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Elizabeth Pisani: Sexo, drogas e HIV -- sejamos racionais

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    "Pessoas fazem coisas estúpidas.
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    É isso o que dissemina o HIV."
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    Essa era a manchete de um jornal do Reino Unido,
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    The Guardian, não faz muito tempo
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    Estou curiosa -- levantem as mãos -- quem concorda?
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    Bem, um ou dois corajosos.
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    De fato essa é a afirmação de uma epidemiologista
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    que vem trabalhando com a HIV há 15 anos,
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    trabalhou em quatro países,
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    e vocês estão olhando para ela.
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    E agora vou argumentar
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    que isso é apenas uma meia verdade.
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    Pessoas se contaminam com HIV porque fazem coisas estúpidas,
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    mas a maioria delas está fazendo coisas estúpidas
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    por razões perfeitamente racionais.
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    Sim, "racional" é o paradigma dominante
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    em saúde pública.
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    E caso você coloque seus óculos de nerd da saúde pública,
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    você verá que se dermos às pessoas a informação que elas precisam
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    sobre o que é bom e o que é mau para elas,
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    se você der a elas os serviços
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    que elas podem usar para trabalhar aquela informação,
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    um pouco de motivação,
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    as pessoas tomarão decisões racionais
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    e viverão mais e melhor.
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    Ótimo.
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    Um pouco problemático pra mim porque trabalho com HIV,
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    e embora eu tenha certeza que todos vocês sabem
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    que HIV é sobre pobreza e desigualdade de gênero,
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    e se você estivesse no TED 2007,
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    é sobre os preços do café;
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    na verdade, HIV é sobre sexo e drogas.
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    E se existem duas coisas que fazem
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    os seres humanos serem um pouco irracionais,
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    elas são ereção e vício.
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    (Risos)
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    Então, vamos começar com o que é irracional para um viciado.
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    Agora, eu me lembro de falar para um indonésio amigo meu, Frankie.
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    Estávamos almoçando, e ele estava me dizendo
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    sobre quando ele estava na cadeia em Bali por injetar drogas.
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    E era o aniversário de alguém, e eles haviam gentilmente
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    contrabandeado um pouco de heroína para a cadeia,
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    e muito generosamente a estavam dividindo
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    com todos os seus colegas.
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    Então eles fizeram uma fila,
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    todos os nóias enfileirados.
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    E então o aniversariante
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    preparou a dose,
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    e começou a injetar nas pessoas.
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    Ele então injeta no primeira cara,
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    e logo em seguida ele estava limpando a agulha em sua camiseta,
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    e injeta no próximo cara.
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    E Frankie disse, "Eu sou o número 22 da fila,
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    e eu posso ver a agulha vindo em minha direção,
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    e tem sangue por toda a parte.
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    está ficando cada vez menos afiada.
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    E uma pequena parte do meu cérebro está pensando,
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    "Isso é nojento
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    e muito perigoso,"
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    mas a maior parte do meu cérebro está pensando,
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    "Por favor deixem um pouco
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    para quando chegar até mim.
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    Por favor deixe um pouco."
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    E então, contando-me essa história,
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    Frankie disse,
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    "Você sabe, meu Deus,
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    drogas te deixam estúpido."
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    E, você sabe, que não pode culpá-lo,
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    mas, de fato, Frankie, àquela altura,
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    era um viciado em heroína, e estava preso.
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    Então suas opções eram
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    aceitar aquela agulha imunda ou não "ficar numa boa".
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    E se existe um lugar no qual você realmente quer "ficar numa boa",
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    é quando você está na cadeia.
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    Mas agora eu sou uma cientista,
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    e eu não gosto de tirar dados de relatos,
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    então vejamos alguns dados.
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    Nós conversamos com 600 viciados em drogas
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    em três cidades da Indonésia,
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    e perguntamos, "Você sabe como se pega HIV?"
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    "Ah claro. Compartilhando agulhas."
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    Quero dizer, quase 100%. Sim, compartilhando agulhas.
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    E, "Você sabe onde conseguir uma agulha limpa
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    a um preço que você pode pagar para evitar o HIV?"
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    "Ah claro." 100%.
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    "Somos nóias; sabemos onde encontrar agulhas limpas."
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    "Então você tem uma agulha?"
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    De fato nós estamos entrevistando pessoas nas ruas,
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    em lugares que eles frequentam e consomem drogas.
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    "Você está levando uma agulha limpa?"
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    Um em cada quatro, no máximo.
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    Nenhuma surpresa até descobrir que
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    a proporção que de fato usou agulhas limpas
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    todas as vezes que eles injetaram na semana passada
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    é de apenas 1 em cada 10.
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    e os outros nove em cada 10 estão compartilhando.
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    Então você tem esse descompasso enorme.
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    Todos sabem disso
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    se eles dividirem eles pegarão HIV,
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    mas estão compartilhando do mesmo jeito.
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    Então qual é o ponto? É como se você ficasse ainda mais doidão se você compartilhasse ou algo do tipo?
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    Nós perguntamos isso para um viciado eles reagiram com um, "Você está louco?
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    você não quer dividir uma agulha mais do que você quer
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    dividir sua escova de dente com alguém que dorme com você.
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    Tem um pouco de "éca" naquilo.
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    Não, não. Nós dividimos agulhas porque não queremos ir para a cadeia."
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    Portanto, na Indonésia nesse momento,
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    se você estivesse com uma seringa, e os policiais lhe abordassem,
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    eles poderiam te levar para a cadeia.
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    E isso muda um pouco a equação, não é mesmo?
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    Porque suas escolhas agora são,
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    eu uso minha própria agulha agora,
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    ou eu poderia dividir minha agulha agora
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    e pego uma doença que vai
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    possivelmente me matar em 10 anos,
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    ou eu poderia usar minha própria agulha agora
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    e ir para a cadeia amanhã.
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    E enquanto os viciados pensam que
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    é realmente uma má ideia se expor ao HIV,
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    eles pensam que é uma ideia muito pior
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    passar o próximo ano na cadeia,
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    onde provavelmente eles acabarão na mesma situação do Frankie
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    e se expor ao HIV de qualquer maneira.
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    Então de repente, torna-se perfeitamente racional
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    compartilhar agulhas.
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    Agora, olhemos da perspectiva dos legisladores.
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    Este é um problema muito fácil.
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    Pela primeira vez, seus incentivos estão organizados.
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    Nós temos o que é racional para a saúde pública.
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    Você quer que as pessoas usem agulhas limpas,
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    e os viciados querem usar agulhas limpas.
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    Então nós poderíamos fazer esse problema desaparecer
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    simplesmente tornando as agulhas limpas universalmente disponíveis
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    e eliminando o medo de ir preso.
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    Agora, a primeira pessoa a descobrir isso
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    e fazer algo sobre isso em escala nacional
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    foi aquela conhecida e benevolente liberal
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    Margaret Thatcher.
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    E ela criou o primeiro programa no mundo
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    para a troca de agulhas
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    e outros países seguiram o exemplo, Autrália, Países Baixos e alguns outros,
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    e em todos esses países, você pode ver,
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    não mais do que 4%
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    dos viciados que injetam se infectam com o HIV.
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    Agora, lugares que não fizeram isso, como Nova York,
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    Moscou, Jakarta,
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    estamos falando sobre o pico,
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    um em 2 viciados que injetavam
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    estavam infectados com essa doença fatal.
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    Agora, Margaret Thatcher não fez isso
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    porque ela tem um grande amor pelos nóias.
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    Ela fez porque ela administrava um país
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    que possuía um sistema nacional de saúde.
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    Então, se ela não investisse em prevenção,
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    ela teria de pagar os preços
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    do tratamento mais tarde,
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    e obviamente estes são muito mais caros.
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    Então ela estava tomando uma decisão politicamente racional.
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    Agora, se eu coloco meus
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    óculos de nerd da saúde pública,
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    e olho para estes dados,
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    não parece tão difícil, não é?
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    Mas neste país,
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    onde o governo não parece se sentir obrigado
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    a oferecer um programa de saúde aos seus cidadãos,
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    nós fizemos uma abordagem muito diferente.
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    Então o que nós temos feito nos EUA
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    é analisar os dados, analisar os dados indefinidamente.
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    Então essas são revisões de centenas de estudos
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    feitas por todos os grandes arrogantes
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    do panteão científico dos EUA,
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    e estes são os estudos que mostram
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    que programas de agulhas são efetivos, um grande parte deles.
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    Agora, os que mostram que programas de agulhas não são efetivos --
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    você deve estar pensando que esse é um daqueles chatos slides dinâmicos,
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    e eu vou apertar meu botão e todo o resto irá aparecer,
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    mas não, esse é o slide completo.
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    (Risos)
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    Não há nada no outro lado.
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    Então, completamente irracional,
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    você pensaria,
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    exceto que, espere um minuto, os políticos são racionais também,
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    e eles estão respondendo ao que eles pensam que os eleitores querem.
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    Então o que nós vemos é que eleitores respondem
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    muito bem a coisas desse tipo
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    e não tão bem a coisas desse tipo.
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    (Risos)
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    Então se torna totalmente racional
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    negar serviços aos viciados.
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    Agora vamos falar sobre sexo.
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    Nós somos mais racionais quanto ao sexo?
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    Bem, eu nem vou mencionar
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    as posições irracionais
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    de grupos como a Igreja Católica,
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    que pensa que se você distribuir camisinhas,
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    todos irão sair por ai fazendo sexo.
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    Eu não sei se o Papa Bento
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    assiste aos TEDTalks online,
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    mas se assiste, tenho notícias pra você Bento.
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    Eu sempre tenho camisinhas,
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    e nunca faço sexo.
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    (Risos)
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    Não é tão fácil.
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    Peguem, talvez vocês sejam mais sortudos.
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    (Aplausos)
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    Certo, sério,
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    HIV não é tão fácil
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    de se transmitir sexualmente.
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    Depende de quanto vírus tem
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    no seu sangue e nos seus fluidos corporais.
  • 8:35 - 8:38
    E o que nós temos é uma enorme quantidade de vírus,
  • 8:38 - 8:40
    bem no começo, quando você se contamina,
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    então você começa a produzir anticorpos,
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    e então cai para níveis bem baixos
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    por muito tempo, 10 ou 12 anos,
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    você tem picos caso se infecte novamente através do sexo,
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    mas basicamente, nada mais está acontecendo
  • 8:51 - 8:53
    até você começar a apresentar os sintomas da AIDS.
  • 8:53 - 8:55
    E àquela altura, aqui,
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    você não está muito bem, você não se sente bem,
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    você não está fazendo tanto sexo.
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    Então a transmissão do HIV pelo sexo
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    é essencialmente determinada pelo número de parceiros que você tem
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    nesses curtos períodos de tempo
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    quando você tem alta viremia.
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    E isso deixa as pessoas malucas
  • 9:12 - 9:15
    pois significa que você tem que falar sobre
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    alguns grupos tendo mais parceiros sexuais que outros
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    em períodos de tempo mais curto que outros grupos,
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    e isso é considerado estigmatização.
  • 9:21 - 9:23
    Sempre fui um pouco curiosa sobre isso
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    pois penso que estigma é algo ruim,
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    enquanto muito sexo é muito bom,
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    mas que seja.
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    A verdade é que 20 anos
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    de boa pesquisa
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    tem nos mostrado que
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    há grupos que são mais suscetíveis a ter
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    um número maior de parceiros em um pequeno período de tempo,
  • 9:41 - 9:43
    e esses grupos são, globalmente,
  • 9:43 - 9:46
    pessoas que vendem sexo e seus parceiros mais frequentes,
  • 9:46 - 9:48
    são homens gays nas festas
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    que têm, em média, três vezes mais parceiros
  • 9:50 - 9:52
    do que pessoas heterossexuais mas festas,
  • 9:52 - 9:54
    e eles são heterossexuais
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    que vêm de países que possuem
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    tradições em poligamia
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    e níveis relativamente altos de autonomia feminina,
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    e quase todos esses países são do leste ou do sul da África.
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    E isso se reflete na epidemia que nós temos hoje.
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    E você pode então ver essas estatísticas assustadoras da África.
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    Estes são todos os países no sul da África
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    onde entre um e sete
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    e um em três
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    de todos os adultos
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    estão infectados com HIV.
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    Agora, no resto do mundo,
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    não temos basicamente nada acontecendo na população geral,
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    níveis muito, muito baixos,
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    mas nós temos níveis extraordinariamente altos de HIV
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    nessas populações que estão correndo altos riscos,
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    consumidores de drogas injetáveis, profissionais do sexo,
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    e homens gays.
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    E você perceberá nos dados de Los Angeles.
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    25% de prevalência entre homens gays.
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    Então, claro, você não pode pegar HIV somente pelo sexo sem proteção.
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    Você só pode pegar HIV ao fazer sexo sem proteção
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    com um soropositivo.
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    Na maior parte do mundo,
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    essas poucas falhas de prevenção
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    no entanto,
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    de fato nós estamos indo muito bem nesses dias
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    no sexo comercial.
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    O uso de preservativos está entre 80% e 100%
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    no sexo comercial na maioria dos países.
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    E, novamente, é por causa do alinhamento dos incentivos.
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    O que é racional para a saúde pública
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    é também racional para os indivíduos profissionais do sexo
  • 11:14 - 11:17
    porque é realmente ruim para os negócios ter um outra DST.
  • 11:17 - 11:19
    Ninguém quer.
  • 11:19 - 11:21
    E, de fato, clientes não querem ir pra casa com nada também.
  • 11:21 - 11:24
    Então, essencialmente, você é capaz de alcançar
  • 11:24 - 11:27
    altos níveis de uso de preservativos no sexo comercial.
  • 11:27 - 11:29
    Mas em relações "íntimas",
  • 11:29 - 11:31
    é muito mais difícil porque,
  • 11:31 - 11:33
    com sua esposa ou namorado,
  • 11:33 - 11:36
    alguém que você espera que se torne uma dessas coisas,
  • 11:36 - 11:39
    nós temos essa ilusão de romance
  • 11:39 - 11:41
    de confiança e intimidade,
  • 11:41 - 11:44
    e nada é tão anti-romântico
  • 11:44 - 11:47
    como, "seu preservativo ou o meu, querida?".
  • 11:47 - 11:50
    Então, em face disso,
  • 11:50 - 11:53
    você precisa de um incentivo verdadeiramente forte
  • 11:53 - 11:56
    para usar camisinhas.
  • 11:56 - 11:59
    Esse, por exemplo, esse rapaz chamado Joseph.
  • 11:59 - 12:01
    Ele é do Haiti, e tem AIDS,
  • 12:01 - 12:04
    e provavelmente ele não está fazendo muito sexo agora,
  • 12:04 - 12:06
    mas ele é um lembrança na população,
  • 12:06 - 12:08
    do porquê você deve querer
  • 12:08 - 12:10
    usar preservativos.
  • 12:10 - 12:12
    Isso é também no Haiti e é um aviso
  • 12:12 - 12:15
    do porquê você deve querer fazer sexo, talvez.
  • 12:16 - 12:19
    Mas, o engraçado é que esse também é o Joseph
  • 12:19 - 12:22
    depois de seis meses em tratamento antiretroviral.
  • 12:23 - 12:26
    Não é por menos que chamamos isso de "Efeito Lázaro".
  • 12:28 - 12:31
    Mas está mudando a equação
  • 12:31 - 12:33
    do que é racional
  • 12:33 - 12:36
    em tomadas de decisão sexual.
  • 12:36 - 12:38
    Então, o que nós temos --
  • 12:38 - 12:40
    alguns dizem, "Ah, não importa muito
  • 12:40 - 12:43
    porque, de fato, tratamento é uma prevenção efetiva
  • 12:43 - 12:45
    porque diminui sua carga viral e portanto
  • 12:45 - 12:47
    torna mais difícil a transmissão do HIV."
  • 12:47 - 12:50
    Então, se você olhar no aspecto da viremia novamente,
  • 12:50 - 12:52
    se você começar o tratamento quando está doente,
  • 12:52 - 12:55
    bem, o que acontece? Sua carga viral cai.
  • 12:55 - 12:58
    Mas comparado a quê? O que acontece se você não está se tratando?
  • 12:59 - 13:01
    Bem, você morre,
  • 13:01 - 13:03
    então sua carga viral cai a zero.
  • 13:03 - 13:06
    E toda essa coisa verde aqui, incluindo os picos,
  • 13:06 - 13:10
    que estão aí porque você não conseguiu ir à farmácia
  • 13:10 - 13:13
    ou ficou sem remédios, ou foi a uma festa de três dias
  • 13:13 - 13:15
    e esqueceu de tomar seus remédios,
  • 13:15 - 13:18
    ou porque começou a desenvolver resistência, ou sei lá,
  • 13:18 - 13:20
    tudo aquilo é vírus
  • 13:20 - 13:23
    que não estaria lá fora, exceto pelo tratamento.
  • 13:23 - 13:26
    E, eu estou dizendo, nossa, grande estratégia de prevenção,
  • 13:26 - 13:28
    vamos parar de tratar as pessoas?
  • 13:28 - 13:30
    Claro que não. Claro que não,
  • 13:30 - 13:33
    nós precisamos expandir o tratamento anti-retroviral o máximo que nós pudermos.
  • 13:33 - 13:35
    Mas o que eu estou fazendo é chamar ao debate
  • 13:35 - 13:37
    aquelas pessoas que dizem que mais tratamento
  • 13:37 - 13:39
    é tudo que nós precisamos.
  • 13:39 - 13:42
    Isso não é necessariamente verdade,
  • 13:42 - 13:44
    e eu acho que nós podemos aprender muito através da experiência de homens gays
  • 13:44 - 13:47
    em países ricos onde o tratamento é amplamente disponível
  • 13:47 - 13:49
    e está rolando há 15 anos agora,
  • 13:49 - 13:51
    e o que nós temos visto é
  • 13:51 - 13:53
    que, de fato, as taxas de uso de preservativos,
  • 13:53 - 13:55
    que eram muito, muito altas --
  • 13:55 - 13:58
    a comunidade gay respondeu muito rapidamente ao HIV,
  • 13:58 - 14:00
    com muito pouca ajuda
  • 14:00 - 14:02
    dos nerds da saúde pública, eu diria --
  • 14:02 - 14:05
    que as taxas de uso de preservativos têm caído rapidamente desde o tratamento
  • 14:05 - 14:07
    por duas razões.
  • 14:07 - 14:09
    Uma é a ideia que, "Oh bem,
  • 14:09 - 14:11
    se ele está infectado, provavelmente está em tratamento,
  • 14:11 - 14:14
    e sua carga viral estará baixa, então estou seguro."
  • 14:14 - 14:16
    E outra coisa é que as pessoas simplesmente não estão
  • 14:16 - 14:18
    com tanto medo do HIV
  • 14:18 - 14:21
    como elas estavam com medo da AIDS, e com razão.
  • 14:21 - 14:24
    AIDS era uma doença desfiguradora que matava você,
  • 14:24 - 14:26
    e HIV é um vírus invisível
  • 14:26 - 14:28
    que faz você tomar uma pílula todos os dias.
  • 14:28 - 14:30
    E isso é chato,
  • 14:30 - 14:33
    mas é tão chato quanto
  • 14:33 - 14:35
    ter que usar camisinha toda vez que você faz sexo,
  • 14:35 - 14:37
    não importando o quão bêbado você esteja,
  • 14:37 - 14:40
    não importando o quanto tenha cheirado, ou qualquer coisa?
  • 14:40 - 14:42
    Se olharmos para os dados, podemos ver que
  • 14:42 - 14:44
    a resposta para aquela pergunta
  • 14:44 - 14:46
    é hummm.
  • 14:46 - 14:48
    Estes são os dados da Escócia.
  • 14:48 - 14:50
    Você vê o pico em usuarios de injetáveis
  • 14:50 - 14:52
    antes deles iniciarem o programa nacional de troca de agulhas.
  • 14:52 - 14:54
    Então caiu
  • 14:54 - 14:56
    e ambos em heterosexuais, a maior parte em sexo comercial
  • 14:56 - 14:58
    e em usuários de drogas,
  • 14:58 - 15:01
    você não tem muita coisa acontecendo depois que o tratamento começa,
  • 15:01 - 15:03
    e isso se deve ao alinhamento de incentivos
  • 15:03 - 15:05
    sobre o qual eu falei antes.
  • 15:05 - 15:07
    Mas nos homens gays,
  • 15:07 - 15:09
    você tem um dramático aumento
  • 15:09 - 15:11
    começando três ou quatro anos
  • 15:11 - 15:13
    depois do tratamento se tornar amplamente disponível.
  • 15:13 - 15:15
    Isso são novas infecções.
  • 15:15 - 15:17
    O que isso significa?
  • 15:17 - 15:20
    Significa que o efeito combinado de estar menos preocupado
  • 15:20 - 15:23
    e ter mais vírus lá fora na população,
  • 15:23 - 15:25
    mais pessoas vivendo vidas mais longas e saudáveis,
  • 15:25 - 15:27
    mais fácil de se tornar infectado
  • 15:27 - 15:29
    com HIV,
  • 15:29 - 15:32
    compensando os efeitos da baixa carga viral,
  • 15:32 - 15:34
    e isso é algo realmente preocupante.
  • 15:34 - 15:36
    O que significa?
  • 15:36 - 15:39
    Significa que precisamos de mais prevenção, quanto mais tratamento temos.
  • 15:39 - 15:41
    É o que está acontecendo?
  • 15:41 - 15:44
    Não, e eu chamo isso de enigma da compaixão.
  • 15:44 - 15:47
    Nós falamos muito sobre compaixão nos últimos dias.
  • 15:47 - 15:50
    E o que realmente está acontecendo é que as pessoas estão
  • 15:50 - 15:52
    incapazes de se apresentarem e disponibilizarem
  • 15:52 - 15:55
    bons serviços de saúde sexual e reprodutiva a profissionais do sexo,
  • 15:55 - 15:58
    incapazes de distribuir agulhas aos viciados,
  • 15:58 - 16:01
    mas uma vez que eles deixam de ser
  • 16:01 - 16:04
    pessoas transgressivas, cujo comportamento não queremos aceitar,
  • 16:04 - 16:06
    para serem vítimas da AIDS,
  • 16:06 - 16:08
    nós nos tornamos cheios de compaixão
  • 16:08 - 16:10
    e pagamos para eles drogas incrivelmente caras para o resto de suas vidas.
  • 16:10 - 16:12
    Não faz nenhum sentido
  • 16:12 - 16:14
    a partir da visão de um sistema de daúde pública.
  • 16:14 - 16:18
    Eu quero deixar, o que é a última palavra, à Inês.
  • 16:18 - 16:21
    Inês é uma prostituta transsexual das ruas de Jakarta.
  • 16:21 - 16:23
    Ela é uma garota com um pinto.
  • 16:23 - 16:25
    Por que ela faz aquele trabalho?
  • 16:25 - 16:28
    É claro que é porque ela foi forçada a isso
  • 16:28 - 16:30
    porque ela não tem uma melhor opção, etc, etc,
  • 16:30 - 16:32
    e se nós pudéssemos ensiná-la a costurar
  • 16:32 - 16:35
    e dar a ela um bom emprego em uma fábrica, tudo ficaria bem.
  • 16:35 - 16:37
    Isso é o que os trabalhadores ganham em uma hora na Indonésia,
  • 16:37 - 16:39
    em média, 20 centavos.
  • 16:39 - 16:41
    Varia um pouco entre as províncias.
  • 16:41 - 16:44
    Eu conversei com profissionais do sexo, 15 mil deles
  • 16:44 - 16:46
    para esse slide em particular.
  • 16:46 - 16:48
    E isso é o que os profissionais do sexo
  • 16:48 - 16:50
    dizem ganhar em uma hora.
  • 16:50 - 16:53
    Então, não é um ótimo trabalho, mas para muitas pessoas
  • 16:53 - 16:55
    é uma escolha muito racional.
  • 16:55 - 16:57
    Ok, Inês.
  • 17:00 - 17:05
    Nós temos as ferramentas, o conhecimento e o dinheiro,
  • 17:05 - 17:09
    e comprometimento em previnir o HIV também.
  • 17:09 - 17:15
    Inês: Então por que a prevalência ainda está aumentando?
  • 17:15 - 17:18
    É tudo política.
  • 17:18 - 17:21
    Quando você chega à política, nada faz sentido.
  • 17:21 - 17:24
    Elizabeth Pisani: "Quando você chega à política, nada faz sentido."
  • 17:24 - 17:27
    Então, do ponto de vista de um profissional do sexo,
  • 17:27 - 17:29
    os políticos não fazem sentido.
  • 17:29 - 17:31
    Do ponto de vista de um nerd da saúde pública,
  • 17:31 - 17:34
    viciados estão fazendo coisas estúpidas.
  • 17:35 - 17:38
    Quero dizer, a verdade é que todos possuem uma diferente visão.
  • 17:38 - 17:40
    Existem tantas maneiras de se ser racional
  • 17:40 - 17:42
    quanto pessoas no planeta,
  • 17:42 - 17:44
    e essa é uma das glórias da existência humana.
  • 17:44 - 17:46
    Mas essas maneiras de se ser racional
  • 17:46 - 17:48
    não são independentes das outras.
  • 17:48 - 17:50
    Então é racional a um
  • 17:50 - 17:52
    injetor de drogas dividir agulhas
  • 17:52 - 17:55
    por conta de uma decisão estúpida tomada por um político,
  • 17:55 - 17:57
    e é racional para um político
  • 17:57 - 18:00
    tomar aquela decisão estúpida
  • 18:00 - 18:02
    porque estão respondendo a
  • 18:02 - 18:04
    o que os eleitores querem.
  • 18:04 - 18:06
    Mas aqui está:
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    Nós somos os eleitores.
  • 18:08 - 18:11
    Não somos todos eles, claro, mas o TED é uma comunidade de formadores de opinião,
  • 18:11 - 18:13
    e todos os que estão nessa sala,
  • 18:13 - 18:16
    e todos os que estão assistindo a isso na web,
  • 18:16 - 18:19
    Eu acredito que têm o dever de exigir de seus políticos
  • 18:19 - 18:22
    que façamos política baseada em evidência científica
  • 18:22 - 18:24
    e em senso comum.
  • 18:24 - 18:26
    Vai ser muito difícil para nós
  • 18:26 - 18:29
    individualmente dizer o que é racional
  • 18:29 - 18:31
    para cada Frankie e cada Inês lá fora.
  • 18:31 - 18:34
    Mas você pode ao menos usar o seu voto
  • 18:34 - 18:37
    para impedir os políticos de fazer coisas estúpidas
  • 18:37 - 18:39
    que espalham o HIV.
  • 18:39 - 18:41
    Obrigada.
  • 18:41 - 18:50
    (Aplausos)
Title:
Elizabeth Pisani: Sexo, drogas e HIV -- sejamos racionais
Speaker:
Elizabeth Pisani
Description:

Armada com uma lógica envolvente, sagacidade e seus "óculos de nerd da saúde pública", Elizabeth Pisani revela a infinidade de inconsistências no sistema político de hoje, que impede que nosso dinheiro combata a disseminação do HIV. Sua pesquisa com populações de risco -- de viciados em prisões a profissionais do sexo nas ruas do Camboja -- demonstra que às vezes, medidas contra intuitivas podem evitar a disseminação dessa doença devastadora.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:54
Adelino de Santi Júnior added a translation

Portuguese, Brazilian subtitles

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