:39que espalham o HIV.
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18:39 - 18:41Obrigada.
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18:41 - 18:50(Aplausos)
- Title:
- Elizabeth Pisani: Sexo, drogas e HIV -- sejamos racionais
- Speaker:
- Elizabeth Pisani
- Description:
-
Armada com uma lógica envolvente, sagacidade e seus "óculos de nerd da saúde pública", Elizabeth Pisani revela a infinidade de inconsistências no sistema político de hoje, que impede que nosso dinheiro combata a disseminação do HIV. Sua pesquisa com populações de risco -- de viciados em prisões a profissionais do sexo nas ruas do Camboja -- demonstra que às vezes, medidas contra intuitivas podem evitar a disseminação dessa doença devastadora.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:54