Como colocar o poder da lei nas mãos do povo
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0:01 - 0:03Quero falar-vos sobre alguém.
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0:03 - 0:05Vou chamar-lhe Ravi Nanda.
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0:05 - 0:08O nome é fictício, para o proteger.
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0:09 - 0:12O Ravi é de uma comunidade
de criadores de gado no Gurujat -
0:12 - 0:14na costa ocidental da Índia.
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0:15 - 0:17A minha família é originária
desse mesmo local. -
0:18 - 0:20Quando ele tinha 10 anos,
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0:20 - 0:23toda a sua comunidade
foi forçada a mudar-se -
0:23 - 0:29porque uma multinacional construiu
uma fábrica nas terras onde viviam. -
0:31 - 0:36Vinte anos depois, a mesma empresa
construiu uma fábrica de cimento -
0:36 - 0:39a 100 metros de onde vivem agora.
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0:40 - 0:44A Índia tem uma forte regulamentação
em termos ambientais, no papel, -
0:44 - 0:47mas esta empresa
violou muitas dessas leis. -
0:48 - 0:51O pó dessa fábrica cobre o bigode de Ravi
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0:51 - 0:53e toda a sua roupa.
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0:53 - 0:55Passei apenas dois dias em casa dele
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0:55 - 0:58e fiquei uma semana com tosse.
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0:58 - 1:01O Ravi diz que, se as pessoas ou animais
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1:01 - 1:03comerem alguma coisa
produzida na sua aldeia -
1:03 - 1:05ou beberem ali água,
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1:05 - 1:07ficam doentes.
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1:08 - 1:12Diz que agora as crianças percorrem
longas distâncias com o gado e os búfalos, -
1:12 - 1:15até encontrarem pastagens
não contaminadas. -
1:16 - 1:19Ele diz que muitas dessas crianças
desistiram da escola, -
1:20 - 1:22incluindo três dos seus filhos.
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1:23 - 1:26Ravi protestou junto da empresa
durante anos. -
1:27 - 1:31Disse: " Escrevi tantas cartas
que a minha família pode cremar-me nelas. -
1:31 - 1:33"Nem precisam de comprar madeira."
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1:33 - 1:35(Risos)
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1:35 - 1:39Ele diz que a empresa ignorou
todas as suas cartas, -
1:40 - 1:42Então, em 2013,
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1:42 - 1:46o Ravi Nanda decidiu usar
a derradeira forma de protesto. -
1:48 - 1:53Foi até aos portões da fábrica
com um balde de gasolina na mão, -
1:54 - 1:56com a intenção de se imolar pelo fogo.
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1:59 - 2:02O Ravi não está só no seu desespero.
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2:03 - 2:05A ONU estima que, no mundo inteiro
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2:05 - 2:10quatro mil milhões de pessoas
vivem sem acesso básico à justiça. -
2:11 - 2:13Estas pessoas sofrem graves ameaças
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2:13 - 2:17à sua segurança, à sua subsistência,
à sua dignidade. -
2:17 - 2:22Quase sempre há leis publicadas
que protegeriam estas pessoas, -
2:22 - 2:25mas normalmente eles
nunca ouviram falar dessas leis, -
2:25 - 2:28e os sistemas que supostamente
deviam impor essas leis, -
2:28 - 2:32são corruptos, ineficazes
ou as duas coisas. -
2:33 - 2:38Estamos a viver com uma epidemia
global de injustiça, -
2:39 - 2:41mas temos optado por ignorá-la.
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2:43 - 2:48Neste momento, na Serra Leoa,
no Camboja, na Etiópia, -
2:48 - 2:51os agricultores estão a ser persuadidos
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2:51 - 2:55a colocar a sua impressão digital
em acordos de concessão por 50 anos, -
2:55 - 2:58entregando toda a terra
que sempre foi sua, por uma ninharia -
2:59 - 3:02sem que ninguém explique
sequer as condições. -
3:03 - 3:05Os governos parecem
concordar com o método. -
3:06 - 3:11Neste momento, nos EUA,
na Índia, na Eslovénia, -
3:12 - 3:15pessoas como o Ravi
estão a criar os filhos -
3:15 - 3:18na sombra de fábricas ou minas
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3:18 - 3:21que estão a envenenar
o ar e a água. -
3:21 - 3:24Há regulamentações ambientais
que protegeriam essas pessoas, -
3:24 - 3:26mas muitos nunca viram essas leis,
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3:26 - 3:29e ainda menos têm poder de as impor.
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3:29 - 3:32O mundo parece ter decidido
que não há qualquer problema. -
3:33 - 3:36O que é preciso fazer
para que isso mude? -
3:36 - 3:41Supostamente, a lei
é a linguagem que usamos -
3:41 - 3:44para traduzir os nossos sonhos de justiça
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3:44 - 3:47em instituições vivas,
criadoras de coesão. -
3:48 - 3:50Supostamente, a lei é a diferença
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3:50 - 3:53entre uma sociedade
governada pelos mais poderosos -
3:53 - 3:55e uma sociedade que respeita
a dignidade de todos, -
3:55 - 3:57dos fortes ou dos fracos.
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3:57 - 4:00Foi por isso que, há 20 anos
eu disse a minha avó -
4:00 - 4:02que queria tirar o curso de Direito.
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4:02 - 4:06A minha avó nem parou para pensar
e disse-me: -
4:06 - 4:09"Os advogados são mentirosos."
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4:09 - 4:11(Risos)
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4:12 - 4:14Foi desanimador.
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4:14 - 4:17(Risos)
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4:17 - 4:19Mas a avó, por um lado, tem razão.
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4:19 - 4:23Algo na lei e nos advogados
correu mal. -
4:23 - 4:27Para começar, nós, advogados,
somos habitualmente caros -
4:27 - 4:30e tendemos a focar-nos
nos canais judiciais formais -
4:30 - 4:32que são impraticáveis
-
4:32 - 4:34para muitos dos problemas
que as pessoas enfrentam. -
4:35 - 4:40Pior, a nossa profissão envolveu as leis
num manto de complexidade. -
4:41 - 4:44A lei é como um polícia
com equipamento antimotim. -
4:44 - 4:47É intimidante e impenetrável,
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4:47 - 4:50e é difícil perceber
se há algo de humano lá dentro. -
4:51 - 4:55Se queremos tornar a justiça
uma realidade para todos, -
4:55 - 4:59precisamos de mudar a lei
de uma abstração ou ameaça -
4:59 - 5:05para algo que toda a gente
possa compreender, utilizar e modelar. -
5:06 - 5:10Os advogados são fundamentais
nesta luta, não há dúvida, -
5:10 - 5:12mas não podemos deixá-los sozinhos.
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5:13 - 5:15Na saúde, por exemplo,
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5:15 - 5:19não são apenas os médicos
que cuidam dos doentes. -
5:19 - 5:23Temos enfermeiros e parteiras
e ajudantes familiares. -
5:24 - 5:27O mesmo devia acontecer na justiça.
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5:28 - 5:30Os trabalhadores judiciais comunitários
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5:30 - 5:32— por vezes chamamos-lhes
paralegais comunitários -
5:32 - 5:34ou advogados de pé descalço —
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5:34 - 5:36podem ser uma ponte.
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5:36 - 5:39Estes paralegais vêm
das próprias comunidades que servem. -
5:40 - 5:41Desmistificam a lei,
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5:42 - 5:44traduzem-na em palavras simples,
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5:44 - 5:47ajudando depois as pessoas
a encontrarem uma solução. -
5:47 - 5:49Não se centram apenas nos tribunais.
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5:49 - 5:51Eles tentam tudo:
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5:51 - 5:55ministérios, poder local, provedores.
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5:56 - 5:58Os advogados costumam dizer
aos seus clientes: -
5:59 - 6:01"Eu trato do assunto. Não se preocupe."
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6:01 - 6:03Os paralegais têm uma mensagem diferente,
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6:03 - 6:06Não dizem: "Eu vou resolver isso."
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6:06 - 6:08mas sim: "Vamos resolver isto juntos,
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6:08 - 6:11"e neste processo, ambos vamos evoluir."
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6:12 - 6:16Os paralegais comunitários
salvaram a minha relação com a lei. -
6:16 - 6:19Depois de cerca de um ano na faculdade
de Direito, quase desisti, -
6:19 - 6:22Pensei que talvez devesse
ter dado ouvidos à minha avó. -
6:22 - 6:25Foi quando comecei a trabalhar
com paralegais -
6:25 - 6:28na Serra Leoa, em 2003,
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6:28 - 6:31que voltei a ter esperança na justiça,
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6:31 - 6:34e estou obcecado com isso desde então.
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6:35 - 6:37Deixem-me voltar ao Ravi.
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6:38 - 6:42Em 2013, ele chegou aos portões
daquela fábrica -
6:42 - 6:45com um balde de gasolina na mão,
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6:45 - 6:48mas foi detido
antes de conseguir entrar. -
6:49 - 6:50Não ficou muito tempo na cadeia
-
6:50 - 6:53mas sentiu-se completamente derrotado.
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6:54 - 6:57Dois anos depois, conheceu alguém
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6:57 - 6:59a quem vou chamar Kush.
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6:59 - 7:02O Kush faz parte de uma equipa
de paralegais comunitários -
7:02 - 7:06que trabalha em prol da justiça ambiental
na costa do Gurujat. -
7:06 - 7:10O Kush explicou ao Ravi
que a lei estava do lado dele. -
7:11 - 7:14O Kush traduziu para gurujati
algo que Ravi desconhecia. -
7:14 - 7:17Denomina-se "licença de funcionamento."
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7:17 - 7:19É emitida por uma entidade governamental
-
7:19 - 7:21e autoriza a fábrica a funcionar
-
7:21 - 7:24apenas se esta obedecer
a determinados requisitos. -
7:25 - 7:28Juntos compararam os requisitos legais
com a realidade, -
7:29 - 7:30recolheram provas,
-
7:30 - 7:32e redigiram um requerimento
-
7:32 - 7:36— não aos tribunais, mas
a duas instituições administrativas, -
7:37 - 7:40o Conselho de Controlo de Poluição
e a administração distrital. -
7:41 - 7:46Esses requerimentos puseram a girar
as perras rodas do cumprimento da lei. -
7:47 - 7:50Um agente de poluição
foi inspecionar o local, -
7:51 - 7:55e depois disso, a empresa
instalou um sistema de filtragem de ar -
7:55 - 7:58que era suposto estar instalado
desde o início. -
7:58 - 8:01Começou também a colocar
uma cobertura nos 100 camiões -
8:01 - 8:05que entram e saem da fábrica
todos os dias. -
8:05 - 8:09Essas duas medidas reduziram
consideravelmente a poluição do ar. -
8:10 - 8:13O caso está longe de estar resolvido,
-
8:13 - 8:17mas tomar conhecimento e aplicar a lei
deu esperança ao Ravi. -
8:18 - 8:23Há pessoas como o Kush
a caminhar lado a lado -
8:23 - 8:26com pessoas como o Ravi
em muitos sítios. -
8:26 - 8:28Atualmente, trabalho com um grupo
chamado Namati. -
8:28 - 8:33O Namati ajuda a organizar uma rede global
dedicada à autonomia legal. -
8:33 - 8:36Todos juntos, somos mais
de mil organizações -
8:36 - 8:38em 120 países.
-
8:38 - 8:42Coletivamente, disseminamos dezenas
de milhares de paralegais comunitários. -
8:43 - 8:46Vou dar-vos outro exemplo.
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8:47 - 8:49Esta é a Khadija Hamsa,
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8:49 - 8:53uma dos cinco milhões de pessoas no Quénia
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8:53 - 8:56que enfrentam um processo discriminatório
-
8:56 - 8:59quando tentam obter
um documento de identificação. -
8:59 - 9:02É como as leis Jim Crow
de segregação racial no Sul dos EUA, -
9:03 - 9:05quem pertence a determinadas tribos,
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9:05 - 9:07na sua maioria muçulmanas,
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9:07 - 9:09é enviado para outra fila.
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9:10 - 9:13Sem identificação não é possível
candidatar-se a um emprego, -
9:13 - 9:15nem obter um empréstimo bancário.
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9:15 - 9:17nem inscrever-se na universidade.
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9:17 - 9:20É uma forma de exclusão da sociedade.
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9:20 - 9:23A Khadija fez várias tentativas
para obter um cartão de identificação -
9:23 - 9:25durante oito anos, sem sucesso.
-
9:25 - 9:29Conheceu então um paralegal
que trabalhava na sua comunidade -
9:29 - 9:31chamado Hassan Kassim.
-
9:31 - 9:34Hassan explicou a Khadija
como funciona o processo, -
9:34 - 9:36ajudou-a a reunir
os documentos necessários, -
9:36 - 9:39e preparou-a para a comissão
de verificação de identidade. -
9:39 - 9:41Com a ajuda do Hassan,
-
9:41 - 9:43ela conseguiu finalmente
o documento de identificação. -
9:44 - 9:45A primeira coisa que ela fez com ele
-
9:45 - 9:49foi conseguir certidões de nascimento
para os seus filhos, -
9:49 - 9:51para eles poderem frequentar a escola.
-
9:54 - 9:57Nos EUA, entre muitos outros problemas,
-
9:57 - 10:01temos uma crise na habitação.
-
10:02 - 10:03Em muitas cidades,
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10:03 - 10:0790% dos senhorios têm advogados,
nos tribunais, -
10:07 - 10:10enquanto 90% dos arrendatários não os têm.
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10:10 - 10:13Em Nova Iorque, uma nova
congregação de paralegais -
10:13 - 10:16— denominados de
Navegadores de Acesso à Justiça — -
10:16 - 10:18ajuda as pessoas a interpretar
a lei de habitação -
10:18 - 10:20e a defenderem-se por si mesmas.
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10:21 - 10:22Habitualmente, em Nova Iorque,
-
10:22 - 10:26um em cada nove inquilinos
levados a tribunal -
10:26 - 10:27acaba por ser despejado.
-
10:28 - 10:30Os investigadores pegaram em 150 casos
-
10:30 - 10:33de pessoas que tiveram a ajuda
destes paralegais, -
10:33 - 10:37e não encontraram nenhuma
situação de despejo, nem uma só. -
10:38 - 10:41Uma certa autonomia legal
pode fazer milagres. -
10:42 - 10:46Vejo o início de um verdadeiro movimento,
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10:46 - 10:49mas ainda estamos longe
daquilo que é necessário. -
10:49 - 10:51Muito longe.
-
10:51 - 10:53Na maioria dos países à volta do mundo,
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10:53 - 10:55os governos não apoiam
com um único dólar -
10:56 - 10:59os paralegais como o Hassan e o Kush.
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10:59 - 11:02A maioria dos governos nem sequer
reconhece o papel deles -
11:03 - 11:05nem garante a sua proteção.
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11:06 - 11:08Não quero dar a impressão
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11:08 - 11:11que os paralegais e os seus clientes
saem sempre vencedores. -
11:12 - 11:13De modo algum.
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11:13 - 11:16A fábrica de cimento na aldeia do Ravi,
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11:16 - 11:19tem desligado o sistema de filtragem
durante a noite -
11:19 - 11:22pois assim é menor
a hipótese de serem apanhados. -
11:23 - 11:25Aquele sistema é dispendioso.
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11:25 - 11:29Ravi enviou pelo WhatsApp
fotos do céu noturno poluído. -
11:29 - 11:32Esta é uma que ele enviou
ao Kush em maio. -
11:33 - 11:36O Ravi diz que o ar continua irrespirável.
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11:36 - 11:39A certo ponto, este ano,
o Ravi entrou em greve de fome. -
11:40 - 11:42O Kush ficou frustrado e disse:
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11:42 - 11:44"Podemos ganhar, se aplicarmos a lei."
-
11:44 - 11:47O Ravi respondeu:
"Eu acredito na lei, -
11:47 - 11:50"mas ela não nos está a levar
até onde queremos chegar." -
11:51 - 11:56Quer seja na Índia, no Quénia,
nos EUA ou em qualquer outro local, -
11:56 - 11:59tentar obter justiça
em sistemas falhados -
11:59 - 12:01resulta em casos como o do Ravi.
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12:01 - 12:05Esperança e desespero
caminham lado a lado. -
12:06 - 12:10Então, não só precisamos
urgentemente de apoiar e proteger -
12:10 - 12:13o trabalho dos advogados
de pé descalço pelo mundo, -
12:13 - 12:16mas também precisamos
de mudar os próprios sistemas. -
12:18 - 12:20Cada caso trabalhado por um paralegal
-
12:20 - 12:25é uma história acerca do próprio
funcionamento do sistema, na prática. -
12:26 - 12:28Quando se juntam essas histórias,
-
12:28 - 12:31temos um retrato detalhado
de um sistema como um todo. -
12:31 - 12:33As pessoas podem usar essas informações
-
12:33 - 12:36para exigir melhorias
nas leis e nas políticas. -
12:37 - 12:41Na Índia, paralegais e clientes
aproveitaram a experiência dos seus casos -
12:41 - 12:44para propor regulamentações
mais inteligentes -
12:44 - 12:46no âmbito do manuseamento de minerais.
-
12:46 - 12:50No Quénia, paralegais e clientes
usam informações de milhares de casos -
12:51 - 12:54para afirmar que a discriminação
é inconstitucional. -
12:56 - 12:58Trata-se de uma forma diferente
de iniciar uma reforma. -
12:59 - 13:02Não se trata de um consultor
que viaja para Myanmar -
13:02 - 13:05com um modelo que ele vai cortar e colar,
depois de usado na Macedónia, -
13:05 - 13:09Também não é um "tweet" de raiva.
-
13:09 - 13:13Trata-se de desenvolver reformas
a partir da experiência de pessoas comuns -
13:13 - 13:16que tentam com que as regras
e os sistemas funcionem. -
13:17 - 13:23Esta mudança na relação
das pessoas com a lei -
13:24 - 13:26é a opção acertada.
-
13:27 - 13:30É também essencial para ultrapassar
-
13:30 - 13:34todos os outros grandes desafios
do nosso tempo. -
13:35 - 13:39Não vamos evitar o colapso ambiental
-
13:40 - 13:43se as pessoas mais afetadas pela poluição
-
13:43 - 13:46não tiverem uma palavra a dizer
sobre o que acontece à terra e à agua, -
13:47 - 13:49e não seremos bem sucedidos
-
13:49 - 13:52na redução da pobreza
ou na criação de oportunidades -
13:52 - 13:55se as pessoas pobres não puderem
exercer os seus direitos mais básicos. -
13:56 - 13:59E acredito que não vamos ultrapassar
-
13:59 - 14:04o desespero de que os políticos
autoritários se aproveitam -
14:05 - 14:08se os nossos sistemas continuarem
a ser manipulados. -
14:10 - 14:12Telefonei ao Ravi antes de vir para aqui
-
14:13 - 14:15a pedir autorização
para partilhar a sua história. -
14:15 - 14:19Perguntei se ele tinha alguma mensagem
para transmitir às pessoas. -
14:20 - 14:21Ele disse:
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14:21 - 14:24(Em gujarati): "Acordem".
-
14:26 - 14:30(Em gujarati): "Não tenham medo".
-
14:31 - 14:33(Em gujarati): "Lutem com papel".
-
14:34 - 14:35Com isto, penso que ele quer dizer
-
14:35 - 14:38para a luta ser por via da lei
e não pelas armas -
14:38 - 14:40(Em gujarati):
-
14:43 - 14:47"Talvez não hoje, talvez não este ano,
talvez não em cinco anos, -
14:47 - 14:50"mas lutem pela justiça".
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14:52 - 14:58Se este homem, cuja comunidade
está a ser envenenada dia após dia, -
14:58 - 15:01e que estava pronto
a sacrificar a própria vida -
15:01 - 15:04se ele não desiste de lutar pela justiça,
-
15:04 - 15:07então o mundo também não pode desistir.
-
15:07 - 15:10No fundo, aquilo a que o Ravi chama
"lutar com papel" -
15:11 - 15:15trata de lançar as fundações de uma versão
mais apurada de democracia -
15:15 - 15:17na qual nós, o povo,
-
15:17 - 15:19não nos limitamos a votar
de vez em quando -
15:19 - 15:24mas intervimos diariamente nas regras
e instituições que nos mantêm unidos, -
15:25 - 15:28nas quais todos, mesmo os menos poderosos,
-
15:29 - 15:33podem conhecer a lei,
usar a lei e modelar a lei. -
15:33 - 15:36Para fazer isso acontecer,
para ganhar essa luta, -
15:37 - 15:38todos fazemos a diferença.
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15:38 - 15:40Obrigado a todos. Obrigado.
-
15:40 - 15:43(Aplausos)
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15:49 - 15:51Kelo Kubu: Obrigado, Vivek.
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15:51 - 15:53Vou partir do pressuposto
-
15:53 - 15:56que as pessoas nesta sala sabem
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15:56 - 15:58o que são os Objetivos para
o Desenvolvimento Sustentável -
15:58 - 16:00e como funciona esse processo.
-
16:01 - 16:03Mas queria que falássemos um pouco
-
16:03 - 16:08sobre o Objetivo 16:
Paz, justiça e instituições fortes. -
16:09 - 16:12Vivek Maru: Sim. Alguém se lembra dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milénio? -
16:12 - 16:17Foram adotados no ano 2000 pela ONU
e por governos de todo o mundo, -
16:17 - 16:19e defendiam aspetos
essenciais e meritórios. -
16:19 - 16:22Reduzir a mortalidade infantil
em dois terços, -
16:22 - 16:23reduzir a fome para metade,
-
16:23 - 16:25coisas fundamentais.
-
16:25 - 16:27Mas nem uma palavra
sobre justiça ou equidade, -
16:27 - 16:30sobre responsabilidade ou corrupção.
-
16:30 - 16:34Mas progredimos nestes 15 anos
em que se tentou chegar a estas metas. -
16:34 - 16:37Mas ainda estamos muito longe
daquilo que a justiça exige, -
16:37 - 16:41e não vamos chegar lá se não
tivermos a justiça em consideração. -
16:41 - 16:43Assim, quando começou o debate
-
16:43 - 16:45sobre o próximo enquadramento
para o desenvolvimento, -
16:46 - 16:48os Objetivos para o Desenvolvimento
Sustentável 2030, -
16:48 - 16:50a nossa comunidade uniu-se
em todo o mundo -
16:50 - 16:54para reclamar que o acesso à justiça
e à autonomia legal -
16:54 - 16:56devem fazer parte
desse novo enquadramento. -
16:57 - 16:58E houve muita resistência.
-
16:58 - 17:02Estas questões são mais políticas,
mais controversas que as outras, -
17:02 - 17:05por isso só na noite anterior
soubemos que iriam ser aceites. -
17:05 - 17:07Nós conseguimos.
-
17:07 - 17:08No 16º dos 17 objetivos
-
17:08 - 17:11consta o compromisso
do acesso à justiça para todos, -
17:11 - 17:12o que é um grande feito.
-
17:13 - 17:16Um grande feito, de facto.
Um aplauso pela justiça. -
17:16 - 17:17(Aplausos)
-
17:18 - 17:19Mas há aqui algo de escandaloso.
-
17:20 - 17:22No dia em que os objetivos
foram adotados, -
17:22 - 17:26a maior parte deles foi acompanhada
por grandes compromissos: -
17:26 - 17:28mil milhões de dólares,
da Fundação Gates -
17:28 - 17:30e do governo britânico, para nutrição;
-
17:30 - 17:3325 mil milhões de financiamento
público-privado -
17:33 - 17:35para cuidados de saúde
para mulheres e crianças. -
17:35 - 17:38Quanto ao acesso à justiça,
tínhamos as palavras no papel, -
17:38 - 17:40mas ninguém avançou com um cêntimo.
-
17:40 - 17:44Por isso enfrentamos agora
a oportunidade e o desafio -
17:44 - 17:47O mundo reconhece, mais do que nunca,
-
17:47 - 17:50que não é possível haver
desenvolvimento sem justiça, -
17:50 - 17:52que as pessoas não podem
melhorar a sua vida -
17:52 - 17:54se não puderem exercer os seus direitos.
-
17:54 - 17:57O que precisamos de fazer agora
é transformar essa retórica, -
17:57 - 18:00transformar esse princípio, em realidade.
-
18:01 - 18:04(Aplausos)
-
18:06 - 18:09KK: O que é que as pessoas
nesta sala podem fazer? -
18:09 - 18:12VM: Ótima pergunta.
Obrigado por perguntar. -
18:12 - 18:14Eu diria três coisas.
-
18:14 - 18:15Uma é investirem.
-
18:15 - 18:18Se tiverem 10 dólares, 100 dólares
um milhão de dólares, -
18:18 - 18:21ponderem investir parte desse valor
na autonomia jurídica -
18:21 - 18:23É importante por si só
-
18:23 - 18:26e crucial em praticamente tudo
aquilo que nos preocupa. -
18:26 - 18:28Número dois,
-
18:28 - 18:33pressionem os políticos e governos
para fazer disto uma prioridade pública. -
18:34 - 18:36Tal como a saúde ou o ensino,
-
18:36 - 18:40o acesso à justiça deve ser uma das coisas
que um governo deve garantir ao seu povo, -
18:40 - 18:42e não estamos nem perto disso,
-
18:42 - 18:44nem em países ricos
nem em países pobres. -
18:44 - 18:46O número três é:
-
18:46 - 18:48sejam paralegais na vossa vida.
-
18:49 - 18:51Detetem uma injustiça ou um problema
na zona onde vivem. -
18:51 - 18:53Não será difícil de encontrar,
se procurarem. -
18:54 - 18:57O rio que passa na cidade onde vivem
está a ser contaminado? -
18:57 - 19:00Os trabalhadores recebem
abaixo do salário mínimo nacional? -
19:00 - 19:02Trabalham sem equipamento de segurança?
-
19:02 - 19:04Procurem conhecer
as pessoas mais afetadas, -
19:04 - 19:06descubram o que ditam as regras,
-
19:06 - 19:10vejam se as podem usar
para encontrar uma solução. -
19:10 - 19:13Se não resultar, vejam se podem
coletivamente melhorar essas regras. -
19:13 - 19:19Porque, se todos conhecermos as leis,
as usarmos e as melhorarmos, -
19:20 - 19:23estaremos a construir aquela versão
mais profunda de democracia -
19:23 - 19:26de que, acredito, o nosso mundo
precisa desesperadamente. -
19:27 - 19:28(Aplausos)
-
19:28 - 19:30KK: Muito obrigada, Vivek.
VM: Obrigado.
- Title:
- Como colocar o poder da lei nas mãos do povo
- Speaker:
- Vivek Maru
- Description:
-
O que podemos fazer quando a máquina da justiça funciona mal? Ou não funciona de todo? Vivek Maru está a trabalhar no sentido de transformar a relação entre as pessoas e a lei, tornando a lei em algo que todos podem compreender, usar e modelar, deixando de ser vista como uma abstração ou ameaça. Em vez de confiar apenas em advogados, Manu iniciou uma rede global de paralegais comunitários, ou advogados de pé descalço, que servem as suas comunidades e desmistificam a lei no sentido de ajudarem as pessoas a encontrar soluções. Saibam mais acerca desta abordagem inovadora na utilização da lei que está a ajudar os mais excluídos a reclamarem os seus direitos. "Um pouco de capacidade jurídica pode fazer milagres," diz Maru.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 19:43
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