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Regressar a casa, temos medo de tocar na nossa dor, de tocar na guerra dentro de nós.
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Por vezes, damo-nos conta de que estamos em guerra com outra pessoa.
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Talvez com a nossa família, com a nossa sociedade, com a nossa tradição.
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Mas podemos aprender que, quando estamos em guerra
com alguém, essa guerra pode estar, na verdade, dentro de nós.
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E é por isso que não queremos regressar a casa.
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Claro que há uma guerra dentro e à nossa volta, mas há algo mais.
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Também há paz e alegria.
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Devemos aprender a regressar a casa para tocar
a alegria e a paz em nós e à nossa volta.
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Isto é muito importante porque todos precisamos
de ser nutridos, de ter estabilidade,
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para podermos seguir em frente e fazer algo
pelas pessoas à nossa volta.
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Sei que muitos de vós estão profundamente
dedicados à causa da paz, da justiça social.
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Mas muitos de nós, por vezes, sentimo-nos
perdidos, zangados, e em desespero.
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Ficamos sobrecarregados pela imensa quantidade
de sofrimento à nossa volta e mesmo dentro de nós.
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Precisamos de uma fonte de energia, uma
fonte de paz, de alegria, para criar equilíbrio.
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Porque sabemos que, se não tivermos alguma paz, alegria e
felicidade, não conseguiremos fazê-lo. Não conseguiremos continuar.
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A prática de chegar ajuda-nos a tocar a paz, a
alegria interior, para que sejamos nutridos.
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E essa prática ajuda-nos a gerar a energia da
atenção plena, que nos permitirá tocar a guerra dentro e à nossa volta.
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Porque tocar a guerra sem força, sem a
energia da atenção plena, pode ser perigoso.
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Seremos dominados por ela; seremos atingidos por ela.
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Portanto, antes de aprendermos a tocar a guerra
dentro e à nossa volta, devemos cultivar a energia da atenção plena.
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E esse tipo de cultivo pode ser realizado quando aprendemos
a regressar a casa e a tocar a paz e a alegria em nós.
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Na tradição budista, falamos da nossa consciência em
termos de sementes, em termos de bījās. Bījā significa sementes.
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Temos sementes de paz, de alegria, de felicidade; temos
sementes de guerra, de raiva, de desespero, de ódio em nós.
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Há sementes de paz, de alegria e de amor bondoso
em nós que precisam de ser tocadas.
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Devemos aprender a tocá-las por nós próprios, e
devemos conduzir os nossos amigos a virem ajudar a tocá-las.
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Essa é a prática.
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Incentivo sempre os meus amigos a começarem a prática tocando a paz,
tocando as sementes positivas dentro de nós, e tocando as sementes positivas na outra pessoa.
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É agradável.
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Ajuda a nutrirmo-nos mutuamente.
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E sabemos que a forma mais profunda de tocar
é com a energia da atenção plena.
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E, na meditação budista, gerar a energia da atenção
plena para tocar a paz é algo essencial.
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Somos encorajados a não tocar primeiro na guerra.
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Somos encorajados a não tocar primeiro na
dor, no desespero, no sofrimento.
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E tocar a paz é algo que podemos fazer
individualmente, como comunidade, como nação.
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E é agradável.
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Posso querer tocar os meus olhos com a energia da atenção plena.
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Tenho a energia da atenção plena, que é gerada
pela prática da respiração consciente.
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Inspirando, sei que estou a inspirar.
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Expirando, sei que estou a expirar.
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Essa é a prática de tocar a tua respiração.
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E essa prática chama-se atenção plena da respiração.
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Agora uso essa energia da atenção plena para tocar os meus olhos.
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Inspirando, estou consciente dos meus olhos.
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Expirando, sorrio aos meus olhos.
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Quando toco os meus olhos com a energia da atenção plena desta forma,
percebo que os meus olhos ainda estão em boas condições.
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Se tocar profundamente nos meus olhos, percebo que
ter olhos em boas condições é algo maravilhoso.
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Sem os meus olhos, sem a capacidade
de ver as coisas, sofreria imenso.
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Só precisas de abrir os olhos e olhar, e vês
tantas maravilhas da vida à nossa volta:
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o céu azul, o pôr do sol maravilhoso, o rosto,
os olhos, o sorriso das pessoas que amas.
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Tocas estas coisas, estas pessoas, com atenção plena, e percebes
que estar vivo, poder olhá-las profundamente, é felicidade.
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A felicidade é algo simples.
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Quando tens atenção plena, és nutrido por esse tipo de toque.
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Quando tocas os teus olhos com atenção plena, sabes que os teus olhos são uma
condição de paz, de felicidade e de alegria para ti. Sabes que a paz está ali, de certa forma.
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Quando reparas que há árvores a morrer,
sabes que isso é algo negativo.
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Ao tocar nessas coisas, sofres.
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Mas quando tocas árvores bonitas que ainda estão vivas, saudáveis,
percebes como é maravilhoso ainda as termos à nossa volta.
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Quando tocas essas árvores bonitas, és nutrido.
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E fazes o voto de fazer tudo o que
puderes para protegê-las, para as manter vivas.
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Portanto, tocar a paz é dar uma oportunidade à paz.
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Pratiquemos juntos este exercício de tocar.
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Vamos tocar o nosso coração.
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Inspirando, estou consciente do meu coração.
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Expirando, sorrio ao meu coração.
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Quando toco profundamente o meu coração
desta forma, sei que o meu coração está ali.
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E isso é uma boa notícia.
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O meu coração é uma condição de paz,
de bem-estar e de alegria para mim.
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Mas se não o toco, posso causar-lhe mal, e não fico feliz.
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O meu coração tem trabalhado arduamente, dia e noite, para me manter vivo,
para me dar bem-estar, para bombear o sangue e irrigar todas as células do meu corpo.
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E quando o toco profundamente assim, sinto gratidão pelo meu coração.
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O meu coração é algo vivo.
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E quando o toco com a minha atenção plena, com a minha
bondade amorosa, o meu coração sente isso.
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Sente-se reconfortado pelo meu toque.
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E se tocarmos o nosso coração profundamente desta forma, saberemos o que
fazer e o que não fazer para apoiar o nosso coração.
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Sabemos o que comer, o que não comer, o que beber e o que
não beber no nosso dia a dia, para apoiar o nosso coração.
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Descobrimos que fumar não é um ato
amigável para com o nosso coração.
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Sabemos que beber álcool não é um
ato amigável para com o nosso coração.
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E se continuarmos a tocar assim,
deixamos de fumar, deixamos de beber álcool.
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E protegemos a paz, o bem-estar e a alegria dentro de nós.
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Podemos passar muito tempo a pensar noutras coisas, mas não temos oportunidade
suficiente para regressar e tocar as condições de paz e bem-estar dentro de nós.
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Vivemos na inconsciência.
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A inconsciência é o oposto da atenção plena.
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Vivemos o nosso dia a dia de forma a destruir a paz,
a estabilidade, a alegria no nosso corpo.
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Trazemos elementos de guerra para o nosso corpo.
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A atenção plena é a capacidade de estar consciente
do que está a acontecer no momento presente.
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Se comermos com atenção plena, se bebermos com atenção
plena, se fizermos as coisas com atenção plena, estamos sob a luz da atenção plena.
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Sabemos o que fazer para trazer elementos de paz e
alegria ao nosso corpo e aos nossos sentimentos.
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Sabemos o que não ingerir para evitar que toxinas e venenos
entrem no nosso corpo e na nossa consciência.
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E é possível praticarmos isso em conjunto.
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"Se me amas, por favor ajuda-me a estar consciente, e ajuda-me
a tocar nos elementos positivos, curativos e refrescantes dentro de mim.
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Toca a minha semente de paz, a minha semente de alegria, toca
a semente de bondade amorosa em mim, toca a semente de felicidade em mim.
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Por favor, não toques a semente da raiva em mim.
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Por favor, não toques a semente do desespero e da violência em mim.
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Eu vou sofrer, e tu vais sofrer também.
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Então, podemos querer praticar juntos."
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Por vezes sofremos um pouco demais, e culpamos
a outra pessoa como a causa do nosso sofrimento.
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O nosso companheiro, o nosso filho, a nossa
filha, os nossos pais — culpamo-los.
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Consideramo-los a causa do nosso sofrimento.
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Na verdade, eles também sofrem como nós,
e o nosso inimigo não é a outra pessoa.
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O nosso inimigo é a semente do desespero, da raiva,
da frustração, do medo que existe em cada um de nós.
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"Tu não és o meu inimigo.
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Quero que pratiques comigo para ajudar a transformar as
sementes de sofrimento em mim e em ti, porque todos sofremos do mesmo."
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Portanto, se os companheiros sofrem, devemos tentar não
olhar para a outra pessoa como a causa do nosso sofrimento.
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"Devemos reunir a nossa inteligência, o nosso talento, a
nossa atenção plena, para trabalhar na transformação das coisas negativas em ambos.
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A tensão que existe entre nós impede-nos de nos ajudarmos mutuamente. E, como
sabemos que somos vítimas do mesmo tipo de sofrimento, porque não nos unimos?"
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E a minha ideia de prática
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é que, quando nos juntamos, começamos
por praticar tocar nas coisas positivas.
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Praticamos olhar profundamente para ver a semente de paz, de alegria,
de talento e de felicidade em nós e na outra pessoa.
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Reconhecemos os valores de cada um.
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Porque cada pessoa tem os seus próprios
talentos, forças e valores positivos.
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Cada um tem jóias dentro de si.
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Olhar profundamente para a outra pessoa para reconhecer essas jóias, dizer-lho,
apreciar esses valores — isso é uma prática maravilhosa.