-
(Sinos tocam quatro vezes)
-
Saudações, queridos,
Espero que estejam tão bem quanto possível.
-
Estejam neste momento presente.
-
Sou Larry Ward, Dr. Larry Ward,
-
e é um prazer estar convosco,
pela primeira vez ou novamente.
-
Este é um tempo mágico do ano
no hemisfério norte,
-
celebrado há séculos
em todo o mundo,
-
da China ao Japão, à Europa,
e todos os países por lá.
-
O sol permanece imóvel.
-
Estou aqui em Querétaro,
Santiago de Querétaro, México.
-
A Peggy já mencionou
a história indígena deste lugar,
-
que é rica em povos viajantes.
-
Este é também um dos berços
da revolução mexicana,
-
recentemente celebrada
no Dia da Independência.
-
Um poema para vocês:
-
Está frio aqui agora.
-
Pode estar ainda mais frio onde estão,
-
mas estamos aqui juntos.
-
A escuridão fora das nossas janelas,
-
envolvendo os nossos ossos com vastidão,
-
que pode espelhar a escuridão interior.
-
A noite escura da alma, talvez.
-
A ausência de certezas.
-
Mas, talvez, a certeza
já não seja um esforço necessário.
-
Habitar na bênção da confiança
é o meu refúgio.
-
Encontro-a em todo o lado.
-
O sol está a regressar, sim,
mas nunca partiu.
-
Mesmo no centro dos buracos negros
encontramos luz.
-
O caminho está claro.
-
A Terra, o ritmo, é eterno.
-
Nos tempos antigos,
era encorajado olhar para dentro,
-
para a iluminação
que já vivia em nós.
-
Com a luz agora a brilhar, talvez, para ti,
sobre este ano que passou, neste tempo precioso,
-
seja como for que tenha sido a tua vida
como experiência neste último ano,
-
por mais triste, por mais dolorosa,
por mais alegre,
-
é a tua vida preciosa a cantar a sua canção,
-
a sorrir-te, na escuridão,
-
uma luz radiante
que se torna mais brilhante na quietude,
-
e na celebração,
-
e na reverência,
-
e, oh sim, na alegria
que não nos desilude,
-
a alegria da libertação.
-
Continuemos, com o sol nascente,
a irradiar a nossa própria luz, por todo o lado.
-
Uma das grandes qualidades da luz,
e da escuridão, é que brilham de igual forma,
-
(Risos)
-
e não brilham de igual forma.
-
A escuridão está disponível
para todos no nosso planeta,
-
e a luz também.
-
Está cheia de equanimidade,
a escuridão e a luz.
-
Espelhos, dizem alguns, uma da outra.
-
Irmãs próximas, dizem outros.
-
Outros focam-se no paradoxo
que representam,
-
tanto fora de nós,
como dentro de nós.
-
Carl Jung defendia fortemente
que o futuro da humanidade dependerá
-
de como lidamos com a escuridão
dentro de nós mesmos.
-
Acho que não é fácil abraçar
-
todas as nossas capacidades,
todas as nossas tendências.
-
Isso requer um nível de autoconsciência
que pode ser, diariamente, excruciante.
-
(Risos)
-
É assim que o sinto,
-
mas também encontro dentro disso
aquilo que era excruciante,
-
a derreter, a desvanecer-se,
-
na corrente de bondade ancestral
da qual faço parte, convosco.
-
Este momento de escuridão,
-
na velha expressão,
-
não apagou a luz.
-
Esta é uma prática importante
para lembrar dentro de nós,
-
bem como quando olhamos
para fora de nós,
-
para o mundo em que vivemos agora.
-
O nosso sistema nervoso
está programado pela evolução
-
para recordar o que é mais assustador,
e mais negativo, mais intensamente,
-
(Risos)
-
e por boas razões: sobrevivência,
-
mas, por causa disso,
tendemos a ignorar o que não é negativo.
-
Os meios de comunicação concentram-se no negativo.
-
Muitas das nossas conversas
focam-se no que não está a funcionar,
-
e há muito que não está a funcionar,
e há muito que é negativo.
-
O que estou a tentar dizer é que,
-
lembrarmo-nos do que damos atenção
com a nossa mente, molda a nossa mente,
-
e do ponto de vista da neurociência,
-
acreditamos que é preciso cinco vezes mais
atenção ao que é positivo,
-
para equilibrar um único negativo,
-
em termos da tua atenção
e do impacto que tem na tua estrutura neural,
-
e na biologia do teu sistema nervoso.
-
É por isso que podes ter
um dia ótimo no trabalho, ou em casa,
-
e depois sair para conduzir
e uma pessoa pode arruinar-te o dia.
-
Um momento, uma expressão,
um gesto, um comentário,
-
consciente ou inconsciente,
não é esse o ponto que quero salientar.
-
O ponto que quero salientar é
-
o quanto precisamos de prestar atenção
ao que nos nutre, ao que cuida de nós,
-
ao que mantém o nosso próprio fogo interior vivo.
-
Não chegaremos onde queremos estar
neste mundo,
-
nem levaremos os nossos filhos ou as gerações futuras
aonde queremos que estejam,
-
não só os humanos, mas todas as espécies,
-
sem darmos um passo evolutivo audacioso,
-
aprendendo a baixar as nossas defesas,
-
para que possamos realmente descobrir
o que fazer juntos acerca da confusão em que estamos.
-
Para mim, esta é parte
da mensagem do solstício.
-
Estamos muito no escuro
uns sobre os outros,
-
porque, na maioria das vezes,
tudo o que sabemos uns sobre os outros,
-
não sabemos, de facto,
uns sobre os outros.
-
Sabemos histórias,
uns sobre os outros,
-
mas muitas vezes, quase sempre, nunca nos encontramos,
-
como espécies únicas neste planeta.
-
A escuridão também representa aquilo que não está lá, o que está ausente.
-
Quando olhas para trás, para o teu último ano,
-
ou quase o teu último ano,
neste enquadramento de calendário,
-
o que já não está mais presente na tua vida?
-
Sem culpas, sem julgamentos,
apenas o que já não está?
-
O que está ausente?
-
O que se dissolveu no oceano do tempo?
-
O que já deixaste ir?
-
No melhor sentido de deixar ir:
como não agarrar-se.
-
Essa é uma das práticas
que tenho feito comigo próprio esta última semana
-
e que continuarei no novo ano.
-
Tenho um aniversário no próximo mês
—não é para ser um anúncio—
-
mas tenho sentido
que ainda tenho potencial.
-
Tenho potencial presente.
-
E por isso, uma das perguntas
em que gostaria que meditasses para ti mesmo,
-
neste tempo em que estamos, é:
quais são os teus potenciais presentes?
-
O que ainda tens
capacidade de trazer a este mundo?
-
Por mais pequeno que seja, não importa,
-
porque aquilo que sabemos
pela tradição Huayan do Budismo
-
é que dentro do muito pequeno
existe o muito grande.
-
Como poderia um rapazinho camponês do Vietname
tornar-se o Mestre Zen Thích Nhất Hạnh?
-
E dentro de cada pequena pessoa,
cada ser humano,
-
cada planta, animal e mineral,
está o muito grande: até num grão de pó.
-
Esta é a luz que está disponível,
na escuridão,
-
onde podemos ver,
onde podemos tocar,
-
janelas de iluminação para a nossa vida preciosa,
para a nossa experiência,
-
mas também sei
-
que pensar no que está ausente
na tua vida agora
-
pode trazer tristeza, mágoa, raiva,
medo, alegria, gratidão, paz, entusiasmo:
-
todo o espectro da emoção humana
flui através de todos nós, o tempo todo
-
—cada molécula disso—
-
e às vezes
estas moléculas dançam juntas,
-
outras vezes dançam separadas
e tornam-se muito dominantes,
-
na nossa experiência de ser humano,
-
mas é tudo parte da nossa experiência
do milagre de uma vida preciosa.
-
Não sei quantos de vós já ouviram falar
da obra sobre a noite escura da alma,
-
de João da Cruz.
-
Não quero tornar isto católico nem nada disso,
mas é um texto que conheço bem,
-
que estudei e ensinei,
-
e que,
-
muitos de nós temos essa compreensão errada,
de que a noite escura da alma
-
(Risos)
-
é porque estamos a aproximar-nos da luz.
-
(Risos)
-
Não é que a luz esteja a apagar-se,
é que está tão brilhante que parece escura.
-
E por isso, qualquer sofrimento
em que possas estar neste momento,
-
em que eu possa estar, e em que estamos juntos,
é importante saber que é:
-
1) Impermanente
-
2) Está vazio de uma entidade de eu separado.
Não existe por si só.
-
O meu sofrimento não existe por si só,
nem a minha alegria.
-
E sabendo isto, consigo viver livremente,
-
sem ficar preso à comparação,
embora note as diferenças,
-
sem ficar preso à aversão,
sabendo que há coisas que prefiro.
-
(Risos)
-
sem ficar preso
na prisão da ignorância,
-
significando que, em mim,
há comunidade amada,
-
e porque há
comunidade amada em mim,
-
há comunidade amada em ti,
-
há comunidade amada entre nós,
e todos os seres.
-
Terra, céu, ar, água, luz do sol.
-
Ai, não conseguimos viver
sem nenhuma destas coisas (Risos).
-
Como é que conseguimos esquecê-las? É tão fácil esquecer,
neste "mundo moderno."
-
Estamos tão ocupados a ir a lado nenhum
que esquecemos o quão preciosas são as nossas vidas,
-
e às vezes quase até ser tarde demais.
-
O solstício é um tempo para lembrar
que não precisamos temer a escuridão,
-
assim que conseguimos reconhecer
a escuridão em nós próprios.
-
Não precisamos temer a luz,
assim que conseguimos reconhecer a luz em nós próprios,
-
é só que tantas vezes está escondida,
e enterrada tão profundamente em nós,
-
que quando está acesa nem a reconhecemos.
-
Cuida bem da tua luz.
-
Uma das qualidades maravilhosas
da luz em particular
-
—estou a pensar numa vela—
-
é que podes acender uma vela
e depois acender outra vela
-
a partir da chama dessa primeira,
e nenhuma das velas se diminui.
-
Podemos partilhar a nossa própria luz,
e isso não diminui a luz.
-
Não diminui a nossa luz.
-
Se pudéssemos apenas aprender esta única coisa
como humanidade...
-
Estou a pensar
-
—um dos livros do novo testamento vem-me à cabeça—
-
o Livro de João,
-
e todos os outros testamentos
são histórias sobre Jesus
-
e os milagres e tudo isso
—a crucificação, etc.—
-
mas o livro de João
coloca uma pergunta diferente:
-
se todos os outros livros do novo testamento
apontam para Jesus,
-
dizendo que é aquilo,
é o caminho,
-
é aquele,
como diria a minha mãe,
-
(Risos)
-
o livro de João diz: "Mas quem és tu?"
-
A questão não é
que a luz está ali.
-
A questão é que a luz
que estava ali
-
está a tentar dizer-te que a luz está aqui.
-
(Risos)
-
A luz está aqui em ti,
-
e tu personalizaste-a demais,
perdeste a mensagem.
-
Por isso, não é um problema para mim
como professor budista
-
reconhecer
o meu mestre Thích Nhất Hạnh,
-
que faleceu recentemente,
-
mas é para eu me lembrar
-
—já me perguntaram, há muitos anos,
o que pensa Thích Nhất Hạnh
-
sobre isto ou aquilo
porque passei tanto tempo com ele—
-
e eu sempre dizia, e continuo a dizer:
não sei, pergunta-lhe a ele.
-
Se quiseres saber o que eu penso
sobre algo, pergunta-me a mim.
-
O meu ponto é este: nós somos a luz.
-
Se somos, ou fomos, praticantes
da tradição de Thích Nhất Hạnh, maravilhoso,
-
noutra tradição, maravilhoso,
sem tradição, maravilhoso,
-
de qualquer forma todos somos continuações
da sua ênfase na sabedoria,
-
compaixão e ação no nosso mundo.
-
Nesta altura do ano,
muitos de nós começamos a pensar,
-
bem, no que fizemos mal no último ano
—onde falhámos—
-
onde a bola de bowling
não foi para onde queríamos
-
quando a lançámos na pista.
-
Isso acontece, na vida humana.
Sem justificação—simplesmente acontece.
-
Então, como começamos de novo?
-
Como deixamos ir os nossos erros
e não os deixamos definir o nosso futuro?
-
Uma das formas que
-
—bem, há muitas formas em diferentes tradições espirituais
de fazer isso simbolicamente—
-
mas aquilo que tenho aprendido a fazer
—vem de várias fontes da história budista—
-
é
-
—não falo com o Larry
sobre os erros que cometi
-
a menos que esteja na companhia
de outros seres—
-
e refiro-me a isso energeticamente.
-
Então, quando quero falar
sobre o quanto fui parvo
-
no último ano,
-
antes de fazer isso, antes de chegar lá,
-
tenho uma meditação onde chamo
os meus avatares, os meus arquétipos, os meus mentores,
-
vivos ou mortos, fictícios ou reais,
-
e rodeio-me
da sua energia e apoio
-
reconhecendo o meu potencial presente
no momento
-
e só então
sou capaz de reconhecer com verdade
-
que fui terrível este último ano
em comunicar com pessoas individualmente,
-
isso é verdade,
-
(Risos)
-
mas agora, dito isto,
-
e sendo vocês os meus seres sagrados
neste momento como minhas testemunhas,
-
sou capaz de ver a luz do meu caminho para a frente,
passo a passo, pessoa a pessoa,
-
e não são assim tantas pessoas
com quem preciso de me reencontrar, comunicar.
-
Talvez isso seja verdade para ti,
talvez seja um familiar
-
com quem tens estado afastado,
com quem precisas de te reconectar,
-
com quem precisas de partilhar a tua luz.
-
O objetivo todo
do voto do bodhisattva no Budismo
-
é partilhar a nossa luz,
gerar a nossa luz,
-
cuidar da nossa luz,
-
para que possamos partilhá-la com os outros,
-
e essa partilha
não tem de ser verbal.
-
Isto é muito importante, para mim.
-
A partilha da luz é, antes de mais, energética,
porque é isso que a luz é.
-
E tu sabes disso, já o experienciaste,
-
já estiveste com pessoas,
quando estavas com elas
-
sentiste entusiasmo, calma, clareza,
-
ou talvez haja pessoas com quem já estiveste
e de repente sentes-te muito calmo, muito relaxado,
-
ou outras—pode ser tudo a mesma pessoa—
-
outras pessoas com quem estás
e de repente consegues rir novamente.
-
De repente, a alegria começa
lá no fundo do teu estômago
-
e sobe até à garganta.
-
Sabe quem são essas pessoas na tua vida,
e cuida dessa relação.
-
Partilha a luz,
mas também aprende a recebê-la.
-
Tantos de nós ficamos presos
no complexo da autoestima,
-
de sermos "menos do que"
-
não conseguimos reconhecer,
nem sequer ver, a nossa própria luz,
-
ou o poder da nossa própria luz
de compaixão, sabedoria e ação.
-
A outra coisa que quero que repares
sobre aquilo que esteve ausente no último ano
-
— isto é a um nível mais profundo, de certa forma —
-
quando pensas neste último ano,
-
consegues lembrar-te de momentos
em que a tua mente não estava ocupada com ganância,
-
nem que fosse por um instante?
-
E se conseguires, deves regozijar-te,
porque tudo o que tens de fazer é repetir isso.
-
(Risos)
-
Se tiveste um momento neste último ano,
-
em que não estavas preocupado
com as energias do ódio ou da aversão,
-
nem que fosse só por um momento,
volta lá atrás, lembra-te desses momentos,
-
como souberam,
que cheiro tinham,
-
como era o aspeto,
onde estavas,
-
que cores havia na sala,
quem estava lá,
-
que atividades estavam a acontecer.
-
Saboreia esse momento e interioriza-o.
-
Cuida dele como de uma planta,
-
como de um pequeno pássaro
que queres cuidar bem.
-
Alimenta essa não-ganância,
alimenta essa não-aversão.
-
Veio-me agora à mente uma história sobre Martin Luther King
nos seus últimos dias
-
e ouvi isto do Andrew Young
— estávamos a jantar uma vez —
-
e na manhã em que o Martin foi assassinado
ele tinha acordado antes de toda a gente,
-
pegou na sua almofada, porque todos dormiam na mesma sala
por razões de segurança,
-
o Ralph Abernathy estava lá,
o Andy Young também, etc.
-
E o Martin levantou-se, pegou na almofada,
-
foi até à cama do Ralph Abernathy,
bateu-lhe com a almofada na cabeça e disse:
-
"Ralph, acorda!
-
Hoje não estou a odiar ninguém,
não é maravilhoso?"
-
E depois foi até ao Andy,
bateu-lhe também na cabeça
-
e foi à volta da sala
dizendo a mesma coisa:
-
"Hoje não estou a odiar ninguém,
não é maravilhoso?"
-
Lembra-te desses momentos na tua vida.
-
A atenção plena é reconhecer
o que não está lá,
-
assim como aquilo que está,
-
e é isso que a escuridão e a luz
nos ensinam a cada momento.
-
E neste último ano,
quando é que saboreaste a alegria de uma comunidade querida?
-
Uma comunidade segura.
-
Relações milagrosas
com o mundo natural.
-
Quando é que experimentaste estas vivências,
neste último ano,
-
no ar,
no vento,
-
ao tocar a Terra
com os pés ou com as mãos no jardim?
-
Que maravilha que é ser humano
e estar consciente da nossa humanidade.
-
O nosso grande desafio agora, claro, é
-
como podemos ser esta consciência em conjunto,
-
no sentido da energia,
não no sentido de dogma,
-
no sentido da luz,
que nunca diminui quando partilhada,
-
não no sentido de organização social
— é mais profundo do que isso.
-
Na verdade, o nosso dilema organizacional
baseia-se em não termos ido suficientemente fundo
-
na compreensão da nossa própria humanidade,
é só isso.
-
Nesse sentido, não é assim tão complicado
-
(Risos)
-
é uma espécie de piada.
-
Mas todas as sociedades na história
que tiveram sequer um momento de bem-estar coletivo,
-
esse bem-estar coletivo social
-
reflete um bem-estar coletivo espiritual
por baixo dessa sociabilidade.
-
Confirma por ti próprio.
-
A espiritualidade e a sociabilidade não estão separadas.
-
Estão profundamente ligadas,
-
assim como os nossos sistemas nervosos
estão profundamente ligados
-
às nossas interações com e na sociedade.
-
O mesmo acontece com a nossa qualidade de consciência.
-
Assegura-te de ter música à tua volta
que te ajude a estar calmo,
-
a estar alegre, a rejubilar,
a respirar com facilidade, a tocar na beleza.
-
Assegura-te de ter arte à tua volta,
mesmo que seja só uma imagem,
-
que, quando olhas para ela,
sintas a profundidade de ser humano.
-
O teu próprio potencial presente,
neste momento presente.
-
Aprende a fazer coisas no escuro
que nunca fizeste antes.
-
Há anos, estávamos na Coreia, num mosteiro
-
conhecido por formar
os abades mais bem-sucedidos
-
durante milhares de anos.
-
Era lá bem no alto das montanhas
-
e estava a menos de 20 graus negativos ou mais
quase sempre,
-
na altura do ano em que lá estivemos,
-
e vivemos lá durante uma semana.
-
Mas quando chegámos, deram-nos uma visita guiada
pelo mosteiro,
-
e o abade levou-nos a um edifício.
-
Dentro desse edifício havia uma sala.
-
Não tinha estátuas budistas,
não tinha flores,
-
só tinha um objeto
e esse objeto era um espelho.
-
E o abade olhou-nos a todos nos olhos
e disse: "prática avançada."
-
(Risos)
-
Isto é aprender a olhar para nós próprios
com compaixão, não só procurando críticas,
-
que é como fomos treinados:
-
para ver quais são as nossas falhas,
para ver quais são as nossas limitações.
-
Pergunta-te sempre:
-
"de quem é a definição destas limitações,
e de onde é que isto veio?"
-
senão vais acabar por te travar a ti próprio.
-
É maravilhoso ver o número de pessoas
em todo o mundo, através das gerações,
-
que estão a fazer coisas
que antes achávamos impossíveis.
-
Há vinte anos, quem poderia imaginar
a querida Greta Thunberg?
-
Quem teria imaginado isso?
-
Podemos estar gratos por ela ter tido a coragem
de sair da escuridão para a luz,
-
e de partilhar a sua luz connosco.
-
E há milhões de pessoas em todo o mundo
todos os dias, como ela.
-
Não só na responsabilidade ecológica,
-
mas também noutras áreas sociais, económicas
e políticas,
-
embora ainda não tenhamos tido os sistemas
para elevar estas pessoas.
-
Pois, acho que é um pouco isso que estou a dizer.
-
Precisamos de contar boas histórias
uns sobre os outros.
-
Sabes,
somos criaturas que criam histórias.
-
Claro que a publicidade já sabe disto há anos,
com os seus departamentos de investigação,
-
mas nós somos criaturas que criam histórias,
e as nossas histórias influenciam os nossos comportamentos,
-
por isso precisamos de contar muitas novas histórias,
diferentes das histórias de desgraça e pessimismo,
-
de ganância, de ódio e de ignorância,
-
para histórias sobre a profunda ligação
que todos temos neste planeta precioso.
-
Contem essas histórias,
escrevam livros para crianças,
-
escrevam novas canções, pintem,
dancem, rolem na lama,
-
façam o que fizerem
para nos ajudar a todos a lembrar
-
quão preciosa é esta vida,
quão preciosa é cada vida,
-
e quando nos lembramos,
como os nossos antepassados se lembraram,
-
apesar dos horrores ou das dificuldades,
—do sofrimento— a luz continua a brilhar.
-
Confia nela.
-
Mas cumprimenta-a em ti todos os dias.
-
Adicionei à minha meditação noturna
-
o imaginar que estou sentado bem no meio da minha cadeira,
aqui no escritório, no escritório da Peggy ou no meu,
-
fecho os olhos e imagino um círculo à minha volta
de amigos e pessoas queridas,
-
e depois imagino outro círculo
de amigos e conhecidos,
-
e vai ficando cada vez maior, maior,
-
até ir além do reino humano
e incluir os cães que amei antes
-
(Risos)
-
e também outros seres,
e os patos com quem vivia perto,
-
e os veados,
e de repente sei onde estou.
-
Por isso, aprende a criar
um campo de mérito para ti próprio.
-
Isto é só um pequeno exemplo.
-
Um campo de bondade,
-
como as pessoas que são realmente boas jogadoras,
-
que eu aprendi que têm a capacidade
de construir um palácio mental das cartas,
-
e enquanto as cartas mudam,
vão desconstruindo esse palácio.
-
Nota as 52.
-
É uma grande capacidade cognitiva.
-
Temos de aprender a fazer o mesmo,
com o palácio dos nossos corações,
-
para que a nossa luz nunca diminua,
nunca seja retida,
-
porque, lembra-te:
-
partilhar a luz
não a diminui de forma alguma,
-
nem a minha, nem a tua.
-
Quero terminar com um poema, outro poema,
-
sei que para alguns de vocês,
-
podem sentir que
as vossas vidas estão em fragmentos.
-
Este poema é para vocês.
-
E claro,
todas as nossas vidas estão em fragmentos
-
(Risos)
-
se olharmos dessa forma.
-
A lâmpada mais bonita que alguma vez vi
foi feita de pedaços de vidro
-
deixados no chão ao final do dia
no atelier do artista.
-
Os pedaços brilhavam mas permaneciam escondidos
-
até serem vistos como partes
de uma dança de cores e luz.
-
Com mãos ternas e um coração pleno,
reconstituídos,
-
cantando no esplendor
de uma nova inteireza.
-
Ei, tu, neste dia, olha para baixo
para o chão da tua vida, do teu coração,
-
vê os pedaços de dor e alegria
ali no chão à tua espera,
-
mas não te desencorajes
porque as coisas estão partidas.
-
Com ternura e paciência,
-
apanha esses pedaços,
com as mãos de um coração pleno.
-
Pega nesses pedaços da tua vida preciosa
e faz beleza.
-
Faz beleza para ti,
e ao fazê-lo, faz beleza para todos nós.
-
Agora, se puderes novamente
ficar o mais confortável possível,
-
vou guiar uma breve meditação
sobre a criação de um campo de mérito,
-
que é como seria chamado
em alguns círculos budistas.
-
Isto é como o palácio do jogador,
embora não esteja a sugerir isso,
-
isto é aprender a construir,
na tua própria mente, um refúgio,
-
para que, quando entras nele,
o teu coração e a tua mente encontrem calma,
-
encontrem paz,
encontrem alimento e potencial.
-
Por isso, começa por entrar em contacto
com a sensação da tua respiração.
-
Nota a inspiração,
-
nota a expiração,
-
e nota o espaço entre a inspiração e a expiração.
-
E agora veja se consegue relaxar um pouco mais
neste sopro, círculo, ciclo da vida.
-
Certifique-se de que os seus ombros estão relaxados,
-
que o seu pescoço não está tenso nem preso
— está fluido —
-
e pode literalmente sentir
a subida e descida do seu abdómen.
-
E então imagine que aparece à sua volta
um círculo de bondade amorosa.
-
Pessoas, plantas, animais,
-
que lhe podem ter oferecido
bondade amorosa
-
na sua experiência com eles.
-
Deixe que os rostos humanos e as formas dos corpos
se tornem mais proeminentes,
-
para que lhes possa oferecer um sorriso.
-
Depois, à volta desse círculo,
mentores, professores, guias,
-
pastores, pregadores,
líderes religiosos, líderes sociais,
-
líderes ecológicos, à sua volta,
levantando o seu próprio bom coração,
-
lembrando-lhe do seu potencial,
da sua possibilidade,
-
permanecendo em silêncio
em cada momento da sua vida.
-
E mais afastados no círculo, ?, bodhisattvas,
e budistas à sua volta.
-
Seres místicos,
-
e um círculo ainda mais afastado,
-
sinta-se apoiado por todo
o espectro de energia da consciência,
-
e deixe a luz dessa reunião
brilhar dentro de si e sobre si.
-
Deixe a luz penetrar dentro de si,
-
todos os seus órgãos, ossos, tecidos,
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neurónios, músculos, dedos dos pés, corpo inteiro.
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E agora relaxe na luz,
sem esforço,
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reconhecendo a sensação de segurança
que sente neste momento.
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Agora siga cada respiração,
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cada inspiração, cada expiração,
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de volta à plena consciência de onde o seu corpo está
neste momento, neste tempo.
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Movimente-se lentamente enquanto olha à sua volta no seu espaço.
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As paredes e janelas
e tectos e pisos.
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Repare que a sua respiração continua fácil e calma.
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Este é apenas um exemplo
de um tipo de contemplação.
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Experimente e invente
tantos quanto conseguir para si mesmo,
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de forma a que tenha sempre uma sensação de acesso
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àquilo que chamaria acesso a um andar de um edifício
que é o penthouse e não o virtual.
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Embora vivamos
em todos estes andares da consciência,
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aprender a aceder ao penthouse
dá-nos perspetiva sobre todos os outros andares
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à medida que praticamos a nossa libertação.
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Obrigado.
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(O som do sino toca três vezes)
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Que o mérito desta prática
beneficie todos os seres e traga paz.
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(O som do sino toca uma vez)