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A época humana: a época do Antropoceno enquanto modernidade terrena | Robert Thorson | TEDxUConn

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    A caminho do trabalho, atravesso
    um bosque típico da Nova Inglaterra
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    e vejo árvores enormes
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    — pinheiros, carvalhos, faias,
    nogueiras, bordos —
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    todas a crescer como ervas daninhas
    no que outrora era uma quinta,
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    uma manta de retalhos de pastos
    e de campos cultivados.
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    Esse caminho serpenteia
    em volta duma pequena lagoa
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    que onde o gado matava a sede,
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    passa pelo buraco duma antiga adega,
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    e por entre velhos muros de pedra
    que se cruzam sob as copas daS árvores.
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    Durante os meus passeios pedestres,
  • 0:33 - 0:37
    testemunho as ruínas duma civilização
    agrícola abandonada
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    e o poder da natureza selvagem
    a reclamar o seu território.
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    Vivo numa época de modernidade
    nitidamente mais recente.
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    A palavra "moderno" chegou até nós
    da palavra latina "modo",
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    que significa "agora mesmo"
    em oposição a uma situação prévia.
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    Ser moderno é atravessar
    uma fronteira do tempo.
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    Neste local, entre uma cultura
    mais antiga de lavradores rurais,
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    alimentada por trabalho manual,
    animais de tiro e combustível de lenha,
  • 1:03 - 1:07
    e uma cultura mais jovem de urbanização,
    industrial, de pessoas mais móveis
  • 1:07 - 1:10
    alimentada sobretudo
    por combustíveis fósseis.
  • 1:12 - 1:14
    Mas, quando chego
    ao meu gabinete na universidade,
  • 1:14 - 1:16
    para ensinar Ciência do Sistema Terra,
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    a escala espacial muda
    das quintas de Nova Inglaterra
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    para a do globo inteiro.
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    E qual é o aspeto da modernidade
    a essa escala, para um geocientista?
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    Tem um aspeto de muitas coisas familiares:
  • 1:29 - 1:30
    rápidas mudanças climáticas,
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    alimentadas pela transferência
    de gases com efeitos de estufa,
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    provocando a fusão dos glaciares
    e do "permafrost",
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    a expansão das zonas secas
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    e a intensificação das tempestades.
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    Parece que o ecossistema desaba,
    resultando numa sexta extinção em massa,
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    envolvendo ambientes
    terrestres e marinhos.
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    Parece que as transformações oceânicas
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    que originam a subida do nível do mar,
  • 1:51 - 1:53
    o aquecimento da água,
    a redução das placas de gelo,
  • 1:53 - 1:58
    e uma química cheia de carbono
    com mais ácido e menos oxigénio.
  • 1:59 - 2:02
    Esta modernidade geofísica e geoquímica
  • 2:02 - 2:05
    também inclui um componente humano.
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    Uma espécie avassaladoramente dominante,
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    a nossa, o Homo sapiens,
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    espalhou-se por todos os "habitats"
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    e tem controlo direto ou indireto
    sobre quase todas as outras espécies.
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    Inclui transformações humanas deliberadas
    na terra e no mar, de cima abaixo,
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    muitas vezes chamadas "uso do solo",
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    acompanhada por repercussões
    inadvertidas, caóticas, não planeadas.
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    Inclui materiais sintéticos nunca vistos,
    como os plásticos,
  • 2:35 - 2:38
    químicos modernos,
    como os clorofluorcarbonos,
  • 2:38 - 2:40
    que quase destruíram a camada de ozono
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    e os radioisótopos, como o plutónio 239.
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    que encheram de poeira todo o planeta
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    durante os testes da bomba atómica,
    como recordo quando era criança.
  • 2:50 - 2:54
    A primeira destas três megatendências,
    destas megatendências modernas
  • 2:54 - 2:58
    — alteração climática, colapso
    do ecossistema e alterações oceânicas —
  • 2:58 - 3:00
    não são nenhuma novidade
    para o planeta Terra.
  • 3:00 - 3:02
    Com efeito, estes são os critérios
  • 3:02 - 3:05
    que habitualmente separam épocas
    no calendário geológico.
  • 3:05 - 3:09
    São as últimas três destas
    megatendências modernas
  • 3:09 - 3:11
    — o domínio humano,
    as alterações humanas,
  • 3:11 - 3:13
    e as invenções humanas —
  • 3:13 - 3:17
    que são únicas no que se refere
    ao longo trajeto da História da Terra
  • 3:17 - 3:19
    que começou há muito tempo,
  • 3:19 - 3:22
    há 4600 milhões de anos.
  • 3:23 - 3:28
    Mas haverá alguma coisa global
    que junte estas seis megatendências,
  • 3:28 - 3:32
    de forma integral e historicamente?
  • 3:32 - 3:36
    A resposta é um claro "sim",
    tanto no espaço como no tempo.
  • 3:37 - 3:41
    No espaço, essa coisa é o planeta inteiro.
  • 3:41 - 3:44
    O exame atento, incluindo o seu modelo
  • 3:44 - 3:47
    leva à nossa compreensão
  • 3:47 - 3:49
    dum esferoide giratório,
  • 3:49 - 3:51
    instável, inclinado,
  • 3:51 - 3:52
    em órbita,
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    com águas agitadas
  • 3:53 - 3:55
    cheio de vida,
  • 3:55 - 3:58
    de gases líquidos e sólidos.
  • 4:00 - 4:02
    Esta é a parte acerca do espaço.
  • 4:02 - 4:07
    Com o tempo, essa coisa é a época
    mais recente na escala do tempo geológico,
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    a época do Antropoceno quase oficial.
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    É uma ideia evocada há 20 anos,
    no ano 2000,
  • 4:14 - 4:16
    por Paul Crutzen e Eugene Sturmer
  • 4:16 - 4:18
    para sublinhar a ideia
  • 4:18 - 4:21
    de que a Terra moderna é diferente
    de todos os estados anteriores.
  • 4:22 - 4:24
    É o nome duma época para nós,
    seres humanos,
  • 4:24 - 4:27
    não por uma questão
    de vaidade ou arrogância,
  • 4:27 - 4:32
    mas pelo espantoso poder que usámos
    para alterar literalmente a face da Terra.
  • 4:33 - 4:35
    É uma palavra que,
    segundo o Google Analytics,
  • 4:35 - 4:38
    tem vindo a aumentar de popularidade,
  • 4:38 - 4:42
    mesmo quando a popularidade
    da palavra "ambientalismo"
  • 4:42 - 4:44
    tem estado a diminuir um pouco.
  • 4:44 - 4:47
    É uma palavra que,
    pelo pensamento categórico,
  • 4:47 - 4:50
    ajudará a criar uma mudança de paradigma
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    na forma como pensamos a Natureza,
    a vida selvagem, e o ambiente,
  • 4:53 - 4:55
    uma palavra que, espero,
  • 4:55 - 4:58
    nos ajudará a voltar
    a um futuro ético e sustentável.
  • 5:01 - 5:06
    Considerem três exemplos
    de notícias atuais nos EUA,
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    nos últimos meses:
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    incêndios selvagens no Oeste americano,
    principalmente na Califórnia,
  • 5:12 - 5:16
    o regresso dos grandes tubarões brancos
    a Nova Inglaterra,
  • 5:16 - 5:18
    principalmente em Cape Cod;
  • 5:18 - 5:21
    as catastróficas inundações
    ao longo da Costa do Golfo dos EUA,
  • 5:21 - 5:24
    principalmente em Nova Orleães.
  • 5:24 - 5:29
    Todas estas três coisas
    são verdadeiras reações selvagens
  • 5:29 - 5:33
    — incêndios selvagens, carnívoros
    selvagens, águas selvagens —
  • 5:33 - 5:36
    é uma coisa que nós, humanos, fizemos.
  • 5:36 - 5:40
    Em última análise, podem ser relacionadas
    com o comportamento humano,
  • 5:40 - 5:42
    o comportamento humano natural.
  • 5:42 - 5:45
    Os incêndios selvagens
    têm origem nas secas intensas
  • 5:45 - 5:48
    que intensificámos
    com o aquecimento global;
  • 5:48 - 5:50
    as populações de tubarões selvagens
  • 5:50 - 5:54
    têm origem no aumento da população
    de focas que temos protegido;
  • 5:54 - 5:56
    as águas selvagens
  • 5:56 - 5:58
    estão a ocorrer numa paisagem
    que está a afundar-se no mar
  • 5:58 - 6:00
    porque privámos o solo
  • 6:00 - 6:04
    dos sedimentos de que ele necessita
    para se manter acima do nível do mar.
  • 6:05 - 6:08
    Mas qual é a causa básica de tudo isto?
  • 6:08 - 6:09
    Para lá chegar,
  • 6:09 - 6:12
    temos de recuar
    ao longo duma cadeia de causalidade
  • 6:13 - 6:16
    e vou usar o caso dos incêndios
    como exemplo.
  • 6:17 - 6:20
    Os incêndios são mais intensos
  • 6:20 - 6:23
    porque o clima regional
    é mais seco no verão
  • 6:24 - 6:29
    porque a circulação hemisférica
    predominante mudou
  • 6:29 - 6:33
    porque a temperatura média
    da troposfera
  • 6:33 - 6:36
    é quase dois graus mais quente
  • 6:36 - 6:40
    porque os seres humanos transferiram
    enormes quantidades de carbono
  • 6:40 - 6:43
    do componente terrestre
    do nosso sistema
  • 6:43 - 6:45
    para o componente atmosférico
  • 6:46 - 6:48
    porque beneficiamos das vantagens
  • 6:48 - 6:51
    da energia barata proporcionada
    pelos combustíveis fósseis
  • 6:51 - 6:54
    e da desflorestação global
  • 6:54 - 6:57
    porque as nossas psiques humanas
  • 6:57 - 6:59
    são governadas por comportamentos
    animais instintivos
  • 6:59 - 7:02
    que surgiram durante a evolução humana.
  • 7:04 - 7:07
    Dois dos nossos comportamentos
    são especialmente importantes.
  • 7:07 - 7:09
    O primeiro é o nosso impulso
    natural para termos famílias
  • 7:09 - 7:12
    e proporcionar-lhes
    o máximo que pudermos.
  • 7:12 - 7:15
    O segundo é a nossa inteligência
    cognitiva natural
  • 7:15 - 7:18
    que nos permite perceber
    como funcionam as coisas
  • 7:18 - 7:19
    e inventar coisas novas e melhores,
  • 7:19 - 7:24
    como ferramentas, culturas, materiais,
    medicamentos, casas, e fontes de energia.
  • 7:25 - 7:30
    A motivação para melhorar a nossa vida
    aliada à nossa inteligência flexível
  • 7:31 - 7:33
    deu origem à ciência
  • 7:34 - 7:36
    que deu origem à engenharia,
  • 7:37 - 7:42
    que deu origem ao poder
    de, literalmente, refazer o planeta.
  • 7:43 - 7:46
    O resto deste comportamento natural
  • 7:46 - 7:49
    tem sido uma alteração humana
    da superfície da Terra,
  • 7:49 - 7:51
    uma parte da qual tem sido
    muito deliberada,
  • 7:51 - 7:54
    como a construção de cidades,
    a domesticação dos rios,
  • 7:54 - 7:56
    e a matança dos carnívoros,
  • 7:56 - 7:58
    e outra parte tem sido
    totalmente involuntária,
  • 7:58 - 8:00
    como prejudicar os nossos interesses
  • 8:00 - 8:02
    e a subida da temperatura da Terra.
  • 8:03 - 8:05
    Independentemente das intenções,
  • 8:05 - 8:09
    os seres humanos são hoje o agente
    geológico dominante que opera no planeta.
  • 8:09 - 8:10
    É um facto.
  • 8:10 - 8:12
    Movimentando massas
    a um ritmo mais rápido
  • 8:12 - 8:15
    do que os glaciares
    da última idade do gelo
  • 8:15 - 8:17
    e os rios da conhecida história geológica,
  • 8:17 - 8:21
    a modernidade global
    parece chocantemente diferente
  • 8:21 - 8:25
    da história humana regional
    da época anterior, o Holoceno,
  • 8:25 - 8:28
    que começou há cerca de 11 700 anos.
  • 8:29 - 8:32
    Assim, os geocientistas
    não têm outra hipótese
  • 8:32 - 8:34
    senão de criar
    uma nova época oficial
  • 8:34 - 8:38
    e estamos em vias
    de terminar esse processo.
  • 8:38 - 8:40
    O rótulo "Antropoceno"
  • 8:40 - 8:42
    é o melhor que arranjámos até aqui.
  • 8:43 - 8:46
    Já têm sido sugeridas diversas datas
    — e debatidas acerrimamente —
  • 8:46 - 8:49
    para o início desta época
    de modernidade geológica.
  • 8:49 - 8:53
    Uns defendem o início da agricultura
    e das primeiras civilizações
  • 8:53 - 8:55
    há cerca de 10 000 anos.
  • 8:55 - 8:58
    Outros defendem o início
    do colonialismo marítimo
  • 8:58 - 9:00
    no final do século XV.
  • 9:00 - 9:03
    outros ainda defendem
    o aparecimento da revolução industrial
  • 9:03 - 9:05
    no final do século XVIII.
  • 9:05 - 9:09
    Mas a maioria defende a explosão global
    e a grande aceleração
  • 9:09 - 9:12
    da ciência, da tecnologia,
    das populações humanas,
  • 9:12 - 9:15
    da urbanização, do uso da energia,
    e das conversões de terras
  • 9:15 - 9:17
    em meados do século XX.
  • 9:17 - 9:22
    Este último candidato para o início
    da época do Antropoceno é o melhor,
  • 9:22 - 9:25
    porque é um fenómeno generalizado
    e claramente marcado
  • 9:25 - 9:28
    pela poeira radioativa
    das bombas atómicas,
  • 9:28 - 9:30
    pelo importante percurso
    nos ciclos químicos,
  • 9:30 - 9:32
    e pelo depósito de sedimentos de fósseis
  • 9:32 - 9:35
    com vestígios de plástico
    por todo o mundo.
  • 9:37 - 9:40
    O Antropoceno
    encontra a sua contrapartida
  • 9:40 - 9:42
    na época do Paleoceno,
    com 66 milhões de idade,
  • 9:42 - 9:46
    que também foi chocantemente
    diferente da época precedente,
  • 9:46 - 9:48
    dominada pelos dinossauros.
  • 9:48 - 9:50
    Neste caso mais antigo,
  • 9:50 - 9:52
    a alteração não teve origem
    na tecnologia humana
  • 9:52 - 9:54
    mas no impacto de um asteroide,
  • 9:54 - 9:58
    combinado com o colossal vulcanismo
    há cerca de 67 milhões de anos,
  • 9:58 - 10:00
    que iniciou uma cascata
    de perturbações globais
  • 10:00 - 10:02
    que deram hipótese aos mamíferos
  • 10:02 - 10:04
    de começar a sua evolução
    para seres humanos.
  • 10:04 - 10:06
    Esta transição mais antiga
  • 10:06 - 10:08
    ocorreu por toda a parte
    e está claramente visível
  • 10:08 - 10:11
    numa concentração de poeira cósmica,
  • 10:11 - 10:13
    nos percursos geoquímicos
  • 10:13 - 10:16
    e no depósito de sedimentos
    de fósseis com diversos vestígios.
  • 10:18 - 10:21
    Mas porque é que é importante
    dar um nome a uma nova época?
  • 10:23 - 10:26
    Porque, conforme Aldous Huxley
    escreveu um dia:
  • 10:26 - 10:29
    "As palavras são os canais
    pelos quais flui o pensamento."
  • 10:29 - 10:31
    Algumas das nossas palavras
    mais influentes
  • 10:31 - 10:34
    são rótulos de categorias.
  • 10:34 - 10:36
    Por exemplo, bom em relação a mau,
  • 10:36 - 10:38
    velho em relação a novo,
  • 10:38 - 10:39
    nós em relação a eles,
  • 10:39 - 10:41
    frutos em relação a vegetais,
  • 10:41 - 10:43
    ou Democratas em relação a Republicanos.
  • 10:44 - 10:47
    Pensar de forma conservadora
    ou de forma inovadora
  • 10:47 - 10:50
    também é uma distinção de categorias.
  • 10:50 - 10:53
    Embora esta prática possa conduzir
    a perigosas dicotomias falsas
  • 10:53 - 10:55
    e a preconceitos implícitos,
  • 10:55 - 10:58
    no geral é uma ferramenta
    essencial para a ciência,
  • 10:58 - 11:01
    a base de todas as classificações.
  • 11:01 - 11:03
    Em 1963,
  • 11:03 - 11:07
    assisti a Rachel Carson, minha heroína,
    a falar à nação
  • 11:07 - 11:10
    na nossa pequena TV familiar
    a preto e branco.
  • 11:10 - 11:13
    Estava a apresentar o seu livro
    "Primavera Silenciosa".
  • 11:13 - 11:15
    Sete anos depois, em 1970,
  • 11:15 - 11:17
    participei na primeira comemoração
    do Dia da Terra,
  • 11:17 - 11:19
    enquanto estudante universitário,
  • 11:19 - 11:21
    Entre estas duas datas,
  • 11:21 - 11:22
    assisti ao aparecimento
  • 11:22 - 11:25
    dum novo "meme" categórico
    na cultura popular:
  • 11:25 - 11:27
    ambientalismo
  • 11:27 - 11:29
    — uma nova forma de pensar
    na poluição química,
  • 11:29 - 11:31
    nas espécies ameaçadas de extinção,
  • 11:31 - 11:33
    e na conservação da vida selvagem,
  • 11:33 - 11:36
    tudo isso embrulhado numa coisa maior.
  • 11:36 - 11:38
    A simples palavra "ambientalismo"
    canalizou o nosso pensamento
  • 11:38 - 11:41
    para criar uma profunda
    alteração social
  • 11:41 - 11:45
    num mundo que ainda não tinha começado
    a preocupar-se com a alteração climática.
  • 11:45 - 11:49
    Bom, nitidamente, precisamos
    de um novo "meme" de categoria
  • 11:49 - 11:51
    para canalizar o nosso pensamento
  • 11:51 - 11:54
    para uma preocupação global
    ainda maior e mais profunda:
  • 11:54 - 11:58
    o reconhecimento de que o destino
    de toda a superfície do planeta
  • 11:58 - 12:00
    está nas mãos dos seres humanos.
  • 12:01 - 12:04
    Será a alteração climática
    esse novo "meme"?
  • 12:04 - 12:05
    Assim parece,
  • 12:05 - 12:08
    dada toda a atenção científica,
    política e dos "media",
  • 12:08 - 12:11
    mas, para mim,
    e apesar da sua popularidade,
  • 12:11 - 12:13
    a alteração climática
    é um conceito demasiado estreito
  • 12:13 - 12:17
    porque os climas,
    por definição, são regionais
  • 12:17 - 12:20
    e sempre foram provenientes
    do subsolo geológico
  • 12:20 - 12:25
    através dos rearranjos tectónicos
    das placas continentais
  • 12:25 - 12:26
    e das transferências químicas
  • 12:26 - 12:30
    entre os reservatórios sólidos,
    líquidos e gasosos da Terra.
  • 12:30 - 12:33
    A alteração climática,
    o colapso do ecossistema,
  • 12:33 - 12:36
    as transformações oceânicas,
  • 12:36 - 12:40
    são simplesmente as grandes fatias
    duma tarte maior.
  • 12:41 - 12:46
    A visão abrangente ou mecanicista
    dessa tarte global é aquilo que eu ensino,
  • 12:46 - 12:48
    a Ciência do Sistema Terra.
  • 12:49 - 12:54
    A visão histórica ou narrativa dessa tarte
    é a História do Sistema Terra
  • 12:54 - 12:58
    e o seu último capítulo
    é a época do Androceno.
  • 12:59 - 13:01
    Para mim, o novo "meme"
    de que precisamos
  • 13:01 - 13:03
    é a palavra Antropoceno.
  • 13:03 - 13:05
    Temos de ter a coragem de reconhecer
  • 13:05 - 13:08
    que vivemos num mundo novo
    fabricado por nós próprios.
  • 13:08 - 13:10
    Só assim podemos deixar
    de acusar a Natureza
  • 13:10 - 13:12
    e de nos acusarmos a nós mesmos
  • 13:12 - 13:17
    e regressar a formas sustentáveis
    através da invenção humana.
  • 13:19 - 13:22
    Para vos ajudar a compreender
    este mundo novo, "o mundo moderno",
  • 13:22 - 13:24
    a "modernidade",
  • 13:24 - 13:25
    "o Antropoceno",
  • 13:25 - 13:28
    peço-vos que imaginem
    a superfície da Terra
  • 13:28 - 13:30
    como um campo de golfe
    de proporções globais,
  • 13:30 - 13:33
    em que os oceanos são
    as lagoas de proporção gigantesca.
  • 13:33 - 13:36
    Eu não jogo golfe,
    mas gosto desta analogia.
  • 13:36 - 13:40
    Todas as coisas, por toda a parte,
    são o resultado de escolhas humanas,
  • 13:40 - 13:41
    sejam as alterações dos locais
  • 13:41 - 13:44
    para melhor satisfazerem
    as nossas necessidades
  • 13:44 - 13:46
    ou os locais rejeitados
    por diversas razões.
  • 13:47 - 13:49
    A intensidade da transformação
  • 13:49 - 13:52
    seguem uma lógica
    nos campos de golfe,
  • 13:52 - 13:55
    dos buracos na relva
    aos relvados uniformes
  • 13:55 - 13:56
    ao longo canal navegável,
  • 13:56 - 13:59
    ao campo em bruto
    e aos arredores arborizados
  • 14:00 - 14:02
    e toda esta manta de retalhos de locais
  • 14:02 - 14:05
    situa-se sob uma atmosfera
    ajustada pelos homens.
  • 14:07 - 14:10
    Numa Terra do Antropoceno real
  • 14:10 - 14:12
    em vez de imaginada
    como um campo de golfe,
  • 14:12 - 14:14
    a intensidade da transformação do solo
  • 14:14 - 14:18
    também segue uma lógica
    dos centros urbanos aos subúrbios
  • 14:18 - 14:20
    aos subúrbios rurais
  • 14:20 - 14:22
    às terras selvagens longínquas.
  • 14:22 - 14:24
    E, no mar, vai das praias fortificadas
  • 14:24 - 14:26
    aos canais dragados
  • 14:26 - 14:28
    às zonas mortas, privadas de oxigénio.
  • 14:28 - 14:30
    Estas duas mantas de retalhos
    também se situam
  • 14:30 - 14:33
    sob uma atmosfera
    ajustada pelos homens.
  • 14:34 - 14:35
    Mas não se iludam,
  • 14:36 - 14:39
    a modernidade geológica já aí está.
  • 14:39 - 14:42
    Chama-se o Antropoceno.
  • 14:42 - 14:44
    Ao fim de um dia de trabalho,
  • 14:44 - 14:47
    passado a pensar e a ensinar
    o sistema global Terra, na universidade,
  • 14:47 - 14:50
    percorro o bosque de novo,
    de regresso a casa.
  • 14:50 - 14:51
    Durante o caminho de regresso,
  • 14:51 - 14:54
    acho mais fácil ver
    estas pastagens abandonadas,
  • 14:54 - 14:58
    a lagoa do gado, o buraco da adega,
    e os muros de pedra
  • 14:58 - 15:00
    segundo aquilo que são
  • 15:00 - 15:04
    — provas fósseis da época
    antes da modernidade.
  • 15:04 - 15:06
    Talvez num futuro distante,
  • 15:06 - 15:08
    alguma inteligência pós-humana
  • 15:08 - 15:12
    descubra as ruínas e resíduos
    da nossa época do Antropoceno,
  • 15:12 - 15:15
    incrustados em estratos ainda sem nome.
  • 15:15 - 15:17
    Se e quando isso acontecer,
  • 15:17 - 15:20
    a modernidade precisará de um novo nome.
  • 15:21 - 15:22
    Obrigado.
Title:
A época humana: a época do Antropoceno enquanto modernidade terrena | Robert Thorson | TEDxUConn
Description:

Nos anos 60, a palavra ambientalismo surgiu como um chapéu para problemas nacionais envolvendo a poluição, as espécies ameaçadas, e a vida animal. Na década de 2020, a palavra Antropoceno está a surgir como uma grande tenda para os problemas à escala do planeta: a alteração climática, o colapso dos ecossistemas, e os problemas oceânicos. Esta palavra provém da Época do Antropoceno, o último capítulo da história da Terra, definido pela transformação humana da superfície planetária em relação aos 4600 milhões de anos anteriores. Que o Antropoceno seja um meme cultural suficientemente poderoso para manter a continuidade do planeta.
Na Universidade de Connecticut, Thorson foi pioneiro nos primeiros cursos sobre Alteração Climática Global, Ciência do Sistema Terra e A Época Humana. O seu interesse pelo Antropoceno surgiu da sua investigação científica nos muros de Fieldstone, na Nova Inglaterra, na estratigrafia das zonas húmidas, da sua especialização em Henry D. Thoreau e do seu desejo de ajudar os estudantes a perceber como funciona a Terra, para poderem tornar-se cidadãos planetários mais eficazes e menos ansiosos.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
15:23

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