A arte da sedução | Seema Anand | TEDxEaling

As artes antigas de cortejar e seduzir já foram tratadas como alta filosofia, com associações divinas e acadêmicas. A Dra. Seema Anand explora como essas narrativas foram perdidas e como, na evolução do seu vocabulário, as implicações mudaram. Trabalhando no âmbito do que o termo "história" pode significar para o indivíduo, Seema facilita o processo de aprendizagem de "contar", "ouvir", "conhecer" e "rejeitar" as narrativas que constroem nossas vidas e nossas interações sociais, a fim de melhorarmos a comunicação e construirmos conexões e um diálogo aberto.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite: http://ted.com/tedx

Se partirmos do construto
de que somos uma coleção de histórias,

somos as histórias que contamos,
as histórias nas quais acreditamos

e, da mesma forma, as histórias
que escolhemos ignorar.

Então, vou revisitar

algumas dessas histórias antigas,
que hoje estão esquecidas e perdidas.

Vamos começar do começo;
vamos começar com a história da criação.

A criação não é um processo simples,
e não deixem que lhes digam o contrário.

Segundo a crença hindu, não é
nem mesmo o trabalho de um só homem.

São necessárias três pessoas:

uma para criar, uma para preservar
e outra para destruir.

Mas Brahma,

o grande pai, o criador,

quando criou o mundo com sua mente,

decidiu, em sua arrogância,

que também ia ser
o mestre da vida e da morte.

E, nesse mundo que ia criar,

ele ia povoá-lo com seres que fossem
homem e mulher num só corpo;

seres que se autofecundariam.

Então, o plano era fazer esses seres
gerarem uma criança dentro de si

sem qualquer ajuda externa,

e alimentarem e cuidarem
dessa criança por seis anos,

momento em que ela
se tornaria autossuficiente,

e os genitores morreriam automaticamente.

Assim, no mundo de Brahma, não haveria
confusão nem superpopulação.

Mas, quando ele criou
esses seres da sua mente,

descobriu que eram todos homens.

O criador não tinha descoberto
como manifestar uma mulher.

Então Shiva veio socorrê-lo.

Shiva é uma das trindades;
ele é o destruidor.

E Shiva é casado com a Mãe-Terra.

Shiva foi à mente de Brahma

e tirou de lá uma mulher:
a filha nascida da mente de Brahma.

E aí ele explicou a Brahma
sobre os homens e sobre as mulheres

e sobre o êxtase de tal união.

Infelizmente, Brahma não estava ouvindo,

pois ficou hipnotizado
pela linda filha de sua mente

e decidiu que a queria para si.

E Shiva teve de se sentar lá

e assistir ao grande pai
cobiçando sua própria filha

e perseguindo-a por todo o cosmos,
pois queria possuí-la.

E Shiva percebeu o tipo de pecado
que tinha trazido ao mundo.

Então, para tentar atenuar esse pecado,
Shiva castrou a si mesmo,

se fundiu à própria esposa,
e procurou Brahma

e falou: "Olhe, plano A:

eis como se cria um ser que é tanto
homem quanto mulher num só corpo.

Vamos voltar para este plano".

Mas, nessa altura, Brahma já tinha
conhecido o êxtase da união.

Então, ele separou Shiva
de sua esposa e disse:

"De agora em diante, homens e mulheres
vão nascer como entidades separadas,

vão viver como entidades separadas
e vão conhecer a alegria da união".

Então, Brahma criou uma raça
de homens e uma raça de mulheres,

os juntou em pares e disse:
"Vão e povoem meu mundo".

Infelizmente, nada aconteceu,
porque ninguém sabia o que fazer.

Então, Shiva, mais uma vez,
veio em seu auxílio.

Ele disse aos homens e às mulheres:

"Vão e façam cócegas uns nos outros,

e o resto virá naturalmente".

(Risos)

Assim eles fizeram e, 7 bilhões de pessoas
depois, o resto todo mundo já sabe.

A essa altura, Shiva e sua esposa,
Parvati, a Mãe-Terra,

decidiram escrever um manual
cada um, o primeiro do tipo,

um manual cada, sobre as artes da sedução.

Bem, vou abrir um parêntese para dizer

que não gosto da palavra "sedução",

pois ela abarca todo o tipo de coisa
que não tem nada a ver com isso,

mas não consegui encontrar
uma palavra melhor,

pelo menos em inglês.

Então, vou usar ela mesma, mas vou
tentar explicar o conceito para vocês.

De acordo com o Tantra,
com a alta filosofia,

a energia sexual é a mais alta forma
de energia do mundo,

e ser capaz de aproveitar isso
é gerar o poder máximo.

Então, as artes da sedução
eram sobre desenvolver, otimizar

e aproveitar o poder da mente,
do corpo e do espírito,

de modo a gerar esse poder máximo.

Esse assunto é muito vasto,

e vou lhes dar apenas uma pequena amostra.

No Kama Sutra se diz

que homens e mulheres precisam
aprender 64 habilidades

para se tornarem competentes
nas artes da sedução.

Algumas coisas fazem sentido,

como cantar, dançar,
perfumar-se, fazer ginástica;

mas outras realmente não.

Por exemplo, o que saber mineralogia
tem a ver com as artes da sedução?

Ou saber sobre luta de codornas?

(Risos)

Briga de galo? Briga de carneiro?

Adoro esta aqui:

o que a habilidade de fazer
trabalhos com linha

tem a ver com as artes da sedução?

Está listada nas 64 artes.

Mas 64 não era o número
de maneiras de seduzir alguém;

64 era a totalidade da nossa vida.

Se pegarmos a vida
e dividirmos em quatro estágios,

cada um então será dividido
em quatro ramos do conhecimento

que temos de adquirir
durante cada estágio,

o que nos dá 16 ramos do conhecimento.

Então, dividimos cada ramo do conhecimento
em 4, para abranger todos os aspectos,

e chegamos ao número 64.

Assim, um completo conhecimento
das artes da sedução

era assimilado com o completo
domínio de sua vida inteira.

Sim, é sobre otimizar e aproveitar
o poder da mente, do corpo e do espírito.

E vou lhes contar um segredinho:
segundo a sabedoria antiga,

o completo domínio das artes da sedução,

e a habilidade de praticá-las,

era conhecido como o elixir da juventude.

Quando Cleópatra decidiu
seduzir Júlio César,

ela não o queria apenas por uma noite,
mas algo duradouro,

e ela queria que ele descartasse
todas as demais mulheres.

E tratava-se de César, o líder do maior
império conhecido de todos os tempos.

Ele era rico, era mimado,

podia ter quem ele quisesse,
podia fazer o que quisesse,

e ela o queria só para si, e para sempre.

Sabem qual foi a arma de sedução
que ela decidiu usar?

Além do óbvio, é claro.

Ela decidiu que ele seria

completamente feliz

todos os minutos passados ao lado dela.

Assim, ele associaria a presença dela
com os momentos mais felizes de sua vida.

Ela decidiu que, com ela,
ele daria mais risadas

do que jamais tinha dado
com qualquer outra mulher.

E, pela história, sabemos que funcionou.

Isso me leva a uma outra história,
que acho que vai, literalmente, acabar,

que é a seguinte:

as artes da sedução não eram habilidades
usadas apenas pelas mulheres.

Eram igualmente importantes
para os homens.

E esta é a história que está
se tornando completamente obsoleta.

Pois todas as vezes que falo isso

e digo: "Bem, para uma mulher
ser verdadeiramente sedutora,

ela tinha de ser inteligente, divertida,
linda, cheirosa, sexy, sutil,

discreta, ter pele de porcelana,
saber cantar, saber dançar,

saber tocar instrumentos musicais,
falar bem, saber se portar, ser culta,

ter unhas pintadas, pés lixados,
lábios avermelhados, pernas depiladas...

Mas o que o homem tinha de ser?

Invariavelmente a resposta é: rico.

(Risos)

Só tinha de ser rico.

Se fosse rico, não precisava mais nada.

De jeito nenhum.

Então vemos esses sites horríveis

dizendo às mulheres para serem perfeitas.

E se o homem fizer
algo de que você não goste,

não reclame; sorria e finja
que está tudo bem.

Ou se ele a fizer chorar,

não reclame: sorria e disfarce.

Não, de jeito nenhum.

Quando falamos que as artes da sedução

eram sobre desenvolver,
otimizar e aproveitar

a energia da mente, do corpo e da alma

para gerar o poder máximo,

era igualmente importante
que o homem participasse ativamente.

Não só participasse ativamente

e soubesse tudo sobre
as habilidades da sedução;

mas também tinha de ser capaz
de entender as nuances,

a competência e o requinte
com os quais ele era seduzido,

de modo a maximizar sua energia sexual.

Certo?

Havia montes de livros escritos
sobre o papel dos homens.

Num desses livros há um prelúdio

que simplesmente adoro,
e vou compartilhar com vocês.

Um rei estava sentado em seu trono,
cercado por seus ministros,

quando uma mulher irrompe
na corte, completamente nua,

causando um grande tumulto.

Uma mulher. Nua. À luz do dia.

Na presença do rei. Oh!!!

Logo as pessoas correram
para tentar cobri-la,

mas ela os deteve, dizendo:

"Não, decidi que não vou mais, nunca mais,

vestir nenhuma peça de roupa
até que meu desejo se realize".

E o rei, como questão de honra,
pois pode fazer as coisas acontecerem,

perguntou: "Vamos lá, diga o que deseja".

E ela diz: "Bem, estou farta,

pois em toda a minha vida
nunca houve um homem

que se deu ao trabalho de tentar
me satisfazer na cama.

Nem mesmo um. Nunca.

E decidi

que até que esteja completamente
satisfeita, não vou me vestir".

(Risos)

Bem, o rei, que tinha dado sua palavra,
olha aflito para os ministros,

os ministros olham aflitos de volta,

têm uma rápida conversa

e descobrem, em completo desalento,

que não havia nenhum homem na sala
que poderia afirmar com convicção

ser capaz de satisfazer
uma mulher completamente.

Agora, senhoras e senhores,
imaginem o nível de pânico.

E se essa forma de rebelião virasse moda?

E se todas as esposas decidissem
sair nuas pelas ruas

exigindo satisfação sexual?

Não se preocupem,
a história tem um final feliz.

O rei ofereceu um prêmio.

Um homem, do nada, veio à frente,
pegou a mulher pela mão,

levou-a embora

e, na manhã seguinte, ela voltou à corte,

vestida da cabeça aos pés.

Era o recato em pessoa.

E ela confirmou que tinha
sido completamente satisfeita.

Imediatamente, o rei encarregou
o homem de escrever um livro,

pondo no papel todo o seu conhecimento
para que todos no reino tivessem acesso,

e nenhuma mulher precisasse
andar nua novamente pelas ruas.

(Risos)

Simplesmente adoro essa história,
mas tenho de dizer

que sou maravilhada pelo tipo de amplitude
da experiência, do detalhe,

a pesquisa que foi feita nesses livros.

Especialmente sobre o papel dos homens.

Sabiam que existe um livro antigo

que fala sobre a mudança
das zonas erógenas de uma mulher

de acordo as fases da Lua?

A ideia é que a sexualidade
da mulher é líquida,

assim, é afetada pelas fases da Lua.

E, novamente, é um tópico vasto,

assim, vou lhes dar apenas
alguns exemplos, linhas gerais.

Eles diziam

que no 14.º dia da lua crescente
ou da minguante, por exemplo,

a parte mais sensível da mulher
é a cabeça e o cabelo.

E a melhor forma de aumentar
a energia sexual dela

é massagear gentilmente o couro cabeludo.

No 13.º dia, são os olhos,
assim, os cílios devem ser beijados;

aparentemente o direito é mais
sensível durante a lua crescente,

e o esquerdo, durante a lua minguante.

No sétimo dia,

não vou dar todos os detalhes,
pois não vai dar tempo,

mas, no sétimo dia,
a parte mais sensível é o umbigo,

e o ideal é que seja tocado
com a palma da mão aberta.

No quarto dia, são os joelhos,

os do homem devem pressionar os da mulher.

O quinto dia é o dia da folga do homem,

ele não tem de fazer muito no quinto dia.

A mulher fica bem
autossuficiente no quinto dia

(Risos)

tanto da lua minguante
quanto da crescente.

Só para lhes dar um pouco
mais de informação,

hoje é o sexto dia da fase da lua,

e aparentemente hoje
são as nádegas, o traseiro,

que deve ser batido de leve,

(Risos)

leves batidinhas com o pulso.

(Risos)

E depois, é claro, continua
com permutas e combinações.

É um trabalho incrível, mas, como disse,

há tanta informação, mas ela se perde

devido ao fato de a palavra "sedução"
ter sido vítima da evolução.

Não tenho mais muito tempo,
então vou terminar

com um pequeno exemplo
da minha parte favorita,

uma das minhas partes favoritas
das artes da sedução,

que é sobre perfumar o corpo.

Bem, perfumar o corpo devia ser
um fenômeno gradativo e sutil.

Adicione um pouco de tintura
para fazer uma base,

e aplique diferentes perfumes
no restante das partes do corpo.

O cabelo tinha de ser perfumado
com raiz de vetiver.

Vetiver, para quem não é do Sul da Ásia,

tem o cheiro da chuva fresca
quando cai na terra quente.

(Risos)

É o melhor afrodisíaco do mundo.

Assim, o cabelo com vetiver, o pescoço
com jasmim, os braços com menta.

Há uma razão para perfumar
cada parte do corpo, tá?

O umbigo, com um almíscar forte
para atrair alguém para dentro.

Na curva da cintura,
um leve extrato de rosas,

para ser preciso pressionar
o rosto ali para senti-lo.

E as costas, meu favorito,

as costas têm de ser respingadas,
não umedecidas,

respingadas com pequenas
pancadinhas de sândalo,

de modo a criar uma trilha,
para alguém seguir.

Porque, no final dela,

tem de ser como um banquete
de sabores, texturas e aromas.

Senhoras e senhores, para terminar,

gostaria de sugerir que esse é o tipo
de história que deveriam tentar em casa.

(Risos)

(Aplausos)