Fé versus tradição islâmica | Mustafa Akyol | TEDxWarwick
-
0:17 - 0:21Há algumas semanas
fui para a Arábia Saudita. -
0:21 - 0:24A primeira coisa que queria
fazer como muçulmano -
0:24 - 0:27era visitar Meca e a Kaaba,
-
0:27 - 0:28o local mais sagrado do Islã.
-
0:28 - 0:31Foi o que fiz: vesti meu traje cerimonial,
-
0:31 - 0:33fui para a mesquita sagrada,
-
0:33 - 0:36fiz minhas orações
e cumpri todos os rituais. -
0:37 - 0:40Entretanto, além
de toda a espiritualidade, -
0:40 - 0:43havia um detalhe mundano na Kaaba
-
0:43 - 0:44que chamou muito minha atenção:
-
0:45 - 0:47não havia separação dos sexos.
-
0:48 - 0:51Em outras palavras, homens
e mulheres estavam rezando juntos, -
0:52 - 0:57mesmo durante o tawāf,
a volta ao redor da Kaaba. -
0:57 - 0:59Eles rezavam juntos.
-
1:00 - 1:03Se imaginam por que,
afinal, isso é interessante, -
1:03 - 1:06vocês têm que conhecer
o restante da Arábia Saudita, -
1:06 - 1:11porque este é um país muito rígido
na separação entre os sexos. -
1:11 - 1:12Em outras palavras:
-
1:12 - 1:17como homem, você não pode dividir
o mesmo espaço físico com as mulheres. -
1:18 - 1:19Observei isso de uma forma engraçada.
-
1:19 - 1:23Saí da Kaaba para comer no centro de Meca.
-
1:24 - 1:26Fui para o Burger King mais próximo,
-
1:26 - 1:32e lá percebi que havia uma ala masculina,
separada cuidadosamente da ala feminina. -
1:32 - 1:35Tive que pedir, pagar e comer
na ala masculina. -
1:36 - 1:38"Engraçado", pensei.
-
1:38 - 1:41"Você pode se misturar com o sexo
oposto na Kaaba sagrada, -
1:41 - 1:42mas não no Burger King?"
-
1:42 - 1:43(Risos)
-
1:43 - 1:47Muito irônico e, também,
muito impressionante, -
1:48 - 1:51porque a Kaaba e os rituais ao seu redor
-
1:51 - 1:54são relíquias sagradas
do início do islamismo, -
1:54 - 1:55do profeta Maomé.
-
1:56 - 2:00Se houvesse destaque no momento
da separação entre homens e mulheres, -
2:00 - 2:03os rituais em torno da Kaaba
teriam sido definidos de acordo. -
2:03 - 2:05Mas, aparentemente,
na época isso não era um problema. -
2:05 - 2:07Então, surgiram os rituais.
-
2:08 - 2:11Isso também é confirmado pelo fato
-
2:11 - 2:15de que a separação de mulheres
na criação de uma sociedade dividida -
2:15 - 2:18é algo que também
não se encontra no Alcorão, -
2:19 - 2:22que é o coração divino do Islã,
-
2:22 - 2:24e que todos os muçulmanos,
inclusive eu, acreditam. -
2:26 - 2:28Acho que não é acaso
-
2:28 - 2:31não encontrarmos esse conceito
na própria origem do islamismo, -
2:31 - 2:35porque muitos que estudam
a história do pensamento islâmico, -
2:35 - 2:37acadêmicos muçulmanos ou ocidentais,
-
2:37 - 2:41acreditam que a divisão
entre homens e mulheres -
2:42 - 2:45desenvolveu-se mais tarde no Islã,
-
2:45 - 2:48com algumas culturas antigas
adotadas pelos muçulmanos -
2:48 - 2:49e tradições do Oriente Médio.
-
2:49 - 2:54O isolamento das mulheres era
praticado pelos bizantinos e persas -
2:54 - 2:58e os muçulmanos o adotaram,
tornando-se parte de sua religião. -
2:59 - 3:04Este é apenas um exemplo
de um fenômeno muito maior. -
3:04 - 3:07O que chamamos hoje de lei islâmica
e especialmente de cultura islâmica, -
3:07 - 3:09e há muitas culturas islâmicas.
-
3:09 - 3:12Na Arábia Saudita, é muito diferente
-
3:12 - 3:14de onde eu venho,
em Istambul na Turquia. -
3:14 - 3:17Mas ainda assim, se você for
falar sobre cultura muçulmana, -
3:17 - 3:22isso tem uma base: a mensagem
divina, que deu início à religião. -
3:22 - 3:27Naquela época, muitas tradições,
percepções e práticas foram acrescentadas. -
3:27 - 3:30Estas eram tradições
medievais do Oriente Médio. -
3:31 - 3:36Existem duas importantes lições
para entender essa realidade. -
3:37 - 3:38Primeira, os muçulmanos,
-
3:38 - 3:42devotos, conservadores e crentes
que querem ser leais à sua religião, -
3:42 - 3:45não devem se agarrar
a tudo em sua cultura, -
3:45 - 3:47achando que tudo é mandamento divino.
-
3:47 - 3:50Talvez algumas coisas sejam tradições
ruins e precisam ser mudadas. -
3:50 - 3:54Por outro lado, os ocidentais
que olham a cultura islâmica -
3:54 - 3:57e veem alguns aspectos preocupantes,
-
3:57 - 4:00não devem concluir
que isso é o que o Islã exige. -
4:00 - 4:04Talvez a cultura do Oriente Médio
tenha se tornado confusa com o Islã. -
4:05 - 4:08Vejam alguns exemplos.
-
4:09 - 4:11Existe uma prática
chamada circuncisão feminina. -
4:12 - 4:16Não sei se já ouviram falar,
mas é algo terrível. -
4:17 - 4:21É basicamente uma operação
para privar as mulheres do prazer sexual. -
4:21 - 4:24Não vou entrar em detalhes,
mas é algo extremamente ruim. -
4:25 - 4:26E o Ocidente,
-
4:26 - 4:30europeus ou americanos,
que não sabiam sobre isso, -
4:30 - 4:32viram esta prática
-
4:32 - 4:36em algumas comunidades muçulmanas
que migraram do norte da África. -
4:36 - 4:37E pensaram:
-
4:37 - 4:41"Que religião horrível é esta,
que obriga a uma coisa dessas". -
4:42 - 4:44Quando ouvimos falar
sobre a circuncisão feminina, -
4:44 - 4:46percebe-se que ela não
tem relação com o Islã; -
4:46 - 4:49é uma prática norte- africana
anterior ao Islã. -
4:49 - 4:51Já existia há milhares de anos.
-
4:51 - 4:57É bastante revelador que somente
muçulmanos no norte da África a praticam. -
4:57 - 5:01Também, as comunidades não
muçulmanas no norte da África, -
5:01 - 5:05os animistas, alguns cristãos
e até mesmo uma tribo judaica, -
5:05 - 5:07praticam a circuncisão feminina.
-
5:08 - 5:12Então, o que parece ser
um problema dentro da fé islâmica -
5:12 - 5:16pode ser uma tradição
adotada pelos muçulmanos. -
5:17 - 5:19O mesmo acontece com as mortes
por questão de honra, -
5:19 - 5:22um tema recorrente na mídia ocidental
-
5:22 - 5:25e, claro, uma tradição horrível.
-
5:25 - 5:29É preocupante algumas comunidades
muçulmanas seguirem essas tradições. -
5:29 - 5:32Mas, nas comunidades
não muçulmanas do Oriente Médio, -
5:32 - 5:35como algumas cristãs e orientais,
vemos a mesma prática. -
5:35 - 5:38Tivemos um caso trágico de crime de honra
-
5:38 - 5:42há alguns meses, numa
comunidade armênia, na Turquia. -
5:43 - 5:45Isto se refere à cultura geral,
-
5:45 - 5:48também me interesso
muito por cultura política, -
5:49 - 5:52e se a liberdade e a democracia
são respeitadas -
5:52 - 5:55ou se existe uma cultura
política autoritária, -
5:55 - 5:58na qual o Estado deve
se impor aos cidadãos. -
5:59 - 6:00Não é segredo
-
6:00 - 6:03que muitos movimentos islâmicos
no Oriente Médio -
6:03 - 6:04tendem a ser autoritários
-
6:04 - 6:07e alguns também conhecidos
como "regimes islâmicos", -
6:07 - 6:12tais como a Arábia Saudita, o Irã e o pior
de todos, o Talibã, no Afeganistão, -
6:12 - 6:15são muito autoritários,
não há dúvidas sobre isso. -
6:16 - 6:17Na Arábia Saudita,
-
6:17 - 6:20existe algo fora do comum,
que é a polícia religiosa. -
6:20 - 6:24Ela impõe o modo de vida islâmico
-
6:24 - 6:26a todos os cidadãos, por meio da força,
-
6:26 - 6:29obrigando as mulheres a cobrir a cabeça,
-
6:29 - 6:32com o hijab, o véu que é utilizado.
-
6:33 - 6:35Isso é muito autoritário
-
6:35 - 6:37e sou muito crítico quanto a isso.
-
6:38 - 6:42Mas quando percebi que os não muçulmanos,
-
6:42 - 6:45ou os indivíduos não islâmicos,
da mesma geografia, -
6:45 - 6:47às vezes têm o mesmo comportamento,
-
6:47 - 6:49percebi que o problema talvez esteja
-
6:49 - 6:52na cultura política de toda
a região, não apenas do Islã. -
6:52 - 6:57Vou dar um exemplo: na Turquia,
que é uma república hipersecular, -
6:58 - 7:03até pouco tempo atrás, costumávamos ter
o que eu chamo de "polícia secularista", -
7:03 - 7:07que deveria proteger as universidades
contra estudantes com o véu. -
7:08 - 7:12Em outras palavras, eles exigiam
que as estudantes tirassem o véu, -
7:12 - 7:15forçando-as a se identificarem.
-
7:15 - 7:18Isto é tão tirânico quanto
forçá-las a usar o véu. -
7:18 - 7:20Deveria ser uma decisão do cidadão
-
7:20 - 7:22e cada indivíduo deve decidir sobre isso.
-
7:22 - 7:24Mas quando vi isso, eu disse:
-
7:24 - 7:28"Talvez o problema seja apenas
uma cultura autoritária na região -
7:28 - 7:30e alguns muçulmanos
foram influenciados por isso. -
7:30 - 7:33Mas as pessoas seculares
podem ser influenciadas também -
7:33 - 7:35Talvez seja um problema
de cultura política -
7:35 - 7:39e devemos pensar em como
mudar essa cultura política. -
7:40 - 7:44Essas são algumas questões
que vinha considerando há alguns anos -
7:44 - 7:46quando comecei a escrever um livro.
-
7:46 - 7:48Pensei: "Bem, vou pesquisar
-
7:48 - 7:53sobre como o islamismo
se transformou no que é hoje, -
7:53 - 7:57quais foram os rumos tomados
e quais deveriam ter sido". -
7:58 - 8:00Terminei o livro, mas ele ainda
não foi publicado, -
8:00 - 8:02será publicado neste verão de 2011.
-
8:03 - 8:07Ele se chama: "Islam Without Extremes:
A Muslim Case for Liberty". -
8:07 - 8:09Como o subtítulo sugere,
-
8:09 - 8:12pesquisei sobre a tradição
e a história do pensamento islâmico -
8:12 - 8:15sob a perspectiva da liberdade individual,
-
8:15 - 8:19tentando encontrar os pontos fortes
em relação à liberdade individual. -
8:19 - 8:21Há pontos fortes na tradição islâmica.
-
8:21 - 8:23O islamismo é uma religião monoteísta
-
8:23 - 8:27que definiu o homem
como responsável por si mesmo, -
8:27 - 8:30criou a ideia de indivíduo
no Oriente Médio -
8:31 - 8:35e o salvou do coletivismo tribal.
-
8:37 - 8:38Pode-se tirar muitas conclusões.
-
8:40 - 8:44Mas, além disso, também vi
problemas na tradição islâmica. -
8:45 - 8:50Um fato curioso: a maioria
desses problemas surgiu mais tarde, -
8:50 - 8:53não do núcleo divino
do islamismo, o Alcorão, -
8:53 - 8:56mas das tradições e mentalidades
-
8:56 - 9:00ou das interpretações do Alcorão
que os muçulmanos fizeram na Idade Média. -
9:00 - 9:03O Alcorão não tolera apedrejamento.
-
9:03 - 9:05Não há nada sobre isso nele.
-
9:05 - 9:11Não há punição para o abandono da fé
ou para pecados pessoais, como beber. -
9:11 - 9:17Os aspectos problemáticos da lei islâmica
-
9:17 - 9:21foram desenvolvidos posteriormente
às interpretações do Islã. -
9:21 - 9:24Significa que os muçulmanos, hoje,
podem olhar para essas coisas e dizer: -
9:24 - 9:29"O núcleo da nossa religião
está aqui para ficar conosco. -
9:29 - 9:31É nossa fé e seremos leais a ela.
-
9:31 - 9:33Mas podemos mudar a forma
como foi interpretada, -
9:33 - 9:37pois isso aconteceu de acordo com a época
e meio social da Idade Média. -
9:37 - 9:40Agora, vivemos num mundo com valores
e sistemas políticos diferentes. -
9:40 - 9:43Essa interpretação
é bastante possível e viável. -
9:44 - 9:47Se eu fosse a única pessoa pensando assim,
-
9:47 - 9:48estaríamos com problemas.
-
9:50 - 9:51Mas esse não é o caso.
-
9:52 - 9:56Na verdade, a partir do século 19,
-
9:56 - 10:02há um revisionismo completo,
uma reforma, uma tradição, -
10:02 - 10:04uma tendência no pensamento islâmico.
-
10:06 - 10:08Estes eram intelectuais ou estadistas
-
10:09 - 10:13do século 19 e mais tarde, do século 20,
que observavam basicamente a Europa -
10:13 - 10:17e admiravam apenas as coisas
de lá, como ciência e tecnologia. -
10:17 - 10:20Também admiravam
a democracia, o parlamento, -
10:20 - 10:23a ideia da representação
e da igualdade entre os cidadãos. -
10:23 - 10:28Esses pensadores, intelectuais
e estadistas muçulmanos do século 19 -
10:28 - 10:32observaram esses aspectos e disseram:
"Por que não podemos ser iguais?" -
10:32 - 10:34Eles se voltaram para a tradição islâmica
-
10:34 - 10:39e viram o que eu falei:
há muitos aspectos problemáticos, -
10:39 - 10:43mas não são o núcleo da religião,
talvez possam ser entendidos novamente -
10:43 - 10:45e o Alcorão possa ser relido
no mundo moderno. -
10:46 - 10:51Essa tendência é conhecida
como modernismo islâmico -
10:51 - 10:54e estava sendo proposta
pelos intelectuais e estadistas, -
10:54 - 10:58não somente como uma ideia,
mas como um programa político. -
10:58 - 11:00É por isso que no século 19,
-
11:00 - 11:04o Império Otomano, que abrangia
todo o Oriente Médio, -
11:04 - 11:06fez reformas muito importantes:
-
11:06 - 11:12dando aos cristãos e judeus
o mesmo status de cidadãos, -
11:13 - 11:16aceitando uma constituição,
um parlamento representativo, -
11:17 - 11:20promovendo a ideia
de liberdade de religião. -
11:20 - 11:23É por isso que o Império Otomano,
em suas últimas décadas, -
11:23 - 11:27transformou-se numa protodemocracia,
uma monarquia constitucional, -
11:29 - 11:32sendo a liberdade um valor político
muito importante naquela época. -
11:32 - 11:34Da mesma forma, no mundo árabe,
-
11:34 - 11:39havia o que o grande historiador árabe
Albert Hourani define como "Era Liberal". -
11:39 - 11:41O seu livro, "Arabic Thought
in the Liberal Age" -
11:41 - 11:45e define o período da era liberal
como século 19 e início do século 20. -
11:46 - 11:51Notavelmente, essa foi a tendência
dominante no início do século 20 -
11:51 - 11:56entre os pensadores,
estadistas e teólogos islâmicos. -
11:56 - 12:00Há um padrão muito curioso
no final do século 20, -
12:00 - 12:05pois vemos um acentuado declínio
nesta linha islâmica modernista. -
12:05 - 12:10Ao invés disso, o islamismo cresce
-
12:11 - 12:13como uma ideologia autoritária,
-
12:13 - 12:18bastante estridente, contra o Ocidente
-
12:18 - 12:22e que quer moldar a sociedade
com base em uma visão utópica. -
12:22 - 12:25Este é o problema do islamismo
-
12:25 - 12:30que criou muitos problemas
no mundo islâmico do século 20. -
12:30 - 12:34Mesmo as formas extremas do Islamismo
-
12:34 - 12:36levaram o terrorismo em nome do Islã,
-
12:37 - 12:40que é uma prática que,
na minha opinião, vai contra o Islã, -
12:40 - 12:43mas é obvio que alguns
extremistas não pensam assim. -
12:44 - 12:46Mas há uma pergunta curiosa:
-
12:46 - 12:51se o modernismo islâmico foi tão popular
no século 19 e no início do século 20, -
12:51 - 12:55por que o islamismo tornou-se
tão popular no resto do século 20? -
12:55 - 12:59Esta é uma pergunta que precisa
ser examinada com cuidado. -
12:59 - 13:01Em meu livro, abordei esta questão.
-
13:01 - 13:05Na verdade, não precisa ser
um cientista para compreender isso. -
13:05 - 13:09Basta observar a história política
do século 20 e ver como as coisas mudaram. -
13:09 - 13:11Os contextos mudaram.
-
13:11 - 13:15No século 19, quando os muçulmanos
tinham a Europa como exemplo, -
13:15 - 13:18eles eram independentes e mais confiantes.
-
13:18 - 13:21No início do século 20,
com a queda do Império Otomano, -
13:21 - 13:23todo o Oriente Médio foi colonizado.
-
13:23 - 13:26E o que se tem com a colonização?
-
13:26 - 13:28Tem-se a anticolonização.
-
13:28 - 13:31Assim, a Europa não é mais
um exemplo a ser seguido, -
13:31 - 13:34é um inimigo a ser combatido e resistido.
-
13:34 - 13:38Então, há um declínio muito acentuado
das ideias liberais no mundo muçulmano -
13:38 - 13:44e vemos uma pressão reacionária
mais defensiva e rígida, -
13:44 - 13:47que levou ao socialismo
e nacionalismo árabes -
13:47 - 13:49e, por último, à ideologia islâmica.
-
13:50 - 13:53E, quando o período colonial terminou,
-
13:53 - 13:58surgiram ditadores seculares em seu lugar,
-
13:58 - 13:59que diziam que o país era deles,
-
13:59 - 14:04mas não traziam a democracia ao país
e estabeleciam sua própria ditadura. -
14:05 - 14:08Acho que o Ocidente, pelo menos
alguns governos ocidentais, -
14:08 - 14:10especialmente os Estados Unidos,
-
14:10 - 14:13cometeram o erro de apoiar
aqueles ditadores seculares, -
14:13 - 14:16pensando que eram
mais úteis para os seus interesses. -
14:16 - 14:20Mas o fato de que esses ditadores
reprimiram a democracia -
14:20 - 14:23e grupos islâmicos em seu país,
-
14:23 - 14:25na prática, tornaram
os islâmicos mais estridentes. -
14:26 - 14:27Assim, no século 20,
-
14:27 - 14:29houve esse ciclo vicioso no mundo árabe,
-
14:29 - 14:32em que se teve uma ditadura
que suprimiu seu próprio povo, -
14:32 - 14:34incluindo os islâmicos devotos
-
14:34 - 14:36e eles reagiram de maneira reacionária.
-
14:37 - 14:39Houve um país, no entanto,
-
14:39 - 14:47que conseguiu escapar ou se distanciar
desse ciclo vicioso: a Turquia. -
14:47 - 14:50A Turquia nunca foi colonizada;
-
14:50 - 14:55vale lembrar que permaneceu independente,
após a queda do Império Otomano. -
14:55 - 14:58Ela não compartilhou
o mesmo exagero anticolonial -
14:58 - 15:00encontrado em outros países da região.
-
15:00 - 15:04Uma coisa mais importante:
a Turquia tornou-se uma democracia -
15:04 - 15:06antes do que qualquer outro país.
-
15:06 - 15:09Em 1950, a Turquia teve
a primeira eleição livre, -
15:10 - 15:12a qual acabou com o maior
regime secular autocrático, -
15:12 - 15:14que aconteceu no início da Turquia.
-
15:14 - 15:16Os muçulmanos devotos turcos
-
15:16 - 15:20perceberam que poderiam mudar
o sistema político por votação. -
15:20 - 15:24Eles perceberam que a democracia
é algo compatível com o Islã, -
15:24 - 15:27com os valores deles,
e apoiaram a democracia. -
15:27 - 15:29Essa é uma experiência
-
15:29 - 15:32que poucas nações muçulmanas
no Oriente Médio tiveram, -
15:32 - 15:34até muito recentemente.
-
15:34 - 15:36Em segundo lugar,
nas últimas duas décadas, -
15:36 - 15:39graças à globalização
e à economia de mercado, -
15:39 - 15:41graças ao surgimento de uma classe média,
-
15:41 - 15:47nós, na Turquia, vimos o que defino como
um renascimento do modernismo islâmico. -
15:47 - 15:51Agora, há mais muçulmanos
devotos de classe média, -
15:51 - 15:55que procuram suas tradições,
percebem problemas nelas -
15:56 - 15:59e compreendem a necessidade
de mudança, questionamento e reforma. -
15:59 - 16:03Eles observam novamente a Europa
como um exemplo a ser seguido. -
16:03 - 16:06Eles veem, pelo menos,
um exemplo de inspiração. -
16:06 - 16:10Por isso o processo de ingresso
da Turquia na UE -
16:11 - 16:15foi apoiado pelos religiosos
islâmicos dentro da Turquia, -
16:15 - 16:18enquanto alguns nacionalistas
seculares foram contra. -
16:18 - 16:20Esse processo ficou um pouco desfocado
-
16:20 - 16:22pelo fato de que nem todos
os europeus são bem-vindos, -
16:22 - 16:24mas essa é outra discussão.
-
16:25 - 16:29Mas o sentimento pró-UE
na Turquia na última década, -
16:29 - 16:33tem se tornado quase uma causa islâmica
apoiada pelos liberais islâmicos -
16:33 - 16:36e claro, também pelos liberais seculares.
-
16:36 - 16:38E graças a isso,
-
16:38 - 16:41a Turquia conseguiu criar
uma história de razoável sucesso -
16:41 - 16:46em que o islamismo e seus
entendimentos mais autênticos -
16:46 - 16:48tornaram-se parte do jogo democrático,
-
16:48 - 16:54contribuindo para a democracia
e para o avanço econômico do país. -
16:54 - 16:58E isso tem sido um exemplo inspirador
-
16:58 - 17:01para alguns movimentos islâmicos
-
17:01 - 17:05ou para outros países do mundo árabe.
-
17:06 - 17:10Vocês devem ter visto a Primavera Árabe,
-
17:10 - 17:13que começou na Tunísia e no Egito.
-
17:14 - 17:17Uma multidão de árabes
se revoltaram contra seus ditadores. -
17:18 - 17:21Eles exigiam democracia e liberdade.
-
17:21 - 17:24E não se tornaram o bicho-papão islâmico,
-
17:24 - 17:29usado pelos ditadores
para justificar seus regimes. -
17:29 - 17:32Disseram: "Queremos
liberdade e democracia. -
17:32 - 17:34Somos muçulmanos devotos,
-
17:34 - 17:38mas queremos viver como
pessoas livres numa sociedade livre". -
17:38 - 17:40Naturalmente, esta é uma longa jornada.
-
17:40 - 17:44A democracia não avança
em uma noite; é um processo. -
17:44 - 17:48Mas esta é uma era promissora
no mundo muçulmano. -
17:48 - 17:51Acredito que o modernismo islâmico
que começou no século 19, -
17:51 - 17:53mas que teve um revés no século 20,
-
17:53 - 17:58por causa dos problemas políticos
do mundo muçulmano, está renascendo. -
17:58 - 18:02Acho que a mensagem para se levar
seria a de que o islamismo, -
18:02 - 18:06apesar de alguns céticos no Ocidente,
-
18:06 - 18:08tem o potencial em si mesmo
-
18:08 - 18:11para trilhar seu próprio caminho
para a democracia e para o liberalismo, -
18:12 - 18:14seu próprio modo de alcançar a liberdade.
-
18:14 - 18:16Deveriam permitir se trabalhar para isso.
-
18:16 - 18:18Muito obrigado.
-
18:18 - 18:19(Aplausos)
- Title:
- Fé versus tradição islâmica | Mustafa Akyol | TEDxWarwick
- Description:
-
O jornalista Mustafa Akyol fala sobre a forma como algumas práticas culturais locais (como usar lenço na cabeça) tornaram-se ligadas, na mente popular, aos artigos de fé do Islã. Será que a ideia geral da fé islâmica se concentrou demais na tradição e não o suficiente nas crenças fundamentais?
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 18:28
Maricene Crus approved Portuguese, Brazilian subtitles for TEDxWarwick - Mustafa Akyol - Islam and Liberty | ||
Maricene Crus edited Portuguese, Brazilian subtitles for TEDxWarwick - Mustafa Akyol - Islam and Liberty | ||
Maricene Crus accepted Portuguese, Brazilian subtitles for TEDxWarwick - Mustafa Akyol - Islam and Liberty | ||
Maricene Crus edited Portuguese, Brazilian subtitles for TEDxWarwick - Mustafa Akyol - Islam and Liberty | ||
Maricene Crus edited Portuguese, Brazilian subtitles for TEDxWarwick - Mustafa Akyol - Islam and Liberty | ||
Maricene Crus edited Portuguese, Brazilian subtitles for TEDxWarwick - Mustafa Akyol - Islam and Liberty | ||
Maricene Crus edited Portuguese, Brazilian subtitles for TEDxWarwick - Mustafa Akyol - Islam and Liberty | ||
Maricene Crus edited Portuguese, Brazilian subtitles for TEDxWarwick - Mustafa Akyol - Islam and Liberty |