Vítimas da cidade
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0:00 - 0:05Pediram que eu abordasse
o tema da mudança de conversas. -
0:05 - 0:07E certamente, no campo em que trabalho,
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0:07 - 0:10é um ponto realmente
importante para se tratar. -
0:10 - 0:13Vendo os discursos que estão
acontecendo na arquitetura, -
0:13 - 0:14assim como em toda a sociedade,
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0:14 - 0:19acho que é hora de mudar
a maneira como olhamos as coisas. -
0:19 - 0:22Como arquiteto, tenho me envolvido
em projetos arquitetônicos, -
0:22 - 0:24em projetos de planejamento urbano
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0:24 - 0:28e, mais recentemente, em projetos
que envolvem mais a paisagem. -
0:28 - 0:33Posso ver muitas oportunidades e maneiras
através das quais o design pode contribuir -
0:33 - 0:37e ter a capacidade
de efetuar mudanças sociais. -
0:37 - 0:40E é sobre isso que vou falar hoje.
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0:41 - 0:45Para começar, acho que pode ser útil
falar um pouco sobre arquitetura, -
0:45 - 0:46pois acho que, para muitas pessoas,
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0:46 - 0:52a arquitetura é uma atividade
um pouco mística. -
0:52 - 0:55Muitas pessoas não sabem
o que os arquitetos fazem. -
0:55 - 0:58Na maioria das vezes, não tenho certeza
se os arquitetos sabem o que fazem. -
0:58 - 1:00Mas nós tentamos,
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1:00 - 1:03e é importante tentar aceitar isso
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1:03 - 1:05e tentar entender o que isso significa.
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1:05 - 1:09Quando falo sobre arquitetura hoje,
não estou falando sobre a profissão. -
1:09 - 1:13Não estou falando sobre uma atividade
executada por um grupo seleto de pessoas -
1:13 - 1:16com algum conhecimento especializado.
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1:16 - 1:18Falo sobre arquitetura
num sentido mais amplo: -
1:18 - 1:20a arquitetura em termos
da sala em que estamos, -
1:20 - 1:22como uma atividade
que perpassa todas as outras, -
1:22 - 1:27como atividade que inclui
a criação de refúgios, de espaços, -
1:27 - 1:30o projeto e a criação
de espaços entre prédios, -
1:30 - 1:32a paisagem.
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1:32 - 1:36É a interação do homem com a paisagem,
nossa elaboração do ambiente construído. -
1:36 - 1:39É isso que quero dizer com arquitetura.
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1:40 - 1:42Não é algo especializado.
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1:43 - 1:46E nos últimos 20 ou 30 anos, suponho,
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1:46 - 1:49com o predomínio da internet
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1:49 - 1:53e com os avanços
maravilhosos e empolgantes -
1:53 - 1:54que estão ocorrendo na tecnologia,
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1:54 - 1:57uma coisa que aconteceu
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1:57 - 1:59é que nossa percepção do mundo
se tornou mercantilizada. -
1:59 - 2:02De muitas formas ela se reduziu
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2:02 - 2:04a uma percepção bidimensional.
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2:04 - 2:07Gastamos muito do nosso tempo,
muito da nossa vida, -
2:07 - 2:09olhando para o mundo através de telas,
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2:09 - 2:13sejam nossos laptops, telas de televisão,
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2:13 - 2:16monitores em aeroportos
ou no local de trabalho; -
2:16 - 2:19até mesmo nossos telefones são telas.
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2:19 - 2:22E isso tem o efeito de reduzir
nossa percepção do mundo. -
2:22 - 2:25Isso a expande, de muitas formas,
mas pode reduzi-la, -
2:25 - 2:30pode transformar em ícones nossa noção
de certos conceitos ou ideias -
2:30 - 2:33que são, de fato,
talvez muito mais difundidos -
2:33 - 2:35do que a imagem bidimensional
pode transmitir. -
2:35 - 2:38E acho que essa é a verdade
sobre a arquitetura. -
2:38 - 2:41Acho que nos acostumamos
a pensar sobre a arquitetura -
2:41 - 2:44de uma maneira basicamente
bidimensional, de uma forma simples, -
2:44 - 2:47que o prédio é aquilo
que ele parece, sua aparência, -
2:47 - 2:49é uma mercadoria visual.
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2:50 - 2:51Mas é muito mais que isso,
-
2:51 - 2:54muito mais que estética
ou experiência sensorial. -
2:54 - 2:57Isso é muito importante,
mas é muito mais que isso. -
2:57 - 2:59É uma operação complexa.
-
2:59 - 3:02E grande parte da arquitetura e do design
-
3:02 - 3:05envolve a compreensão do contexto
em que esse design existe ou vai existir. -
3:05 - 3:09É ter a imaginação para tentar
prever ou projetar -
3:09 - 3:14onde o prédio, o espaço urbano
ou a paisagem estarão localizados; -
3:14 - 3:16como serão usados,
-
3:16 - 3:20quais são as operações, as atividades
que vão acontecer naquele espaço. -
3:20 - 3:23E podemos chamar isso
de aspectos programáticos da arquitetura, -
3:23 - 3:25aspectos programáticos do design.
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3:25 - 3:29E acho que, nos últimos tempos,
tendemos a privilegiar -
3:29 - 3:31ou colocar num patamar mais elevado
-
3:31 - 3:35essa percepção sensorial visual
ou esse desejo sobre a arquitetura, -
3:35 - 3:39à frente das necessidades programáticas.
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3:39 - 3:42Nós tendemos a criar monumentos ou ícones
-
3:42 - 3:44que dão uma sensação ou um efeito,
-
3:44 - 3:47sem de fato pensar no valor da operação
-
3:47 - 3:50que esses lugares ou espaços podem afetar.
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3:50 - 3:55E é nessa zona que acho que precisamos
começar a olhar e entender -
3:55 - 3:59como a arquitetura ou o design
podem realmente impactar a sociedade -
3:59 - 4:00e como podem resolver
-
4:00 - 4:02alguns dos problemas
que estamos enfrentando. -
4:02 - 4:05A grande palavra de ordem
no design e no que eu faço, -
4:05 - 4:06e acho que no que todo mundo faz,
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4:06 - 4:08é a ideia de sustentabilidade.
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4:09 - 4:13Sustentabilidade é uma ideia,
uma noção ou um conceito -
4:13 - 4:18triangulado por três conceitos
ou ideias muito importantes: -
4:18 - 4:21o meio ambiente, a economia e a sociedade.
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4:22 - 4:26Bem, a economia global, atualmente,
parece estar em uma espécie de colapso. -
4:26 - 4:29Há muito trabalho a ser feito.
-
4:29 - 4:33O meio ambiente
em que vivemos é desafiado. -
4:33 - 4:36Temos aquecimento global,
aumento do nível do mar, -
4:36 - 4:39temos todo tipo de desastre acontecendo,
-
4:39 - 4:40todo tipo de coisas acontecendo
-
4:40 - 4:46que ameaçam o equilíbrio do mundo
e do meio ambiente em que vivemos. -
4:46 - 4:48E a própria sociedade
também é desafiada e ameaçada -
4:48 - 4:50por alguns dos problemas que enfrentamos.
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4:50 - 4:53Acho que hoje já ouvimos
sobre alguns desses problemas -
4:53 - 4:57e sobre a necessidade de mudar o paradigma
pelo qual percebemos essas coisas. -
4:57 - 4:59É realmente crucial fazermos isso.
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5:00 - 5:02Então, como o design impacta isso?
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5:02 - 5:07De que forma eu ou qualquer pessoa,
como designer ou arquiteto, -
5:07 - 5:11ou como a sociedade
pode causar impacto nisso, -
5:11 - 5:13de que maneira podemos afetar isso?
-
5:13 - 5:17Vou falar sobre as formas como o design
pode causar impacto na sociedade, -
5:17 - 5:19especificamente na sociedade,
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5:19 - 5:25e como a ideia de design
pode se infiltrar na ideia de sociedade -
5:25 - 5:29e trabalhar em suas operações
-
5:29 - 5:30dessa maneira programática
-
5:31 - 5:33para efetuar mudanças sociais.
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5:33 - 5:37Esta é uma imagem da Frederick Street
no início do século passado. -
5:37 - 5:41Acho que, de várias maneiras,
é uma boa imagem. -
5:41 - 5:45Aquela triangulação básica
de meio ambiente, -
5:45 - 5:47economia e sociedade
-
5:47 - 5:49parece estar em equilíbrio.
-
5:49 - 5:52Assim, parece que as cidades
em que podemos ver esse equilíbrio -
5:52 - 5:54são símbolos, códigos
-
5:54 - 5:59ou maneiras pelas quais podemos
entender a confluência dessas forças. -
5:59 - 6:03E ao longo do tempo, houve momentos em que
as cidades fizeram isso com muito sucesso. -
6:03 - 6:06Há muitos exemplos de cidades muito boas
-
6:06 - 6:09que, em um momento específico no tempo,
-
6:09 - 6:10estavam em um ponto de equilíbrio.
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6:12 - 6:14Se olharmos Port of Spain como cidade,
-
6:14 - 6:17e considerarmos a ideia de que, outrora,
-
6:17 - 6:20Port of Spain era apenas
um pequeno aglomerado, -
6:20 - 6:23uma pequena vila de pescadores
na foz do Rio Saint Anns. -
6:23 - 6:28E, no entanto, tornou-se
um conglomerado tão grande e complexo, -
6:28 - 6:32um grande agregado
de inúmeras ideias complexas. -
6:32 - 6:35O arquiteto italiano Aldo Rossi,
-
6:35 - 6:38um arquiteto do século 20
que morreu no final do século passado, -
6:38 - 6:40fez uma declaração muito profunda.
-
6:40 - 6:44Ele disse que a arquitetura é
a construção da cidade ao longo do tempo. -
6:44 - 6:46Acho que essa é uma ótima afirmação,
-
6:46 - 6:49porque ela fala, em um nível,
sobre a produção individual -
6:49 - 6:51e fabricação de um objeto, a arquitetura,
-
6:51 - 6:55e fala sobre a arquitetura
como forma de produção cultural, -
6:55 - 6:58como algo que fala sobre um assunto
-
6:58 - 7:01ou sobre ideias que são maiores
que a soma das partes do prédio, -
7:02 - 7:03e relaciona isso à cidade.
-
7:03 - 7:09Também sugere que é um processo
constante, dinâmico e em mutação. -
7:09 - 7:11E acho que isso é algo
muito importante de se entender, -
7:11 - 7:13que também faz parte do programa.
-
7:13 - 7:16Não tem nada a ver com visual,
tem a ver com o programa. -
7:16 - 7:18É como isso evolui,
quais são as dinâmicas, -
7:18 - 7:21quais são os componentes,
quais são os elementos -
7:21 - 7:24que contribuem para o desenrolar
e a criação da cidade. -
7:24 - 7:28Também diz respeito ao fato de a cidade
ser algo que pode ser imaginado. -
7:28 - 7:32Da mesma forma que podemos conceber
e imaginar um espaço ou um prédio, -
7:32 - 7:35podemos conceber e imaginar uma cidade.
-
7:35 - 7:39E isso diz respeito à ideia
do indivíduo e do coletivo. -
7:39 - 7:42E é esse elo - o individual
para o coletivo, -
7:42 - 7:45a ideia de cidadania,
a ideia de sociedade - -
7:45 - 7:47que penso ser um axioma
realmente importante -
7:47 - 7:50para entendermos
como o design pode se infiltrar -
7:50 - 7:52e efetuar mudanças.
-
7:52 - 7:55Estas são algumas imagens
de como Port of Spain evoluiu -
7:55 - 7:58ao longo de um período
relativamente curto de 200 anos, -
7:58 - 8:02a partir de um plano colonial
desenvolvido seguindo alguns decretos -
8:02 - 8:04enviados pelo rei da Espanha,
-
8:04 - 8:05chamados de Leis das Índias.
-
8:05 - 8:08Muitas cidades do Caribe
e da América Latina -
8:08 - 8:10foram baseadas e formuladas sobre elas.
-
8:10 - 8:12Foi um ato, um projeto único
-
8:12 - 8:15que abordava as necessidades
e os requisitos -
8:15 - 8:18de quem estabelecia
cidades nas novas colônias. -
8:18 - 8:22E com o tempo, à medida que o comércio
começou a se desenvolver em Trinidad, -
8:22 - 8:24a cidade se expandiu, cresceu,
-
8:24 - 8:28e começou a se apropriar cada vez mais
da paisagem circundante, -
8:28 - 8:31até crescer para o que temos hoje,
-
8:31 - 8:34ou o que entendemos ser
a cidade de Port of Spain. -
8:34 - 8:35Mas, como sabemos,
-
8:35 - 8:41esse processo também cresceu
em escala macro. -
8:41 - 8:45Temos a evolução e o desenvolvimento
desta grande conurbação -
8:45 - 8:50que se estende de Port of Spain
para o oeste, passa por Arouca, a leste, -
8:50 - 8:52e parece continuar.
-
8:52 - 8:54Assim, desenvolvemos
esse conceito ou ideia -
8:54 - 8:57que excede em muito
o plano original das Leis das Índias. -
8:57 - 9:01E se transformou em uma disposição
e uma matriz complexas -
9:01 - 9:04de infraestruturas e questões complexas,
-
9:04 - 9:08questões que, em muitos aspectos,
levaram a vários problemas. -
9:08 - 9:10Levaram a vários problemas
de infraestrutura. -
9:10 - 9:13E compartilhamos isso
com inúmeras cidades no mundo. -
9:13 - 9:16No mundo todo as cidades estão
se expandindo, estão aumentando, -
9:16 - 9:19estão passando pelo mesmo tipo
de desenvolvimento que passamos, -
9:19 - 9:23a ponto de a Port of Spain original
e o centro da cidade de Port of Spain, -
9:23 - 9:26que costumavam compor a cidade,
constituir a cidade, -
9:26 - 9:29agora se transformaram nessa espécie
de megalópole, nessa expansão -
9:29 - 9:31difícil de compreender.
-
9:31 - 9:33E, quando falamos de problemas,
-
9:33 - 9:36pensamos nos problemas
de infraestrutura: a água, a energia, -
9:36 - 9:38o congestionamento do trânsito,
-
9:38 - 9:42o crime, a segregação,
a polarização que existe, -
9:42 - 9:45a situação que levou
este país, recentemente, -
9:45 - 9:46a declarar estado de emergência...
-
9:46 - 9:49Às vezes isso parece
completamente intransponível. -
9:49 - 9:53Parece que chegamos a um ponto
em que não podemos realmente controlá-la -
9:53 - 9:56como podíamos controlar
esse plano original. -
9:56 - 9:58Não podemos mais controlá-la.
-
9:58 - 10:00É quase como se fôssemos
vítimas da cidade, -
10:00 - 10:03em vez de pessoas que voluntariamente
ou intencionalmente projetaram -
10:03 - 10:04ou formularam a cidade.
-
10:05 - 10:07Outro fenômeno que tem ocorrido,
-
10:07 - 10:12proporcional a essas questões
de tamanho e escala de infraestrutura, -
10:12 - 10:15é a predominância do que
eu chamaria de "tipologias", -
10:15 - 10:18diferentes tipos de desenvolvimento.
-
10:18 - 10:20Estamos acostumados
com o desenvolvimento vertical. -
10:20 - 10:22Aqui, edifícios em Hong Kong.
-
10:22 - 10:27Magníficas estruturas, muito altas,
custam uma fortuna para serem construídas. -
10:27 - 10:28Mas eles predominam;
-
10:28 - 10:32é quase como se não pudéssemos ter
uma cidade sem um arranha-céu. -
10:32 - 10:36Eles são simbólicos, parecem emblemáticos
da modernidade e do desenvolvimento. -
10:36 - 10:39Outro tipo predominante
são os shopping centers, -
10:39 - 10:42outro tipo prevalente
que todas as cidades querem ter. -
10:42 - 10:44A ideia de poder concentrar
-
10:44 - 10:48todas essas lojas e atividades
de venda em um só lugar -
10:48 - 10:53e criar um ambiente para as pessoas irem
e fazerem funções específicas de varejo, -
10:53 - 10:56comprarem coisas e estarem
em um lugar e horário específicos. -
10:56 - 10:57E então a rodovia.
-
10:57 - 10:59A ideia de atravessar paisagens
-
10:59 - 11:04para possibilitar o aumento da velocidade
com que podemos ir de um ponto a outro. -
11:04 - 11:06E também temos
o desenvolvimento suburbano. -
11:06 - 11:08Todas essas tipologias são emblemáticas
-
11:08 - 11:11do tipo de desenvolvimento
que ocorreu nas cidades modernas, -
11:11 - 11:14em Port of Spain
e em cidades de todo o mundo. -
11:14 - 11:17Agora, não há nada de errado
com shopping centers, nem com rodovias -
11:17 - 11:21nem com arranha-céus
ou com desenvolvimento suburbano. -
11:21 - 11:27O errado é que parece que privilegiamos
tipos ou formas de construir -
11:27 - 11:29ou ideias sobre como construir,
-
11:29 - 11:34em detrimento de outras formas importantes
de conceber ou imaginar o espaço. -
11:34 - 11:36E as escolas?
-
11:36 - 11:37E os parques?
-
11:38 - 11:41Que tal fazer ruas realmente
confortáveis para caminhar, -
11:41 - 11:45em que as pessoas não enfrentem o tempo
todo ruído de tráfego e congestionamento? -
11:45 - 11:48Onde isso está na equação?
-
11:48 - 11:52Parece que com nosso foco
nessas estruturas e tipologias, -
11:52 - 11:56que são motivadas principalmente
-
11:56 - 11:59por gerarem lucro, por fazerem parte
de um sistema econômico de consumo, -
11:59 - 12:02geram lucro, e por isso são favorecidas,
-
12:02 - 12:05são privilegiadas em relação
a outros tipos de desenvolvimento. -
12:05 - 12:06Mas escolas,
-
12:07 - 12:08parques,
-
12:08 - 12:12elementos da cidade que costumavam ser
realmente significativos e importantes -
12:12 - 12:14estão sendo reduzidos e marginalizados
-
12:14 - 12:17em consequência do foco
nesse tipo de desenvolvimento. -
12:17 - 12:20Estão enfraquecendo
a integridade da cidade, -
12:20 - 12:22estão enfraquecendo a capacidade da cidade
-
12:22 - 12:25de acomodar a interação social,
-
12:25 - 12:27de acomodar a todos;
-
12:27 - 12:32porque isso também é excludente.
-
12:33 - 12:35Pra trabalhar num escritório
de alto nível, -
12:35 - 12:37é preciso estar qualificado,
ser instruído, -
12:37 - 12:40ter acesso ou recursos para obter
a qualificação ou o treinamento -
12:40 - 12:42que permitam ter um emprego lá.
-
12:42 - 12:45Se não tiver isso, você trabalha
em algum lugar fora dali. -
12:45 - 12:47Não estamos preocupados
com esses lugares, -
12:47 - 12:49você apenas trabalha em outro lugar.
-
12:49 - 12:51Da mesma forma, as pessoas
que viviam nas cidades -
12:51 - 12:54ou viviam e contribuíam
para a vida das cidades -
12:54 - 12:58estão sendo expulsas porque
os arranha-céus as empurram para longe. -
12:58 - 13:04Há um ágio no preço da terra que empurra
as pessoas para fora das cidades. -
13:04 - 13:07As pessoas não podem ir a shoppings,
a menos que tenham carro, -
13:07 - 13:11porque esses shoppings geralmente
ficam nos arredores das cidades. -
13:11 - 13:13As pessoas não podem
comprar coisas nos shoppings, -
13:13 - 13:16porque não têm renda suficiente;
elas não vão gastar dinheiro lá. -
13:16 - 13:19Então esse tipo de prédio funciona
para alguns setores da sociedade, -
13:19 - 13:21mas não para todos.
-
13:21 - 13:22Eles não são justos.
-
13:22 - 13:27No entanto, uma quantidade indevida
de atenção é dada pelo governo e sociedade -
13:27 - 13:30para garantir que se prolifere
esse tipo de prédio, -
13:31 - 13:34porque são vistos como aspectos
positivos do desenvolvimento - -
13:34 - 13:39à custa de outros tipos
de construção e de programas -
13:39 - 13:40que poderiam ser benéficos para todos;
-
13:40 - 13:44programas que incentivam
a interação, a educação, -
13:44 - 13:46estimulam as pessoas
a estarem umas com as outras -
13:46 - 13:48e estimulam o senso de comunidade.
-
13:48 - 13:51Esse tipo de desenvolvimento
dissipa a sociedade, -
13:51 - 13:54desagrega a sociedade,
polariza a sociedade. -
13:54 - 13:58Cria grupos isolados de atividades
-
13:58 - 14:02às quais o acesso depende
de quanto dinheiro você tem no bolso. -
14:02 - 14:04É uma força polarizadora e negativa.
-
14:04 - 14:05Nós vimos isto nesta cidade,
-
14:05 - 14:08e vemos isso em cada vez mais cidades.
-
14:08 - 14:10E o que acaba acontecendo
-
14:10 - 14:14é que ficamos com essa espécie de pilha,
que é como uma bomba-relógio. -
14:14 - 14:18Em algum momento, o sistema deve entrar
em colapso, ele não é sustentável. -
14:18 - 14:22É como o sistema econômico no mundo hoje -
não é realmente um sistema sustentável, -
14:22 - 14:24e temos que encontrar
maneiras de lidar com isso. -
14:24 - 14:27O design não pode fornecer a solução,
-
14:27 - 14:31mas pode abordar algumas das condições
nas quais as pessoas vivem. -
14:31 - 14:34Pode abordar algumas das circunstâncias
em que as pessoas se encontram, -
14:34 - 14:37algumas das áreas das cidades
-
14:37 - 14:39para as quais as pessoas foram empurradas
-
14:39 - 14:41por não poderem mais viver no centro,
-
14:41 - 14:44e por não poderem participar
ativa ou integralmente -
14:44 - 14:47deste sistema capitalizado e consumista.
-
14:47 - 14:51E precisamos tentar conceber maneiras
pelas quais podemos transformar -
14:51 - 14:52esse tipo de espaço,
-
14:52 - 14:56integrar as atividades que acontecem
nesse tipo de espaço -
14:56 - 14:57dentro de um quadro maior,
-
14:57 - 15:01identificar pequenos movimentos ou gestos,
-
15:01 - 15:05seja através do design, da iniciativa
econômica ou da iniciativa social -
15:05 - 15:08que efetuem mudanças e que permitam
a transformação de espaços -
15:08 - 15:12que estimulem e facilitem
maior participação. -
15:13 - 15:15E há muitas maneiras de fazer isso.
-
15:15 - 15:18E embora possa parecer complexo
ao olharmos as cidades, -
15:18 - 15:21ao olhar as partes agregadas das cidades
isso pode parecer intransponível. -
15:21 - 15:25Mas se tentarmos isolar atos individuais,
a forma individual de olhar para as coisas -
15:25 - 15:30e formular um programa, maneira ou modo
de entender como podemos fazer isso, -
15:30 - 15:34então podemos chegar mais perto de atingir
ou efetuar algum tipo de mudança social. -
15:34 - 15:37E há exemplos no mundo
onde isso tem sido feito. -
15:37 - 15:40Barcelona é de fato um bom exemplo
de cidade onde as pessoas se sentaram -
15:40 - 15:43e, coletiva e ativamente,
tentaram conceber maneiras -
15:43 - 15:45pelas quais poderiam efetuar mudanças,
-
15:45 - 15:47e fizeram isso com muito êxito.
-
15:47 - 15:48E, mais perto daqui, em Bogotá,
-
15:49 - 15:51Enrique Peñalosa, o prefeito,
-
15:51 - 15:54quando assumiu o cargo, decidiu:
-
15:54 - 15:57"Não vou gastar bilhões de dólares
na criação de mais rodovias. -
15:57 - 16:01Vou apropriar os fundos que tenho
para a criação de lugares - -
16:01 - 16:03parques que todos possam usar,
-
16:03 - 16:06espaços públicos
que as pessoas possam usar". -
16:06 - 16:10E, quando ele fez isso, mais e mais
pessoas vieram para esses espaços. -
16:10 - 16:11E esses espaços foram muito efetivos
-
16:12 - 16:16para encorajar a participação e o sentido
de comunidade entre as pessoas, -
16:16 - 16:17fazer as pessoas se unirem,
-
16:17 - 16:22se esquecerem das disputas pequenas
e insignificantes que tinham entre si, -
16:22 - 16:25e começarem a fazer coisas juntas,
a andar juntas pela cidade -
16:25 - 16:27e tentarem agir juntas.
-
16:28 - 16:30Então, existem maneiras
de fazer isso; existem modelos. -
16:30 - 16:33E voltamos a essa ideia de programa.
Qual é o nosso programa? -
16:33 - 16:36Bem, acho que queremos
criar uma sociedade equitativa. -
16:36 - 16:38Então, queremos criar sociedades
-
16:38 - 16:41em que haja participação
ativa e equitativa de todos -
16:41 - 16:45e onde possamos derrubar
algumas dessas inibições e barreiras. -
16:45 - 16:48Onde possamos remover o estigma econômico,
-
16:48 - 16:52o estigma racial, o estigma relacionado
ao local em que você mora, -
16:52 - 16:53relacionado a todos esses fatores
-
16:53 - 16:56e tentar unir as pessoas
de formas construtivas e eficazes. -
16:56 - 16:58Em Trinidad, há vários exemplos.
-
16:58 - 17:00Há oportunidades para fazer isso
em todos lugares. -
17:00 - 17:02Este é o City Gate.
-
17:02 - 17:06City Gate é a entrada da cidade
para dezenas de milhares de pessoas. -
17:06 - 17:08Elas vêm e vão por ali todos os dias.
-
17:08 - 17:12E, no entanto, o que elas enfrentam
é bastante sombrio, horrível, cinzento, -
17:12 - 17:15hostil e às vezes inseguro
-
17:15 - 17:18por causa de todo o tráfego ao redor.
-
17:18 - 17:22E aquele espaço do City Gate
até a Independence Square -
17:22 - 17:26poderia ser uma experiência
realmente maravilhosa, com paisagismo, -
17:26 - 17:28com acomodação adequada
-
17:28 - 17:32de instalações e comodidades
que as pessoas precisariam e desfrutariam. -
17:32 - 17:35Poderia se tornar um espaço cívico
realmente importante. -
17:35 - 17:37Este é o Prado, em Havana.
-
17:37 - 17:40É apenas uma ideia conceitual
de como esse espaço poderia ser tratado, -
17:40 - 17:43de modo que o movimento diário
de chegada e saída da cidade -
17:43 - 17:46seja uma transição realmente
importante e edificante -
17:46 - 17:49das vans para o lugar
em que você trabalha. -
17:49 - 17:52Em San Fernando, temos a orla,
-
17:52 - 17:56que é uma parte muito bonita
da paisagem neste país, -
17:56 - 17:57mas totalmente negligenciada.
-
17:57 - 18:01Existem alguns belos exemplos
da arquitetura do século 19 -
18:01 - 18:05que formam, por si só,
alguns espaços muito agradáveis. -
18:05 - 18:08Precisamos olhar para esses espaços,
precisamos nos apropriar deles, -
18:08 - 18:10precisamos determinar usos
para esses espaços -
18:10 - 18:13que encorajem todo tipo de atividade:
-
18:13 - 18:15espaços para performances,
-
18:15 - 18:16espaços para as crianças brincarem
-
18:16 - 18:20e aprenderem que é legal, é bom
e divertido estar perto de outras pessoas, -
18:20 - 18:24espaços para as pessoas fazerem todo tipo
de atividades que gostam de fazer, -
18:24 - 18:26que gostam de fazer coletivamente
-
18:26 - 18:29e que beneficiam a sociedade
e encorajam as pessoas a interagirem, -
18:29 - 18:32independentemente de suas circunstâncias
sociais ou econômicas; -
18:32 - 18:34ou lugares para as pessoas refletirem,
-
18:34 - 18:37parques, lugares para as pessoas
se sentarem e relaxarem. -
18:37 - 18:39E há muitas maneiras de fazer isso,
-
18:39 - 18:43maneiras pelas quais podemos abordar
e analisar como derrubar essas barreiras. -
18:43 - 18:45Podemos fazer isso
com linguagem arquitetônica. -
18:45 - 18:48Podemos olhar a maneira
como os espaços são formulados -
18:48 - 18:51para quebrar as divisões e barreiras
entre o interior e o exterior, -
18:51 - 18:54entre o verde e o concreto,
-
18:54 - 18:57e tentar criar espaços
que realmente encorajem a interação, -
18:57 - 18:59encorajem as pessoas
a fazerem coisas juntas -
18:59 - 19:01e incentivem o senso de comunidade.
-
19:01 - 19:03Precisamos demandar o governo,
-
19:03 - 19:07fornecer exemplos para os desenvolvedores,
para as pessoas que geram esses espaços, -
19:07 - 19:11de que o benefício disso não é medido
em retorno financeiro do investimento, -
19:11 - 19:16mas que o benefício social para todos nós
é realmente imensurável a longo prazo. -
19:16 - 19:19E, se fizermos isso,
acho que podemos demonstrar - -
19:19 - 19:23e já ficou demonstrado que os designers
têm a capacidade de fazer isso - -
19:23 - 19:26acho que podemos demonstrar às pessoas
-
19:26 - 19:28que a sociedade é uma comunidade inclusiva
-
19:28 - 19:31e, se todos estiverem incluídos
-
19:31 - 19:33e se sentirem parte da sociedade,
-
19:33 - 19:36teremos uma chance muito maior
de garantir um futuro sustentável. -
19:36 - 19:38Obrigado.
- Title:
- Vítimas da cidade
- Speaker:
- Mark Raymond
- Description:
-
A arquitetura pode unir as pessoas ou dividi-las — veja o arranha-céu, caro, ineficiente e servindo apenas a pequenas porções da comunidade. No TEDxPortofSpain, Mark Raymond incentiva os governos municipais a abandonarem suas antigas noções de sucesso e considerarem o equilíbrio entre meio ambiente, economia e sociedade para projetar cidades para a mudança social.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 19:51
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