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Como colocar o poder da lei nas mãos do povo

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    Quero falar-vos sobre alguém.
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    Vou chamar-lhe Ravi Nanda.
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    O nome é fictício, para o proteger.
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    O Ravi é de uma comunidade
    de criadores de gado no Gurujat
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    na costa ocidental da Índia.
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    A minha família é originária
    desse mesmo local.
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    Quando ele tinha 10 anos,
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    toda a sua comunidade
    foi forçada a mudar-se
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    porque uma multinacional construiu
    uma fábrica nas terras onde viviam.
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    Vinte anos depois, a mesma empresa
    construiu uma fábrica de cimento
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    a 100 metros de onde vivem agora.
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    A Índia tem uma forte regulamentação
    em termos ambientais, no papel,
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    mas esta empresa
    violou muitas dessas leis.
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    O pó dessa fábrica cobre o bigode de Ravi
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    e toda a sua roupa.
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    Passei apenas dois dias em casa dele
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    e fiquei uma semana com tosse.
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    O Ravi diz que, se as pessoas ou animais
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    comerem alguma coisa
    produzida na sua aldeia
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    ou beberem ali água,
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    ficam doentes.
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    Diz que agora as crianças percorrem
    longas distâncias com o gado e os búfalos,
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    até encontrarem pastagens
    não contaminadas.
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    Ele diz que muitas dessas crianças
    desistiram da escola,
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    incluindo três dos seus filhos.
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    Ravi protestou junto da empresa
    durante anos.
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    Disse: " Escrevi tantas cartas
    que a minha família pode cremar-me nelas.
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    "Nem precisam de comprar madeira."
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    (Risos)
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    Ele diz que a empresa ignorou
    todas as suas cartas,
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    Então, em 2013,
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    o Ravi Nanda decidiu usar
    a derradeira forma de protesto.
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    Foi até aos portões da fábrica
    com um balde de gasolina na mão,
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    com a intenção de se imolar pelo fogo.
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    O Ravi não está só no seu desespero.
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    A ONU estima que, no mundo inteiro
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    quatro mil milhões de pessoas
    vivem sem acesso básico à justiça.
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    Estas pessoas sofrem graves ameaças
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    à sua segurança, à sua subsistência,
    à sua dignidade.
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    Quase sempre há leis publicadas
    que protegeriam estas pessoas,
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    mas normalmente eles
    nunca ouviram falar dessas leis,
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    e os sistemas que supostamente
    deviam impor essas leis,
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    são corruptos, ineficazes
    ou as duas coisas.
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    Estamos a viver com uma epidemia
    global de injustiça,
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    mas temos optado por ignorá-la.
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    Neste momento, na Serra Leoa,
    no Camboja, na Etiópia,
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    os agricultores estão a ser persuadidos
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    a colocar a sua impressão digital
    em acordos de concessão por 50 anos,
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    entregando toda a terra
    que sempre foi sua, por uma ninharia
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    sem que ninguém explique
    sequer as condições.
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    Os governos parecem
    concordar com o método.
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    Neste momento, nos EUA,
    na Índia, na Eslovénia,
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    pessoas como o Ravi
    estão a criar os filhos
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    na sombra de fábricas ou minas
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    que estão a envenenar
    o ar e a água.
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    Há regulamentações ambientais
    que protegeriam essas pessoas,
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    mas muitos nunca viram essas leis,
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    e ainda menos têm poder de as impor.
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    O mundo parece ter decidido
    que não há qualquer problema.
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    O que é preciso fazer
    para que isso mude?
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    Supostamente, a lei
    é a linguagem que usamos
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    para traduzir os nossos sonhos de justiça
  • 3:44 - 3:47
    em instituições vivas,
    criadoras de coesão.
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    Supostamente, a lei é a diferença
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    entre uma sociedade
    governada pelos mais poderosos
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    e uma sociedade que respeita
    a dignidade de todos,
  • 3:55 - 3:57
    dos fortes ou dos fracos.
  • 3:57 - 4:00
    Foi por isso que, há 20 anos
    eu disse a minha avó
  • 4:00 - 4:02
    que queria tirar o curso de Direito.
  • 4:02 - 4:06
    A minha avó nem parou para pensar
    e disse-me:
  • 4:06 - 4:09
    "Os advogados são mentirosos."
  • 4:09 - 4:11
    (Risos)
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    Foi desanimador.
  • 4:14 - 4:17
    (Risos)
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    Mas a avó, por um lado, tem razão.
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    Algo na lei e nos advogados
    correu mal.
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    Para começar, nós, advogados,
    somos habitualmente caros
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    e tendemos a focar-nos
    nos canais judiciais formais
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    que são impraticáveis
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    para muitos dos problemas
    que as pessoas enfrentam.
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    Pior, a nossa profissão envolveu as leis
    num manto de complexidade.
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    A lei é como um polícia
    com equipamento antimotim.
  • 4:44 - 4:47
    É intimidante e impenetrável,
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    e é difícil perceber
    se há algo de humano lá dentro.
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    Se queremos tornar a justiça
    uma realidade para todos,
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    precisamos de mudar a lei
    de uma abstração ou ameaça
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    para algo que toda a gente
    possa compreender, utilizar e modelar.
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    Os advogados são fundamentais
    nesta luta, não há dúvida,
  • 5:10 - 5:12
    mas não podemos deixá-los sozinhos.
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    Na saúde, por exemplo,
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    não são apenas os médicos
    que cuidam dos doentes.
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    Temos enfermeiros e parteiras
    e ajudantes familiares.
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    O mesmo devia acontecer na justiça.
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    Os trabalhadores judiciais comunitários
  • 5:30 - 5:32
    — por vezes chamamos-lhes
    paralegais comunitários
  • 5:32 - 5:34
    ou advogados de pé descalço —
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    podem ser uma ponte.
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    Estes paralegais vêm
    das próprias comunidades que servem.
  • 5:40 - 5:41
    Desmistificam a lei,
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    traduzem-na em palavras simples,
  • 5:44 - 5:47
    ajudando depois as pessoas
    a encontrarem uma solução.
  • 5:47 - 5:49
    Não se centram apenas nos tribunais.
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    Eles tentam tudo:
  • 5:51 - 5:55
    ministérios, poder local, provedores.
  • 5:56 - 5:58
    Os advogados costumam dizer
    aos seus clientes:
  • 5:59 - 6:01
    "Eu trato do assunto. Não se preocupe."
  • 6:01 - 6:03
    Os paralegais têm uma mensagem diferente,
  • 6:03 - 6:06
    Não dizem: "Eu vou resolver isso."
  • 6:06 - 6:08
    mas sim: "Vamos resolver isto juntos,
  • 6:08 - 6:11
    "e neste processo, ambos vamos evoluir."
  • 6:12 - 6:16
    Os paralegais comunitários
    salvaram a minha relação com a lei.
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    Depois de cerca de um ano na faculdade
    de Direito, quase desisti,
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    Pensei que talvez devesse
    ter dado ouvidos à minha avó.
  • 6:22 - 6:25
    Foi quando comecei a trabalhar
    com paralegais
  • 6:25 - 6:28
    na Serra Leoa, em 2003,
  • 6:28 - 6:31
    que voltei a ter esperança na justiça,
  • 6:31 - 6:34
    e estou obcecado com isso desde então.
  • 6:35 - 6:37
    Deixem-me voltar ao Ravi.
  • 6:38 - 6:42
    Em 2013, ele chegou aos portões
    daquela fábrica
  • 6:42 - 6:45
    com um balde de gasolina na mão,
  • 6:45 - 6:48
    mas foi detido
    antes de conseguir entrar.
  • 6:49 - 6:50
    Não ficou muito tempo na cadeia
  • 6:50 - 6:53
    mas sentiu-se completamente derrotado.
  • 6:54 - 6:57
    Dois anos depois, conheceu alguém
  • 6:57 - 6:59
    a quem vou chamar Kush.
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    O Kush faz parte de uma equipa
    de paralegais comunitários
  • 7:02 - 7:06
    que trabalha em prol da justiça ambiental
    na costa do Gurujat.
  • 7:06 - 7:10
    O Kush explicou ao Ravi
    que a lei estava do lado dele.
  • 7:11 - 7:14
    O Kush traduziu para gurujati
    algo que Ravi desconhecia.
  • 7:14 - 7:17
    Denomina-se "licença de funcionamento."
  • 7:17 - 7:19
    É emitida por uma entidade governamental
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    e autoriza a fábrica a funcionar
  • 7:21 - 7:24
    apenas se esta obedecer
    a determinados requisitos.
  • 7:25 - 7:28
    Juntos compararam os requisitos legais
    com a realidade,
  • 7:29 - 7:30
    recolheram provas,
  • 7:30 - 7:32
    e redigiram um requerimento
  • 7:32 - 7:36
    — não aos tribunais, mas
    a duas instituições administrativas,
  • 7:37 - 7:40
    o Conselho de Controlo de Poluição
    e a administração distrital.
  • 7:41 - 7:46
    Esses requerimentos puseram a girar
    as perras rodas do cumprimento da lei.
  • 7:47 - 7:50
    Um agente de poluição
    foi inspecionar o local,
  • 7:51 - 7:55
    e depois disso, a empresa
    instalou um sistema de filtragem de ar
  • 7:55 - 7:58
    que era suposto estar instalado
    desde o início.
  • 7:58 - 8:01
    Começou também a colocar
    uma cobertura nos 100 camiões
  • 8:01 - 8:05
    que entram e saem da fábrica
    todos os dias.
  • 8:05 - 8:09
    Essas duas medidas reduziram
    consideravelmente a poluição do ar.
  • 8:10 - 8:13
    O caso está longe de estar resolvido,
  • 8:13 - 8:17
    mas tomar conhecimento e aplicar a lei
    deu esperança ao Ravi.
  • 8:18 - 8:23
    Há pessoas como o Kush
    a caminhar lado a lado
  • 8:23 - 8:26
    com pessoas como o Ravi
    em muitos sítios.
  • 8:26 - 8:28
    Atualmente, trabalho com um grupo
    chamado Namati.
  • 8:28 - 8:33
    O Namati ajuda a organizar uma rede global
    dedicada à autonomia legal.
  • 8:33 - 8:36
    Todos juntos, somos mais
    de mil organizações
  • 8:36 - 8:38
    em 120 países.
  • 8:38 - 8:42
    Coletivamente, disseminamos dezenas
    de milhares de paralegais comunitários.
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    Vou dar-vos outro exemplo.
  • 8:47 - 8:49
    Esta é a Khadija Hamsa,
  • 8:49 - 8:53
    uma dos cinco milhões de pessoas no Quénia
  • 8:53 - 8:56
    que enfrentam um processo discriminatório
  • 8:56 - 8:59
    quando tentam obter
    um documento de identificação.
  • 8:59 - 9:02
    É como as leis Jim Crow
    de segregação racial no Sul dos EUA,
  • 9:03 - 9:05
    quem pertence a determinadas tribos,
  • 9:05 - 9:07
    na sua maioria muçulmanas,
  • 9:07 - 9:09
    é enviado para outra fila.
  • 9:10 - 9:13
    Sem identificação não é possível
    candidatar-se a um emprego,
  • 9:13 - 9:15
    nem obter um empréstimo bancário.
  • 9:15 - 9:17
    nem inscrever-se na universidade.
  • 9:17 - 9:20
    É uma forma de exclusão da sociedade.
  • 9:20 - 9:23
    A Khadija fez várias tentativas
    para obter um cartão de identificação
  • 9:23 - 9:25
    durante oito anos, sem sucesso.
  • 9:25 - 9:29
    Conheceu então um paralegal
    que trabalhava na sua comunidade
  • 9:29 - 9:31
    chamado Hassan Kassim.
  • 9:31 - 9:34
    Hassan explicou a Khadija
    como funciona o processo,
  • 9:34 - 9:36
    ajudou-a a reunir
    os documentos necessários,
  • 9:36 - 9:39
    e preparou-a para a comissão
    de verificação de identidade.
  • 9:39 - 9:41
    Com a ajuda do Hassan,
  • 9:41 - 9:43
    ela conseguiu finalmente
    o documento de identificação.
  • 9:44 - 9:45
    A primeira coisa que ela fez com ele
  • 9:45 - 9:49
    foi conseguir certidões de nascimento
    para os seus filhos,
  • 9:49 - 9:51
    para eles poderem frequentar a escola.
  • 9:54 - 9:57
    Nos EUA, entre muitos outros problemas,
  • 9:57 - 10:01
    temos uma crise na habitação.
  • 10:02 - 10:03
    Em muitas cidades,
  • 10:03 - 10:07
    90% dos senhorios têm advogados,
    nos tribunais,
  • 10:07 - 10:10
    enquanto 90% dos arrendatários não os têm.
  • 10:10 - 10:13
    Em Nova Iorque, uma nova
    congregação de paralegais
  • 10:13 - 10:16
    — denominados de
    Navegadores de Acesso à Justiça —
  • 10:16 - 10:18
    ajuda as pessoas a interpretar
    a lei de habitação
  • 10:18 - 10:20
    e a defenderem-se por si mesmas.
  • 10:21 - 10:22
    Habitualmente, em Nova Iorque,
  • 10:22 - 10:26
    um em cada nove inquilinos
    levados a tribunal
  • 10:26 - 10:27
    acaba por ser despejado.
  • 10:28 - 10:30
    Os investigadores pegaram em 150 casos
  • 10:30 - 10:33
    de pessoas que tiveram a ajuda
    destes paralegais,
  • 10:33 - 10:37
    e não encontraram nenhuma
    situação de despejo, nem uma só.
  • 10:38 - 10:41
    Uma certa autonomia legal
    pode fazer milagres.
  • 10:42 - 10:46
    Vejo o início de um verdadeiro movimento,
  • 10:46 - 10:49
    mas ainda estamos longe
    daquilo que é necessário.
  • 10:49 - 10:51
    Muito longe.
  • 10:51 - 10:53
    Na maioria dos países à volta do mundo,
  • 10:53 - 10:55
    os governos não apoiam
    com um único dólar
  • 10:56 - 10:59
    os paralegais como o Hassan e o Kush.
  • 10:59 - 11:02
    A maioria dos governos nem sequer
    reconhece o papel deles
  • 11:03 - 11:05
    nem garante a sua proteção.
  • 11:06 - 11:08
    Não quero dar a impressão
  • 11:08 - 11:11
    que os paralegais e os seus clientes
    saem sempre vencedores.
  • 11:12 - 11:13
    De modo algum.
  • 11:13 - 11:16
    A fábrica de cimento na aldeia do Ravi,
  • 11:16 - 11:19
    tem desligado o sistema de filtragem
    durante a noite
  • 11:19 - 11:22
    pois assim é menor
    a hipótese de serem apanhados.
  • 11:23 - 11:25
    Aquele sistema é dispendioso.
  • 11:25 - 11:29
    Ravi enviou pelo WhatsApp
    fotos do céu noturno poluído.
  • 11:29 - 11:32
    Esta é uma que ele enviou
    ao Kush em maio.
  • 11:33 - 11:36
    O Ravi diz que o ar continua irrespirável.
  • 11:36 - 11:39
    A certo ponto, este ano,
    o Ravi entrou em greve de fome.
  • 11:40 - 11:42
    O Kush ficou frustrado e disse:
  • 11:42 - 11:44
    "Podemos ganhar, se aplicarmos a lei."
  • 11:44 - 11:47
    O Ravi respondeu:
    "Eu acredito na lei,
  • 11:47 - 11:50
    "mas ela não nos está a levar
    até onde queremos chegar."
  • 11:51 - 11:56
    Quer seja na Índia, no Quénia,
    nos EUA ou em qualquer outro local,
  • 11:56 - 11:59
    tentar obter justiça
    em sistemas falhados
  • 11:59 - 12:01
    resulta em casos como o do Ravi.
  • 12:01 - 12:05
    Esperança e desespero
    caminham lado a lado.
  • 12:06 - 12:10
    Então, não só precisamos
    urgentemente de apoiar e proteger
  • 12:10 - 12:13
    o trabalho dos advogados
    de pé descalço pelo mundo,
  • 12:13 - 12:16
    mas também precisamos
    de mudar os próprios sistemas.
  • 12:18 - 12:20
    Cada caso trabalhado por um paralegal
  • 12:20 - 12:25
    é uma história acerca do próprio
    funcionamento do sistema, na prática.
  • 12:26 - 12:28
    Quando se juntam essas histórias,
  • 12:28 - 12:31
    temos um retrato detalhado
    de um sistema como um todo.
  • 12:31 - 12:33
    As pessoas podem usar essas informações
  • 12:33 - 12:36
    para exigir melhorias
    nas leis e nas políticas.
  • 12:37 - 12:41
    Na Índia, paralegais e clientes
    aproveitaram a experiência dos seus casos
  • 12:41 - 12:44
    para propor regulamentações
    mais inteligentes
  • 12:44 - 12:46
    no âmbito do manuseamento de minerais.
  • 12:46 - 12:50
    No Quénia, paralegais e clientes
    usam informações de milhares de casos
  • 12:51 - 12:54
    para afirmar que a discriminação
    é inconstitucional.
  • 12:56 - 12:58
    Trata-se de uma forma diferente
    de iniciar uma reforma.
  • 12:59 - 13:02
    Não se trata de um consultor
    que viaja para Myanmar
  • 13:02 - 13:05
    com um modelo que ele vai cortar e colar,
    depois de usado na Macedónia,
  • 13:05 - 13:09
    Também não é um "tweet" de raiva.
  • 13:09 - 13:13
    Trata-se de desenvolver reformas
    a partir da experiência de pessoas comuns
  • 13:13 - 13:16
    que tentam com que as regras
    e os sistemas funcionem.
  • 13:17 - 13:23
    Esta mudança na relação
    das pessoas com a lei
  • 13:24 - 13:26
    é a opção acertada.
  • 13:27 - 13:30
    É também essencial para ultrapassar
  • 13:30 - 13:34
    todos os outros grandes desafios
    do nosso tempo.
  • 13:35 - 13:39
    Não vamos evitar o colapso ambiental
  • 13:40 - 13:43
    se as pessoas mais afetadas pela poluição
  • 13:43 - 13:46
    não tiverem uma palavra a dizer
    sobre o que acontece à terra e à agua,
  • 13:47 - 13:49
    e não seremos bem sucedidos
  • 13:49 - 13:52
    na redução da pobreza
    ou na criação de oportunidades
  • 13:52 - 13:55
    se as pessoas pobres não puderem
    exercer os seus direitos mais básicos.
  • 13:56 - 13:59
    E acredito que não vamos ultrapassar
  • 13:59 - 14:04
    o desespero de que os políticos
    autoritários se aproveitam
  • 14:05 - 14:08
    se os nossos sistemas continuarem
    a ser manipulados.
  • 14:10 - 14:12
    Telefonei ao Ravi antes de vir para aqui
  • 14:13 - 14:15
    a pedir autorização
    para partilhar a sua história.
  • 14:15 - 14:19
    Perguntei se ele tinha alguma mensagem
    para transmitir às pessoas.
  • 14:20 - 14:21
    Ele disse:
  • 14:21 - 14:24
    (Em gujarati): "Acordem".
  • 14:26 - 14:30
    (Em gujarati): "Não tenham medo".
  • 14:31 - 14:33
    (Em gujarati): "Lutem com papel".
  • 14:34 - 14:35
    Com isto, penso que ele quer dizer
  • 14:35 - 14:38
    para a luta ser por via da lei
    e não pelas armas
  • 14:38 - 14:40
    (Em gujarati):
  • 14:43 - 14:47
    "Talvez não hoje, talvez não este ano,
    talvez não em cinco anos,
  • 14:47 - 14:50
    "mas lutem pela justiça".
  • 14:52 - 14:58
    Se este homem, cuja comunidade
    está a ser envenenada dia após dia,
  • 14:58 - 15:01
    e que estava pronto
    a sacrificar a própria vida
  • 15:01 - 15:04
    se ele não desiste de lutar pela justiça,
  • 15:04 - 15:07
    então o mundo também não pode desistir.
  • 15:07 - 15:10
    No fundo, aquilo a que o Ravi chama
    "lutar com papel"
  • 15:11 - 15:15
    trata de lançar as fundações de uma versão
    mais apurada de democracia
  • 15:15 - 15:17
    na qual nós, o povo,
  • 15:17 - 15:19
    não nos limitamos a votar
    de vez em quando
  • 15:19 - 15:24
    mas intervimos diariamente nas regras
    e instituições que nos mantêm unidos,
  • 15:25 - 15:28
    nas quais todos, mesmo os menos poderosos,
  • 15:29 - 15:33
    podem conhecer a lei,
    usar a lei e modelar a lei.
  • 15:33 - 15:36
    Para fazer isso acontecer,
    para ganhar essa luta,
  • 15:37 - 15:38
    todos fazemos a diferença.
  • 15:38 - 15:40
    Obrigado a todos. Obrigado.
  • 15:40 - 15:43
    (Aplausos)
  • 15:49 - 15:51
    Kelo Kubu: Obrigado, Vivek.
  • 15:51 - 15:53
    Vou partir do pressuposto
  • 15:53 - 15:56
    que as pessoas nesta sala sabem
  • 15:56 - 15:58
    o que são os Objetivos para
    o Desenvolvimento Sustentável
  • 15:58 - 16:00
    e como funciona esse processo.
  • 16:01 - 16:03
    Mas queria que falássemos um pouco
  • 16:03 - 16:08
    sobre o Objetivo 16:
    Paz, justiça e instituições fortes.
  • 16:09 - 16:12
    Vivek Maru: Sim. Alguém se lembra dos
    Objetivos de Desenvolvimento do Milénio?
  • 16:12 - 16:17
    Foram adotados no ano 2000 pela ONU
    e por governos de todo o mundo,
  • 16:17 - 16:19
    e defendiam aspetos
    essenciais e meritórios.
  • 16:19 - 16:22
    Reduzir a mortalidade infantil
    em dois terços,
  • 16:22 - 16:23
    reduzir a fome para metade,
  • 16:23 - 16:25
    coisas fundamentais.
  • 16:25 - 16:27
    Mas nem uma palavra
    sobre justiça ou equidade,
  • 16:27 - 16:30
    sobre responsabilidade ou corrupção.
  • 16:30 - 16:34
    Mas progredimos nestes 15 anos
    em que se tentou chegar a estas metas.
  • 16:34 - 16:37
    Mas ainda estamos muito longe
    daquilo que a justiça exige,
  • 16:37 - 16:41
    e não vamos chegar lá se não
    tivermos a justiça em consideração.
  • 16:41 - 16:43
    Assim, quando começou o debate
  • 16:43 - 16:45
    sobre o próximo enquadramento
    para o desenvolvimento,
  • 16:46 - 16:48
    os Objetivos para o Desenvolvimento
    Sustentável 2030,
  • 16:48 - 16:50
    a nossa comunidade uniu-se
    em todo o mundo
  • 16:50 - 16:54
    para reclamar que o acesso à justiça
    e à autonomia legal
  • 16:54 - 16:56
    devem fazer parte
    desse novo enquadramento.
  • 16:57 - 16:58
    E houve muita resistência.
  • 16:58 - 17:02
    Estas questões são mais políticas,
    mais controversas que as outras,
  • 17:02 - 17:05
    por isso só na noite anterior
    soubemos que iriam ser aceites.
  • 17:05 - 17:07
    Nós conseguimos.
  • 17:07 - 17:08
    No 16º dos 17 objetivos
  • 17:08 - 17:11
    consta o compromisso
    do acesso à justiça para todos,
  • 17:11 - 17:12
    o que é um grande feito.
  • 17:13 - 17:16
    Um grande feito, de facto.
    Um aplauso pela justiça.
  • 17:16 - 17:17
    (Aplausos)
  • 17:18 - 17:19
    Mas há aqui algo de escandaloso.
  • 17:20 - 17:22
    No dia em que os objetivos
    foram adotados,
  • 17:22 - 17:26
    a maior parte deles foi acompanhada
    por grandes compromissos:
  • 17:26 - 17:28
    mil milhões de dólares,
    da Fundação Gates
  • 17:28 - 17:30
    e do governo britânico, para nutrição;
  • 17:30 - 17:33
    25 mil milhões de financiamento
    público-privado
  • 17:33 - 17:35
    para cuidados de saúde
    para mulheres e crianças.
  • 17:35 - 17:38
    Quanto ao acesso à justiça,
    tínhamos as palavras no papel,
  • 17:38 - 17:40
    mas ninguém avançou com um cêntimo.
  • 17:40 - 17:44
    Por isso enfrentamos agora
    a oportunidade e o desafio
  • 17:44 - 17:47
    O mundo reconhece, mais do que nunca,
  • 17:47 - 17:50
    que não é possível haver
    desenvolvimento sem justiça,
  • 17:50 - 17:52
    que as pessoas não podem
    melhorar a sua vida
  • 17:52 - 17:54
    se não puderem exercer os seus direitos.
  • 17:54 - 17:57
    O que precisamos de fazer agora
    é transformar essa retórica,
  • 17:57 - 18:00
    transformar esse princípio, em realidade.
  • 18:01 - 18:04
    (Aplausos)
  • 18:06 - 18:09
    KK: O que é que as pessoas
    nesta sala podem fazer?
  • 18:09 - 18:12
    VM: Ótima pergunta.
    Obrigado por perguntar.
  • 18:12 - 18:14
    Eu diria três coisas.
  • 18:14 - 18:15
    Uma é investirem.
  • 18:15 - 18:18
    Se tiverem 10 dólares, 100 dólares
    um milhão de dólares,
  • 18:18 - 18:21
    ponderem investir parte desse valor
    na autonomia jurídica
  • 18:21 - 18:23
    É importante por si só
  • 18:23 - 18:26
    e crucial em praticamente tudo
    aquilo que nos preocupa.
  • 18:26 - 18:28
    Número dois,
  • 18:28 - 18:33
    pressionem os políticos e governos
    para fazer disto uma prioridade pública.
  • 18:34 - 18:36
    Tal como a saúde ou o ensino,
  • 18:36 - 18:40
    o acesso à justiça deve ser uma das coisas
    que um governo deve garantir ao seu povo,
  • 18:40 - 18:42
    e não estamos nem perto disso,
  • 18:42 - 18:44
    nem em países ricos
    nem em países pobres.
  • 18:44 - 18:46
    O número três é:
  • 18:46 - 18:48
    sejam paralegais na vossa vida.
  • 18:49 - 18:51
    Detetem uma injustiça ou um problema
    na zona onde vivem.
  • 18:51 - 18:53
    Não será difícil de encontrar,
    se procurarem.
  • 18:54 - 18:57
    O rio que passa na cidade onde vivem
    está a ser contaminado?
  • 18:57 - 19:00
    Os trabalhadores recebem
    abaixo do salário mínimo nacional?
  • 19:00 - 19:02
    Trabalham sem equipamento de segurança?
  • 19:02 - 19:04
    Procurem conhecer
    as pessoas mais afetadas,
  • 19:04 - 19:06
    descubram o que ditam as regras,
  • 19:06 - 19:10
    vejam se as podem usar
    para encontrar uma solução.
  • 19:10 - 19:13
    Se não resultar, vejam se podem
    coletivamente melhorar essas regras.
  • 19:13 - 19:19
    Porque, se todos conhecermos as leis,
    as usarmos e as melhorarmos,
  • 19:20 - 19:23
    estaremos a construir aquela versão
    mais profunda de democracia
  • 19:23 - 19:26
    de que, acredito, o nosso mundo
    precisa desesperadamente.
  • 19:27 - 19:28
    (Aplausos)
  • 19:28 - 19:30
    KK: Muito obrigada, Vivek.
    VM: Obrigado.
Title:
Como colocar o poder da lei nas mãos do povo
Speaker:
Vivek Maru
Description:

O que podemos fazer quando a máquina da justiça funciona mal? Ou não funciona de todo? Vivek Maru está a trabalhar no sentido de transformar a relação entre as pessoas e a lei, tornando a lei em algo que todos podem compreender, usar e modelar, deixando de ser vista como uma abstração ou ameaça. Em vez de confiar apenas em advogados, Manu iniciou uma rede global de paralegais comunitários, ou advogados de pé descalço, que servem as suas comunidades e desmistificam a lei no sentido de ajudarem as pessoas a encontrar soluções. Saibam mais acerca desta abordagem inovadora na utilização da lei que está a ajudar os mais excluídos a reclamarem os seus direitos. "Um pouco de capacidade jurídica pode fazer milagres," diz Maru.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:43

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