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Um corpo deformado, dores insuportáveis,
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e um odor tão nauseabundo
que fazia desmaiar os cortesãos.
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Depois da morte, fluidos cadavéricos
escorreram do caixão
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e foram lambidos por cães vadios.
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Foi este o terrível fim de um dos monarcas
mais temidos da História.
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Hoje vamos revelar a verdadeira história
da morte de Henrique VIII da Inglaterra,
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uma história tão grotesca
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que raramente é contada
na sua total realidade repugnante.
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Henrique Tudor nasceu
a 28 de junho de 1491,
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Quando subiu ao trono aos 17 anos,
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foi considerado o príncipe
mais bonito da Europa.
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Alto, atlético, com cabelo castanho arruivado,
e um porte majestoso.
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Um embaixador de Veneza escreveu
que ele possuía uma figura extraordinária
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e um semblante angelical,
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uma beleza superior
a qualquer outro príncipe cristão.
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Então, como é que este modelo
de virilidade e de poder
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acabou sofrendo uma morte tão degradante?
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O ponto de viragem foi um acidente
que ocorreu em janeiro de 1536,
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durante um torneio de justa em Greenwich.
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Aos 44 anos, Henry sofreu uma queda terrível
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quando o cavalo caiu em cima dele.
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O rei manteve-se inconsciente
durante duas horas
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e, embora tenha sobrevivido,
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o ferimento na perna direita
nunca se curou totalmente.
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Esse ferimento transformou-se
numa úlcera aberta
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que estava sempre a supurar,
exalando um odor fétido
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que anunciava a presença dele
ainda antes de ele entrar numa sala.
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Era uma humilhação devastadora
para um rei tão vaidoso.
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Os cortesãos eram obrigados a suportar
esse cheiro sem mostrar repugnância
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sob pena de sofrerem a ira real.
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O acidente também marcou o início
duma transformação no comportamento.
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Por coincidência ou não, ocorreu
durante o mesmo período
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quando Henrique ordenou a execução
da sua segunda mulher, Ana Boleyn,
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sob acusações fabricadas
de adultério e traição.
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Alguns historiadores sugerem
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que o trauma cerebral
resultante da queda
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pode ter exacerbado tendências existentes
para paranoia e acessos de raiva.
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Com uma mobilidade reduzida,
o rei começou a ganhar peso rapidamente.
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A cintura dele, que media 89 cm
na juventude,
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foi aumentando para mais de 130 cm.
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O peso ultrapassou os 180 kg,
tornando-o tão obeso
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que precisava de ser transportado
entre os apartamentos reais
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usando um sistema de polias
especialmente concebido para isso.
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Os caixilhos das portas dos palácios
tiveram de ser alargados para ele poder passar.
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A dieta real contribuiu em muito
para o seu declínio.
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Registos da cozinha mostram
que Henrique consumia
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cerca de 5000 calorias por dia,
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principalmente a partir de carnes vermelhas
e muito poucos vegetais.
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Um jantar habitual incluía
vários tipos de empadas de carne
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e quantidades impressionantes
de vinho e cerveja.
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Este regime, aliado
a uma inatividade forçada
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acelerou drasticamente
a deterioração física.
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As úlceras nas pernas
foram piorando com o tempo.
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Os físicos aplicavam tratamentos
que hoje sabemos serem prejudicais:
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cauterização com ferro em brasa,
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aplicação de misturas contendo
arsénico e mercúrio
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e regulares sangrias que só
o enfraqueciam ainda mais.
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As feridas tornaram-se tão graves
que até se viam os osssos
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através da carne em decomposição.
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O cheiro era tão nauseabundo
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que a presença dele era detetada
a três salas de distância.
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Aos 49 anos, Henrique
casou com Catherine Howard,
uma jovem de 19 anos.
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Ele descreveu este casamento
como um regresso à juventude.
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Mas a diferença de idades, aliada
à sua situação física,
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tornou esta união num espetáculo grotesco.
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Catherine, incapaz de suportar
aquele marido deformado e malcheiroso,
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procurou consolo nos braços
dum cortesão mais jovem.
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Quando o caso foi descoberto,
o rei ordenou a execução dos dois.
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O último casamento com
Catarina Parr, em 1543,
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foi mais um arranjo político
do que romântico.
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Catarina assumiu mais o papel
duma enfermeira do que de uma mulher,
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cuidando do rei moribundo
com uma dedicação surpreendente,
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considerando o destino
das suas antecessoras.
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Nos seus últimos anos, Henrique
sofreu de múltiplas doenças.
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Os especialistas atuais pensam
que ele devia sofrer de diabetes,
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de gota grave, de hipertensão
e de insuficiência cardíaca.
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Alguns sugerem a sífilis,
embora este diagnóstico
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seja posto em causa
por muitos historiadores modernos.
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Esta combinação de doenças
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transformou os seus últimos anos
num tormento permanente.
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Relatos deste período descrevem
como o rei alternava
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períodos de dores insuportáveis
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durante os quais gritava e praguejava
todos à sua volta
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com momentos de profunda melancolia,
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quando se mantinha imóvel durante horas.
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A paranoia de Henrique intensificou-se
ao longo deste sofrimento físico.
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O outrora brilhante estadista
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tornou-se obcecado
por conspirações imaginárias,
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executando amigos íntimos
e conselheiros leais
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por suspeitas infundadas.
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O terror dominava na corte
porque um comentário imprudente
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ou um olhar mal interpretado
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podia resultar numa acusação de traição.
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Por exemplo, ordenou a execução
de Henrique Howard, Conde de Surrey,
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nove dias antes de morrer.
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O medo que tinha de ser envenenado
tornou-se uma obsessão.
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Implementou um elaborado sistema
de segurança alimentar
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exigindo que criados provassem cada prato
antes de o porem na mesa.
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Todos os utensílio eram inspecionados
meticulosamente.
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Esta fixação pode ter sido um sintoma
duma crescente instabilidade mental
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ou o resultado de repetidos ataques menores.
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À medida que o fim se aproximava,
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o sofrimento de Henrique atingiu
níveis quase inimagináveis.
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Nos últimos meses, quase não conseguia
mover-se, mesmo com ajuda.
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A gangrena apoderara-se das pernas
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intensificando o odor quase insuportável.
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A corte real passou a ser um local
de miasmas e de sussurros.
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em que os cortesãos tapavam o nariz
com lenços encharcados de perfume,
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forçando-se a manterem-se na presença do rei.
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Durante o último inverno, de 1546 para 1547,
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a saúde do rei deteriorou-se rapidamente.
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Sofria de febres recorrentes,
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provavelmente devidas a septicémia
das muitas infeções no corpo.
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A respiração tornou-se
cada vez mais difícil
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e os episódios de delírio
passaram a ser frequentes.
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Testemunhas contaram
que, nesses momentos,
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o rei murmurava com frequência os nomes
das suas mulheres já mortas,
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em especial de Jane Seymour,
que morrera depois de dar à luz
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o seu único filho legítimo
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e, possivelmente, o de Ana Boleyn,
cujo fantasma o atormentava.
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Curiosamente, apesar da sua situação
obviamente terminal,
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ninguém na corte se atrevia a sugerir
que o rei estava a morrer.
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A lei inglesa considerava ser traição
prever a morte do monarca.
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Por isso, os físicos e os cortesãos
mantinham a fachada
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de que era possível uma recuperação,
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mesmo quando o cheiro da decomposição
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já estava a emanar daquele corpo
ainda vivo.
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No dia 27 de janeiro de 1547,
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percebendo que o seu fim estava próximo,
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Henrique permitiu finalmente
que o Arcebispo Thomas Cranmer
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fosse chamado à sua cabeceira.
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Impossibilitado de falar,
apertou a mão de Cranmer,
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quando ele lhe perguntou
se norria na fé cristã.
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Foi este o seu último gesto consciente.
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Nas primeiras horas de 28 de janeiro,
aos 55 anos,
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o outrora poderoso rei
exalou o seu último suspiro.
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Mas a indignidade da sua situação
não terminou com a morte.
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Devido ao seu tamanho enorme,
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tiveram de construir um caixão especial
para conter os seus restos mortais,
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Preparar o corpo para o funeral
foi um problema horroroso
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para os embalsamadores reais.
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O processo de embalsamento na época
era rudimentar,
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envolvendo sobretudo a remoção das vísceras
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e o enchimento das cavidades
com plantas aromáticas.
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Durante os dias seguintes,
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enquanto o corpo aguardava
o funeral de estado,
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ocorreu um dos episódios mais macabros
associados a Henrique.
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O caixão mal selado
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que continha os gases e os fluidos
da decomposição
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começou a verter, enquanto aguardava
na capela da Abadia Syon.
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Durante a noite, relatos da época
descrevem uma cena arrepiante.
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Fluidos cadavéricos escorreram
pelo chão da capela
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onde foram descobertos por cães vadios
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que lamberam aquela substância pútrida.
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Esta história registada
pelos cronistas da época
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representa um fim
profundamente humilhante
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para um rei que tinha criado uma imagem
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de poder, de majestade
e de autoridade divina.
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O poderoso Henrique que desafiara o Papa,
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redefinira a religião inglesa
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e enviara duas mulheres para o cadafalso,
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acabava como uma massa de carne apodrecida,
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o corpo violado por animais vadios.
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Finalmente, o funeral realizou-se
em 16 de fevereiro de 15,
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quase três semanas depois da sua morte.
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Apesar do cheiro insuportável
que emanava do caixão,
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ass cerimónias foram realizadas
com pompa e circunstância
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como esperado para um monarca tão poderoso.
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oi sepultado na Capela de São Jorge,
no Castelo de Windsor,
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ao lado de Jane Seymour,
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a única mulher que lhe dera
o tão desejado herdeiro varão,
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Eduardo VI.
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Ironicamente, Eduardo, cuja existência
tinha motivado
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muitas das controversas decisões de Henrique,
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incluindo a rotura com Roma,
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reinou só durante 6 anos,
antes de morrer de doença aos 15 anos.
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O trono passou depois para Maria I,
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filha de Catarina de Aragão,
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que tentou reverter as reformas
protestantes do pai
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e, por fim, para Isabel I,
filha de Ana Bolena,
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que instituiria uma idade de ouro
na história da Inglaterra.
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A morte grotesca de Henrique VIII
serve de poderoso aviso
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quanto aos limites do poder humano.
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O rei que se considerava acima da lei,
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capaz de redefinir a religião nacional,
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e de dispor de vidas humanas`
conforme queria,
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no final, foi uma vítima
do seu corpo mortal.
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A morte dele não foi apenas
o fim de um homem
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mas o símbolo do declínio de uma era.
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A historiadora inglesa
Alison Weir escreveu:
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"É um dos grandes paradoxos da História
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"que um homem que começou
com tanta promessa, beleza e capacidade
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"tenha acabado como uma grotesca
caricatura de si mesmo."
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Atormentado por dores físicas
e instabilidade mental,
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receado e lisonjeado
por todos à sua volta,
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mas raramente amado de verdade.
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A transformação de Henrique VIII
de um príncipe ideal do Renascimento
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para um tirano obeso e doente,
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mantém-se como um dos estudos
de caso mais fascinantes
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de como o poder absoluto
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combinado com dores crónicas
e doença progressiva
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pode transformar um indivíduo.
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O seu legado político, a separação
da Inglaterra de Roma
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e a instituição da Igreja Anglicana
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continua a modelar o mundo moderno.
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Mas o seu fim pessoal serve de alerta
para a fragilidade humana.
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Os últimos momentos da vida de Henrique
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com a sua respiração deficiente
e corpo deformado
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contrastam drasticamente
com os retratos oficiais
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que o mostram na sua majestade real.
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Esta dissonância entre imagem pública
e realidade privada
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é uma das grandes lições
da sua vida e morte.
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Assim terminou a existência
de um dos monarcas mais célebres da História.
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não em glória,
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mas com um fedor insuportável
e um fim indigno da sua coroa.
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O homem que transformou a Inglaterra
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e alterou para sempre o curso
da história ocidental
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acabou tal como todos nós,
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vítima da inevitável deterioração da carne.
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A morte de Henrique VIII
não foi apenas um acontecimento histórico,
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foi também um momento simbólico
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que se reflete na natureza efémera do poder.
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Nos seus últimos anos,
à medida que o corpo do rei se deteriorava
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também o mesmo acontecia ao mito
da invulnerabilidade real.
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A monarquia, uma instituição divina,
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que se considerava acima
das leis da Natureza
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era forçada a reconhecer
a sua própria mortalidade.
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A ironia final na vida de Henrique VIII
é que o homem que lutou tanto
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para garantir uma linhagem msculina
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ao ponto de romper com Roma
e de executar duas mulheres,
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gerou um filho frágil
que iria morre novo.
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O seu verdadeiro legado
seria através das suas filhas,
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em especial Isabel I,
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filha da mulher que executara
sob falsas acusações.
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Talvez que a lição ais profunda
na morte de Henrique VIII
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é que nem sequer o poder absoluto
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pode vencer as limitações
do corpo humano.
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O homem que reescreveu
as leis do seu país,
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para satisfazer os seus desejos
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não pôde reescrever as leis da Natureza.
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No fim, até o mais poderoso dos reus
enfrenta o mesmo destino
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que o mais humilde dos seus súbditos.
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A morte de Henrique VIII
não é penas uma história de terror médico
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mas um conto moral sobre
os limites do poder humano
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e a inevitabilidade da deterioração física.
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O corpo dele, que outrora tinha sido admirado
como a encarnação da realeza,
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tornou-se num símbolo da transitoriedade
de toda a glória terrena.
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Esta narrativa lembra-nos
que, no final,
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somos todos iguais perante a morte
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independentemente dos nossos feitos
ou da posição social.
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A terrível morte de Henrique VIII
continua a fascinar e a horrorizar
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precisamente porque revela
a humanidade vulnerável
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por trás da fachada do poder absoluto.