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Kara Walker & Jason Moran:
[Enviando um Sinal]
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[Calíope de metal
toca à distância]
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[Kara Walker]
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[Lendo]
"Escravos africanos.
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Na década de 1720, em uma terra
agora erodida pelo rio,
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ficava o quartel onde os escravos
da região do Senegal-Gambia
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eram mantidos antes de serem
transportados pelo rio
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para os leilões
de escravos.
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O bairro Algiers Point era sede
do matadouro e paiol de pólvora
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de Nova Orleans."
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Isso me fez pensar sobre
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a ausência de representação dos memoriais
sobre a instituição escravista na América.
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[Calíope de metal continua]
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[Jason Moran]
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Essa é afiada.
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Ok, deixe-me pegar
minhas luvas.
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Fui em Nova Orleans,
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e fomos para
Algiers Point.
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[Algiers Point, Nova Orleans]
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Tinha uma música
maluca tocando
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e eu achei que vinha
da igreja
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ou algo assim.
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E eu estava, tipo assim...
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"O que é isso?"
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Era como se estivesse no ar, mas eu
não conseguia encontrar...
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Era carnavalesco,
mas eu não conseguia definir.
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Então eu pesquisei.
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Certo.
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E descobri que era um calíope de metal
no barco Natchez.
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Meu calíope é o
"Katastwóf Karavan."
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Ouvindo em
Algiers Point,
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ouvindo o calíope
no Natchez,
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o que ouvia nas músicas
que eles escolheram?
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Eram músicas felizes.
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Ouvindo,
não entendia as notas,
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mas acho que eram antigas,
dos bons tempos.
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Certo.
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Elas têm um código que faz
as pessoas se sentirem de um jeito.
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É como uma senha
ou algo do tipo.
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Aquela melancolia que sulistas brancos
ligariam a escravidão
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ou tempos que
já passaram.
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Uma melancolia, não apenas
pelo controle ou poder
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mas para intimidade.
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Uou.
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A intimidade que tinham
com os corpos dos escravos.
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Mente, corpo, alma.
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E algo assim
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é tão repugnante que
mal dá pra dizer.
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É o que essas músicas
fazem comigo.
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Estou pensando sobre
como você também fala
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sobre o industrial,
como a escravidão funciona.
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é uma indústria, criando máquinas
mesmo sendo corpos.
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É.
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[Oficina de criação artística,
Kingston, NY]
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Eu queria criar
um espaço paradoxal
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onde a ingenuidade
da fabricação americana,
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a mesma genialidade
que criou a escravidão,
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poderia se tornar
os mecanismos pelos quais
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as vozes reprimidas
reemergerem para sempre.
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É um momento de verdade,
não é?
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Ai meu Deus!
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Tudo estava fora da minha
zona de conforto.
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Cada pequeno elemento, exceto, de
certa forma, o enquadramento do calíope,
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porque era o gancho visual,
de certo modo.
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É bastante substancial.
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Precisa ser ativo, algo vital,
não apenas um monstro estacionário,
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porque isso derrotaria o propósito
de um monumento em movimento.
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Deixe-me ver se eu tenho...
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[Som da calíope de metal tocando
no telefone]
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Esse é o Jason tocando?
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Jason está abusando, sim.
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Jason estava
apavorado.
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porque é claro que ele atinge a nota
e sai tipo...
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[Grito agudo]
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E ele está acostumado a apenas atingir a
nota e algo razoável acontece.
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[Todos riem]
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Essa foi a primeira vez que
vi o calíope.
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É a primeira vez que o vemos
em seu vagão.
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Estava ansioso para conhecer
o instrumento
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porque só pude ouvi-lo uma vez na vida.
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E nunca esqueci o que o som
faz nosso corpo sentir.
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É inquietante, mesmo que
esteja tocando a música mais tranquila.
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O calíope também parece alguém assobiando.
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Sim.
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Então parece tipo...
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[Assobia uma melodia]
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Muito bom!
[Risos]
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Tipo, se alguém assobiasse
dessa forma.
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Porque é dessa maneira que a música é
usada por pessoas cativas.
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Essa convocação,
esse envio de sinal.
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Envia um sinal,
seja um sinal de angústia,
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ou um sinal para vir,
tipo, "vamos celebrar juntos".
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[Trienal Prospect.4,
fim de semana de encerramento]
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[Calíope de metal toca]
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Aqui seria o momento em que você
traria algo para honrar os ancestrais
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de uma forma que não estávamos certos
de que conseguiríamos alcançar.
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Exato.
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Foi esse meu sentimento
indo para Algiers com isso.
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[Calíope de metal toca]
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Como um objeto estacionário,
sempre precisa ser ativado.
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Quando você tem monumentos ou
coisas comemorativas que apenas existem,
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eles sentam lá e então desaparecem.
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Os monumentos
confederados
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que estiveram por aí já
centenas de anos
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comemorando, por exemplo,
Robert E. Lee
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há algo estranho que acontece onde
apenas senta ali
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e torna-se uma presença
não reconhecida.
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E há algo sobre isso, também,
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em que sinto que o calíope precisa
estar em um lugar,
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mas não ser esquecido.
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Eu não sinto que é destinado
para um local específico.
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O que é único em Algiers
é que era esse o ponto
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para os africanos que chegaram
para ser escravizados.
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Existem muitos lugares assim
na América
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e eu acho que é válido
explorar esses lugares.
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O objeto da calíope é bem pequeno
até que você o toque,
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mas eu estava imaginando como seria
tocá-lo no Mississippi.
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Eu acho que nunca senti
tanta pressão
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e também era o responsável
por liberar a pressão
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a cada nota que eu ia tocar.
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[Calíope de metal tocando]
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Mas quando você tocava,
toda a ansiedade,
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e o medo,
e a dor,
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o sentimento ia embora,
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porque havia algo parecido com a voz
nesses tubos.
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E você fez isso chorar.
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Certo.
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E é como se você sentisse
isso passando por você.
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[Calíope de metal tocando]