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(Convidando o sino.)
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(Sino)
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Querido Thây, querida Sangha,
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Sofro muito com meu pai...
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Ele é...
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É difícil para mim...
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vê-lo... e...
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é quase perigoso.
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Não quero vê-lo mais
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e já dei a ele várias chances de mudar.
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Tenho me forçado a me encontrar com ele
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mas no momento não consigo.
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Minha pergunta é:
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Devo continuar tentando mudá-lo
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e tentar estar com ele
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mesmo que isso me deixe exausto?
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Querido Thây, nosso amigo nos disse que
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tem muitas dificuldades com o pai.
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É muito difícil para ele ver o pai
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e sente que é até perigoso.
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Ele tem se forçado a encontrar o pai
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e lhe deu muitas chances de mudar,
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de se transformar,
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mas sente que não adiantou.
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Sente que não pode mais se forçar a vê-lo.
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Mas pergunta ao Thây se deve continuar
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tentando transformar, mudar seu pai,
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e se forçar a tentar ajudar o pai a mudar.
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Para encontrar a resposta certa,
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precisamos olhar primeiro,
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olhar mais profundamente,
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para vermos a relação entre nós e o outro,
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seja na relação entre filho e pai,
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ou filha e mãe,
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ou na relação de um casal.
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E se você tiver dificuldades com o outro
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e quiser mudá-lo,
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a primeira coisa a fazer é olhar profundamente para nós mesmos
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e para a outra pessoa
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para perceber...
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para ver a relação, a conexão.
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Em geral, achamos que...
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a outra pessoa está fora de nós.
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Isto não é a visão correta.
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Neste caso,
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achamos que nosso pai está fora de nós
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e que basta mudar o que está fora,
não o que está dentro.
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Precisamos ver que nosso pai está em nós,
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nosso pai está presente em
cada célula do nosso corpo.
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Temos nosso pai dentro de nós.
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Somos a continuação do nosso pai em nós.
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E pode ser mais fácil mudarmos
nosso pai interno primeiro.
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E podemos fazer isso 24 horas/dia.
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Não precisamos vê-lo,
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nem falar com ele para mudá-lo.
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A maneira como respiramos,
a maneira como caminhamos,
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pode mudar nosso pai dentro de nós.
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Convidando-o para caminhar conosco,
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sentar-se conosco,
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sorrir conosco.
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E nosso pai interno mudará.
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Caso contrário, você crescerá
e agirá exatamente
como ele age agora.
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Muitas crianças odeiam
seus pais
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e prometem que, quando crescerem,
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não agirão nem falarão da mesma maneira que seu pai.
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Mas quando crescerem,
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agirão exatamente como o pai.
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E dirão coisas exatamente como o pai.
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Isso já aconteceu muitas vezes... sempre.
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Você odeia,
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você não quer fazer a mesma coisa,
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não quer dizer as mesmas coisas.
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Apesar disso, fará exatamente o mesmo
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e falará exatamente da mesma maneira.
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Isso é o que chamamos de "Samsara" no Budismo, uma roda girando.
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Você dá continuidade ao seu pai
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não apenas com seu corpo,
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mas também com sua maneira de viver.
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É por isso que ao encontrar o Buddhadharma
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você tem uma chance.
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Primeiro, você precisa mudar seu pai em você.
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E quando tiver conseguido
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mudar seu pai dentro de você,
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ele não irá ao Samsara novamente.
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Você não transmitirá esse tipo de hábito para seus filhos.
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Assim, impedirá que a roda do Samsara continue girando...
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Repetindo o ciclo....
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Repetindo o ciclo...
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E quando o pai interno estiver transformado,
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a transformação do pai externo será muito mais fácil.
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Esta é minha experiência.
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Tenho alguns colegas monges que são difíceis.
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(Risos)
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Possuem cargos importantes na igreja, na Igreja Budista.
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São muito conservadores...
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conservadores...
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Não permitiram que a comunidade...
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se transformasse.
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Sabemos que para servir à sociedade
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você precisa renovar sua comunidade.
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Não importa se sua comunidade é cristã,
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budista, islâmica ou judaica, certo?
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Muitos de nós não vemos a hora de renovar nossa tradição
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e servir melhor à nossa sociedade e aos seres humanos, certo?
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Mas há tantos elementos conservadores na igreja...
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Isso também é verdade no meu caso.
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Mas percebi isso logo de início.
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E disse:
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Eles estão em nós.
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Temos que nos transformar primeiro.
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Portanto, se você é o(a) companheiro(a) de alguém
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e seu/sua companheiro(a) não muda,
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não pense que ele/ela só está fora de você.
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Seu/sua companheiro(a) está dentro de você.
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Mesmo que vocês tenham se divorciado.
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Ontem me perguntaram:
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"É possível reconciliar, começar de novo com a pessoa de quem nos divorciamos?"
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É exatamente esta questão que precisamos responder
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porque mesmo que
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no começo você acredite que após o divórcio
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você poderá ser totalmente você
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e poderá tirar o outro totalmente de você,
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isso não é verdade.
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(Risos)
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Você jamais poderá tirá-lo de você.
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Você jamais poderá tirá-la de você.
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Não há como!
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Portanto, antes de tentar fazer algo com o outro externamente,
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tente ajudá-lo a se transformar internamente.
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tente ajudá-la a se transformar internamente.
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E...
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com esta prática,
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conseguiremos nos transformar
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e nos tornarmos um modelo.
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Ficaremos revigorados.
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Seremos exatamente como queremos que o outro seja.
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Ao falarmos, agirmos, vivermos,
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poderemos começar a transformar o outro.
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Você não o mudará falando,
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falar talvez não seja o suficiente para mudá-lo.
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Mas seu modo de reagir, seu modo de agir,
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sua maneira de responder
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ajudará a mudar essa pessoa.
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Porque ela também tem sua própria inteligência
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e será capaz de notar.
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E...
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você sabe que...
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para conseguir mudar a si mesmo
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e mudar o outro
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você também precisa de uma Sangha, de amigos que o apoiem.
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É por isso que precisamos tomar refúgio na Sangha.
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Temos que saber como desfrutar da energia coletiva da Sangha
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para apoiar nossa transformação e cura
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e nos ajudar a transformar o outro.
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Não fique ansioso demais, querendo transformá-lo imediatamente.
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Primeiro, temos que aceitá-lo como ele é.
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Primeiro, temos que aceitá-la como ela é.
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Ao aceitar, você já se sentirá muito melhor.
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E começará a mudar a pessoa dentro de você.
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Esta é uma prática muito profunda.
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E como este nosso amigo vem todos os anos a Plum Village
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e pratica conosco desde pequenininho,
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acredito que ele conseguirá.
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E tentaremos apoiá-lo para que consiga.
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Nunca perderemos nossa esperança.
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E
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a maneira de não perdermos a esperança
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é progredindo todos os dias, praticando, praticando diariamente.
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Obrigado pela pergunta,
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é uma pergunta muito boa.
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(Convidando o sino)