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The 40 Tenets of Plum Village with Brother Phap Luu | Class #8

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    (Sino)
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    (Sino)
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    (Sino)
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    Querido e respeitado Thay,
    queridos amigos, conseguem ouvir?
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    Bem-vindos de volta à
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    aula sobre os 40 princípios de Plum Village.
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    Hoje é 12 de maio do ano de 2021
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    e estamos na sala de meditação Oceano de Paz
    do Mosteiro Deer Park
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    durante o nosso retiro de primavera.
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    É muito útil acreditar
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    no poder transformador do Dharma.
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    E essa crença não precisa vir
    de uma fé cega,
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    pode simplesmente surgir
    da consciência da nossa respiração.
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    Ao inspirar, sei que estou a inspirar.
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    Ao expirar, sei que estou a expirar.
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    Inspiro,
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    expiro.
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    Apenas estar consciente da inspiração
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    à medida que entra pelas minhas narinas,
    pela boca.
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    E ao expirar,
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    a barriga desce, o ar sobe
    e sai pelo nariz e pela boca.
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    Ao inspirar, estou consciente
    da natureza impermanente da respiração.
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    Não posso agarrar-me à respiração.
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    À medida que entra,
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    à medida que sai, relaxo os ombros,
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    relaxo todo o corpo, esteja onde estiver sentado,
    a ver isto no computador,
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    posso simplesmente fechar os olhos e permitir
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    que a concentração na respiração se manifeste.
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    Pronto, podem abrir os olhos.
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    Apenas tirar um momento assim, vendo
    a natureza impermanente da respiração,
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    que não podemos agarrá-la.
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    E a calma que surge
    com essa realização
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    já é prova suficiente
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    para eu saber que há
    um efeito transformador no Dharma.
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    E há tantas outras portas.
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    Dar um passo com atenção plena,
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    estar consciente do contacto
    do nosso pé com a terra,
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    coordenar —
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    Estar consciente
    do alimento que comemos,
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    do sol, da chuva, da terra, do agricultor,
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    de todos os elementos que
    ajudaram a formar esse alimento.
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    E ver que nós também somos feitos
    de sol, chuva, terra,
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    dos nossos pais, dos nossos antepassados.
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    E, ao ver isso, percebemos
    a natureza do interser entre nós e o alimento.
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    Se removermos qualquer um desses elementos
    do alimento, ele já não pode manifestar-se.
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    E o mesmo acontece connosco.
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    Se removermos qualquer desses elementos
    que não são "nós" do nosso corpo,
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    dos nossos sentimentos, das nossas perceções,
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    então também deixamos de poder manifestar-nos.
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    Essa é a natureza da manifestação.
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    As coisas manifestam-se devido
    a causas e condições.
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    Então todas estas meditações sobre a respiração,
    a meditação a caminhar,
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    a meditação sobre a alimentação,
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    são como portas para o Dharma.
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    Permitem-nos libertar-nos
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    do modo habitual de nos agarrarmos
    a sinais e fenómenos.
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    E sentir a felicidade, a calma,
    a leveza que surgem com essa realização
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    dá-nos fé, dá-nos confiança.
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    Essa é a bela
    natureza do Dharma.
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    Não exige que acreditemos
    em algo difícil de acreditar.
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    Praticamos, ganhamos alguma liberdade,
    ganhamos alguma leveza,
  • 6:41 - 6:45
    e depois queremos mais,
    então continuamos a praticar.
  • 6:45 - 6:48
    Esse é o espírito de crença
    na tradição budista.
  • 6:49 - 6:55
    E significa que a liberdade é possível,
    a felicidade é possível.
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    Esse tipo de crença
    é muito útil de ter.
  • 7:01 - 7:05
    Assim, quando surgem momentos
    de tristeza avassaladora,
  • 7:05 - 7:08
    de desespero, raiva, luto,
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    sabemos que há um caminho,
    por isso não tememos essa raiva,
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    não tememos o nosso próprio desespero,
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    mas sabemos como cuidar disso.
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    Sabemos cuidar disso tal como
    cuidamos da nossa respiração,
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    como cuidamos da nossa alimentação,
    como cuidamos do nosso caminhar.
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    Está presente e podemos usá-lo
    como objeto da nossa meditação,
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    esse desespero, essa raiva.
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    E ver que é impermanente,
    que não é algo a que nos possamos agarrar.
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    Thay descrevia isso muitas vezes como
    desbloquear a nossa mente.
  • 7:51 - 7:55
    Temos blocos de sofrimento em nós,
  • 7:57 - 8:04
    e esta meditação sobre a impermanência,
    sobre o soltar,
  • 8:05 - 8:07
    o deixar de agarrar,
  • 8:07 - 8:12
    é uma forma de massajar
    esses blocos de sofrimento,
  • 8:12 - 8:16
    para que não continuemos a envolver-nos
    em padrões de apego
  • 8:24 - 8:29
    e na estimulação habitual de sementes
    de aflição na nossa consciência.
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    Deixamos ir, permitimos que relaxe.
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    Quando muitas pessoas vêm a um retiro
    pela primeira vez,
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    sentem um grande cansaço.
  • 8:44 - 8:48
    "Ah, vim a um retiro, pensei que ia ganhar energia,
  • 8:48 - 8:50
    mas por que me sinto tão cansado?"
  • 8:50 - 8:53
    Isso acontece porque há algo
    preso
  • 8:53 - 8:56
    na forma como vivem o dia a dia,
    na mente.
  • 8:56 - 8:58
    Então, quando chegam ao mosteiro,
  • 8:59 - 9:03
    essa parte consegue finalmente uma pausa,
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    em vez de continuar a reforçar
    esse bloco de sofrimento,
  • 9:08 - 9:13
    permitem que ele se parta em pedaços,
    como um iceberg a derreter.
  • 9:13 - 9:17
    E começa a fluir.
    O rio congelado começa a fluir.
  • 9:18 - 9:20
    E deixa de estar bloqueado.
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    E esse fluxo é — "Meu Deus!
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    Tanta coisa está a acontecer dentro de mim.
    Sinto-me exausto.
  • 9:27 - 9:29
    Preciso de dormir nove, dez horas."
  • 9:30 - 9:33
    E isso acontece a muitas, muitas pessoas
    que vêm aos nossos retiros,
  • 9:33 - 9:36
    porque não reconhecem
    como, na vida diária,
  • 9:37 - 9:40
    continuam a criar esse tipo de bloqueio.
  • 9:41 - 9:44
    Então todos estes princípios
    que estamos a aprender ajudam-nos
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    a libertar esse bloco de sofrimento
  • 9:48 - 9:51
    e a descobrir outros que estão lá, escondidos,
  • 9:51 - 9:54
    como traumas no próprio corpo.
  • 9:56 - 10:00
    Em vez de continuarmos a evitá-los,
    trazemos consciência até eles
  • 10:00 - 10:04
    e permitimos que relaxem.
    Essa é a beleza do Dharma.
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    É a beleza desta prática.
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    Por isso encorajo-vos profundamente a acreditar
    na possibilidade de liberdade,
  • 10:14 - 10:17
    a acreditar que a felicidade é possível.
  • 10:19 - 10:24
    A tocar essa inspiração.
  • 10:24 - 10:28
    E a saber que
    há um caminho.
  • 10:30 - 10:35
    E isso pode ajudar
    em momentos de grande dificuldade.
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    Mas a melhor forma de praticar é
    tocar a felicidade
  • 10:39 - 10:41
    aqui e agora.
  • 10:42 - 10:44
    Não há para onde ir, nada a fazer.
  • 10:44 - 10:48
    Às vezes sentimos tanto sofrimento,
  • 10:48 - 10:53
    só precisamos de algo em que acreditar.
  • 10:55 - 10:57
    E acho uma pena
  • 10:58 - 11:02
    se apenas dissermos:
    "Não, sou budista, não acredito em nada."
  • 11:03 - 11:07
    Podemos tornar-nos céticos extremos.
  • 11:09 - 11:13
    "Não acredito nas Quatro Nobres Verdades,
    não acredito no despertar,
  • 11:13 - 11:16
    não acredito em nada disto."
  • 11:16 - 11:20
    E, em última análise, podemos acabar
    num lugar muito escuro.
  • 11:20 - 11:24
    Tentamos reduzir tudo
    a uma compreensão racional.
  • 11:25 - 11:30
    Pensamos que o Buda é apenas um cientista
  • 11:31 - 11:34
    a verter químicos
    de um tubo de ensaio para outro,
  • 11:34 - 11:36
    e esquecemo-nos por completo
  • 11:39 - 11:43
    da possibilidade de despertar
    no momento presente.
  • 11:45 - 11:48
    E de não temer,
  • 11:48 - 11:54
    e também permitir-nos ser felizes,
    permitir-nos ser livres.
  • 11:55 - 12:00
    Reconhecer que essas forças
    que nos impulsionam a correr,
  • 12:00 - 12:04
    o medo incutido em nós
    desde tenra idade,
  • 12:04 - 12:08
    de que não estamos a fazer o suficiente,
    de que não estamos a trabalhar o suficiente,
  • 12:08 - 12:11
    de que não somos inteligentes o suficiente,
    não somos espertos o suficiente,
  • 12:11 - 12:15
    não somos bonitos o suficiente,
    não estamos a promover-nos o suficiente
  • 12:15 - 12:18
    ou não somos o suficiente seja do que for,
  • 12:19 - 12:25
    na verdade está escondido lá,
    e está a conduzir-nos a este tipo de atividade
  • 12:25 - 12:28
    que não nos permite ser felizes,
  • 12:28 - 12:31
    não nos permite parar e ser livres
    no momento presente.
  • 12:32 - 12:34
    Eu sei, porque
    tenho essa energia em mim.
  • 12:35 - 12:39
    E passei muitos anos a abraçá-la.
  • 12:40 - 12:42
    E sei que ela ainda está lá.
  • 12:43 - 12:46
    Na tradição, diz-se que a inquietação
  • 12:47 - 12:52
    é uma das últimas coisas a desaparecer
    completamente antes do despertar total.
  • 12:54 - 12:57
    Não para nos agarrarmos à ideia
    de despertar total ou não,
  • 12:58 - 13:02
    mas achei muito útil lembrar-me disso,
  • 13:02 - 13:05
    que mesmo como praticante comprometido,
  • 13:06 - 13:10
    algo dentro de mim ainda está –
    quero ir para outro lugar.
  • 13:13 - 13:16
    O Thay, o nosso professor, descreveu
  • 13:21 - 13:24
    a realização de remover a nossa inquietação
  • 13:26 - 13:29
    com o nome de “des-sapozação”.
  • 13:31 - 13:34
    Acho que há uma expressão no Vietname:
  • 13:34 - 13:37
    coloca-se um sapo num prato,
    e ele salta.
  • 13:37 - 13:40
    Volta-se a colocá-lo no prato,
    e ele volta a saltar.
  • 13:40 - 13:43
    Portanto, uma das realizações de Plum Village
  • 13:43 - 13:47
    é que conseguimos remover o sapo em nós
  • 13:48 - 13:51
    que está sempre a querer saltar do prato.
  • 13:52 - 13:56
    Estamos no prato,
    estamos num lugar muito seguro.
  • 13:57 - 14:00
    Tudo o que precisamos está lá,
    e ainda assim saltamos.
  • 14:01 - 14:07
    Há algo em nós que
    de algum modo não está satisfeito com o que está lá,
  • 14:08 - 14:10
    então sentimos que temos de ir para outro lugar.
  • 14:18 - 14:22
    Por isso o Thay encorajava-nos
    a mantermo-nos juntos como sangha,
  • 14:23 - 14:26
    porque quando sofres na sangha,
  • 14:26 - 14:30
    quando tens uma dificuldade no teu
    relacionamento com um irmão ou irmã,
  • 14:30 - 14:32
    ou com a sangha em geral,
  • 14:33 - 14:36
    então queres saltar do prato,
    queres ir para outro lugar
  • 14:36 - 14:40
    só para tentar aliviar o teu sofrimento.
  • 14:39 - 14:43
    Mas na verdade,
    o teu sofrimento vai contigo,
  • 14:43 - 14:48
    porque nesse novo lugar
    vais encontrar a mesma ou muito semelhante situação
  • 14:50 - 14:54
    àquela que descobriste no mosteiro
    ou no centro de prática.
  • 14:54 - 14:58
    Então, consegues estar com o sofrimento
  • 14:57 - 15:01
    em vez de tentar evitá-lo, de tentar fugir?
  • 15:02 - 15:07
    Porque a prática é um processo de
    descoberta constante de novos bloqueios,
  • 15:07 - 15:11
    novos lugares onde há –
    essa “aderência”.
  • 15:13 - 15:17
    Este apego à tua ideia
    à qual não queres largar.
  • 15:18 - 15:22
    Seja o tipo de comida que comes,
    seja o tipo de linguagem que usas,
  • 15:22 - 15:26
    seja o tipo de pessoas
    que achas que são fixes,
  • 15:26 - 15:31
    seja a tua ideia
  • 15:32 - 15:37
    sobre o que é uma monja adequada,
    ou um monge adequado.
  • 15:37 - 15:40
    E ficas preso(a) a essa ideia.
  • 15:41 - 15:44
    E por estares preso(a) a ela,
  • 15:43 - 15:46
    fazes os teus irmãos e irmãs mais novos sofrer tanto.
  • 15:47 - 15:49
    Sou culpado disso,
  • 15:49 - 15:55
    porque na minha vida estive muito apegado
    à minha ideia de ser monge.
  • 15:56 - 15:58
    Porque amo tanto ser monge,
  • 15:59 - 16:01
    e recebo tanta felicidade de
  • 16:01 - 16:04
    praticar o Dharma
    e ensinar o Dharma.
  • 16:04 - 16:08
    E ainda tenho muito sofrimento,
    mas sei que este caminho,
  • 16:08 - 16:11
    estou muito certo sobre ele.
  • 16:11 - 16:15
    Porque anos e anos de prática
    mostraram-me que, se eu ficar,
  • 16:16 - 16:18
    se for paciente,
  • 16:18 - 16:25
    se evitar saltar do prato,
    se conseguir simplesmente sentar-me ali
  • 16:26 - 16:28
    e estar com o que quer que surja,
  • 16:28 - 16:32
    com qualquer dificuldade
    que surja nos meus relacionamentos,
  • 16:32 - 16:36
    ela passará, e aprenderei com isso.
  • 16:37 - 16:41
    Normalmente, quando salto do prato e
    mudo apenas, vou e distraio-me,
  • 16:42 - 16:48
    não aprendo muito
    sobre esse sofrimento que surgiu.
  • 16:47 - 16:51
    E perco essa oportunidade.
  • 16:51 - 16:53
    Tantos irmãos e irmãs
    na nossa comunidade,
  • 16:54 - 16:56
    quando estavam a sair,
  • 16:56 - 17:01
    a decidir seguir
    outro caminho, outra forma
  • 17:04 - 17:07
    como leigos, eu pensava,
    ‘Se ao menos pudessem ficar!
  • 17:08 - 17:09
    Porque este é o grande!
  • 17:09 - 17:12
    Este é o grande sofrimento!’
  • 17:12 - 17:15
    Tudo o resto foi
    preparação para este momento,
  • 17:16 - 17:18
    quando o sofrimento é tão grande
  • 17:18 - 17:21
    que sentes que já não consegues
    viver na comunidade.
  • 17:21 - 17:23
    E tens de partir.
  • 17:24 - 17:26
    E aqui estás tu.
    Foi-te dado este grande presente,
  • 17:26 - 17:29
    o grande, o peixe grande.
  • 17:30 - 17:31
    O grande sofrimento.
  • 17:32 - 17:35
    E viraste costas a isso!
  • 17:35 - 17:39
    Não quero promover a pesca ao anzol,
  • 17:41 - 17:45
    mas é como o momento
    que estiveste à espera.
  • 17:46 - 17:50
    E claro, não estamos à espera,
    mas é o grande.
  • 17:53 - 17:56
    E pensas, Onde foi parar a minha felicidade?
    Onde foi parar a minha alegria?
  • 17:56 - 18:00
    Onde foi parar a minha liberdade?
    E então vais para outro lugar.
  • 18:01 - 18:06
    E pode levar muitos anos
    até esse sofrimento voltar à superfície.
  • 18:06 - 18:10
    E porque partiste,
    porque saltaste do prato,
  • 18:10 - 18:14
    tudo o que saberás fazer da próxima vez
    — se não tiveres crescido —
  • 18:15 - 18:20
    quando o sofrimento se tornar muito grande
    é saltar novamente do prato,
  • 18:20 - 18:25
    em vez de olhar profundamente
    para esse sofrimento
  • 18:25 - 18:30
    e ver a sua natureza, as suas raízes,
    as suas raízes ancestrais.
  • 18:30 - 18:33
    Esse sofrimento não é apenas teu,
  • 18:33 - 18:37
    mas também é o sofrimento do
    teu pai, da tua mãe, dos teus antepassados.
  • 18:38 - 18:44
    Por isso, não só podes beneficiar
    da presença deles em cada célula do teu corpo,
  • 18:44 - 18:46
    como também podes
  • 18:47 - 18:52
    transformar o sofrimento
    que eles não conseguiram transformar.
  • 18:54 - 18:56
    Porque esse grande bloco de sofrimento em ti
  • 18:56 - 19:00
    também é o bloco de sofrimento
    da tua mãe, do teu pai,
  • 19:00 - 19:06
    dos teus pais, dos teus antepassados,
    de toda a tua civilização.
  • 19:08 - 19:11
    Há blocos de sofrimento coletivos.
  • 19:12 - 19:17
    Muitos de nós aqui na América
    têm raízes europeias.
  • 19:18 - 19:25
    E sofremos traumas profundos
    na Europa com guerras religiosas.
  • 19:27 - 19:31
    Muitos dos nossos antepassados eram camponeses
    com muito pouca autonomia.
  • 19:31 - 19:38
    E eles sofreram tanto,
    por causa da doença, do ódio, da ideologia.
  • 19:40 - 19:44
    E nós sofremos tanto que
    arrancámo-nos das nossas raízes e viemos para uma nova terra.
  • 19:44 - 19:48
    Pensámos: "Vamos simplesmente saltar fora do prato
    e ir para outra terra.
  • 19:48 - 19:52
    Lá tudo é maravilhoso,
    e podemos recomeçar.
  • 19:52 - 19:55
    Podemos ser os patrões.
    Lá somos apenas camponeses.
  • 19:56 - 19:59
    Vamos para este novo lugar
    e tornamo-nos os patrões.
  • 19:59 - 20:02
    Então, se formos os patrões,
    ficaremos livres do sofrimento."
  • 20:03 - 20:07
    E assim começámos a dar ordens,
    aos nossos antepassados, ao povo nativo,
  • 20:08 - 20:12
    matando, destruindo e escravizando
  • 20:14 - 20:17
    pessoas de descendência africana,
  • 20:17 - 20:23
    para sermos os patrões,
    para cultivar cana-de-açúcar
  • 20:23 - 20:26
    em lugares onde nós não a conseguíamos cultivar,
  • 20:27 - 20:33
    porque éramos facilmente afetados
    pela malária e outras doenças tropicais.
  • 20:33 - 20:39
    E assim acreditámos, com grande ignorância,
  • 20:40 - 20:42
    que isso aliviaria o nosso sofrimento,
  • 20:42 - 20:46
    este trauma que experienciámos
    na nossa linha ancestral.
  • 20:47 - 20:50
    E isto é apenas um exemplo
    de como podemos rastrear o trauma
  • 20:50 - 20:53
    que é passado de geração
    em geração, e como se manifesta
  • 20:54 - 20:57
    e continua a criar sofrimento
    não só em quem é oprimido,
  • 20:58 - 21:00
    mas também em quem oprime.
  • 21:00 - 21:05
    Ainda mais.
    E essa é a visão do Buda:
  • 21:05 - 21:08
    aqueles que criam sofrimento
    para si próprios e para os outros,
  • 21:09 - 21:12
    experienciam ainda mais sofrimento.
  • 21:12 - 21:16
    À superfície pode não parecer,
    mas é assim —
  • 21:17 - 21:22
    Lembro-me muitas vezes, aqui nas Américas,
  • 21:22 - 21:25
    Quem é convidado e quem é o anfitrião?
  • 21:27 - 21:31
    O anfitrião, no fim,
  • 21:32 - 21:35
    é sempre aquele que oferece o espaço.
  • 21:36 - 21:42
    Quero dizer, os europeus vieram
    na sua maioria sem convite para este continente.
  • 21:46 - 21:52
    E trouxemos povos escravizados,
    eles não pediram para vir.
  • 21:53 - 21:55
    Eles não são os "não-convidados".
  • 21:56 - 21:59
    Portanto, há também um trauma aí.
  • 21:59 - 22:02
    Isto é uma espécie de escavação profunda
    na consciência coletiva,
  • 22:03 - 22:06
    e ver que nós também,
    podemos estar a experienciar sofrimento.
  • 22:07 - 22:10
    Este é o meu olhar profundo
    sobre os meus antepassados,
  • 22:10 - 22:15
    para ver com o intuito de compreender,
    não de perseguir, culpar ou julgar.
  • 22:16 - 22:19
    Mas para compreender
    a natureza do sofrimento
  • 22:19 - 22:22
    que me foi transmitido,
  • 22:22 - 22:27
    para que eu não o continue a transmitir
    às próximas gerações.
  • 22:28 - 22:34
    E essa é toda a profunda beleza
    da prática do Dharma.
  • 22:35 - 22:42
    É por isso que adoro praticar.
    Quero usar a minha vida para esta prática,
  • 22:43 - 22:44
    porque —
  • 22:44 - 22:50
    Não consigo acreditar facilmente
    que haja algo ou algum lugar
  • 22:50 - 22:55
    onde eu possa tocar esse tipo de
    liberdade ou felicidade no mundo,
  • 22:56 - 22:59
    a não ser voltando-me para dentro.
  • 23:01 - 23:04
    Podemos ouvir o som do sino.
  • 23:10 - 23:11
    (Sino)
  • 23:14 - 23:20
    (Sino)
  • 23:57 - 24:02
    E não ser convidado não é uma condenação,
  • 24:03 - 24:07
    mas deve ajudar-nos
    a cultivar humildade.
  • 24:09 - 24:13
    E isso faz parte
    da nossa cultura ancestral,
  • 24:13 - 24:16
    a relação entre
    o hóspede e o anfitrião.
  • 24:18 - 24:22
    E se tiveres oportunidade de estudar
    os ensinamentos do mestre zen Lin Chi,
  • 24:24 - 24:28
    ele fala sobre isso, sobre a relação
    entre o hóspede e o anfitrião.
  • 24:28 - 24:31
    Quando somos o anfitrião,
    e quando somos o hóspede.
  • 24:32 - 24:37
    Mas quando aprendemos a ser um bom anfitrião,
    e também a ser um bom hóspede,
  • 24:38 - 24:41
    ganhamos muita humildade e abertura.
  • 24:42 - 24:49
    Portanto, isso é um convite para cultivar
    a humildade na nossa prática do Dharma,
  • 24:49 - 24:54
    e não usá-la para dominar,
    ou tentar ter razão.
  • 24:55 - 24:58
    Esse não é o propósito
    de estudar e praticar o Dharma.
  • 24:58 - 25:02
    É para a nossa liberdade,
    e a liberdade dos outros.
  • 25:04 - 25:10
    Certo. Na semana passada, explorámos
    as oito negações,
  • 25:10 - 25:13
    um ensinamento
  • 25:15 - 25:23
    que tem sido transmitido
    ao longo de muitas gerações da tradição budista.
  • 25:27 - 25:31
    E um grande mestre budista, Nagarjuna,
  • 25:31 - 25:37
    no século III ou IV d.C.,
  • 25:40 - 25:44
    resumiu isso de forma muito bela.
    Queria aprofundar esse tema.
  • 25:45 - 25:48
    Na última vez, o sétimo princípio,
    estudámos isto.
  • 25:56 - 26:00
    Há um texto belíssimo e profundo chamado
  • 26:01 - 26:05
    Os Versos do Caminho do Meio, de Nagarjuna.
  • 26:05 - 26:08
    Incentivo-te a estudá-lo e a lê-lo.
  • 26:08 - 26:13
    Este texto desafia a tendência,
    dentro da tradição budista,
  • 26:17 - 26:20
    de criar teorias e filosofias.
  • 26:20 - 26:25
    O propósito da prática é libertarmo-nos
    do apego às visões.
  • 26:26 - 26:31
    Não é para simplesmente abandonarmos
    as nossas visões anteriores
  • 26:31 - 26:33
    e adotarmos novas visões budistas.
  • 26:34 - 26:38
    Mas os ensinamentos budistas existem para
    nos ajudar a libertar de todas as visões,
  • 26:38 - 26:42
    para que possamos viver felizes
    no momento presente.
  • 26:42 - 26:46
    Olhar profundamente para o que está a acontecer,
    para além dos sinais, palavras e conceitos.
  • 26:49 - 26:52
    Logo no início desse texto,
  • 26:55 - 26:58
    Os Versos do Caminho do Meio, há uma frase
  • 26:59 - 27:02
    que resume estas oito negações.
  • 27:20 - 27:23
    E como estamos a divertir-nos
    a aprender um pouco de sânscrito,
  • 27:23 - 27:28
    vou escrevê-las também em sânscrito.
  • 27:34 - 27:49
    [1 anirodham
    2 anutpādam]
  • 27:59 - 28:02
    Anirodham, anutpādam, anucchedam.
  • 28:06 - 28:13
    [3 anucchedam
    4 aśāśvatam]
  • 28:13 - 28:16
    Aśāśvatam.
    É bom ter um quadro comprido.
  • 28:35 - 28:42
    Em sânscrito, o prefixo a- no início
    de uma palavra significa “não”.
  • 28:44 - 28:48
    Nirodha é “cessação”.
  • 28:52 - 28:56
    Quando as coisas —
  • 28:57 - 29:01
    É o oposto de “surgir”, utpāda.
  • 29:01 - 29:08
    Portanto, anutpādam, anirodham.
    Não surgido, não cessado.
  • 29:10 - 29:16
    Anucchedam significa “não destruído”,
    aśāśvatam, “não eterno”.
  • 29:17 - 29:21
    Portanto, não aniquilado, não eterno.
  • 29:28 - 29:40
    [5 anekārtham
    6 anānārtham]
  • 29:50 - 29:53
    Eka significa “um”.
  • 29:54 - 29:56
    Nānā significa “muitos”.
  • 29:57 - 30:00
    Portanto: nem um, nem muitos.
  • 30:07 - 30:18
    [7 anāgamam
    8 anirgamam]
  • 30:26 - 30:30
    Āgama significa
  • 30:33 - 30:34
    “vir”, ou “chegada”.
  • 30:38 - 30:40
    Gam significa “ir”.
  • 30:41 - 30:44
    Anirgam — não ir, não partir.
  • 30:44 - 30:46
    Sem vir, sem ir.
  • 30:47 - 30:55
    Sem vir, sem ir.
    Sem depois, sem antes.
  • 30:59 - 31:05
    O Thay tentou criar poesia
    que expressasse estes conceitos profundos.
  • 31:06 - 31:10
    Porque ele não queria que as pessoas
    ficassem apenas a criar ideias sobre isto,
  • 31:10 - 31:14
    tal como Nagarjuna
    tentava libertar-nos da filosofia,
  • 31:14 - 31:16
    do filosofar.
  • 31:17 - 31:20
    Ele tentava ajudar-nos a ver como,
    na raiz do nosso pensamento,
  • 31:20 - 31:26
    podemos encontrar estes oito conceitos:
    surgimento, cessação,
  • 31:28 - 31:30
    aniquilação,
  • 31:34 - 31:37
    eternidade ou permanência.
  • 31:40 - 31:42
    Um e muitos.
  • 31:44 - 31:46
    Vir e ir.
  • 31:50 - 31:57
    Por exemplo, voltando
    à imagem do sapo no prato,
  • 31:59 - 32:02
    tendemos a pensar que temos um “eu” separado.
  • 32:03 - 32:08
    E à medida que vamos de um lugar para outro,
    levamos esse “eu” connosco.
  • 32:08 - 32:15
    O que sou agora é o mesmo que sou
    quando caminho até ali ou vou para aquele lugar.
  • 32:17 - 32:22
    Com a prática, começamos a largar
    esse conceito e vemos que,
  • 32:24 - 32:29
    na verdade, as nossas ideias sobre quem somos
    são apenas isso — ideias, conceitos.
  • 32:30 - 32:35
    E permitimos a nós próprios
    mudar a cada momento,
  • 32:36 - 32:39
    para ter a possibilidade de não
  • 32:42 - 32:48
    nos agarrarmos a esta ou àquela ideia sobre nós.
  • 32:50 - 32:55
    Com essa perceção, também começamos
    a olhar para os outros com novos olhos.
  • 32:55 - 32:57
    Vemos que, a cada instante,
    aquela pessoa está a mudar,
  • 32:58 - 33:02
    e as nossas ideias sobre quem ela é,
    o que gosta
  • 33:02 - 33:04
    ou não gosta,
  • 33:05 - 33:10
    quem é, de onde vem —
    tudo isso pode dissipar-se
  • 33:11 - 33:16
    se permitirmos que as nossas perceções
    possam mudar.
  • 33:18 - 33:21
    Grande parte do sofrimento
    que temos nas nossas relações
  • 33:22 - 33:24
    vem do facto de termos uma ideia fixa
    sobre aquela pessoa.
  • 33:25 - 33:29
    Pensamos que aquela pessoa é assim,
    ou aquela outra é assado.
  • 33:29 - 33:32
    E agarramo-nos fortemente a isso.
  • 33:34 - 33:37
    Mas essa pessoa não é um “eu” separado,
  • 33:38 - 33:40
    ela é impermanente,
    como uma flor, como uma árvore.
  • 33:40 - 33:43
    E está sempre a crescer e a mudar.
  • 33:43 - 33:46
    E mesmo assim continuamos agarrados
    à nossa ideia: esta é aquela pessoa,
  • 33:46 - 33:50
    é isto que amo nela,
    ou é isto que detesto nela.
  • 33:50 - 33:54
    E sempre que vemos essa pessoa,
    sentimos amor
  • 33:54 - 33:57
    ou queremos impor-lhe
    a nossa ideia sobre ela,
  • 33:58 - 34:01
    em vez de nos abrirmos
    à possibilidade da mudança,
  • 34:01 - 34:04
    do novo crescimento, da nova possibilidade.
  • 34:05 - 34:08
    Portanto, este ensinamento de
    “não vir, não ir”,
  • 34:13 - 34:18
    o Thay usava muitas vezes o exemplo da chama.
    Hoje não trouxe fósforos.
  • 34:26 - 34:29
    Quando ele criava as condições suficientes
    para acender uma chama,
  • 34:32 - 34:34
    riscava um fósforo,
    e a chama manifestava-se.
  • 34:35 - 34:39
    E ele perguntava à chama:
  • 34:39 - 34:42
    “Querida chama, de onde vieste?
  • 34:42 - 34:49
    Vieste do norte? Do sul?
    Do leste, do oeste? De cima? De baixo?”
  • 34:51 - 34:55
    E, olhando profundamente,
    a chama podia responder e dizer:
  • 34:56 - 34:58
    “Querido Thay, querida sangha,
    eu não vim do norte,
  • 34:58 - 35:01
    nem do sul, nem do leste, nem do oeste,
  • 35:01 - 35:07
    nem de cima, nem de baixo.
    Quando as condições são suficientes, eu manifesto-me.
  • 35:07 - 35:11
    E quando as condições já não são suficientes,
    eu deixo de me manifestar.”
  • 35:14 - 35:20
    Esse é um exemplo direto
    do ensinamento sobre “não vir, não ir”.
  • 35:21 - 35:25
    Podemos dizer: “Ah! O fósforo
    que saiu da caixa
  • 35:25 - 35:31
    é o mesmo que
    o que está a arder com a chama.”
  • 35:34 - 35:41
    Mas isso não reconhece
    a mudança que ocorreu,
  • 35:40 - 35:42
    a sua natureza impermanente.
  • 35:43 - 35:45
    Porque adicionámos
    a última condição,
  • 35:45 - 35:49
    que é riscar o fósforo
    na superfície de ignição.
  • 35:52 - 35:57
    De forma visível e óbvia, o fósforo muda. Começa a arder.
  • 35:56 - 36:02
    E esse material de madeira em combustão,
    juntamente com o oxigénio no ar,
  • 36:02 - 36:09
    transforma-se em calor e luz
    que podemos testemunhar.
  • 36:10 - 36:14
    Mas mesmo a um nível mais subtil,
    podemos dizer que, em cada instante,
  • 36:14 - 36:18
    — e esta é a perceção de Nagarjuna —
  • 36:17 - 36:21
    em cada momento
    há mudança a acontecer.
  • 36:25 - 36:29
    Se reconhecermos que
    não há um “eu” separado
  • 36:29 - 36:33
    neste corpo, nestes sentimentos,
    nestas perceções,
  • 36:33 - 36:36
    nestas formações mentais,
    nesta consciência,
  • 36:36 - 36:42
    também podemos reconhecer que
    isso é verdade em todas as coisas.
  • 36:43 - 36:45
    Na flor, por exemplo.
  • 36:46 - 36:53
    Se eu retirar o sol, se retirar a chuva,
    se retirar a água, a terra,
  • 36:54 - 36:58
    então já não existem condições suficientes
    para que a flor se manifeste.
  • 36:58 - 37:02
    E a flor não veio de lado nenhum,
    nem vai para lado nenhum.
  • 37:02 - 37:07
    Não veio de uma semente
    e não está a voltar para a terra.
  • 37:07 - 37:10
    Em cada momento, está a manifestar-se
  • 37:10 - 37:13
    completamente de acordo com as condições
    que são suficientes.
  • 37:14 - 37:17
    Se houver mais chuva,
    se houver mais sol,
  • 37:17 - 37:20
    isso vai estimular
    mais crescimento na planta.
  • 37:22 - 37:29
    Portanto, o convite é olhar para
    cada instante como uma nova manifestação.
  • 37:31 - 37:38
    E perceber que a planta
    que vimos num instante anterior,
  • 37:39 - 37:44
    de certo modo…
    a mudança continua a acontecer.
  • 37:46 - 37:49
    E não podemos dizer que
  • 37:49 - 37:52
    essa planta é a mesma
  • 37:53 - 37:55
    da que estava lá um instante antes.
  • 37:57 - 38:02
    E o Thay chamava a isso
    a natureza cinematográfica da realidade.
  • 38:02 - 38:05
    Que também se aplica à nossa mente.
  • 38:06 - 38:10
    Percebemos as coisas em movimento.
  • 38:11 - 38:15
    Mas tal como no cinema,
    são instantes —
  • 38:21 - 38:27
    muitos instantes que,
    na nossa mente, para reduzir
  • 38:27 - 38:31
    a largura de banda da nossa compreensão,
  • 38:33 - 38:36
    juntamos numa única
    movimentação contínua.
  • 38:37 - 38:40
    Como alguém que segura uma vela
  • 38:40 - 38:44
    e a move em círculo no escuro.
  • 38:43 - 38:47
    Se a mover depressa,
    parece um círculo completo,
  • 38:48 - 38:51
    mas na verdade, em cada instante,
    se tirássemos uma imagem,
  • 38:51 - 38:55
    veríamos apenas uma luz,
    uma chama de uma vela.
  • 38:56 - 39:01
    Então o convite de não vir nem ir
    é ver cada momento dessa forma.
  • 39:03 - 39:05
    Que há um...
  • 39:07 - 39:14
    Não podemos dizer que
    o que estava ali, que foi para ali,
  • 39:14 - 39:19
    é o mesmo que era antes de partir.
  • 39:19 - 39:25
    Porque já está —
    não há um “eu” permanente ali,
  • 39:25 - 39:28
    já mudou.
  • 39:29 - 39:31
    Então, acreditar no vir,
  • 39:31 - 39:35
    que as coisas realmente vêm daqui
    e vão para ali,
  • 39:35 - 39:40
    é também, a um nível profundo,
    uma crença num eu separado.
  • 39:40 - 39:43
    Ainda há algo permanente,
  • 39:43 - 39:46
    algo a que eu possa chamar “eu”,
    ou “meu”, ou “a flor”,
  • 39:47 - 39:52
    ou “a chama” que é essencial.
  • 39:55 - 40:00
    E estas oito negações
    interpenetram-se.
  • 40:00 - 40:03
    Já estamos, portanto, a falar sobre
    nem o mesmo nem diferente,
  • 40:04 - 40:08
    quando perguntamos: Será o fósforo
    que está agora a arder
  • 40:08 - 40:12
    o mesmo fósforo
    de antes de começar a arder?
  • 40:14 - 40:16
    E o Thay iria mais longe,
  • 40:16 - 40:20
    pegava numa chama
    e acendia outro fósforo com ela.
  • 40:20 - 40:24
    Normalmente, quando íamos em digressão com o Thay,
    ele comprava fósforos muito longos.
  • 40:25 - 40:27
    Por isso, sempre que entro
    numa loja em qualquer parte do mundo
  • 40:28 - 40:32
    e encontro esse tipo de fósforos
    muito compridos, lembro-me do Thay.
  • 40:32 - 40:35
    E compro sempre alguns
    só para os ter por perto.
  • 40:36 - 40:38
    Hoje não os trouxe,
  • 40:38 - 40:43
    mas é útil ter um fósforo comprido
    que possa arder bastante tempo.
  • 40:44 - 40:48
    Então ele acendia o segundo fósforo
    e depois dizia:
  • 40:48 - 40:52
    Olhava para as duas chamas e dizia:
    “Querida chama,
  • 40:52 - 40:56
    esta nova chama. És tu a mesma chama
    que a anterior,
  • 40:56 - 40:59
    ou és uma chama diferente?”
  • 41:01 - 41:04
    E ao olharmos profundamente, conseguimos ver
  • 41:04 - 41:10
    que não podemos dizer que a nova chama
    é completamente diferente da chama original.
  • 41:10 - 41:14
    Mas também não podemos dizer
    que é exatamente a mesma.
  • 41:15 - 41:18
    Igual e diferente são extremos.
  • 41:20 - 41:22
    Olhando mais profundamente, podemos ver que
  • 41:22 - 41:25
    nenhuma das duas
    consegue descrever completamente
  • 41:26 - 41:32
    a relação entre
    estas duas chamas.
  • 41:35 - 41:37
    O mesmo se aplica às pessoas.
  • 41:39 - 41:45
    Lembro-me de o Thay contar muitas vezes a história de:
  • 41:48 - 41:53
    Havia um casal.
    Fizeram votos de praticar
  • 41:55 - 41:59
    juntos no casamento
    e de ajudarem-se mutuamente a —
  • 42:01 - 42:05
    Se um deles se zangasse, não regar
    a semente da raiva no outro.
  • 42:06 - 42:08
    Um tipo de tratado de paz
  • 42:08 - 42:13
    que oferecemos a muitos dos nossos praticantes
    que vivem em relação de casal.
  • 42:15 - 42:19
    Há uma cerimónia própria para isso.
  • 42:21 - 42:27
    E também temos uma cerimónia chamada
    As Cinco Tomadas de Consciência, onde —
  • 42:29 - 42:32
    É como um casamento,
  • 42:32 - 42:35
    mas mais um compromisso
    de praticar juntos como casal.
  • 42:36 - 42:39
    Essa cerimónia
    decorreu durante o retiro.
  • 42:39 - 42:42
    E no final do retiro,
  • 42:42 - 42:46
    o Thay convidou o casal a subir.
  • 42:47 - 42:51
    E um dos parceiros perguntou ao outro:
  • 42:52 - 43:00
    “Sou a mesma pessoa com quem casaste ontem?
    Ou sou uma pessoa diferente?”
  • 43:01 - 43:03
    E o outro respondeu: “Meu querido,
  • 43:04 - 43:07
    tu não és a mesma pessoa
    com quem casei ontem,
  • 43:07 - 43:09
    nem és uma pessoa completamente diferente.”
  • 43:09 - 43:13
    E isso está muito mais próximo
    da realidade das coisas.
  • 43:14 - 43:19
    Se pudermos olhar para o nosso companheiro ou companheira
    todos os dias com esses olhos,
  • 43:19 - 43:23
    com esse discernimento,
    sofreremos muito menos.
  • 43:24 - 43:28
    Aprenderemos a largar
    os nossos conceitos, os nossos preconceitos,
  • 43:28 - 43:34
    os nossos julgamentos sobre o outro
    e vê-lo como uma maravilha da natureza.
  • 43:35 - 43:39
    Uma maravilha da vida, sempre a crescer,
    sempre a mudar.
  • 43:38 - 43:43
    E deixamos ir as ideias de identidade ou alteridade.
  • 43:52 - 43:56
    Nem surgir, nem cessar.
  • 43:57 - 44:03
    Tendemos a ver a nossa vida como uma linha.
  • 44:05 - 44:06
    Neste ponto,
  • 44:08 - 44:09
    nascemos.
  • 44:12 - 44:14
    Vivemos a vida,
  • 44:15 - 44:19
    envelhecemos e depois, neste ponto,
    morremos subitamente.
  • 44:19 - 44:24
    Temos uma ideia simplista de que
  • 44:26 - 44:31
    aqui em baixo está o reino do não-ser.
  • 44:31 - 44:33
    [não-ser]
  • 44:33 - 44:36
    E aqui em cima está o reino do ser.
  • 44:37 - 44:39
    [ser]
  • 44:39 - 44:42
    De alguma forma, a partir do reino do não-ser,
  • 44:42 - 44:45
    em certo momento, entramos
    no reino do ser
  • 44:45 - 44:47
    quando nascemos.
  • 44:47 - 44:51
    E depois, passamos muito —
    na verdade, pouquíssimo tempo
  • 44:53 - 44:56
    no reino do ser, e então, a certo ponto,
  • 44:56 - 44:59
    regressamos ao reino do não-ser.
  • 45:01 - 45:03
    Dizemos que
  • 45:05 - 45:11
    temos um dia de nascimento,
    e também um dia de morte.
  • 45:11 - 45:15
    E no dia de nascimento, do não-ser
    passamos ao ser.
  • 45:16 - 45:20
    E no dia da morte, do ser
    regressamos ao não-ser.
  • 45:21 - 45:23
    Isso é —
  • 45:23 - 45:25
    Para a maioria de nós,
  • 45:25 - 45:29
    essa é a nossa forma fundamental
    de olhar para o nascimento e a morte.
  • 45:32 - 45:35
    Mas quando olhamos mais profundamente
    com os olhos do interser,
  • 45:35 - 45:36
    vemos que
  • 45:40 - 45:44
    cada aspeto deste corpo vem
  • 45:50 - 45:54
    da terra, do sol,
    da chuva,
  • 45:55 - 45:58
    de antigas supernovas.
  • 45:59 - 46:02
    Os metais pesados no nosso corpo
    e na Terra
  • 46:03 - 46:07
    existem por causa das
    imensas pressões e calor
  • 46:07 - 46:10
    gerados pela explosão
    de estrelas antigas.
  • 46:11 - 46:15
    E esse material
    está em cada célula do nosso corpo.
  • 46:16 - 46:20
    E este corpo é apenas uma das muitas
    manifestações desse material.
  • 46:21 - 46:23
    E isso é apenas no plano material.
  • 46:24 - 46:26
    No plano das sensações, sabemos que
  • 46:27 - 46:31
    as sensações que experimentamos
    são uma continuação das sensações
  • 46:31 - 46:34
    da nossa mãe, do nosso pai, dos nossos antepassados,
  • 46:35 - 46:41
    voltando a algo como um macaco,
    algo como um peixe.
  • 46:42 - 46:48
    São formas de responder
    a certas situações
  • 46:48 - 46:52
    que foram continuadas e transmitidas
  • 46:53 - 46:58
    para nos manter livres do medo,
    do perigo, de situações difíceis,
  • 47:00 - 47:05
    de sermos comidos, e por aí fora.
  • 47:06 - 47:09
    O mesmo se aplica às nossas perceções,
    formações mentais, consciência.
  • 47:10 - 47:13
    Tudo isso também vem
    do coletivo.
  • 47:14 - 47:20
    Temos um medo coletivo, e
    o medo pode propagar-se como fogo selvagem
  • 47:22 - 47:25
    através da consciência coletiva.
  • 47:25 - 47:29
    E podemos absorver medo, se não estivermos atentos
    a cuidar da nossa mente,
  • 47:29 - 47:34
    permitimos que o medo da consciência coletiva
    entre na nossa consciência.
  • 47:34 - 47:42
    E esse medo também existe
    na consciência coletiva,
  • 47:42 - 47:46
    por vezes durante muitas e muitas gerações,
    milhares de gerações.
  • 47:47 - 47:51
    E continua a manifestar-se
    de diferentes formas, como uma chama.
  • 47:54 - 47:59
    Tudo isto é o que
    herdamos no momento presente.
  • 48:02 - 48:07
    E essas coisas nunca estiveram verdadeiramente
    no reino do não-ser.
  • 48:07 - 48:12
    Continuaram a manifestar-se
    desde tempos sem início.
  • 48:13 - 48:18
    Esse é o discernimento do Buda —
  • 48:19 - 48:24
    Ele disse que, se olharmos e
    pegarmos neste corpo, ou nestas coisas,
  • 48:24 - 48:27
    e tentarmos separá-las
    do resto da realidade,
  • 48:27 - 48:30
    então parece que há nascimento e morte.
  • 48:31 - 48:34
    Mas se formos mais fundo e olharmos
    com os olhos do interser,
  • 48:34 - 48:38
    vemos que este medo
    que experimento hoje
  • 48:38 - 48:42
    não veio do reino do não-ser.
  • 48:41 - 48:45
    Parece que, do nada,
    se torna em algo.
  • 48:46 - 48:50
    Mas, na verdade, já estava lá
    sob forma de semente.
  • 48:52 - 48:54
    Simplesmente não era diretamente percetível.
  • 48:55 - 48:59
    Tal como a nuvem,
    que nunca morre,
  • 48:59 - 49:04
    que se torna chuva,
    como já aprendemos muitas vezes.
  • 49:04 - 49:06
    É uma imagem tão útil,
  • 49:08 - 49:10
    por isso voltamos a ela sempre.
  • 49:10 - 49:13
    A nuvem torna-se chuva,
    torna-se rio, torna-se oceano,
  • 49:14 - 49:17
    e depois evapora-se de novo,
    tornando-se nuvem.
  • 49:17 - 49:21
    Mas, ao nível da aparência, parece que
    a nuvem nasce com a evaporação
  • 49:21 - 49:27
    e depois morre ou desaparece
    quando cai como chuva.
  • 49:29 - 49:31
    Mas se virmos que é apenas
    uma mudança de forma,
  • 49:32 - 49:37
    então deixamos de ter
    medo de perder a nossa nuvem.
  • 49:38 - 49:42
    O mesmo se aplica a este
    conceito de nascimento e morte,
  • 49:42 - 49:45
    surgimento e cessação.
  • 49:47 - 49:49
    Quando olhamos profundamente,
  • 49:49 - 49:53
    vemos a natureza do não-surgimento
    e da não-cessação de todas as coisas.
  • 49:53 - 49:56
    Significa que nada se perde.
  • 49:57 - 50:00
    Tudo apenas se transforma,
  • 50:01 - 50:05
    incluindo este corpo, estes sentimentos,
    estas percepções, e assim por diante.
  • 50:06 - 50:14
    Então podemos libertar-nos
    dessa linha artificial entre nascimento e morte,
  • 50:15 - 50:20
    entre ser e não-ser, e perceber que,
    ao criarmos o ser, criamos o não-ser.
  • 50:21 - 50:25
    Ao criarmos o surgimento,
    automaticamente criamos a cessação.
  • 50:25 - 50:30
    Se removermos os nossos conceitos de surgimento
    e olharmos mais profundamente e virmos que
  • 50:31 - 50:33
    existe apenas transformação,
  • 50:34 - 50:39
    então também o conceito de cessação desaparece.
  • 50:39 - 50:45
    E com ele desaparece o nosso medo da morte,
    o nosso medo deste corpo morrer.
  • 50:46 - 50:49
    Vemos que a cada momento
    existe esta transformação.
  • 50:50 - 50:55
    E quando este corpo nasce
    do ventre da nossa mãe,
  • 50:56 - 50:58
    e quando volta à terra,
  • 50:58 - 51:02
    na verdade, a cada momento
    as células da nossa pele estão a regressar à terra,
  • 51:02 - 51:04
    as nossas células estão a morrer, de facto.
  • 51:05 - 51:09
    Thay dizia muitas vezes que não temos tempo
    suficiente para fazer funerais
  • 51:09 - 51:13
    para todas as células que morrem
    no nosso corpo. E é bem verdade.
  • 51:13 - 51:19
    Este ecossistema inteiro do nosso corpo,
    um bioma, está constantemente a nascer.
  • 51:22 - 51:24
    Os biólogos dizem que
  • 51:25 - 51:29
    de uma das nossas pernas
    até cerca do joelho,
  • 51:31 - 51:34
    todas as células que estão nessa
    parte do corpo
  • 51:33 - 51:37
    são as únicas células
    que podemos verdadeiramente chamar de humanas.
  • 51:39 - 51:46
    O resto do nosso corpo é composto por
    todo o tipo de outras coisas: bactérias, fungos.
  • 51:47 - 51:50
    As muitas coisas que compõem
    o ecossistema do nosso corpo.
  • 51:51 - 51:54
    Mas como temos uma maneira muito simplista
    de ver as coisas,
  • 51:55 - 51:59
    pensamos: ‘Ah! Este corpo sou eu.’
    Na verdade, somos um ecossistema.
  • 51:59 - 52:02
    E interagimos uns com os outros
  • 52:02 - 52:08
    através de expressões faciais,
    através da linguagem vocal,
  • 52:11 - 52:13
    através da consciência.
  • 52:14 - 52:20
    Por isso não é verdadeiro deixarmo-nos levar
    pela visão superficial das coisas
  • 52:20 - 52:24
    e dizer, ‘Este corpo é algo separado
    daquele outro corpo.’
  • 52:26 - 52:31
    Thay dizia muitas vezes que não teve
    filhos de sangue,
  • 52:32 - 52:36
    mas teve muitos filhos espirituais.
    Eles nasceram dos ensinamentos de Thay.
  • 52:37 - 52:42
    E quando escutamos e praticamos o Dharma,
    tornamo-nos uma continuação de Thay,
  • 52:43 - 52:48
    porque Thay não está neste corpo,
    nestes sentimentos, nestas percepções.
  • 52:48 - 52:51
    Thay é o Dharma.
  • 52:53 - 52:56
    Essa é a sua verdadeira natureza.
  • 52:56 - 52:59
    Lembram-se do
    Dhammacakkappavattana Sutta,
  • 53:00 - 53:03
    a colocação em movimento
    da Roda do Dharma.
  • 53:03 - 53:07
    O Buda disse: ‘Pus em movimento
    esta roda do Dharma
  • 53:08 - 53:15
    que não pode ser parada por
    deuses, humanos, devas, asuras...’
  • 53:15 - 53:20
    qualquer tipo de ser que se possa imaginar
    não pode parar esta roda do Dharma.
  • 53:20 - 53:26
    Ela continua a girar, e
    se estivermos abertos, podemos receber o Dharma
  • 53:27 - 53:31
    e permitir em nós a sua prática.
  • 53:32 - 53:36
    E então tornamo-nos
    uma continuação do Buda.
  • 53:41 - 53:45
    O Buda não disse:
    ‘Ah! Eu inventei este Dharma!’
  • 53:46 - 53:48
    Ele descobriu o que já estava lá.
  • 53:48 - 53:51
    Disse que limpava o caminho
  • 53:51 - 53:55
    para outros poderem seguir.
  • 53:57 - 54:01
    É muito interessante. O Buda não disse,
    ‘Eu tive esta ideia incrível,
  • 54:01 - 54:04
    e vou contá-la a toda a gente.’
  • 54:04 - 54:07
    Ele disse: ‘Não, não, não.
    Este Dharma já existe.
  • 54:07 - 54:11
    Tudo o que fiz foi ajudar a
    limpar o mato.’
  • 54:12 - 54:16
    Houve outros budas ou seres
    que realizaram o Dharma,
  • 54:16 - 54:20
    mas às vezes não o
    limparam tão claramente para os outros seguirem.
  • 54:21 - 54:26
    Então ele fez o melhor que pôde, usando palavras,
    ações físicas, pensamentos
  • 54:26 - 54:31
    em cada momento, para tentar
    criar um caminho claro para nós seguirmos.
  • 54:31 - 54:36
    Mas cabe-nos a nós segui-lo e
    permitir que o Dharma entre.
  • 54:38 - 54:42
    Esse é um belo exemplo
    de não-nascimento e não-morte.
  • 54:42 - 54:46
    Neste momento presente,
    se nos abrirmos
  • 54:46 - 54:51
    e permitirmos que as sementes do Dharma
    sejam tocadas
  • 54:51 - 54:56
    pela chuva do Dharma,
  • 54:59 - 55:02
    então elas crescem naturalmente.
  • 55:02 - 55:07
    Essas sementes de compaixão,
    de compreensão, já lá estão.
  • 55:08 - 55:13
    Apenas encontramos uma forma de permitir
    que sejam regadas pelo Dharma.
  • 55:20 - 55:27
    Por isso, o nosso conceito de surgimento
    e desaparecimento também são apenas ideias.
  • 55:28 - 55:32
    E anucchedam, aśāśvatam.
  • 55:33 - 55:38
    Nem aniquilação, nem eterno.
  • 55:40 - 55:44
    Tendemos a ir para os extremos,
  • 55:45 - 55:50
    usamos palavras como, ‘Nunca disse isso,
    nunca faria isso!’,
  • 55:50 - 55:53
    ou, ‘Eu faço isso sempre!’
  • 55:53 - 55:57
    Devemos ter cuidado com os “nunca” e os “sempre”.
  • 55:57 - 56:02
    É mesmo verdade que nunca fizeste isso?
    Que nunca farias tal coisa?
  • 56:02 - 56:05
    És mesmo sempre…?
    Mesmo na nossa linguagem
  • 56:06 - 56:12
    temos conceitos embutidos
    como aniquilação,
  • 56:12 - 56:17
    ou eternidade. Pensamos que –
  • 56:19 - 56:21
    Oscilamos entre
  • 56:21 - 56:25
    algo ser sempre verdade
    ou nunca ser verdade, nunca possível.
  • 56:28 - 56:32
    E depois dizemos, ‘Nunca, nunca, nunca.’
    E depois, de repente, oh!
  • 56:33 - 56:36
    Lá está a exceção. E acontece.
  • 56:38 - 56:41
    Como as pessoas pensam –
  • 56:41 - 56:44
    Desculpem, é o que me vem agora à mente –
    as pessoas pensam, ‘Ah!
  • 56:45 - 56:48
    O fascismo foi algo que
    aconteceu na Europa naquela altura,
  • 56:48 - 56:50
    nunca poderia acontecer na América.’
  • 56:51 - 56:53
    Criam-se crenças assim.
  • 56:54 - 56:59
    E quando se começam a ver os sinais
    de ódio, de autoritarismo,
  • 57:05 - 57:10
    de preconceito, desvia-se o olhar,
    porque não pode estar a acontecer!
  • 57:13 - 57:17
    A tua crença, a tua adesão a essa visão
  • 57:17 - 57:23
    não te permite ver o que se está a passar
    à tua volta e dentro de ti.
  • 57:23 - 57:27
    Por baixo destes conceitos
    de "sempre" e "nunca",
  • 57:29 - 57:35
    existe esta crença básica
    de que algo é sempre verdadeiro
  • 57:35 - 57:40
    ou nunca —
    eterno ou aniquilado.
  • 57:41 - 57:46
    Isto serve apenas para nos ajudar
    a deixar de estar presos.
  • 57:45 - 57:50
    Estas oito negações de Nagarjuna
  • 57:51 - 57:54
    servem para nos ajudar a olhar profundamente
    para a natureza do nosso pensamento,
  • 57:54 - 57:59
    para que possamos libertar-nos
    do apego às visões,
  • 58:02 - 58:08
    e ver a verdadeira essência do nosso sofrimento,
  • 58:10 - 58:13
    que está no apego
    aos nossos conceitos e visões.
  • 58:14 - 58:16
    E então podemos simplesmente fluir.
  • 58:17 - 58:22
    Grande parte do Dharma consiste apenas
    em aprender a estar com o que é,
  • 58:25 - 58:32
    em vez de tentar impor as nossas visões,
    os nossos conceitos à realidade.
  • 58:34 - 58:38
    No oitavo princípio,
    aprendemos a aplicar na prática
  • 58:38 - 58:42
    as oito negações que aprendemos
    no sétimo princípio,
  • 58:43 - 58:44
    com o ensinamento
  • 58:45 - 58:49
    sobre as três concentrações.
  • 58:54 - 58:58
    Portanto, o oitavo princípio:
  • 59:02 - 59:13
    A concentração no vazio,
  • 59:13 - 59:21
    [8. A concentração no vazio,]
  • 59:23 - 59:26
    na ausência de sinais,
  • 59:26 - 59:30
    [na ausência de sinais,]
  • 59:36 - 59:39
    e na ausência de objetivos
  • 59:41 - 59:47
    [e na ausência de objetivos]
  • 59:48 - 59:51
    ajuda-nos a tocar o nirvana
  • 59:53 - 59:59
    [ajuda-nos a tocar o nirvāṇa]
  • 60:14 - 60:17
    e o incondicionado.
  • 60:19 - 60:24
    [e o incondicionado.]
  • 60:36 - 60:42
    Estas três concentrações são chamadas
    as três portas da libertação,
  • 60:44 - 60:47
    porque abrem um caminho para nós.
  • 60:47 - 60:55
    Quando estamos presos na nossa visão,
    presos a algum apego
  • 60:56 - 61:02
    a nós próprios, a outra pessoa,
    a uma determinada forma de ver as coisas,
  • 61:04 - 61:09
    podemos meditar
    na concentração sobre o vazio.
  • 61:12 - 61:17
    Na última aula aprendemos que o vazio
    não é o nada, nem o não-ser.
  • 61:19 - 61:21
    O vazio é
  • 61:23 - 61:26
    a ausência de um “eu” separado.
  • 61:28 - 61:34
    Portanto, não é um conceito
    sobre o qual basear uma filosofia,
  • 61:36 - 61:38
    mas sim uma prática.
  • 61:40 - 61:44
    Olhamos para todas as coisas, como a nuvem,
  • 61:44 - 61:50
    e vemos que a natureza vazia
    da nuvem é que ela é feita de
  • 61:51 - 61:54
    água evaporada do oceano,
  • 61:54 - 61:58
    do sol que forneceu
    a energia para a evaporar,
  • 61:58 - 62:03
    da capacidade do ar
    de conter as gotas de água, e por aí fora.
  • 62:04 - 62:08
    E todas estas condições —
    a temperatura, a pressão atmosférica adequada —
  • 62:09 - 62:14
    combinam-se para que a nuvem
    possa estar ali, manifestar-se.
  • 62:14 - 62:18
    Se eu remover alguma dessas condições,
    a nuvem já não se pode manifestar.
  • 62:18 - 62:23
    Essa é a natureza vazia da nuvem.
  • 62:23 - 62:26
    Ela está vazia de — ou seja,
  • 62:26 - 62:30
    está cheia de tudo,
    exceto de uma única coisa: um “eu” separado.
  • 62:30 - 62:33
    Ela não pode existir sozinha, por si só.
  • 62:34 - 62:38
    E essa é uma meditação
    que fazemos como praticantes.
  • 62:39 - 62:44
    Usamos o exemplo da nuvem, ou
    da flor, ou da comida que estamos a comer,
  • 62:44 - 62:49
    mas para ir mais fundo, gosto de voltar-me
    para o meu corpo.
  • 62:49 - 62:52
    E ver que este corpo também é vazio.
  • 62:53 - 62:58
    Significa que está cheio de todo o cosmos,
    mas vazio de apenas uma coisa:
  • 62:58 - 63:01
    um “eu” separado.
  • 63:01 - 63:07
    Não há nenhuma essência que esteja lá,
  • 63:08 - 63:10
    que de algum modo —
  • 63:12 - 63:17
    que não dependa de mais nada.
  • 63:17 - 63:21
    Tudo depende de tudo o resto.
  • 63:21 - 63:26
    Para que este corpo se manifeste, para que
    estas sensações se manifestem, e por aí fora,
  • 63:26 - 63:30
    e os cinco skandhas.
  • 63:31 - 63:36
    Isto não é com o propósito de fazer ontologia,
  • 63:38 - 63:43
    ou de tentar provar uma teoria
    sobre o ser e o não-ser,
  • 63:43 - 63:48
    mas com o propósito de nos libertarmos
    do apego às visões.
  • 63:49 - 63:55
    É uma meditação, uma meditação guiada
    que podemos fazer com tudo.
  • 63:55 - 63:58
    Continua-se a praticá-la.
  • 63:58 - 64:01
    E especialmente com aquelas coisas
    às quais sentimos:
  • 64:01 - 64:04
    “Não, não! Mas há mesmo um irmão essencial ali!
    Não consigo largar! O irmão essencial!”
  • 64:04 - 64:09
    Ou o Thay essencial!
  • 64:09 - 64:13
    Ou seja o que for. Seja qual for
    a coisa à qual estejas mais apegado,
  • 64:14 - 64:18
    usas isso como objeto da tua
    concentração sobre o vazio.
  • 64:18 - 64:20
    E olhas profundamente para isso,
  • 64:20 - 64:23
    e vês que
    é feito apenas de elementos que não são ele.
  • 64:24 - 64:26
    Então tornas-te livre do teu apego,
  • 64:26 - 64:31
    porque vês que, quando
    as condições são suficientes, isso manifesta-se.
  • 64:31 - 64:35
    E quando as condições já não são
    suficientes, deixa de se manifestar.
  • 64:35 - 64:38
    Tocas a sua natureza impermanente.
  • 64:38 - 64:42
    O vazio é a porta de entrada
    para a natureza da impermanência,
  • 64:42 - 64:47
    e ajuda-nos a libertar-nos
    do nosso apego a essa coisa.
  • 64:51 - 64:55
    Vazio, ausência de sinais.
  • 64:58 - 65:00
    E em sânscrito, vazio é —
  • 65:01 - 65:03
    (Estou prestes a apagar isto.)
  • 65:15 - 65:19
    [śūnyatā]
  • 65:19 - 65:22
    Śūnyatā.
  • 65:26 - 65:30
    E a ausência de sinais é animitta.
  • 65:31 - 65:34
    [animitta]
  • 65:34 - 65:38
    "Imitta" significa algo como um sinal ou marca.
  • 65:38 - 65:43
    Portanto, animitta é ver
    a natureza sem sinais das coisas.
  • 65:44 - 65:49
    É ver que os rótulos que colocamos na flor
    não são a flor,
  • 65:51 - 65:57
    que as nossas ideias, as nossas teorias
    sobre as coisas estão cheias de percepções erradas.
  • 65:57 - 66:03
    São apenas aproximações vagas
    da realidade da vida.
  • 66:06 - 66:08
    Por isso, sempre que —
  • 66:09 - 66:13
    Claro que podemos pensar que
    um mais um dá dois,
  • 66:14 - 66:15
    e isso é útil.
  • 66:16 - 66:20
    É uma ferramenta para compreender
    a natureza da adição.
  • 66:20 - 66:23
    Se tenho uma flor
    e pego noutra flor,
  • 66:23 - 66:26
    isso faz duas flores.
  • 66:27 - 66:29
    Mas, num sentido mais profundo, sabemos que
  • 66:29 - 66:34
    essas flores são também apenas
    transformações de outras coisas,
  • 66:34 - 66:38
    e não podemos dizer que
    aquela flor é apenas uma.
  • 66:38 - 66:43
    Olhando profundamente, vemos que
    é feita de elementos que não são ela,
  • 66:43 - 66:47
    e que é composta por
    milhares e milhares de milhões de átomos,
  • 66:48 - 66:53
    e que falar de apenas uma flor
    é um pouco simplista.
  • 66:55 - 67:00
    Ao libertarmo-nos dos sinais que
    atribuímos àquela flor,
  • 67:02 - 67:04
    vemos uma vastidão.
  • 67:04 - 67:09
    E permitimos à nossa mente,
    de forma muito aberta e leve,
  • 67:10 - 67:16
    acolher todo o tipo de outras
    possibilidades que se podem manifestar.
  • 67:18 - 67:23
    Na verdade, tudo o que precisas
    para ser feliz está disponível no momento presente.
  • 67:24 - 67:27
    Só não o vês porque estás preso
    às tuas ideias,
  • 67:27 - 67:31
    aos teus conceitos — ao sinal das coisas.
  • 67:31 - 67:33
    Isto é funcional.
  • 67:33 - 67:37
    O cérebro humano tem uma certa capacidade,
    por isso, para funcionar,
  • 67:37 - 67:40
    fazemos estimativas aproximadas.
    É da natureza da nossa mente
  • 67:40 - 67:44
    fazer aproximações só o suficiente
    para evitar o perigo
  • 67:44 - 67:48
    e conseguir o alimento e o sustento
    que precisamos todos os dias.
  • 67:49 - 67:52
    E para nos mantermos quentes,
    e dormirmos num lugar seco e seguro.
  • 67:53 - 67:56
    Mas mais capacidade, não queremos desperdiçar.
  • 67:56 - 68:04
    Só temos uma certa quantidade de energia,
    vinda da glicose que arde nas nossas células
  • 68:05 - 68:08
    para alimentar o cérebro.
  • 68:10 - 68:16
    Temos de priorizar decisões constantemente.
    Está no nosso código evolutivo.
  • 68:17 - 68:19
    Então, para reduzir o esforço —
  • 68:19 - 68:22
    Se prestássemos atenção
    a tudo o que está presente,
  • 68:22 - 68:26
    ficaríamos completamente deslumbrados.
    E há pessoas com distúrbios assim.
  • 68:27 - 68:32
    Têm muita dificuldade
    em focar-se apenas numa coisa.
  • 68:36 - 68:40
    Evoluímos na natureza para conseguir
    focar, mas com capacidade limitada.
  • 68:41 - 68:43
    Fazemos aproximações.
  • 68:45 - 68:46
    Por exemplo, a nossa visão.
  • 68:47 - 68:52
    Em ambos os olhos existe uma mancha negra,
  • 68:51 - 68:54
    onde a retina se liga ao nervo óptico.
  • 68:55 - 69:01
    E, no entanto, não vemos essa mancha
    no nosso dia a dia.
  • 69:01 - 69:05
    Porque o nosso cérebro preenche a informação
    vinda da periferia.
  • 69:06 - 69:10
    Quando olhamos para o outro lado da sala,
    recebemos informação.
  • 69:11 - 69:15
    E essa informação é preenchida
    na mancha cega,
  • 69:16 - 69:18
    o ponto cego do nosso olho.
  • 69:18 - 69:25
    Acontece completamente em segundo plano.
  • 69:24 - 69:27
    Por isso temos de usar técnicas especiais
  • 69:27 - 69:30
    para realmente
    experimentar o ponto cego.
  • 69:30 - 69:33
    Porque o cérebro preenche
    a informação em falta.
  • 69:34 - 69:36
    É isso que fazemos
    o tempo todo,
  • 69:37 - 69:40
    é assim que surgem
    as nossas percepções erradas.
  • 69:41 - 69:44
    O nosso cérebro preenche a informação extra
    apenas com aproximações.
  • 69:46 - 69:48
    Depois sofremos,
  • 69:49 - 69:52
    porque, no fundo, o cérebro
    está apenas a criar um modelo
  • 69:52 - 69:58
    da realidade experiencial e empírica.
  • 70:00 - 70:04
    E essas aproximações, esses modelos
    na nossa mente, apegamo-nos a eles,
  • 70:05 - 70:07
    e pensamos que a realidade é assim.
  • 70:07 - 70:09
    A ausência de sinais —
    a concentração na ausência de sinais —
  • 70:10 - 70:13
    ajuda-nos a libertar desses modelos.
  • 70:13 - 70:18
    Significa que largamos o desejo de tentar
    obter, alcançar coisas,
  • 70:19 - 70:22
    ganhar dinheiro, fama, poder,
    sexo e todas essas coisas,
  • 70:22 - 70:26
    porque o nosso desejo mais profundo
    é alcançar compreensão.
  • 70:27 - 70:30
    Para isso, precisamos de largar
  • 70:30 - 70:35
    essas coisas que nos levam
    a agarrar-nos ao que está fora.
  • 70:36 - 70:42
    Apenas fazemos aproximações:
    compreender o mercado de ações,
  • 70:43 - 70:47
    compreender a natureza da economia,
    compreender a nossa carreira,
  • 70:47 - 70:50
    compreender o que nos pode levar
    a entrar numa boa escola.
  • 70:50 - 70:55
    É apenas uma série de aproximações
    para criar uma performance
  • 70:56 - 71:00
    que impressione os outros
    para obtermos o que queremos.
  • 71:02 - 71:06
    Mas a concentração na ausência de sinais
    liberta-nos disso.
  • 71:06 - 71:09
    Significa que vemos, com muita clareza, que
  • 71:09 - 71:12
    em nós estão todas as condições
    de que precisamos para a felicidade,
  • 71:12 - 71:15
    e já não precisamos de representar.
  • 71:15 - 71:19
    O que queremos é
    compreender a nossa mente e sermos livres.
  • 71:20 - 71:24
    Por isso, deixo de lado esses sinais,
    já não preciso de me apegar
  • 71:26 - 71:30
    à forma exterior das coisas,
    às características externas.
  • 71:30 - 71:32
    Quero ir mais fundo.
  • 71:32 - 71:35
    E então, sinto-me mais livre e feliz.
  • 71:35 - 71:40
    Essa é a segunda porta da libertação:
    animitta, ou ausência de sinais.
  • 71:40 - 71:42
    E o último é
  • 71:43 - 71:46
    tão saboroso como os outros dois.
  • 71:48 - 71:50
    Ausência de objetivo.
  • 71:51 - 71:54
    [apraṇihita]
  • 71:54 - 71:57
    Apraṇihita.
  • 72:07 - 72:09
    Não há nada a atingir.
  • 72:11 - 72:15
    Nenhum lugar onde ir, nada a fazer,
    já não há pressa.
  • 72:16 - 72:21
    # A felicidade está aqui e agora,
  • 72:22 - 72:27
    # larguei as minhas preocupações.
  • 72:28 - 72:33
    # Nenhum lugar onde ir, nada a fazer.
  • 72:33 - 72:38
    # Já não há pressa. #
  • 72:38 - 72:42
    Isto é a concentração na ausência de objetivo.
  • 72:43 - 72:46
    Não há lugar onde ir, nada a fazer,
    por isso não preciso de ter pressa.
  • 72:47 - 72:51
    Passamos a vida a correr
    a tentar chegar a algum lugar,
  • 72:51 - 72:54
    a obter alguma coisa, a atingir uma meta.
  • 72:55 - 72:58
    E quando lá chegamos,
    ainda não estamos felizes,
  • 72:58 - 73:00
    queremos ir para a próxima coisa.
  • 73:01 - 73:04
    E a próxima, e a próxima,
    até que –
  • 73:04 - 73:09
    E desperdiçamos as nossas vidas,
    as nossas vidas inteiras
    e muitas, muitas vidas,
  • 73:09 - 73:14
    a vida do nosso filho, da nossa filha,
    porque seguem o nosso exemplo,
  • 73:15 - 73:22
    por causa do nosso desejo de ter aquele carro caro,
    de alcançar aquele cargo, de conseguir aquilo,
  • 73:22 - 73:25
    de ir àquela festa
    para a qual mais ninguém foi convidado.
  • 73:27 - 73:31
    Sofremos tanto. Forçamo-nos.
  • 73:32 - 73:35
    E depois, quando lá chegamos,
    não estamos felizes.
  • 73:36 - 73:40
    Um dos jovens do movimento Wake Up,
    logo no início,
  • 73:41 - 73:46
    era consultor numa firma internacional de consultoria.
  • 73:47 - 73:49
    E vivia no Dubai. Ele disse que
  • 73:52 - 73:55
    quanto mais tempo passava lá,
    mais ia descobrindo
  • 73:55 - 73:59
    salas executivas VIP secretas e especiais
  • 73:59 - 74:01
    escondidas no hotel onde vivia.
  • 74:01 - 74:07
    Depois descobria uma sala VIP ainda mais especial
    e ainda mais secreta,
  • 74:07 - 74:13
    e depois outra ainda mais alta, luxuosa,
    uma penthouse secreta VIP executiva.
  • 74:13 - 74:21
    Ele disse: “Havia sempre mais uma
    ainda mais secreta, mais especial, mais VIP secreta,
  • 74:22 - 74:26
    e eu pensava: se ao menos eu conseguisse,
    se ao menos conhecesse as pessoas certas,
  • 74:26 - 74:31
    se ao menos fosse suficientemente bom no meu trabalho,
    então conseguiria entrar nessa suite,
  • 74:31 - 74:33
    conseguiria entrar nessa sala
  • 74:33 - 74:37
    onde haveria, sei lá, um jacuzzi,
    sabões de luxo,
  • 74:37 - 74:41
    e talvez muito álcool,
    e, não sei, mulheres bonitas.
  • 74:41 - 74:43
    Não sei o que haveria lá,
  • 74:43 - 74:46
    mas ele apercebeu-se que na sua mente,
    na sua mentalidade,
  • 74:46 - 74:49
    tinha chegado a um ponto tão ridículo
  • 74:52 - 74:55
    que se empurrava a si mesmo
    só para chegar a esse lugar,
  • 74:56 - 75:01
    a essa coisa especial e secreta que dizia:
    “Eu sou a pessoa mais importante.
  • 75:02 - 75:05
    Eu sou a pessoa mais importante.”
  • 75:07 - 75:09
    E ele sofria imenso.
  • 75:09 - 75:11
    Por isso, largou tudo,
    despediu-se do trabalho
  • 75:12 - 75:14
    e juntou-se ao movimento Wake Up.
  • 75:15 - 75:18
    Somos responsáveis por muitos jovens
    que se demitiram dos seus empregos.
  • 75:18 - 75:20
    Por isso, cuidado!
  • 75:21 - 75:26
    Esta concentração na ausência de objetivo
    pode ser muito libertadora
    de formas muito concretas.
  • 75:29 - 75:31
    Percebemos que
  • 75:33 - 75:36
    o que temos procurado na nossa vida
    não nos traz felicidade.
  • 75:39 - 75:44
    Em 2013, quando o Thay foi convidado
    a falar no Banco Mundial, ele perguntou-lhes,
  • 75:45 - 75:48
    "Querem ser –" aos funcionários do Banco Mundial,
  • 75:48 - 75:52
    "Querem ser os primeiros
    ou querem ser felizes?
  • 75:52 - 75:53
    Têm de escolher."
  • 75:57 - 76:00
    A maioria queria ser os primeiros
    e queria ser feliz.
  • 76:00 - 76:04
    E isso é verdade para muitos de nós.
    Queremos que todos nos admirem,
  • 76:04 - 76:08
    que pensem que somos a pessoa mais importante,
    e também queremos ser felizes.
  • 76:09 - 76:11
    Mas a realidade é que
  • 76:13 - 76:17
    os mais admirados, os mais amados,
  • 76:17 - 76:21
    muitas vezes são pessoas muito, muito infelizes,
  • 76:21 - 76:27
    porque não conseguem pôr fim à
    admiração que desejam dos outros.
  • 76:32 - 76:35
    Há sempre alguém
    com mais gostos no YouTube,
  • 76:36 - 76:38
    há sempre alguém
  • 76:39 - 76:43
    com um tweet mais espirituoso,
  • 76:44 - 76:46
    que tem mais visualizações.
    Há sempre alguém.
  • 76:47 - 76:50
    É uma manifestação concreta
    de um processo psicológico
  • 76:50 - 76:55
    de tentar alcançar,
    ser o mais importante.
  • 76:57 - 76:59
    E mesmo quando se chega lá, continua-se a sofrer,
  • 76:59 - 77:02
    porque queremos fazer ainda mais,
    e mais, e mais.
  • 77:02 - 77:05
    Por isso, a concentração na ausência de objetivo
  • 77:05 - 77:08
    segue naturalmente a concentração na vacuidade,
  • 77:09 - 77:12
    deixar de acreditar
  • 77:12 - 77:16
    na existência de um eu separado.
  • 77:17 - 77:21
    A concentração na ausência de sinais.
    Deixar de ficar preso
  • 77:21 - 77:26
    à forma exterior,
    às características das coisas.
  • 77:27 - 77:32
    E deixamos naturalmente de tentar alcançar
    seja o que for,
  • 77:34 - 77:36
    mesmo o nirvana.
  • 77:40 - 77:43
    Nem sequer precisamos de tocar no nirvana.
  • 77:43 - 77:47
    Não temos de ir a lado nenhum
    porque ele já está aqui!
  • 77:47 - 77:51
    O Thay dizia sempre que já estamos “nirvanizados”
    desde tempos sem início.
  • 77:53 - 77:54
    Apenas não o sabemos.
  • 77:55 - 77:58
    Por isso, é uma questão de despertar
    para aquilo que já está presente.
  • 77:58 - 78:01
    Essa é a beleza do Dharma,
    não temos de ir a lado nenhum,
  • 78:02 - 78:06
    podemos estar numa cela
    com apenas alguns metros quadrados à volta
  • 78:07 - 78:10
    e podemos praticar a meditação andando.
  • 78:11 - 78:13
    Podemos praticar a respiração consciente,
  • 78:13 - 78:17
    largar os pensamentos, os apegos,
  • 78:18 - 78:21
    e tocar a liberdade.
    Não precisamos de ir a lado nenhum.
  • 78:23 - 78:25
    Este é o oitavo princípio:
  • 78:25 - 78:31
    desenvolver a concentração
    na vacuidade, ausência de sinais e ausência de objetivo.
  • 78:33 - 78:36
    Vamos parar por aqui
    porque já passámos um pouco do tempo,
  • 78:36 - 78:41
    e vamos continuar a olhar profundamente
    para estas três portas da libertação,
  • 78:42 - 78:46
    estas três concentrações,
    nas próximas sessões.
  • 78:48 - 78:51
    Obrigado,
    queridos irmãos e irmãs.
  • 79:05 - 79:07
    (Sino)
  • 79:10 - 79:16
    (Sino)
  • 79:33 - 79:38
    (Sino)
  • 79:56 - 80:02
    (Sino)
  • 80:18 - 80:19
    (Sino)
Title:
The 40 Tenets of Plum Village with Brother Phap Luu | Class #8
Description:

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Video Language:
English
Duration:
01:20:35

Portuguese subtitles

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