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Certo dia,
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à margem de um rio,
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havia um homem idoso.
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Ele estava sentado à margem do rio,
a ler o meu livro.
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O livro era
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“Paz a Cada Passo”.
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O homem parecia
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cansado
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e
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vestia-se
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de forma muito simples.
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O livro que segurava nas mãos
estava extremamente gasto.
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Talvez ele o estivesse a ler há anos
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— era um livro velho, desgastado,
com as páginas enroladas.
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Um dos meus discípulos passou
por esse homem idoso,
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que estava sentado à margem do rio, a ler,
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sozinho.
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Esse discípulo, que também era americano,
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parou e disse:
“Sabia que
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há um centro de prática de mindfulness aqui perto,
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fundado pelo meu professor?
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Se estiver interessado,
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posso levá-lo de carro até lá,
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para que possa praticar mindfulness
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com amigos que partilham os mesmos interesses.
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Como vejo que está a ler
o livro do meu professor,
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acho que seria uma boa ideia convidá-lo a ir até lá.”
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Bem, esse homem idoso
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não disse nada.
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Ele apenas acenou com a cabeça em sinal de reconhecimento
e baixou os olhos, continuando a ler.
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Então, o discípulo disse:
“Se não tiver carro,
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posso levá-lo até ao nosso centro de prática de mindfulness.”
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O homem respondeu:
“Obrigado, estou bem. Talvez noutra altura.”
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Depois de ficar mais um pouco por ali, o discípulo
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disse: "Bem
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se hoje não puder ir, podemos combinar para outro dia.
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Mas podia, por favor,
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dar-me o seu nome e endereço,
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para que, caso haja um Dia de Mindfulness,
eu possa ir buscá-lo?”
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O homem idoso tirou então
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um cartão de visita da sua bolsa.
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O cartão dizia:
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“Laurance Rockefeller,”
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um dos maiores bilionários de Nova Iorque.
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Nos Estados Unidos, algumas pessoas são muito ricas
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e muito poderosas,
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mas não são felizes.
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Nós
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especialmente os jovens,
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tendemos a acreditar que só quando
temos muito dinheiro
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e muito poder,
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é que podemos ser felizes.
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No entanto, neste caso, vemos que
há pessoas como Laurance Rockefeller,
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que estão entre as mais ricas
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e mais poderosas do mundo,
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mas que, claramente, não têm felicidade.
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Pergunto-me porque razão, quando em sofrimento,
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quando não encontrava felicidade,
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ele não procurou consolo
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na sua tradição espiritual,
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no cristianismo,
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mas sim na leitura de um livro
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escrito por um monge budista.
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Essa é uma questão que me surge.
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Também conheci
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William Ford Jr. (ou Bill Ford),
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presidente da famosa fabricante de automóveis,
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a Ford Motor Company.
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Ele é a quarta geração da família Ford
a dirigir a empresa.
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Ele veio ao nosso mosteiro
para aprender e praticar mindfulness.
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Ele também
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praticou meditação sentada,
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caminhada mindfulness
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e refeições em silêncio.
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Depois de terminar a sua refeição, ele também lavou...
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a sua loiça,
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como fazem os Irmãos, Irmãs e outros amigos leigos
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em Plum Village.
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Eu ofereci-lhe um pequeno sino
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para que pudesse praticar mindfulness em casa.
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Partilhei com ele:
“Cada vez que ouvimos os sinos,
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paramos todos os pensamentos
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e todo o diálogo interno,
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regressando à nossa respiração.
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Praticamos uma respiração de tal forma
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que o repouso, a calma e
a reconciliação no corpo
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e na alma possam surgir.”
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Durante o chá, Bill Ford
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partilhou comigo, em grande detalhe,
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sobre a vida dos bilionários nos EUA.
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Segundo o Sr. Ford,
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essas pessoas ricas eram muito solitárias,
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cheias de desconfiança
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e de medos.
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Por essa razão,
nunca se sentiam realmente felizes.
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Normalmente organizamos
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retiros de 7 dias
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para empresários e empreendedores
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na Europa
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e nos Estados Unidos.
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Então...
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Sabemos que
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esses empresários e empreendedores
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são pessoas extremamente poderosas
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e ricas.
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Mas,
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durante esses retiros de 7 dias, comprovamos que
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muitos deles não eram nada felizes.
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Muito pelo contrário,
viviam grandes sofrimentos e dores.
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Um desses empreendedores era
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Frederick, um alemão.
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Ele teve enorme sucesso
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na sua carreira.
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A princípio,
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a sua esposa,
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Claudia,
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estava muito feliz porque se tinha casado
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com um jovem,
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bem-sucedido e conhecido empreendedor.
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Cada vez que recebiam convidados, ela tinha
muito orgulho em recebê-los como sua esposa.
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Mas
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essa felicidade não durou muito,
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porque a carreira de Frederick
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consumiu a sua vida.
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Dia e noite, a única preocupação dele
era a sua carreira,
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e por isso não tinha tempo para aproveitar a vida,
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não tinha tempo
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para amar e cuidar da sua esposa e do seu filho.
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Por isso, a sua esposa e o seu filho começaram a sofrer.
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A sua esposa e o seu filho,
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Claudia,
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e
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Thomas,
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queixavam-se constantemente
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de que ele nunca estava presente para eles.
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Sempre que estava em casa,
o seu corpo estava lá, mas a sua mente estava noutro lugar.
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E
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no dia que
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Thomas teve de estar no hospital para uma cirurgia
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— uma grande cirurgia,
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Frederick — o pai de Thomas,
não conseguiu ir ao hospital.
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Ele estava tão ocupado.
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Quando chegou a vez da esposa, Claudia,
estar no hospital,
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Frederick também não conseguiu estar lá.
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Ele estava tão ocupado.
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Não tinha tempo para respirar.
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Não tinha tempo
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para viver para si próprio.
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Não tinha tempo
para cuidar dos seus entes queridos.
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Um dia, Claudia chorou.
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Chorou no escuro.
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Frederick disse: “Querida, por favor,
por favor, dá-me mais tempo.
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Neste momento, ninguém
na minha empresa me pode substituir.
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Vou tentar, o melhor que puder, dentro de...
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3 ou 4 anos,
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encontrar alguém que possa
suceder-me e substituir-me.
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Então estarei aqui para ti e para o nosso filho.”
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Ele fez uma promessa muito...
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solene e sincera.
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Mas, duas semanas depois,
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morreu num acidente de carro,
quando tinha 51 anos.
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Claudia estava no retiro organizado
para empresários e empreendedores.
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Ela contou esta história
para todos nós que estávamos lá ouvirmos.
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As pessoas ricas
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e poderosas
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têm pouco tempo para viver
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e não têm tempo
para cuidar e amar
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as pessoas que amam.
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Essa é a verdade.
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Não sei se algum de vocês aqui
é muito rico ou poderoso,
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mas talvez, em algum momento da sua vida,
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já tenha passado por este tipo
de experiência, mais ou menos.
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Ou seja, se estivermos demasiado ocupados,
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não temos tempo
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para viver
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e cuidar daqueles que amamos.
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De manhã,
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não temos tempo para olhar para a nossa
esposa, marido, parceiro, filho ou filha.
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À hora do almoço, talvez não tenhamos oportunidade
de comer juntos com a nossa família.
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E, à noite, depois de um longo dia de trabalho,
chegamos a casa completamente esgotados,
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irritados
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ou prontos para desabar,
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literalmente sem
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energia para sermos capazes
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de notar que os nossos entes queridos ainda estão lá, vivos,
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para lhes oferecermos um sorriso carinhoso,
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para cuidarmos deles.
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Nem mencionemos a televisão. Depois de
terminar o dia de trabalho, vemos TV.
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Em vez de olharmos uns para os outros para vermos
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como estão os nossos entes queridos depois
de um dia sem nos vermos, olhamos para a TV.
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E com isso, damos por encerrado o dia.
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Vinte e quatro horas de um dia
passam como um sonho.
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E esta é...
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a realidade
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de como é a vida hoje em dia.
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Industrializámos. Modernizámos.
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Desenvolvemos ciência e tecnologia avançadas.
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Podemos ganhar muito dinheiro,
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mas a nossa felicidade é muito pequena
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em comparação com a dos nossos pais, avós e muitas gerações anteriores.
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No passado, os nossos pais e avós
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tinham tempo para tomar chá uns com os outros.
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Tinham tempo para ver a folhagem na floresta juntos.
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Tinham tempo para cuidar das orquídeas.
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Às vezes,
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eles
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entravam num barco e remavam
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até a um lago de lótus,
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ao amanhecer,
quando o nevoeiro ainda não tinha levantado.
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Depois
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abriam as pétalas das flores de lótus
para retirar as folhas de chá
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que tinham colocado lá no dia anterior.
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Sentados no seu barco,
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faziam chá e bebiam chá
no nevoeiro da manhã.
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Agora não temos tempo para fazer nada disto.
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De que forma o budismo pode ajudar
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nesta situação,
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— uma situação em que todos estão
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constantemente pressionados pelo tempo, apressados,
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sem nunca ter tempo para viver para si mesmos,
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e nunca ter tempo
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para cuidar e amar aqueles que amam?
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O Venerado pelo Mundo,
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— o Buda Shakyamuni, disse uma vez:
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“O passado
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já não existe.
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O futuro ainda não chegou.
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Só há um momento
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em que podemos realmente tocar na vida.
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Esse momento é este — o momento presente.”
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"Não
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persigas o passado.
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Não te percas no futuro.
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O passado já não existe.
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O futuro
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ainda não chegou.
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Olhando profundamente para a vida como ela é no aqui
e agora, o praticante habita...
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em estabilidade e liberdade.”
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Foi isso que o Buda Shakyamuni disse.
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Este ensinamento do Buda
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fala sobre a nossa...
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capacidade
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de nos treinarmos
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para viver profundamente cada momento da nossa vida diária.
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Porque, segundo este ensinamento, “o passado
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já não existe,
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o futuro ainda não chegou.”
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Se pisarmos o momento presente,
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estamos a desperdiçar a nossa vida.
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Temos um compromisso com a vida.
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Esse compromisso — esse encontro,
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é neste momento, o momento presente.
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Mas se nos esforçamos em busca de um objetivo,
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pisando o momento presente,
para estar em algum lugar no futuro,
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estamos a desperdiçar a nossa oportunidade de viver agora.
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Pessoas ocupadas
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são aquelas que não conseguem viver no momento.
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Pessoas ocupadas são aquelas que correm para o futuro.
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No caso de Frederick, esta é a verdade.