Smile - Release | Thich Nhat Hanh (short teaching video)

Minha querida sangha,
hoje é 2 de junho de 1998,

e estamos no retiro de 21 dias
em Burlington, Vermont.

A nossa respiração deve ser
agradável,

deve trazer-nos alegria.

E...

se acontecer que
não saibas o que fazer,

nesse momento, a coisa certa a fazer é
voltar à tua respiração

e desfrutar da tua respiração,

porque a tua respiração é agradável.

E quando desfrutas da tua respiração,
sabes que estás a fazê-lo bem.

Acredito que já conheces
o exercício "Inspiro/Expiro, Profundo/lento,

Calmo/suave,
Sorriso/libertação,

Momento presente/momento maravilhoso."
Este exercício é muito agradável de praticar.

Quando conduzes o teu carro,
podes praticar...

este pequeno poema para a tua respiração.

Quando estás sentado num autocarro ou num comboio,

praticas também
"Inspiro/Expiro, profundo/lento."

E suponhamos que estás
a lavar a loiça na cozinha.

Esse também é o momento para praticar
"Inspiro/Expiro, profundo/lento,"

e sorrir para ti mesmo, sorrir para
a tua presença e para a tua lavagem da loiça.

"Inspirando, sei que estou a inspirar;
Expirando, sei que estou a expirar."

E resumimos estas duas frases
como "Inspiro/Expiro."

Respira de uma forma que desfrutes
da tua inspiração e expiração.

Então isso é um sucesso.

É um exercício muito simples,
e ainda assim, se o fizeres,

vais perceber milagres.

Basta inspirar
e desfrutar disso.

Expirar e desfrutar disso.

E ser um só com a tua inspiração.
Ser um só com a tua expiração.

E tornar-te totalmente vivo,
totalmente presente no aqui e agora.

Isso é nada menos que um milagre

que podes produzir
a qualquer momento da tua vida diária.

"Inspirando, sei que estou a inspirar;
Expirando, sei que estou a expirar."

Inspiro

Expiro

Quando fazes isso, a atenção plena está lá,
a concentração está lá, e a vida está lá.

Páras todos os teus pensamentos, os teus projetos.

És um com a tua respiração.
É maravilhoso.

Após alguns minutos a respirar assim,

a qualidade da tua respiração
vai melhorar por si mesma.

E podes querer experimentar a segunda linha:
"profundo/lento."

Significa: "Inspirando, sei que
a minha inspiração se tornou profunda."

Tornou-se profunda por si mesma,

não porque tenhas a intenção
de a tornar mais profunda.

Se praticares "inspiro/expiro"
durante algum tempo,

naturalmente a tua inspiração
vai tornar-se mais profunda e mais lenta.

Isso não pode ser evitado.

Quando a atenção plena toca algo,
isso melhora a qualidade desse algo.

É por isso que a tua respiração
se tornou mais harmoniosa,

mais calma,

e isso produz uma sensação mais agradável
no teu corpo e na tua consciência.

Então "profundo/lento" significa:

"Inspirando, noto que
a minha inspiração se tornou mais profunda;

Expirando, noto que
a minha expiração se tornou mais lenta."

Significa apenas que
a qualidade da minha respiração...

melhorou.

Quando começas este exercício,

o prazer já está lá

com o "inspiro/expiro."

E esse prazer...

continua a crescer
com a tua prática de "inspiro/expiro."

E agora,
quando chegas a "profundo/lento,"

sabes que
desfrutas ainda mais,

porque agora a tua inspiração e expiração
tornaram-se mais profundas e mais lentas,

mais calmas, mais harmoniosas,

e isso ajuda o teu corpo
a estar mais calmo e mais harmonioso.

E também tem um efeito
na tua consciência, na tua mente.

Então, quando praticas "profundo/lento,"
claro que o prazer é maior,

porque a qualidade da respiração
aumentou.

E mais tarde podes experimentar
a terceira linha do gatha.

"Calmo, suave."

"Inspirando, sinto-me calmo

no meu corpo e na minha mente."

Se quiseres,

podes vê-lo como "Inspirando,
acalmo as atividades do meu corpo,"

"Acalmo a formação chamada corpo."

"Expirando, acalmo a formação
chamada sensação."

Isto é exatamente a prática
recomendada pelo Buda,

no sutra sobre a respiração consciente.

"Experienciando a sensação, inspiro;
Experienciando a sensação, expiro."

"Acalmando a sensação, inspiro;
Acalmando a sensação, expiro."

"Calmo" significa: "Inspirando,
sinto-me calmo dentro de mim."

Não só o meu corpo está calmo,

mas também o meu sentimento
se tornou calmo.

Assim, experimentas o teu corpo,
experimentas o teu sentimento,

e inspiras e expiras
para acalmar as formações...

primeiro o teu corpo
e depois os teus sentimentos.

"Suave" significa: "Expirando...

sinto-me à vontade, alivio tudo,
encaro tudo com leveza.

Tomo o tempo para viver a minha vida diária.

Não estou com pressa.

Sinto-me maravilhosamente bem neste momento."

Isso significa suavidade—
sentes-te leve.

Não te sentes sobrecarregado
pelas tuas preocupações, pelas tuas aflições.

Sentes que tens liberdade
dentro de ti...

dentro do teu corpo.
Sentes que és tu mesmo,

não uma vítima das tuas preocupações,

não uma vítima do teu passado
e das tuas ansiedades sobre o futuro.

"Calmo, suave."

E, claro, esse exercício é
também muito recompensador, muito agradável.

"Inspirando, sinto-me calmo
no meu corpo, no meu sentimento;

Expirando, sinto-me completamente
à vontade comigo mesmo.

Encaro tudo com leveza."

Inspiro/Expiro, profundo/lento, calmo/suave,

e depois "sorriso/libertação."

"Inspirando, sorrio;
Expirando, liberto-me."

Liberto-me dos meus projetos,
das minhas preocupações sobre o futuro,

dos meus arrependimentos em relação ao passado,

porque o momento presente
é maravilhoso.

E sou capaz de tocar
as maravilhas da vida no momento presente.

"Inspirando, sorrio."

E o sorriso tem a capacidade
de libertar todas as tensões que restam

no teu rosto, no teu corpo.

Este é um sorriso de vitória.

Este é um sorriso
de bondade amorosa

dirigido ao teu próprio corpo,
aos teus próprios sentimentos.

E quando expiras,
tornas-te uma pessoa muito mais livre.

"Libertação."

Nada é tão importante
quanto a tua paz,

a tua estabilidade,
a tua liberdade.

Não podes trocar estas coisas valiosas
por nada.

Nada vale a pena...

se for à custa do teu bem-estar,
da tua liberdade, da tua leveza.

Então, "libertação" aqui significa
que te tornaste tu mesmo.

És capaz de libertar
todas as tuas "vacas"—

as tuas ideias,
até mesmo as tuas ideias de felicidade.

Cada um de nós está preso...

à sua própria ideia de felicidade.

Acreditamos que só seremos verdadeiramente felizes
quando certas condições...

forem satisfeitas.

Então, temos uma ideia sobre felicidade.

E não sabemos que...

essa própria ideia de felicidade
é o obstáculo para sermos felizes.

E se fores capaz de libertar
essa ideia de felicidade,

a felicidade nascerá em ti imediatamente.

Bem, há um jovem que pensa...

que só pode ser feliz
se conseguir aquele diploma, aquele curso.

Há outra pessoa jovem que diz que,

se não conseguir aquele cargo,
se não puder casar-se com aquela pessoa,

então a felicidade não será possível.

Assim, estabelecemos condições para a nossa felicidade,
e ficamos presos a essa ideia.

Mas a felicidade pode chegar até nós
a qualquer momento,

se formos pessoas livres.

Porque é que estás comprometido
apenas com uma ideia de felicidade?

Quando te prendes
a uma única ideia de felicidade,

estás a limitar a tua capacidade de ser feliz.

E se libertares
essa ideia de felicidade,

a felicidade pode vir
de todas as direções.

Um país pode ficar preso
a uma única ideia de felicidade.

Toda a nação pode acreditar que
"se não realizarmos este plano de cinco anos,

se não abraçarmos esta ideologia
e a concretizarmos,

não haverá futuro
para o nosso país, para o nosso povo."

E talvez, durante 50 ou 70 anos,

fiquemos presos a essa ideia de felicidade

e criemos imensa tragédia
dentro do nosso país, do nosso povo,

simplesmente porque nos deixámos prender
por uma única ideia de felicidade.

E talvez, 50 ou 70 anos depois,
descubramos que...

essa ideia de felicidade foi, afinal,
o obstáculo para a felicidade

de toda a nação.

Se tivermos sorte,
podemos libertar-nos dessa ideia.

Como indivíduos,
cometemos o mesmo tipo de erro.

Inventamos uma ideia de felicidade.

Apegamo-nos a ela.

E dizemos que, se não a realizarmos,
a felicidade nunca será possível.

É por isso que muitos de nós
não conseguimos ser felizes.

Por isso, libertar...

libertar coisas,
deixar ir coisas...

é uma prática muito importante.

E entre essas coisas,
está a ideia de felicidade.

Vamos olhar profundamente
para a nossa ideia de felicidade,

e podemos descobrir que
é exatamente essa ideia de felicidade

que nos tem impedido
de sermos felizes.

E este ensinamento
é muito claro no Budismo.

"Inspirando, sorrio.

Sei que a felicidade é possível
a qualquer momento.

As maravilhas da vida estão disponíveis
a qualquer momento.

Posso tocá-las.
Posso ser feliz sem nenhuma condição."

E é por isso que,
ao expirar, posso libertar-me.

És muito sábio
se consegues libertar-te das coisas

que no passado
te impediram de ser feliz.

Podes sentir-te extremamente feliz
simplesmente sentado ali...

e inspirando e expirando.

Não tens de fazer nada,
não tens de alcançar nada,

basta sentares-te ali,

e se souberes como inspirar e expirar,
podes sentir uma felicidade imensa.

Desfrutas do milagre da vida,
de simplesmente estares presente.

Assim, "sorriso/libertação"
pode trazer-te muita felicidade.

Precisas de te nutrir

com essa alegria, essa felicidade.

E essa alegria, essa felicidade,
podem ajudar a curar...

as feridas no teu corpo
e na tua alma.

E finalmente,
o último exercício proposto no gatha:

"Momento presente,
momento maravilhoso."

"Inspirando, estabeleço-me
no momento presente.

Expirando, sei que
este é um momento maravilhoso."

Se alguém te perguntar:

"Já chegou o momento
mais maravilhoso da tua vida?"

Podemos sentir-nos embaraçados...

Podemos dizer: "Bem,
parece que ainda não chegou...

mas acredito firmemente
que chegará em breve.

Caso contrário,
a minha vida não terá sentido.

Tenho esperado que o momento
mais maravilhoso da minha vida chegue."

Mas se usarmos a nossa inteligência
para observar, sabemos que...

se continuarmos a viver

exatamente da mesma forma
como vivemos nos últimos 20 anos—

sem atenção plena,

sempre a correr,

sempre a tentar escapar—

então o momento mais maravilhoso
das nossas vidas dificilmente...

chegará nos próximos 20 anos.

Isso é algo lógico.

Mas neste ensinamento, aprendemos...

que precisamos...

de fazer do momento presente
o momento mais maravilhoso da nossa vida,

porque o momento presente
é o único momento disponível.

E se soubermos como
regressar a ele,

estar totalmente presentes,

tocar as maravilhas da vida
neste momento,

então esse momento
pode tornar-se o mais maravilhoso da nossa vida.

E sabemos que temos
a capacidade de o fazer.

E através de práticas muito simples como...

caminhar, respirar,

sorrir,

tocar com atenção plena
as belezas e as maravilhas da vida,

podemos criar...

o paraíso.

Podemos tornar
o Reino de Deus acessível para nós

aqui e agora.