Buda da Medicina, Bhaishajyaguru (Yaoshi fo), c. 1319

Buda da Medicina Bhaishajyaguru (Yaoshi fo), c. 1319, Dinastia Yuan, pigmentos a base de água numa mistura de argila com palha, 751.8 cm x 1511.3 cm (Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque)

Estamos no Museu Metropolitano de Arte,
olhando uma pintura em mural em gesso.

Ela veio do gablete leste
do templo Guangsheng,

na província Shanxi.

O templo foi redescoberto
nos anos de 1930,

já que um conjunto de escrituras budistas,
as sutras, foi encontrado no templo.

E isto colocou o monastério em destaque.

Os monges decidiram retirar os murais
e vendê-los para restaurar o templo.

Esta tela foi retirada, e vendida
a um negociante de arte,

que a vendeu para Arthur Sackler,

e em 1964, Arthur Sackler deu a tela
para o Museu Metropolitano de Arte.

É deslumbrante, mas tão incomum.

Estou acostumado a ver pinturas
chinesas em rolo.

Pinturas em murais são comuns?

Na verdade, o primeiro formato importante
na China foi a pintura em mural.

Sabemos disso graças a textos e artigos
encontrados nos últimos 50 anos.

No noroeste da China, as Grutas de Mogao
têm uma enciclopédia enorme,

de pinturas budistas em murais do período
do século IV ao XIV.

Palácios e templos tinham pinturas
em mural,

que foi um formato importante
que não sobreviveu.

Esta pintura data do início do século XIV,

e a esta altura, o Budismo já estava
na China a uns mil anos,

isso mostra que este era um sistema
de representação bem desenvolvido.

Sim, a tela data da Dinastia Yuan, que era
formada por imperadores estrangeiros.

Então quando a tela foi pintada, a China
passava por uma transformação política.

A China estava sob o controle dos Mongóis,
ao invés dos Han.

Os Mongóis uniram a China,

e na corte, um estilo diferente
de pintura era usado.

Era um estilo bem mais associado
à arte himalaia, à arte tibetana.

Há um contraste enorme entre os bodisatvas
e a representação de Buda.

Buda parece tão deslocado.

Parece ser um estilo bem contido,

que contrasta com as roupas
de dança cheias de jóias.

Buda renunciou os laços mundanos

e por isso é representado
no traje de monge.

Os bodisatvas, seres altamente iluminados,
prometeram ficar no reino terrestre

para auxiliar os seres conscientes
a se libertarem da samsara,

que é o ciclo infinito do renascimento,

por isso ainda são representados
em trajes magníficos.

Buda é representado na posição de lótus.

Os gestos da mão de Buda são conhecidos
como mudra,

e geralmente os gestos nos indicam
qual Buda é representado.

Estou um pouco confuso porque estou
olhando para este Buda central.

Vi os longos lóbulos, a pequena elevação
na cabeça,

e eu presumi que este era
o histórico Buda.

Estas características também se manifestam
em outos budas?

O budismo surgiu ao norte da Índia
e se espalhou para a China.

No início Buda era uma pessoa.
Ele não era um Deus.

Este é o histórico Buda Shakyamuni.

Ele nasceu no sopé dos Himalaias.

Com o desenvolvimento da religião,

o tipo de budismo que se propagou
pela China é o chamado Maaiana.

Neste sistema de crença, existem budas
presidindo paraísos em toda parte.

Esta tela provavelmente é uma montagem
de Bhaishajyaguru, o Buda da Medicina.

Outro aspecto central no Budismo Maaiana
é o bodisatva.

Por ser uma religião de piedade,

e pelo bodisatva ser uma figura piedosa,

grande veneração se concentrou
no bodisatva no Budismo Chinês.

Ao descer, saímos da representação
celestial

que vemos na parte de cima
para uma estrutura real.

Vemos os bodisatvas e Buda sentados
em flores de lótus.

Há um pedestal abaixo, belamente decorado,

e abaixo dele, vemos subalternos
secundários sentados

no nosso nível pelo modo que a tela
foi pendurada no museu...

- Mas que ainda estaria bem alto.
- Mais alto ainda.

Podemos ver uma variedade de oferendas

que estão isoladas pelo pedestal
de lótus e uma auréola atrás.

Se olhamos para Buda, os bodisatvas,
ou estas figuras abaixo,

há uma ênfase nesta linda
forma curvilínea.

Quase tudo é traçado com um contorno
bem pesado.

Isto fica bem evidente nos cachecóis
que envolvem todas as figuras.

Podemos ver que o movimento e o fluxo
são articulados com as linhas.

Vejam como a abundância
das figuras é articulado.

Isto também é feito com as linhas
que engrossam e afinam.

E a cor fantástica também.

A cor seria mais vibrante, e se pensarmos
da tela no templo,

ela ficaria num espaço com outras
pinturas em murais,

mas também com esculturas
altamente pigmentadas.

A tela foi feita para um monastério.
Ela pretende ser instrutiva?

Pinturas budistas eram feitas por artesãos
e fiscalizadas por monges,

o que certificava que a iconografia
estava certa.

As esculturas e pinturas budistas tinham
fins didáticos.

A iconografia é tão específica.

É fascinante que até agora não temos
certeza do que a tela trata.

É interessante que na arte budista
chinesa,

ainda há muitos aspectos para pesquisar.

Este é lembrete de que a história
da arte está viva.

Nós ainda mudamos de opinião.

[Legendado por Sophia Bento]
[Revisado por Tiago Bordin]