Return to Video

Podemos tratar lesões da medula espinhal com aspargos?

  • 0:01 - 0:04
    Estou aqui hoje cercado
    por todas essas frutas e vegetais,
  • 0:04 - 0:08
    porque esses são os objetos
    de meus experimentos.
  • 0:08 - 0:10
    Tenha paciência comigo só por um momento,
  • 0:10 - 0:12
    mas cerca de uma década atrás
  • 0:12 - 0:16
    minha equipe começou a repensar
    como fazemos materiais
  • 0:16 - 0:19
    para reconstruir tecidos humanos
    danificados ou doentes,
  • 0:19 - 0:22
    e fizemos uma descoberta
    totalmente inesperada
  • 0:22 - 0:26
    de que as plantas poderiam ser
    usadas para este propósito.
  • 0:26 - 0:29
    Na verdade, inventamos
    uma maneira de pegar essas plantas
  • 0:29 - 0:34
    e tirar todo o seu DNA e células,
    restando apenas as fibras naturais.
  • 0:34 - 0:37
    E essas fibras podem ser
    usadas como uma estrutura
  • 0:37 - 0:39
    para reconstruir tecidos vivos.
  • 0:39 - 0:41
    Eu sei que isso é um pouco estranho,
  • 0:41 - 0:44
    mas em nosso primeiro experimento
    de validação do conceito,
  • 0:44 - 0:46
    pegamos uma maçã,
  • 0:46 - 0:48
    esculpimos na forma de uma orelha humana,
  • 0:48 - 0:51
    e então pegamos aquela estrutura
    em forma de orelha,
  • 0:51 - 0:53
    a esterilizamos, processamos
  • 0:53 - 0:56
    e fizemos as células humanas
    crescerem dentro dela.
  • 0:56 - 0:59
    Em seguida, demos
    o próximo passo e a implantamos,
  • 0:59 - 1:00
    e conseguimos demonstrar
  • 1:00 - 1:04
    que as estruturas estimularam
    a formação de vasos sanguíneos,
  • 1:04 - 1:07
    permitindo que o coração
    os mantivessem vivos.
  • 1:07 - 1:10
    Então, não muito tempo depois
    que essas descobertas aconteceram,
  • 1:10 - 1:12
    eu estava em casa cozinhando
    aspargos para o jantar,
  • 1:12 - 1:14
    e depois de cortar as pontas,
  • 1:14 - 1:19
    percebi que os talos estavam cheios
    de feixes vasculares microcanais.
  • 1:19 - 1:20
    E isso realmente me lembrou
  • 1:20 - 1:25
    de todo um esforço de bioengenharia para
    o tratamento de lesões na medula espinhal.
  • 1:26 - 1:30
    Até meio milhão de pessoas por ano
    sofrem com este tipo de lesão,
  • 1:30 - 1:33
    e os sintomas variam de dor e dormência
  • 1:33 - 1:34
    a traumas devastadores
  • 1:34 - 1:38
    que levam a uma perda completa
    da função motora e independência.
  • 1:38 - 1:42
    E nessas formas de paralisia,
    não há estratégia de tratamento aceita.
  • 1:43 - 1:45
    Mas uma solução possível
  • 1:45 - 1:48
    pode ser usar uma estrutura
    com microcanais
  • 1:48 - 1:51
    que podem guiar neurônios em regeneração.
  • 1:51 - 1:56
    Então, será que poderíamos usar
    os aspargos e seus feixes vasculares
  • 1:56 - 1:58
    para reparar uma medula espinhal?
  • 1:58 - 2:02
    Esta é uma ideia realmente estúpida.
  • 2:02 - 2:04
    Em primeiro lugar,
    os humanos não são plantas.
  • 2:04 - 2:07
    Nossas células não evoluíram
    para crescer em polímeros de plantas
  • 2:07 - 2:12
    e tecidos vegetais não devem ser
    encontrados em sua medula espinhal.
  • 2:12 - 2:13
    E em segundo lugar,
  • 2:13 - 2:16
    idealmente, esses tipos de estruturas
    devem desaparecer com o tempo,
  • 2:16 - 2:19
    restando só um tecido natural e saudável.
  • 2:19 - 2:21
    Estruturas à base
    de plantas não fazem isso,
  • 2:21 - 2:24
    pois não temos as enzimas para quebrá-las.
  • 2:24 - 2:25
    Curiosamente,
  • 2:25 - 2:29
    essas qualidades eram exatamente o motivo
    pelo qual estávamos tendo tanto sucesso.
  • 2:29 - 2:32
    Ao longo de muitos experimentos,
    conseguimos demonstrar
  • 2:32 - 2:37
    que é a inércia do tecido vegetal
    que o faz exatamente tão biocompatível.
  • 2:38 - 2:41
    De certa forma, o corpo quase nem percebe,
  • 2:41 - 2:45
    mas as células em regeneração
    se beneficiam de sua forma e estabilidade.
  • 2:45 - 2:49
    Agora está tudo muito bem,
    mas eu sempre sentia esse peso de dúvida
  • 2:49 - 2:52
    quando se tratava de pensar
    sobre a medula espinhal.
  • 2:52 - 2:55
    Muitos cientistas estavam usando
    materiais de fontes tradicionais,
  • 2:55 - 2:58
    como polímeros sintéticos
    e produtos animais,
  • 2:58 - 3:00
    até mesmo cadáveres humanos.
  • 3:00 - 3:02
    Eu me sentia um completo intruso
  • 3:02 - 3:06
    sem nenhum direito real de trabalhar
    em um problema tão difícil.
  • 3:06 - 3:07
    Mas por causa dessa dúvida,
  • 3:07 - 3:12
    me cerquei de neurocirurgiões e médicos,
    bioquímicos e bioengenheiros,
  • 3:12 - 3:15
    e começamos a planejar experimentos.
  • 3:15 - 3:19
    A ideia básica é pegar
    um animal, anestesiá-lo,
  • 3:19 - 3:23
    expor sua medula espinhal
    e cortá-la na região torácica,
  • 3:23 - 3:26
    deixando o animal paraplégico.
  • 3:26 - 3:28
    Em seguida, implantar
    uma estrutura de aspargos
  • 3:28 - 3:30
    entre as extremidades cortadas
    da medula espinhal
  • 3:30 - 3:32
    para atuar como uma ponte.
  • 3:32 - 3:37
    Isso é crucialmente importante:
    estamos usando apenas aspargos.
  • 3:37 - 3:40
    Não estamos adicionando células-tronco
    ou estimulação elétrica,
  • 3:40 - 3:42
    exoesqueletos ou fisioterapia
  • 3:42 - 3:44
    ou produtos farmacêuticos.
  • 3:44 - 3:48
    Estamos simplesmente investigando
    se os microcanais na estrutura sozinhos
  • 3:48 - 3:51
    são suficientes para orientar
    a regeneração dos neurônios.
  • 3:51 - 3:53
    E aqui estão os principais resultados.
  • 3:53 - 3:58
    Neste vídeo, podemos ver um animal cerca
    de oito semanas após ser paralisado.
  • 3:58 - 4:02
    Veja que ela não consegue mover
    as patas traseiras, nem se levantar.
  • 4:02 - 4:06
    Sei como esse vídeo é difícil de assistir.
  • 4:06 - 4:11
    Minha equipe lutou todos os dias
    com esses tipos de experimentos,
  • 4:11 - 4:15
    e constantemente nos perguntamos
    por que estávamos fazendo isso...
  • 4:15 - 4:18
    até que começamos a observar
    algo extraordinário.
  • 4:19 - 4:22
    Este é um animal que recebeu um implante.
  • 4:22 - 4:24
    Não está caminhando perfeitamente,
  • 4:24 - 4:28
    mas está movendo as patas traseiras
    e até começando a se levantar.
  • 4:28 - 4:29
    E em uma esteira,
  • 4:29 - 4:32
    você pode ver essas patas
    se movendo de forma coordenada.
  • 4:32 - 4:35
    Esses são sinais cruciais de recuperação.
  • 4:37 - 4:42
    Ainda temos muito trabalho a fazer
    e há muitas perguntas a responder,
  • 4:42 - 4:45
    mas é a primeira vez que alguém mostra
  • 4:45 - 4:50
    que os tecidos vegetais podem ser usados
    para reparar uma lesão tão complexa.
  • 4:50 - 4:55
    Mesmo assim, analisamos
    esses dados há mais de cinco anos.
  • 4:55 - 4:59
    A dúvida nos levou a repetir
    esses experimentos várias vezes,
  • 5:00 - 5:02
    a ponto de quase levar
    meu laboratório à falência.
  • 5:02 - 5:04
    Mas eu continuei insistindo,
  • 5:04 - 5:07
    porque sabia que esses resultados podiam
    ser o início de algo extraordinário.
  • 5:09 - 5:10
    O que é igualmente empolgante
  • 5:10 - 5:14
    é que minha empresa está transferindo
    essas descobertas para a clínica,
  • 5:14 - 5:16
    para o mundo real.
  • 5:16 - 5:22
    Essa tecnologia acaba de ser indicada como
    um dispositivo médico inovador pela FDA.
  • 5:22 - 5:23
    E esta indicação significa
  • 5:23 - 5:26
    que estamos no meio do planejamento
    de ensaios clínicos em humanos
  • 5:26 - 5:29
    programado para começar
    em cerca de dois anos.
  • 5:30 - 5:31
    Gostaria de mostrar um protótipo
  • 5:31 - 5:34
    de um dos implantes
    de medula espinhal de última geração.
  • 5:34 - 5:38
    Ainda é feito de aspargos
    e contém todos esses microcanais.
  • 5:38 - 5:43
    E você pode ver que ele se move e dobra
    e tem a mesma textura do tecido humano.
  • 5:44 - 5:50
    Acho que a verdadeira inovação é
    que agora podemos projetar ou programar
  • 5:50 - 5:53
    a arquitetura e estrutura
    dos tecidos vegetais de tal forma
  • 5:53 - 5:58
    que poderiam dirigir o crescimento celular
    para atender a uma necessidade médica.
  • 5:58 - 6:02
    Como cientistas, passamos
    a vida no fio da navalha.
  • 6:02 - 6:05
    Por um lado, é nosso trabalho ampliar
    fundamentalmente os horizontes
  • 6:05 - 6:06
    do conhecimento humano,
  • 6:06 - 6:09
    mas, ao mesmo tempo,
    somos treinados para duvidar
  • 6:09 - 6:14
    de nossos dados, experimentos
    e de nossas próprias conclusões.
  • 6:14 - 6:16
    Passamos a vida esmagados sob o peso
  • 6:16 - 6:22
    da ansiedade constante, implacável
    e sem fim, da incerteza e dúvida.
  • 6:22 - 6:25
    E isso é algo com o qual realmente luto.
  • 6:25 - 6:30
    Mas quase todo cientista pode falar
    sobre a época em que ignorou suas dúvidas
  • 6:30 - 6:32
    e fez o experimento que nunca funcionaria.
  • 6:32 - 6:34
    E a questão é, de vez em quando,
  • 6:34 - 6:37
    um desses experimentos dá certo.
  • 6:37 - 6:38
    O desafio que enfrentamos
  • 6:38 - 6:41
    é que embora a dúvida possa ser
    nociva para a sua saúde mental,
  • 6:42 - 6:46
    é também o porquê o rigor científico é uma
    ferramenta tão potente para a descoberta.
  • 6:46 - 6:49
    Isso nos força a fazer perguntas difíceis
  • 6:49 - 6:51
    e repetir experimentos.
  • 6:51 - 6:53
    Nada nisso é fácil.
  • 6:53 - 6:56
    E muitas vezes torna-se
    nossa responsabilidade
  • 6:56 - 7:01
    suportar o fardo do experimento difícil
    e às vezes doloroso.
  • 7:02 - 7:05
    Em última análise, isso leva
    à criação de novos conhecimentos,
  • 7:05 - 7:07
    e, em alguns casos realmente raros,
  • 7:07 - 7:11
    o tipo de inovação que pode
    mudar a vida de uma pessoa.
  • 7:12 - 7:13
    Obrigado.
Title:
Podemos tratar lesões da medula espinhal com aspargos?
Speaker:
Andrew Pelling
Description:

Faça uma viagem alucinante ao laboratório enquanto o bolsista sênior do TED, Andrew Pelling, compartilha sua pesquisa sobre como poderíamos usar frutas, vegetais e plantas para regenerar tecidos humanos danificados, e desenvolver uma maneira potencialmente inovadora de reparar lesões complexas da medula espinhal usando aspargos.

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
07:27

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions Compare revisions